Hoje, não falarei de esporte. Me juntarei às vozes desejantes que imperam nesta época do ano. Mas irei em outra direção. Quero deixar uma mensagem de louvor ao estresse, pois descobrir que esta é a época mais propícia para o recrudescimento do mesmo.
Quando o próximo domingo chegar, já estaremos no segundo dia do novo ano. Já teremos recebido e enviado inúmeras mensagens de esperança, de felicitações e de desejos sinceros de um ano novo de muito sucesso, de muitas realizações, e de "muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender" para os nossos amigos, familiares e entes queridos.
Na segunda-feira novos problemas se apresentarão e os velhos te despertarão para a realidade nua e crua que nos ensina o poeta Mário Quintana, de que "(...) o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça...". Impressão, compreendeu?
Na verdade, continua a vida. Com o tempo fracionado ou não, dividido em segundos, minutos, horas, dias, meses e anos ou não, sendo medido pela natureza, pelos sinos das igrejas, pelos relógios, cronômetros ou não, a vida segue seu curso de maneira inexorável, em sintonia com suas particularidades imanentes e paradoxais.
Acabei de assistir a uma matéria na televisão de que nesta época do ano o nível de estresse da população aumenta em 75%. Em 1988, num congresso em Munique, um médico canadense Hans Selye assim definiu o estresse: "o estresse é o resultado do homem criar uma civilização, que, ele, o próprio homem não mais consegue suportar". Vejam que loucura. Em plena época em que mais se deseja um feliz ano novo, paz e saúde, desenvolvemos sintomas da chamada "doença do século" ou ainda "doença do terceiro milênio". E, paradoxalmente, em função de um modelo civilizatório que nós criamos.
Impossível não lembrar do Drummond a nos ensinar poeticamente que "Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente".
E é com esta crença no peito, com toda a ternura guevariana e a esperança pandoriana de que tudo seja realmente diferente, que desejo a todos vocês, estresses renovados, cada vez mais felizes e sinceros.
Refletir sobre o esporte para além das configurações táticas e técnicas que lhes são próprias e tendo o mesmo como expressão singular para pensarmos fenômenos mais gerais da sociedade, eis o objetivo do blog.
domingo, 26 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
Ministra do Esporte
Dilma Rousseff, presidente eleita com 56% dos votos válidos no segundo turno das eleições do dia 31 de outubro último, desde que passou a se preocupar com a formação do seu ministério, colocou como objetivo se cercar do mínimo de um terço de representantes femininas em diferentes pastas. Tarefa nada fácil, já que historicamente as definições são menos de caráter técnico e mais político, e o arco de alianças foi grande: dez partidos, entre os quais PT, PMDB, PSB, PC do B e PDT, e todos vão querer um espaço no futuro governo.
Atualmente são 37 ministérios. Quando Dilma foi diplomada, no último dia 17, faltavam 14 cargos a serem preenchidos, entre eles o da Cultura, Saúde, Assuntos Institucionais, Portos e Aeroportos, Integração Nacional e Esportes. Só para citar os de equação mais difícil no tabuleiro político, segundo os avaliadores da política nacional.
Em se tratando da pasta do Minstério dos Esporte a equação já foi solucionada, mas não oficialmente. Mais é dada como favas contadas a saída do ministro Orlando Silva, que pode vir a ocupar um suposto Ministério Olímpico e a entrada, para substituí-lo, da deputada eleita por Pernanbuco, Luciana Santos. Mais uma mulher no governo da Dilma.
Pernambucana, engenheira elétrica por formação, foi prefeita de Olinda por duas vezes e em outras ocasiões, secretária de ciência e tecnologia e meio ambiente, além de ter ocupado a assembléia estadual como deputada.
Em entrevista ao portal Vermelho, mantido pelo seu partido, o PC do B (a mesma é vice-presidente nacional do partido), a então deputada federal eleita na última eleição que consagrou Dilma, e "atual" ministra do esporte, disse que o foco dela era a Ciência e Tecnologia.
Podemos perceber pela sua trajetória política e pelo próprio interesse explicitado que o esporte passou longe dos seus objetivos mas, como sabemos, concordemos ou não, invariavelmente a escolha é mais política e menos técnica, compondo os interesses corporativos em função do arco de aliança construído para as eleições majoritárias.
Para nós, que defendemos a democratização do esporte, mais verbas para as políticas públicas que efetivamente se volte para o público, para a cidade, para o desenvolvimento de praças e espaços para a prática esportiva e de lazer para todos e não para alguns, pouco importa o nome. O que vale é o projeto que o partido encarna e até o momento, na minha humilde avaliação, preocupa o projeto do PC do B para o esporte nacional, inclusive em função das mediações de todas as ordens provenientes dos megaeventos esportivos que estaremos sediando nos próximos anos.
Otimista, porém, não ingênuo, desejo sucesso a nova ministra. Que o seu partido paute suas ações objetivando a democratização do esporte, a ampliação dos espaços e equipamentos de lazer nas cidades e que articule esses elementos com um projeto de formação ampliada da cultura corporal do seu povo.
Atualmente são 37 ministérios. Quando Dilma foi diplomada, no último dia 17, faltavam 14 cargos a serem preenchidos, entre eles o da Cultura, Saúde, Assuntos Institucionais, Portos e Aeroportos, Integração Nacional e Esportes. Só para citar os de equação mais difícil no tabuleiro político, segundo os avaliadores da política nacional.
Em se tratando da pasta do Minstério dos Esporte a equação já foi solucionada, mas não oficialmente. Mais é dada como favas contadas a saída do ministro Orlando Silva, que pode vir a ocupar um suposto Ministério Olímpico e a entrada, para substituí-lo, da deputada eleita por Pernanbuco, Luciana Santos. Mais uma mulher no governo da Dilma.
Pernambucana, engenheira elétrica por formação, foi prefeita de Olinda por duas vezes e em outras ocasiões, secretária de ciência e tecnologia e meio ambiente, além de ter ocupado a assembléia estadual como deputada.
Em entrevista ao portal Vermelho, mantido pelo seu partido, o PC do B (a mesma é vice-presidente nacional do partido), a então deputada federal eleita na última eleição que consagrou Dilma, e "atual" ministra do esporte, disse que o foco dela era a Ciência e Tecnologia.
Podemos perceber pela sua trajetória política e pelo próprio interesse explicitado que o esporte passou longe dos seus objetivos mas, como sabemos, concordemos ou não, invariavelmente a escolha é mais política e menos técnica, compondo os interesses corporativos em função do arco de aliança construído para as eleições majoritárias.
Para nós, que defendemos a democratização do esporte, mais verbas para as políticas públicas que efetivamente se volte para o público, para a cidade, para o desenvolvimento de praças e espaços para a prática esportiva e de lazer para todos e não para alguns, pouco importa o nome. O que vale é o projeto que o partido encarna e até o momento, na minha humilde avaliação, preocupa o projeto do PC do B para o esporte nacional, inclusive em função das mediações de todas as ordens provenientes dos megaeventos esportivos que estaremos sediando nos próximos anos.
Otimista, porém, não ingênuo, desejo sucesso a nova ministra. Que o seu partido paute suas ações objetivando a democratização do esporte, a ampliação dos espaços e equipamentos de lazer nas cidades e que articule esses elementos com um projeto de formação ampliada da cultura corporal do seu povo.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Corrupção Esporte Clube
Em 22 de novembro do corrente ano postamos um texto neste espaço intitulado Por que o espanto? onde ecoávamos informações obtidas em outros veículos jornalísticos sobre o fato do senhor Ricardo Teixeira ser beneficiado com 100% do capital relacionado a toda e qualquer transação envolvendo a Copa do Mundo de futebol que será realizado no Brasil no ano de 2014, já que o mesmo é presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014.
