Por Riva / 21 de abril de 2023 / sexta-feira / 12h51
Nos últimos cinco anos, aproximadamente, o ex-jogador e técnico Cuca vem sofrendo críticas por causa de um caso de estupro que ocorreu na Suíça em 1987. Naquela época, o mundo era muito diferente e casos como o de estupro tinham uma interpretação diferente e punições mais brandas. No caso de Cuca, que, segundo a vítima, não participou do estupro, a situação fica muito complicada porque o atual técnico do Corinthians não fala do assunto. O silêncio de Cuca é uma espécie de pacto feito com o zagueiro Henrique, o ponta Fernando e o goleiro Eduardo.
Eu tenho a revista Placar (número 898 de 17 de agosto de 1987) em que a matéria escrita pelos jornalistas Álvaro Almeida, Roberto José da Silva e Carlos Orletti foi publicada.
Observando a repercussão do caso depois de 35 anos, resolvi publicar a matéria da revista Placar na íntegra.
O ESCÂNDALO DE BERNA
Acusados de estupro, quatro jogadores gaúchos são detidos na Suíça e podem ser condenados
Eduardo é um ex-atleta de Cristo e ainda mora com os pais. Henrique, que não bebe nem fuma, costuma aproveitar suas folgas para ficar junto com a família e a noiva no interior gaúcho. Fernando nunca foi um paquerador - prefere namoros duradouros. E o discreto Cuca casou-se com sua segunda namorada.
Estes quatro rapazes tidos como de boa reputação, jovens promessas do Grêmio tricampeão gaúcho, passaram rapidamente do banco de reservas para o banco dos réus. Na sexta-feira retrasada, dia 31, eles foram detidos em Berna, capital da Suíça, sob a acusação de prática de violência sexual contra uma menina chamada Sandra, de 13 anos, que esteve no apartamento número 204 do Hotel Metropol, ocupado pelo goleiro Eduardo, 20 anos, e o quarto-zagueiro Henrique, 21 anos.A garota - cujo o nome completo não foi revelado pela polícia de Berna - contou na delegacia que fora até o hotel atrás de emblemas, camisas e flâmulas do time gaúcho. Lá dentro, porém, encontrou também o ponta Fernando, 22 anos, e o meia Cuca, 24 - emprestado pelo Juventude e que não fizera sequer sua estreia no Grêmio. Depois da prisão dos acusados, ela reconheceu apenas Eduardo, conhecido também como Chico, e Henrique - a dupla que mais tarde, diante do juiz - instrutor Jurg Blaser, confessou ter cometido o estupro contra a menor.
O escândalo ganhou contornos controvertidos depois que a polícia suíça agiu rigorosamente e fez cumprir a legislação local durante o período de inquérito. Enquanto eram recolhidas provas - incluindo-se depoimentos de ambas as partes e uma bateria de exames na menina -, os jogadores foram mantidos em prisão cautelar e ficaram incomunicáveis. Eduardo e Henrique - os mais implicados - permaneciam num presídio de Berna. Cuca foi levado para a cidade de Burgdorf, a 22 Km dali, e Fernando acabou em Belf, a 10 Km.
Apenas os advogados suíços Peter Stauffer e Andreas Roth, contratados pelo Grêmio, tinham acesso aos acusados. Nem os apelos da embaixada do Brasil, somados aos do presidente da FIFA, o brasileiro João Havelange, que passa um terço do ano na Suíça, foram suficientes para forçar o relaxamento da prisão.
Durante a semana passada, uma onda de rumores e desinformação pairou entre Berna e Porto Alegre. O jornal suíço Blick chegou até mesmo a apresentar uma versão de como teria ocorrido o estupro. Revelou que dois jogadores se revezavam no ato sexual enquanto outros dois seguravam a menina à força. "Foi tudo um mal-entendido", sustenta Raul Régis de Freitas Lima, chefe da delegação gremista na Europa. "A garota não ficou mais de 7 minutos no apartamento. "De qualquer maneira, o caso é gravíssimo. "As chances dos jogadores são mínimas ", admite o diplomata e advogado Ricardo Seitenfuz, secretário de Relações Exteriores do governo gaúcho, que residiu na Suíça durante quatorze anos. "Lá, a relação sexual com menores de 16 anos é um crime muito sério".
As poucas informações obtidas junto à austera e impenetrável Justiça de Berna indicam que os jogadores foram enquadrados inicialmente no artigo 187 do Código Penal da Suíça, que prevê reclusão de no mínimo três anos. Mas a situação pode agravar-se ainda mais se o juiz decidir lançar mão também do artigo 191 - prisão de seis anos para "aquele que cometer ato sexual ou análogo contra uma criança menor de 16 anos", como determina o texto da lei.
Cuca e Fernando, por não terem sido reconhecidos pela garota, podem ser liberados sob fiança. No entanto, Eduardo e Henrique dificilmente escaparão da prisão. Ainda não foi marcada a data do julgamento, mas a angústia toma conta das famílias dos jogadores. Em Porto Alegre, dona Haidé Hamester, mãe de Eduardo, sofreu uma crise nervosa. "Quando o deixei no aeroporto, nós choramos e tive um mau pressentimento", revela. A família de Henrique vive em Venâncio Aires, a 127 Km da capital gaúcha, e acompanha tudo com perplexidade. "Há algo estranho nessa história", diz Fernando, irmão do jogador campeão mundial de juniores em Moscou, em 1985, ao lado de Eduardo. Rejane Stival, uma bela morena de 19 anos e mulher de Cuca, está em visita à casa dos pais, em Curitiba. "Acredito nele", afirma. "Conheço bem o homem que tenho". A namorada de Fernando decidiu deixar Porto Alegre temporariamente. Rosane, de 19 anos, não suportou ouvir um festival de piadinhas no telefone. "O Fernandinho, hem? Quem diria", insistiam vozes anônimas.
Nem só os familiares acreditam na inocência dos jogadores. Alguns velhos amigos fizeram questão de defendê-los. "Eduardo era do nosso grupo religioso", espanta-se Silas, do São Paulo, ardente atleta de Cristo e outro campeão em Moscou. Renato, do Flamengo, conheceu de perto três jogadores, quando ainda defendia o Grêmio - Eduardo, Henrique e Fernando. "No máximo, eles deram uns beijinhos na menina", supõe. O escândalo de Berna, enfim, trouxe uma indesejável notoriedade a futuros craques gaúchos. Ou seja: se houver futuro.
Gostou do texto?
Se for possível, compartilhe o link do nosso Blog nas redes sociais.
Instagram do Riva:
@rivelinosantosrocha
Nenhum comentário:
Postar um comentário