Eis que justamente na semana em que a capital do país, Brasília, sedia um encontro internacional contra a corrupção e a primeira corrida Venceremos a Corrupção, eventos promovidos pelas entidades Barômetro da Corrupção Global e ONGs (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Contas Abertas, Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) e Comunidade de Inteligência Policial e de Análise Evidencial (Cipae) juntamente com centenas de outras entidades), respectivamente, a revista Carta Capital aborda uma matéria na página 38 e 39 da sua edição de número 625 sobre o senhor Ricardo Teixeira.
A reportagem, assinada pelos jornalistas Bruno Huberman e Ricardo Carvalho informa que "A britânica BBC vincula o presidente da CBF à milionária rede de corrupção". Segundo a reportagem que foi levada ao ar pela rede de televisão londrina (só mesmo por lá pode-se assistir a este tipo de matéria), "revelou uma lista secreta com 175 pagamentos de propina feitos pela empresa suíça de marketing esportivo ISL, num total de mais de 100 milhões de dólares. Segundo a planilha, Teixeira teria recebido cerca de 9,5 milhões de dólares entre 1992 e 1997 por meio da empresa de fachada Sanud, com base no paraíso fiscal de Liechtenstein", pequeno principado localizado entre a Áustria e a Suíça.
Em 2001, quando foi finalizada a CPI do Futebol, um marco na investigação sobre a corrupção no futebol brasileiro, que não deu em nada, evidentemente, esta mesma empresa, Sanud, apareceu colada ao nome do senhor Ricardo Teixeira, que na época, se condenado, poderia pegar um mínimo de nove anos de cadeia, uma piada, já que não se trata de morador do Complexo do Alemão e nem da Vila Cruzeiro.
Um outro nome que aparece na lista dos subornados é o do ex-presidente da FIFA, o senhor João Havelange. "O documento mostra 1 milhão de dólares destinados a um item denominado 'garantiaJH'. Havelange já havia sido centro de outro escândalo, quando, em 1998, 1 milhão de francos suiços da ISL [olha ela aí de novo] caíram por engano na conta da Fifa, quando o destino seria a conta pessoal do cartola(...)".
Só para relembrar, os crimes que envolvem o senhor Ricardo Teixeira e que foram expostos pela CPI do Futebo vai desde apropriação indébita (7 milhões de reais em salário da CBF, além de usar dinheiro da entidade para pagar advogados para suas próprias causas), passando pela evasão de divisas (envio de 500.000 dólares a um paraíso fiscal), sonegação (declaração do imposto de renda não conferem com outros dados bancários), lavagem de dinheiro (5 milhões de reais em fraude contábil) e estelionato. Quase um time de futebol inteiro de ações fraudulentas.
Mas o que diz o senhor Teixeira sobre tudo isso? Nada. Absolutamente, nada! "Por meio de sua assessoria de imprensa, notificou que não comentará o caso" da matéria veiculada pela BBC.
Silêncio absoluto e ensurdecedor. Por menos que isso, caem ministros de estado, membros da casa civil e presidentes de países entram em processo de impeachment. Viva o fair play!!!
Eis que justamente na semana em que a capital do país, Brasília, sedia um encontro internacional contra a corrupção e a primeira corrida Venceremos a Corrupção, eventos promovidos pelas entidades Barômetro da Corrupção Global e ONGs (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Contas Abertas, Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) e Comunidade de Inteligência Policial e de Análise Evidencial (Cipae) juntamente com centenas de outras entidades), respectivamente, a revista Carta Capital aborda uma matéria na página 38 e 39 da sua edição de número 625 sobre o senhor Ricardo Teixeira.
A reportagem, assinada pelos jornalistas Bruno Huberman e Ricardo Carvalho informa que "A britânica BBC vincula o presidente da CBF à milionária rede de corrupção". Segundo a reportagem que foi levada ao ar pela rede de televisão londrina (só mesmo por lá pode-se assistir a este tipo de matéria), "revelou uma lista secreta com 175 pagamentos de propina feitos pela empresa suíça de marketing esportivo ISL, num total de mais de 100 milhões de dólares. Segundo a planilha, Teixeira teria recebido cerca de 9,5 milhões de dólares entre 1992 e 1997 por meio da empresa de fachada Sanud, com base no paraíso fiscal de Liechtenstein", pequeno principado localizado entre a Áustria e a Suíça.
Em 2001, quando foi finalizada a CPI do Futebol, um marco na investigação sobre a corrupção no futebol brasileiro, que não deu em nada, evidentemente, esta mesma empresa, Sanud, apareceu colada ao nome do senhor Ricardo Teixeira, que na época, se condenado, poderia pegar um mínimo de nove anos de cadeia, uma piada, já que não se trata de morador do Complexo do Alemão e nem da Vila Cruzeiro.
Um outro nome que aparece na lista dos subornados é o do ex-presidente da FIFA, o senhor João Havelange. "O documento mostra 1 milhão de dólares destinados a um item denominado 'garantiaJH'. Havelange já havia sido centro de outro escândalo, quando, em 1998, 1 milhão de francos suiços da ISL [olha ela aí de novo] caíram por engano na conta da Fifa, quando o destino seria a conta pessoal do cartola(...)".
Só para relembrar, os crimes que envolvem o senhor Ricardo Teixeira e que foram expostos pela CPI do Futebo vai desde apropriação indébita (7 milhões de reais em salário da CBF, além de usar dinheiro da entidade para pagar advogados para suas próprias causas), passando pela evasão de divisas (envio de 500.000 dólares a um paraíso fiscal), sonegação (declaração do imposto de renda não conferem com outros dados bancários), lavagem de dinheiro (5 milhões de reais em fraude contábil) e estelionato. Quase um time de futebol inteiro de ações fraudulentas.
Mas o que diz o senhor Teixeira sobre tudo isso? Nada. Absolutamente, nada! "Por meio de sua assessoria de imprensa, notificou que não comentará o caso" da matéria veiculada pela BBC.
Silêncio absoluto e ensurdecedor. Por menos que isso, caem ministros de estado, membros da casa civil e presidentes de países entram em processo de impeachment. Viva o fair play!!!
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domingo, 5 de dezembro de 2010
Geopolítica do esporte
Nos dias 19 e 20 do mês de novembro passado, na cidade de Lisboa, Portugal, foi realizada a Cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Inspirada para fazer frente na chamada Guerra Fria e também lutar contra a dita ameaça socialista vinda do leste europeu, os países que compõem a otan (Bélgica, Canadá, Estados Unidos da América, França entre outros) procuraram na reunião de cúpula resolver o seu problema de identidade, já que os elementos inspiradores da criação deste organismo internacional já não se fazem mais presentes como antigamente.
Um dos elementos da pauta da reunião, em função das novas configurações geográficas, as crises econômicas e a necessidade de discutir setores energéticos fundamentais no século XXI, foi a redefinição de seu "Conceito Estratégico", acrescentando ao mesmo a necessidade de ampliação e cooperação com outros países e organismos internacionais, incluindo aí, advinhem, a outrora arqui-inimiga Rússia. Sendo assim, o líder do Kremlin, senhor Dmitri Medvedev, foi convidado a participar da reunião de cúpula, sendo o primeiro do seu país a ter essa "honra".
Esse fato me ocorreu logo após tomar conhecimento da escolha pela Fifa dos próximos países sedes para a Copa do Mundo de 2018 e 2022, Rússia e Qatar, respectivamente. Coincidência ou não, o fato é que esses países são altamente estratégicos para as intenções objetivadas pela Otan na sua reunião de cúpula, que além da Rússia, considera a Ásia Central como continente vital para conquistar parceiros de fora do eixo Atlântico Norte.
Em um artigo que encontrei ao pesquisar sobre este assunto para redigir esta postagem, o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira nos lembra que no ano de 1992 "(...) Dick Cheney, como secretário de Defesa do governo de George H. W. Bush, divulgou um documento, no qual confirmou que a primeira missão política e militar dos Estados Unidos pós-Guerra Fria consistia em impedir o surgimento de algum poder rival na Europa, na Ásia e na extinta União Soviética". (Leia o artigo na íntegra clicando aqui).
O Qatar embora faça parte do Oriente Médio, é estratégico para os objetivos dos países membros da Otan em função das suas reservas energéticas (gás e petróleo) e a Rússia é de longe um país militarmente forte. Ela, junta com a Otan, contém nada mais, nada menos do que 95% das armas nucleares do mundo.
Tudo isso pode parecer simples coincidência ou até devaneio de minha parte, mas são elementos interessantes para pensarmos a relação geopolítica do esporte. Dois outros elementos acrescento. Um, de ordem econômica. Segundo o site Máquina do Esporte, a Copa do Mundo de 2018 "(...) pode representar um impacto de até 24 bilhões de euros no futebol local".
O outro elemento é de ordem cultural. Ainda segundo o Máquina do Esporte, "(...) a escolha reforça política adotada pela Fifa desde a época em que a entidade era presidida pelo brasileiro João Havelange. A entidade esforçou-se, nas últimas décadas, para propagar a imagem de disseminadora do futebol por diferentes culturas".
Tanto um, como o outro elemento não são excludentes. Pelo contrário, se interpenetram nessa lógica contemporânea que tem o esporte como uma das expressões da mundialização do capital, da financeirização da cultura, da indústrialização do entretenimento entre outros. A geopolítica do esporte é a política elevada a sua enésima potência.
domingo, 28 de novembro de 2010
A violência olímpica!!!
Automóveis e ônibus incendiados no Rio de Janeiro por supostos traficantes. Duas meninas, uma de 13 e outra de 16 anos decapitadas por prováveis marginais em Salvador. Quando não são estes a provocarem desordens, eis que temos a polícia como protagonista. Seria marginal ou traficante o policial que matou o menino Joel Castro, de apenas 10 anos de idade, no bairro do Nordeste de Amaralina, na soterópolis de todos os santos, encantos e axés?
Rio de Janeiro. Cidade Maravilhosa? Salvador. Terra da Felicidade? Em uma e em outra a expressão concreta da falência do Estado burguês, da forma como nós produzimos e reproduzimos a nossa existência, do modelo excludente no qual se desenvolvem as políticas em suas diversas e diferentes facetas, materializadas na parceria híbrida entre o público e o privado.
Me respondam, por favor. Qual a grande preocupação do momento? A falência do Estado já aludida? O cerceamento da liberdade ir e vir? A morte de inocentes nessa guerra urbana? Não. A preocupação lá na ex-cidade maravilhosa e que se expraia para todo o país é se o Brasil, com todos esses problemas que estão sendo vistos por todo o mundo via jornais, televisão, internet entre outros, realmente vai poder realizar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Tergiversando, paralelamente a esta preocupação, aparece a capacidade da maravilhosa ex-cidade, atual campo de guerra, de acolher os turistas.
Parece piada, mas é tragédia por várias vezes anunciadas e realizadas. E o pior, cedo ou tarde se repetirá, se nada concretamente for feito. E não estou falando de mais polícia, exército na rua nem, tampouco, das UPPs (Unidades de Policiamento Permanente).
E sobre o Joel, o menino de dez anos que sonhava em ser capoeirista, tal como o seu pai e a decapitação das meninas, o que o desfecho destes trágicos episódios nos ensina? Que a Bahia, assim como o Rio de Janeiro e todo o Brasil, caminha sob a barbárie, alimentando e retroalimentando o "ornitorrinco", se desenvolvendo de forma desigual e dependente.
Há quem tire, dessas tragédias, gracejos, exposição cruel do tão propalado espírito esportivo que nós, brasileiros, temos como ninguém e que nos ajuda a suportar as agruras do dia a dia. Dizem por aí que pelo menos seremos exitosos nos esportes de corrida, principalmente os cem metros rasos. Obteremos sucesso também na modalidade de tiro, esporte que há mais de 90 anos não conseguimos sucesso.
Ganharemos muitas medalhas de ouro e teremos, portanto, motivos para celebrar, festejar, tal como fizemos em plena copacabana da então cidade maravilhosa quando do anúncio do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2014. Acreditaremos, mais uma vez que tudo vai dar certo, pois este é um país que apesar dos pesares - e bota pesar nisso - dorme-se muito bem no chão frio, sob marquises em noites geladas e inúteis cobertores e come-se em pratos de ouro com talheres de prata.
Enquanto isso, Joel Castro e as meninas Janaína Brito Conceição e Gabriela Alves Nunes se somarão a muito outros "joeis", "janaínas" e "gabrielas" e engordarão os frios números das estatísticas sobre a violência brasileira.
Mas quantas medalhas seremos capazes de ganhar nas Olimpíadas mesmo?
Rio de Janeiro. Cidade Maravilhosa? Salvador. Terra da Felicidade? Em uma e em outra a expressão concreta da falência do Estado burguês, da forma como nós produzimos e reproduzimos a nossa existência, do modelo excludente no qual se desenvolvem as políticas em suas diversas e diferentes facetas, materializadas na parceria híbrida entre o público e o privado.
Me respondam, por favor. Qual a grande preocupação do momento? A falência do Estado já aludida? O cerceamento da liberdade ir e vir? A morte de inocentes nessa guerra urbana? Não. A preocupação lá na ex-cidade maravilhosa e que se expraia para todo o país é se o Brasil, com todos esses problemas que estão sendo vistos por todo o mundo via jornais, televisão, internet entre outros, realmente vai poder realizar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Tergiversando, paralelamente a esta preocupação, aparece a capacidade da maravilhosa ex-cidade, atual campo de guerra, de acolher os turistas.
Parece piada, mas é tragédia por várias vezes anunciadas e realizadas. E o pior, cedo ou tarde se repetirá, se nada concretamente for feito. E não estou falando de mais polícia, exército na rua nem, tampouco, das UPPs (Unidades de Policiamento Permanente).
E sobre o Joel, o menino de dez anos que sonhava em ser capoeirista, tal como o seu pai e a decapitação das meninas, o que o desfecho destes trágicos episódios nos ensina? Que a Bahia, assim como o Rio de Janeiro e todo o Brasil, caminha sob a barbárie, alimentando e retroalimentando o "ornitorrinco", se desenvolvendo de forma desigual e dependente.
Há quem tire, dessas tragédias, gracejos, exposição cruel do tão propalado espírito esportivo que nós, brasileiros, temos como ninguém e que nos ajuda a suportar as agruras do dia a dia. Dizem por aí que pelo menos seremos exitosos nos esportes de corrida, principalmente os cem metros rasos. Obteremos sucesso também na modalidade de tiro, esporte que há mais de 90 anos não conseguimos sucesso.
Ganharemos muitas medalhas de ouro e teremos, portanto, motivos para celebrar, festejar, tal como fizemos em plena copacabana da então cidade maravilhosa quando do anúncio do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2014. Acreditaremos, mais uma vez que tudo vai dar certo, pois este é um país que apesar dos pesares - e bota pesar nisso - dorme-se muito bem no chão frio, sob marquises em noites geladas e inúteis cobertores e come-se em pratos de ouro com talheres de prata.
Enquanto isso, Joel Castro e as meninas Janaína Brito Conceição e Gabriela Alves Nunes se somarão a muito outros "joeis", "janaínas" e "gabrielas" e engordarão os frios números das estatísticas sobre a violência brasileira.
Mas quantas medalhas seremos capazes de ganhar nas Olimpíadas mesmo?
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Por que o espanto?
Causou espanto no mundo animal o fato de Ricardo Teixeira poder ser beneficiado com 100% do capital relacionado a toda e qualquer transação envolvendo a Copa do Mundo de futebol que será realizado no Brasil no ano de 2014.
Isso porque o dito senhor é não só Presidente da Confederação Brasileira de Futebol como, também, responsável pelo Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 (COL). Isso o tornou detentor do direito de gerenciar o dinheiro arrecadado da forma que bem lhe convier.
Evidente que podemos contar com a boa vontade deste senhor e o dinheiro ser remetido para projetos sociais fundamentais para o desenvolvimento da nação brasileira. Mas convém também lembrar que o dinheiro pode ser direcionado para si mesmo e/ou para projetos de interesses da Confederação Brasileira de Futebol, o que ao fim e ao cabo acaba sendo a mesma coisa.
Algo interessante e suspeito no contrato entre as partes diz respeito a modificação dos fins do Comitê. Quando o mesmo ainda disputava o direito de sediar o evento, era sem fins lucrativos. Depois que o Brasil foi confirmado como sede da Copa 2014, pirlimpimpim, o Comitê se metamorfoseou-se. Agora o mesmo é uma "sociedade limitada com regras próprias para distribuição dos lucros a serem obtidos" (LANCENET).
Mas o que me espantou mesmo foi menos a manobra deste senhor e mais o assombro dos jornalistas que noticiaram o fato. Por que o espanto? Esperavam o quê deste representante dos senhores dos anéis, sendo ele mesmo uma das figuras centrais deste feudo futebolístico que impera neste país e parece que não vai acabar nunca?
Saiamos da esfera da Confederação e do COL e lancemos os nossos olhos nos clubes. O que vemos? 259 mortos com direito a voto nas eleições para presidente do Fluminense Esporte Clube, a se realizar no dia 30 de novembro. Espantado?
Voltemos os nossos olhos para a entidade maior do futebol, a FIFA. O que encontraremos? Dois integrantes da Federação maior do futebol mundial flagrados "pedindo dinheiro em troca de votos na eleição dos países que abrigarão os Mundiais" de 2018 e 2022. Um deles, além de presidente da confederação da Oceania era nada mais, nada menos do que vice-presidente da FIFA. (Carta Capital)
São por essas e outras, muitas outras coisas que já sabemos e que aparecerão mais na frente que pergunto: por que o espanto?
Isso porque o dito senhor é não só Presidente da Confederação Brasileira de Futebol como, também, responsável pelo Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 (COL). Isso o tornou detentor do direito de gerenciar o dinheiro arrecadado da forma que bem lhe convier.
Evidente que podemos contar com a boa vontade deste senhor e o dinheiro ser remetido para projetos sociais fundamentais para o desenvolvimento da nação brasileira. Mas convém também lembrar que o dinheiro pode ser direcionado para si mesmo e/ou para projetos de interesses da Confederação Brasileira de Futebol, o que ao fim e ao cabo acaba sendo a mesma coisa.
Algo interessante e suspeito no contrato entre as partes diz respeito a modificação dos fins do Comitê. Quando o mesmo ainda disputava o direito de sediar o evento, era sem fins lucrativos. Depois que o Brasil foi confirmado como sede da Copa 2014, pirlimpimpim, o Comitê se metamorfoseou-se. Agora o mesmo é uma "sociedade limitada com regras próprias para distribuição dos lucros a serem obtidos" (LANCENET).
Mas o que me espantou mesmo foi menos a manobra deste senhor e mais o assombro dos jornalistas que noticiaram o fato. Por que o espanto? Esperavam o quê deste representante dos senhores dos anéis, sendo ele mesmo uma das figuras centrais deste feudo futebolístico que impera neste país e parece que não vai acabar nunca?
Saiamos da esfera da Confederação e do COL e lancemos os nossos olhos nos clubes. O que vemos? 259 mortos com direito a voto nas eleições para presidente do Fluminense Esporte Clube, a se realizar no dia 30 de novembro. Espantado?
Voltemos os nossos olhos para a entidade maior do futebol, a FIFA. O que encontraremos? Dois integrantes da Federação maior do futebol mundial flagrados "pedindo dinheiro em troca de votos na eleição dos países que abrigarão os Mundiais" de 2018 e 2022. Um deles, além de presidente da confederação da Oceania era nada mais, nada menos do que vice-presidente da FIFA. (Carta Capital)
São por essas e outras, muitas outras coisas que já sabemos e que aparecerão mais na frente que pergunto: por que o espanto?
domingo, 14 de novembro de 2010
As contradições de sempre!!!
TEXTO ESCRITO PELO PROFESSOR ALAN JONH
O presidente do PC do B, Sr.Renato Rabelo, se reuniu nesta última terça-feira, 09 de novembro com o presidente do PT José Eduardo Dutra integrante do governo de transição e defendeu a manutenção do partido a frente do Ministério dos Esportes.
Tudo leva a crer que a solicitação seja atendida e que o partido continue no Ministério. Já que o ministro Orlando Silva está à frente das atividades que envolvem a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
Análises da política de esporte nos apontam que o investimento prioritário no esporte de alto-rendimento e a realização de mega-eventos esportivos foi à tônica central do governo nos últimos anos no campo das políticas públicas de esporte e lazer.
Em tempos de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, o esporte tem se apresentado como valioso instrumento de ampliação da desigualdade social e da concentração de renda em nosso país.
Justifica-se que o alto investimento no esporte de rendimento seria uma medida de suma importância para o desenvolvimento esportivo e para a melhoria do desempenho dos atletas em competições internacionais.
Entretanto, experiências de popularização dos esportes em diversas nações demonstram que outra via é possível, possibilitando-nos resultados muito mais duradouros e condizentes com a melhoria das condições de saúde da comunidade e até mesmo do desempenho competitivo.
O futebol no Brasil, o basquete nos EUA, o tênis de mesa no Japão, o kung-fu na China, o Xadrez em Cuba são alguns bons exemplos de que a socialização dos esportes deve ser o primeiro passo na política de esportes nacional.
A justificativa para os altíssimos investimentos nesses mega-eventos esportivos é que ficaria um legado de infraestrutura e se ampliaria a prática esportiva no país.
Entretanto os jogos Panamericanos realizados no Brasil em 2007, apresenta-nos provas concretas do contrário.
Neste episódio pudemos observar: ataques a populações locais na tentativa de esconder as gritantes desigualdades sociais da cidade; falta de prestação de contas de mais de 1 milhão de reais, entrega de diversas construções realizadas com dinheiro público para mão de iniciativa privadas, gastos públicos absurdos na construção de espaços com possibilidade bastante limitada de vivência efetiva do esporte.
Um bom exemplo é o estádio Engenhão, orçado inicialmente em R$ 100 milhões tendo um custo total bem acima do valor orçado, custando aos cofres públicos cerca de 300 milhões e entregue ao clube de regatas botafogo por R$ 40 mil mensais mais custos de manutenção. Os gastos gerais com o evento estavam previstos em R$ 532 milhões e os gastos gerais com o evento chegaram a R$ 3 bilhões.
Segundo cálculos preliminares da CBF, espera-se que o governo gaste cerca de R$ 11 bilhões para se preparar para a copa de 2014. Já o projeto dos Jogos Olímpicos de 2016 está estimado em R$ 25,9 bilhões.
Segundo plano de gasto alternativo elaborado pelo movimento planeta sustentável com base em órgãos governamentais, só o recurso de R$ 11 bilhões da copa de 2014 daria para se investir: R$ 2,1 bilhões na expansão do saneamento, levar água tratada a 2,2 milhões de casas e coleta de lixo a 2,1 milhões – cerca de 20% do déficit de saneamento. (Segundo dados do IDH divulgado essa semana o país tem 20% da população sem acesso a saneamento e 57% dos brasileiros não têm coleta de esgoto. Dados do senso 2010 do IBGE aponta que o país têm 185 milhões de habitantes); R$ 2,8 bilhões para financiar a construção ou compra de 480 mil casas populares – 6% do déficit habitacional; R$ 2,8 bilhões para levar luz a 1,6 milhões de pessoas no campo – 13 % da população sem aceso à energia; R$ 1,4 bilhões para ensinar 600 mil jovens e adultos a ler e escrever - o que nos daria um saldo de 4% a menos de analfabetos no país; R$ 700 mil para levar o programa Saúde da Família a mais de 2 milhões de pessoas – o que superaria a população de Curitiba ou Recife.
Em paralelo a esses gastos absurdos, a esse derrame de dinheiro, a maioria das escolas públicas não tem quadras esportivas e grande parcela da população tem dificuldades de acesso aos serviços de saúde. As oportunidades de lazer são extremamente reduzidas, falta moradia, saneamento básico e alimentação, os recursos destinados à educação e saúde estão bem abaixo do necessário.
As contradições seguem seu curso. Na semana passada, o ministro Orlando Silva defendeu o investimento de prefeituras nos eventos. No caso de São Paulo o ministro defende o investimento dando exemplos de outros gastos nesse sentido e pra nosso espanto cita o caso desta mesma prefeitura que gasta R$ 28,30 milhões anuais em Interlagos para receber a Fórmula 1.
Aos que diante dos fatos se refugiam em discursos do tipo: esses eventos são importantes para confraternização entre os povos, para o intercambio cultural entre as nações. Nós lhes apresentamos uma necessidade ainda mais básica de cooperação: a de alimento.
Dados apontam que atualmente a produção de alimentos é superior a capacidade de consumo humano. Entretanto, temos hoje 1 bilhão de pessoas com fome no mundo, muitas delas crianças. 25 países apresentam condições alarmantes. A República Democrática do Congo tem 75% de sua população subalimentada.
Enquanto isso, esporte só como espectador. Empresas da construção civil se deleitam com os investimentos públicos e continuam espoliando os trabalhadores e o presidente LuLa ainda chora de felicidade com a vinda dos Jogos Olímpicos para o país.
O presidente do PC do B, Sr.Renato Rabelo, se reuniu nesta última terça-feira, 09 de novembro com o presidente do PT José Eduardo Dutra integrante do governo de transição e defendeu a manutenção do partido a frente do Ministério dos Esportes.
Tudo leva a crer que a solicitação seja atendida e que o partido continue no Ministério. Já que o ministro Orlando Silva está à frente das atividades que envolvem a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
Análises da política de esporte nos apontam que o investimento prioritário no esporte de alto-rendimento e a realização de mega-eventos esportivos foi à tônica central do governo nos últimos anos no campo das políticas públicas de esporte e lazer.
Em tempos de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, o esporte tem se apresentado como valioso instrumento de ampliação da desigualdade social e da concentração de renda em nosso país.
Justifica-se que o alto investimento no esporte de rendimento seria uma medida de suma importância para o desenvolvimento esportivo e para a melhoria do desempenho dos atletas em competições internacionais.
Entretanto, experiências de popularização dos esportes em diversas nações demonstram que outra via é possível, possibilitando-nos resultados muito mais duradouros e condizentes com a melhoria das condições de saúde da comunidade e até mesmo do desempenho competitivo.
O futebol no Brasil, o basquete nos EUA, o tênis de mesa no Japão, o kung-fu na China, o Xadrez em Cuba são alguns bons exemplos de que a socialização dos esportes deve ser o primeiro passo na política de esportes nacional.
A justificativa para os altíssimos investimentos nesses mega-eventos esportivos é que ficaria um legado de infraestrutura e se ampliaria a prática esportiva no país.
Entretanto os jogos Panamericanos realizados no Brasil em 2007, apresenta-nos provas concretas do contrário.
Neste episódio pudemos observar: ataques a populações locais na tentativa de esconder as gritantes desigualdades sociais da cidade; falta de prestação de contas de mais de 1 milhão de reais, entrega de diversas construções realizadas com dinheiro público para mão de iniciativa privadas, gastos públicos absurdos na construção de espaços com possibilidade bastante limitada de vivência efetiva do esporte.
Um bom exemplo é o estádio Engenhão, orçado inicialmente em R$ 100 milhões tendo um custo total bem acima do valor orçado, custando aos cofres públicos cerca de 300 milhões e entregue ao clube de regatas botafogo por R$ 40 mil mensais mais custos de manutenção. Os gastos gerais com o evento estavam previstos em R$ 532 milhões e os gastos gerais com o evento chegaram a R$ 3 bilhões.
Segundo cálculos preliminares da CBF, espera-se que o governo gaste cerca de R$ 11 bilhões para se preparar para a copa de 2014. Já o projeto dos Jogos Olímpicos de 2016 está estimado em R$ 25,9 bilhões.
Segundo plano de gasto alternativo elaborado pelo movimento planeta sustentável com base em órgãos governamentais, só o recurso de R$ 11 bilhões da copa de 2014 daria para se investir: R$ 2,1 bilhões na expansão do saneamento, levar água tratada a 2,2 milhões de casas e coleta de lixo a 2,1 milhões – cerca de 20% do déficit de saneamento. (Segundo dados do IDH divulgado essa semana o país tem 20% da população sem acesso a saneamento e 57% dos brasileiros não têm coleta de esgoto. Dados do senso 2010 do IBGE aponta que o país têm 185 milhões de habitantes); R$ 2,8 bilhões para financiar a construção ou compra de 480 mil casas populares – 6% do déficit habitacional; R$ 2,8 bilhões para levar luz a 1,6 milhões de pessoas no campo – 13 % da população sem aceso à energia; R$ 1,4 bilhões para ensinar 600 mil jovens e adultos a ler e escrever - o que nos daria um saldo de 4% a menos de analfabetos no país; R$ 700 mil para levar o programa Saúde da Família a mais de 2 milhões de pessoas – o que superaria a população de Curitiba ou Recife.
Em paralelo a esses gastos absurdos, a esse derrame de dinheiro, a maioria das escolas públicas não tem quadras esportivas e grande parcela da população tem dificuldades de acesso aos serviços de saúde. As oportunidades de lazer são extremamente reduzidas, falta moradia, saneamento básico e alimentação, os recursos destinados à educação e saúde estão bem abaixo do necessário.
As contradições seguem seu curso. Na semana passada, o ministro Orlando Silva defendeu o investimento de prefeituras nos eventos. No caso de São Paulo o ministro defende o investimento dando exemplos de outros gastos nesse sentido e pra nosso espanto cita o caso desta mesma prefeitura que gasta R$ 28,30 milhões anuais em Interlagos para receber a Fórmula 1.
Aos que diante dos fatos se refugiam em discursos do tipo: esses eventos são importantes para confraternização entre os povos, para o intercambio cultural entre as nações. Nós lhes apresentamos uma necessidade ainda mais básica de cooperação: a de alimento.
Dados apontam que atualmente a produção de alimentos é superior a capacidade de consumo humano. Entretanto, temos hoje 1 bilhão de pessoas com fome no mundo, muitas delas crianças. 25 países apresentam condições alarmantes. A República Democrática do Congo tem 75% de sua população subalimentada.
Enquanto isso, esporte só como espectador. Empresas da construção civil se deleitam com os investimentos públicos e continuam espoliando os trabalhadores e o presidente LuLa ainda chora de felicidade com a vinda dos Jogos Olímpicos para o país.
domingo, 7 de novembro de 2010
Abra o olho, Dilma.
Dilma Rousself venceu. Os prognósticos se confirmaram e teremos após passada a primeira década do século vinte e um, o Brasil, o maior país da América Latina, governado por uma mulher.
Para chegar até aqui, Dilma precisou conquistar não só os votos dos eleitores, mas, também, disputar uma batalha contra o preconceito, o obscurantismo, a vilania, os factóides e tudo o que há de mais baixo em um processo de disputa. Até bolinha de papel virou um “pertado de dois quilos”, segundo depoimento do Vice do candidato derrotado à presidência da república, José Serra, o senhor Índio da Costa.
Diante de tantas coisas periféricas, muitos elementos centrais para o desenvolvimento da nação ficaram por ser dito. Dentre esses elementos temos o que diz respeito a gestão esportiva nacional. Como será, no governo de Dilma Rousself, desenvolvidas as políticas de esporte e lazer? Teremos mudanças substantivas? O povo de uma maneira geral terá acesso aos bens da cultura corporal produzidos ao longo destes milênios? Ou, simplesmente, teremos mais do mesmo?
Alguns desavisados podem imaginar que isso não é importante para o país, que existem outras necessidades sociais mais emergentes como a questão da habitação, violência, educação entre outros. O esporte e sua vivência é artigo de luxo e, como tal, não deve ser priorizado.
Para esses, enfatizo que o nosso país se credenciou para abrigar vários eventos esportivos importantes como os já sabidos Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, entre outros e que, no mínimo, a presidente eleita deve sim se preocupar com isso, para que mais uma vez e novamente o dinheiro público não seja canalizado pelo ralo da improbidade administrativa, gestão fraudulenta e enriquecimento ilícito entre outros, elementos que vem sendo sobejamente evidenciados pelo Tribunal de Contas da União quanto mais ele se debruça e se aprofunda sobre o Pan-Americano realizado no Rio de Janeiro em 2007.
Aliás, alguns gestores do Pan-2007, certo da impunidade das suas ações, continuam agindo em benefício próprio, se aproveitando das Olimpíadas que acontecerão no Rio em 2016, conforme nota publicada em 22 de outubro no Blog do Cruz. Estão de olhos gordos no montante de 27 bilhões de reais que o governo federal tem só para o evento Rio-2016. É muito dinheiro, mas com certeza, insuficiente para o apetite voraz dos “senhores dos anéis”.
São por essas e outras que se torna fundamental um programa substantivo, transparente e amplamente democrático para os próximos anos do governo federal no tocante ao esporte nacional e a ausência deste no debate político entre os principais candidatos à presidência do maior país da América Latina que se quer potência olímpica foi lastimável.
Cada centavo destes bilhões iniciais é meu, é seu, caro leitor, é nosso! Devemos ter conhecimento da aplicação destes e, por que não, ser consultado sobre o horizonte do seu investimento. Se sirvo para eleger um presidente, senador, deputado, prefeito, vereador neste país, por que não sirvo para opinar sobre o destino do meu dinheiro?
Abra o olho, senhora presidente. Se deixares os mesmos “esportistas” que geriram o esporte nesses últimos anos onde e como estão, estarás abrindo a caixa de pandora, com agravante perda da esperança.
Para chegar até aqui, Dilma precisou conquistar não só os votos dos eleitores, mas, também, disputar uma batalha contra o preconceito, o obscurantismo, a vilania, os factóides e tudo o que há de mais baixo em um processo de disputa. Até bolinha de papel virou um “pertado de dois quilos”, segundo depoimento do Vice do candidato derrotado à presidência da república, José Serra, o senhor Índio da Costa.
Diante de tantas coisas periféricas, muitos elementos centrais para o desenvolvimento da nação ficaram por ser dito. Dentre esses elementos temos o que diz respeito a gestão esportiva nacional. Como será, no governo de Dilma Rousself, desenvolvidas as políticas de esporte e lazer? Teremos mudanças substantivas? O povo de uma maneira geral terá acesso aos bens da cultura corporal produzidos ao longo destes milênios? Ou, simplesmente, teremos mais do mesmo?
Alguns desavisados podem imaginar que isso não é importante para o país, que existem outras necessidades sociais mais emergentes como a questão da habitação, violência, educação entre outros. O esporte e sua vivência é artigo de luxo e, como tal, não deve ser priorizado.
Para esses, enfatizo que o nosso país se credenciou para abrigar vários eventos esportivos importantes como os já sabidos Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, entre outros e que, no mínimo, a presidente eleita deve sim se preocupar com isso, para que mais uma vez e novamente o dinheiro público não seja canalizado pelo ralo da improbidade administrativa, gestão fraudulenta e enriquecimento ilícito entre outros, elementos que vem sendo sobejamente evidenciados pelo Tribunal de Contas da União quanto mais ele se debruça e se aprofunda sobre o Pan-Americano realizado no Rio de Janeiro em 2007.
Aliás, alguns gestores do Pan-2007, certo da impunidade das suas ações, continuam agindo em benefício próprio, se aproveitando das Olimpíadas que acontecerão no Rio em 2016, conforme nota publicada em 22 de outubro no Blog do Cruz. Estão de olhos gordos no montante de 27 bilhões de reais que o governo federal tem só para o evento Rio-2016. É muito dinheiro, mas com certeza, insuficiente para o apetite voraz dos “senhores dos anéis”.
São por essas e outras que se torna fundamental um programa substantivo, transparente e amplamente democrático para os próximos anos do governo federal no tocante ao esporte nacional e a ausência deste no debate político entre os principais candidatos à presidência do maior país da América Latina que se quer potência olímpica foi lastimável.
Cada centavo destes bilhões iniciais é meu, é seu, caro leitor, é nosso! Devemos ter conhecimento da aplicação destes e, por que não, ser consultado sobre o horizonte do seu investimento. Se sirvo para eleger um presidente, senador, deputado, prefeito, vereador neste país, por que não sirvo para opinar sobre o destino do meu dinheiro?
Abra o olho, senhora presidente. Se deixares os mesmos “esportistas” que geriram o esporte nesses últimos anos onde e como estão, estarás abrindo a caixa de pandora, com agravante perda da esperança.
domingo, 24 de outubro de 2010
Pelé: 70 anos
No último dia 21 de outubro completou 70 anos de idade o jogador mais conhecido do planeta, o senhor Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé. Mineiro da cidade de Três Corações, Pelé recebeu do jornal francês L´Equipe, o título de Atleta do Século no ano de 1981. Em 1999 o Comitê Olímpico Internacional, na esteria do L´Equipe, também o elegeu como Atleta do Século. A FIFA pegou ponga no ano 2000 e repetiu a honraria. O elegeu como Jogador de Futebol do Século XX. Estava batido o martelo pela terceira vez, consagrando assim, em definitivo, o título de Atleta do Século ao Pelé, que além de apelido, virou também adjetivo. Existe o Pelé da pintura, da escultura, da arquitetura, entre outros.
Mas o que mais chama a atenção para este humilde escrivinhador é o salário que o Pelé recebia à época quando jogava no Santos. Nada mais do que R$ 5.500(cinco mil e quinhentos reais) na moeda de hoje, o equivalente a 5.000 cruzeiros novos. Estamos nos anos 70 e o esporte, mais especificamente o futebol, não tinha ainda se tornado business. Robinho, que até recentemente defendia as cores do mesmo time que consagrou o Rei do Futebol, recebia em torno de 1 milhão de reais por mês.
Se, comparativamente, Pelé recebia muito menos do que recebem hoje os craques duvidosos dos gramados mundiais, o mesmo teve muito mais visão em relação aos negócios do que os seus contemporâneos Didi, Vavá, Zito e do consagrado Garrincha. Com um patrimônio pessoal estimado em 25 milhões de dólares, as empresas de Pelé movimentam atualmente cerca de 40 milhões de dólares por ano.
Passados mais de 25 anos que finalizou sua carreira de jogador de futebol, até hoje é homenageado em vários países do mundo. Com sua trajetória vitoriosa, e que continua, entre outras coisas, como instrutor/conselheiro do infantil e juvenil do Santos, Pelé é alvo de críticas, bajulações, adulações e polêmicas.
Chegado a dizer o que pensa sobre os diferentes atletas nacionais e internacionais, vira e mexe, o aclamado Rei do Futebol está sempre na mídia falada e escrita. Estratégia? Talvez sim. Quem não as tem?
O homem que marcou 1281 gols no total de 1375 jogos (0,9 por partida) foi protagonista de discursos politicamentes corretos, quando pediu atenção às crianças e às pessoas pobres do Brasil no seu milésimo gol, sofreu com a prisão do seu filho Edinho e ficou marcado pela saga de Sandra Machado, reconhecida como filha do rei pela justiça em 1994, após ter sido negada por diversas vezes pelo rei.
Um misto de mito e homem se misturam na trajetória deste jogador de futebol, o atleta do século, o senhor Edson Arantes do Nascimento ou, simplesmente, Pelé.
Mas o que mais chama a atenção para este humilde escrivinhador é o salário que o Pelé recebia à época quando jogava no Santos. Nada mais do que R$ 5.500(cinco mil e quinhentos reais) na moeda de hoje, o equivalente a 5.000 cruzeiros novos. Estamos nos anos 70 e o esporte, mais especificamente o futebol, não tinha ainda se tornado business. Robinho, que até recentemente defendia as cores do mesmo time que consagrou o Rei do Futebol, recebia em torno de 1 milhão de reais por mês.
Se, comparativamente, Pelé recebia muito menos do que recebem hoje os craques duvidosos dos gramados mundiais, o mesmo teve muito mais visão em relação aos negócios do que os seus contemporâneos Didi, Vavá, Zito e do consagrado Garrincha. Com um patrimônio pessoal estimado em 25 milhões de dólares, as empresas de Pelé movimentam atualmente cerca de 40 milhões de dólares por ano.
Passados mais de 25 anos que finalizou sua carreira de jogador de futebol, até hoje é homenageado em vários países do mundo. Com sua trajetória vitoriosa, e que continua, entre outras coisas, como instrutor/conselheiro do infantil e juvenil do Santos, Pelé é alvo de críticas, bajulações, adulações e polêmicas.
Chegado a dizer o que pensa sobre os diferentes atletas nacionais e internacionais, vira e mexe, o aclamado Rei do Futebol está sempre na mídia falada e escrita. Estratégia? Talvez sim. Quem não as tem?
O homem que marcou 1281 gols no total de 1375 jogos (0,9 por partida) foi protagonista de discursos politicamentes corretos, quando pediu atenção às crianças e às pessoas pobres do Brasil no seu milésimo gol, sofreu com a prisão do seu filho Edinho e ficou marcado pela saga de Sandra Machado, reconhecida como filha do rei pela justiça em 1994, após ter sido negada por diversas vezes pelo rei.
Um misto de mito e homem se misturam na trajetória deste jogador de futebol, o atleta do século, o senhor Edson Arantes do Nascimento ou, simplesmente, Pelé.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Esporte e política
Pela enésima vez, elevada a centésima potência, ouvir a seguinte frase: “meu negócio não é política. Gosto mesmo é de futebol!” Foi ontem, na casa de um amigo. Estávamos festejando o aniversário da sua esposa e entre copos de cervejas, guaranás e salgadinhos, não necessariamente nesta ordem, a inevitável conversa sobre o segundo turno das eleições presidenciais apareceu.
Entre dilmistas, serristas, marinistas e outros, o libelo da frase, acima aspeada, reverberou e entrou rasgando nos meus sensíveis labirintos auriculares, ativando os meus neurônios poéticos e me fazendo lembrar de uma poesia do Bertold Brecht, o analfabeto político. Evidente que a frase aludida acima não tem a mesma força do “odeio política”, tão comumente ouvida e do qual o Brecht faz a crítica, mas não deixa de ser uma posição analfabeta sobre o aspecto da política.
Exemplos da relação entre esporte e política abundam na história. O mais famoso data de 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim. Adolfo Hitler queria demonstrar a superioridade da raça ariana através do esporte. Antes mesmo disso a humanidade já tinha presenciado a político do “pão e circo” da Roma antiga.
Maurício Murad, no seu livro Sociologia e Educação Física, da Fundação Getúlio Vargas nos lembra na página 166 que “Exemplos explícitos de dominação política e de aproveitamento ideológico dos esportes são os campeonatos mundiais de futebol de 1934, na Itália, e de 1938, na França” e o já citado Jogos Olímpicos de Berlim. “Todos esses eventos, ocorridos em plena era do totalitarismo nazifascista e às vésperas da II Guerra, foram entendidos como questões nacionais pelos governos da Itália e da Alemanha”.
O próprio movimento da chamada guerra fria, iniciada pós a II Guerra Mundial, teve no esporte um elemento riquíssimo de simbologia. Os números de medalhas e troféus ganhos por um país buscavam representar o sucesso de suas políticas econômicas e sociais. Países do bloco capitalista e do então bloco socialista procuravam, pelo esporte, dizer ao mundo o quanto seu modo de vida era melhor do que o do outro.
Existem casos de atletas que também utilizaram o esporte para manifestar suas preferências políticas. Quem não se lembra de Ronaldo, jogador do atlético mineiro e seu punho erguido em cada comemoração do gol, em clara alusão ao movimento Black Power norte-americano? Leônidas da Silva, atleta e militante do Partido Comunista. Nosso Afonsinho, jogador que conseguiu na justiça o direito ao passe livre. Dieguito, mais conhecido como Maradona, hoje técnico da seleção da Argentina, proponente de uma Associação Internacional de Jogadores de Futebol. Isso sem falar do movimento da Democracia Corintiana, com jogadores como Biro-biro, Casagrande, Vladimir e o cabeça, doutor Sócrates.
Não poderia faltar nesta postagem os dirigentes esportivos. Esses, quase sempre procuram conquistar uma cadeira nas assembléias dos seus estados ou no congresso nacional pela via e pela veia do futebol, modalidade esportiva que tem o maior número de representante na chamada bancada da bola, talvez a expressão maior da relação entre esporte e política.
domingo, 10 de outubro de 2010
Os factoides na política e no esporte
A abertura das urnas no último domingo, 03 de outubro, demonstrou uma expressiva votação na candidata do Partido Verde (PV), Marina Silva, que com os seus quase 20 milhões de votos (exatos 19.636.359, o que representou 19,3% dos votos válidos), transformou-se no atual fiel da balança para os que ficaram na disputa pela presidência no segundo turno, a Dilma (PT) e o Serra (PSDB).
Passado uma semana, a avaliação que o partido do trabalhador, que até uma semana antes das eleições tinha, em larga medida, a certeza da vitória no primeiro turno, foi que o tema do aborto foi o principal responsável pela guinada de Marina Silva, forçando o improvável segundo turno.
Tema indigesto, para dizer o mínimo, o mesmo não foi trazido à lúmen por nenhum dos dois candidatos, mas foi produzido por meio de um instrumento sabidamente escuso: a produção de factoides.
O mesmo tinha um alvo determinado e consistia em atingir a candidata do governo.
Responsável por 15% de morte materna no país, pelo menos uma em cada cinco mulheres com menos de 40 anos de idade já praticou o aborto, ato este que malsucedido, é responsável por mais de 180 mil curetagens pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Pois esse tema de saúde pública transformou-se em uma arma no debate das idéias, atingindo, em cheio, as consciências puritanas e conservadoras deste país que passaram a enxergar na figura da candidata Dilma Rousseff, a “matadora de criancinhas”.
Enganam-se quem considera que os factoides são construídos apenas no âmbito da política ou utilizados somente para desestabilizar candidatos ou candidatas. O mundo do esporte também se encontra povoado desse mecanismo bizarro.
No mês passado, a revista esportiva ESPN publicou uma matéria intitulada “Meu Craque de Mentira” que trouxe a seguinte reportagem. “Uma transferência agitou o futebol uruguaiu na janela européia. Por 3 milhões de libras, o Danubio vendeu a revelação Néstor ‘Colibri’ Coratella ao Villareal, negociação amplamente divulgada pela imprensa espanhola. Tudo perfeito, não fosse um detalhe: Coratella não existe. Foi inventado por um grupo de internautas”.
Vejam vocês. Um acontecimento completamente falso, fabricado, foi divulgado como se verdade fosse por órgãos de imprensa especializados. Na mesma matéria tomamos conhecimento de um caso parecido. Trata-se de “Masal Bugduv, a revelação moldava de 16 anos, pretendida pelo Arsenal, que foi parar em uma lista de jogadores que poderiam explodir em 2009 sem nunca ter existido”.
Não se está aqui buscando equivaler as produções dos factoides. No esporte, este tipo de problema afeta apenas e exclusivamente parcelas específicas da população, torcedores das suas respectivas agremiações. Já na política, a divulgação de mentiras e a produção de fatos visando desestruturar uma candidatura tem repercussão na vida de todos nós, principalmente quando esta candidatura tem, no conjunto das suas proposições, perspectivas de ampliação de direitos sociais das camadas menos favorecidas da população.
Ambos os casos de produções de factoides, nos ensinam a ter maiores cuidados com as informações que recebemos e que muitas vezes repassamos, divulgamos, sem ao menos ter checado a veracidade da mesma.
Passado uma semana, a avaliação que o partido do trabalhador, que até uma semana antes das eleições tinha, em larga medida, a certeza da vitória no primeiro turno, foi que o tema do aborto foi o principal responsável pela guinada de Marina Silva, forçando o improvável segundo turno.
Tema indigesto, para dizer o mínimo, o mesmo não foi trazido à lúmen por nenhum dos dois candidatos, mas foi produzido por meio de um instrumento sabidamente escuso: a produção de factoides.
O mesmo tinha um alvo determinado e consistia em atingir a candidata do governo.
Responsável por 15% de morte materna no país, pelo menos uma em cada cinco mulheres com menos de 40 anos de idade já praticou o aborto, ato este que malsucedido, é responsável por mais de 180 mil curetagens pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Pois esse tema de saúde pública transformou-se em uma arma no debate das idéias, atingindo, em cheio, as consciências puritanas e conservadoras deste país que passaram a enxergar na figura da candidata Dilma Rousseff, a “matadora de criancinhas”.
Enganam-se quem considera que os factoides são construídos apenas no âmbito da política ou utilizados somente para desestabilizar candidatos ou candidatas. O mundo do esporte também se encontra povoado desse mecanismo bizarro.
No mês passado, a revista esportiva ESPN publicou uma matéria intitulada “Meu Craque de Mentira” que trouxe a seguinte reportagem. “Uma transferência agitou o futebol uruguaiu na janela européia. Por 3 milhões de libras, o Danubio vendeu a revelação Néstor ‘Colibri’ Coratella ao Villareal, negociação amplamente divulgada pela imprensa espanhola. Tudo perfeito, não fosse um detalhe: Coratella não existe. Foi inventado por um grupo de internautas”.
Vejam vocês. Um acontecimento completamente falso, fabricado, foi divulgado como se verdade fosse por órgãos de imprensa especializados. Na mesma matéria tomamos conhecimento de um caso parecido. Trata-se de “Masal Bugduv, a revelação moldava de 16 anos, pretendida pelo Arsenal, que foi parar em uma lista de jogadores que poderiam explodir em 2009 sem nunca ter existido”.
Não se está aqui buscando equivaler as produções dos factoides. No esporte, este tipo de problema afeta apenas e exclusivamente parcelas específicas da população, torcedores das suas respectivas agremiações. Já na política, a divulgação de mentiras e a produção de fatos visando desestruturar uma candidatura tem repercussão na vida de todos nós, principalmente quando esta candidatura tem, no conjunto das suas proposições, perspectivas de ampliação de direitos sociais das camadas menos favorecidas da população.
Ambos os casos de produções de factoides, nos ensinam a ter maiores cuidados com as informações que recebemos e que muitas vezes repassamos, divulgamos, sem ao menos ter checado a veracidade da mesma.
domingo, 3 de outubro de 2010
Eleição e política: pela consulta popular também na esfera esportiva
Durante os últimos três meses, foram muitas as propagandas falando sobre a importância da eleição e do voto do povo. Muitas insistiam que com o voto era possível mudar o rumo do país e falavam das maravilhas de uma certa urna eletrônica. O destino da nação estava na ponta dos nossos dedos e a esperança de dias melhores nas teclas da mágica máquina. Talvez por isso a tecla de confirmação do voto tenha a cor verde. A esperança é a última que morre, diz o ditado.
Desde o fim da ditadura militar, esta será a sexta vez em que o povo, alçado agora como cidadão, se dirigirá às diferentes zonas eleitorais nos 5.565 municípios exitentes no país. E foi em uma dessas zonas, a sexta, no bairro de brotas, cidade do salvador, bahia, esperando em uma fila a minha vez de justificar o voto por estar longe do meu domicílio eleitoral(Itabuna), que a reflexão tema desta postagem brotou e que diz respeito sobre a necessidade do povo brasileiro participar não tão somente das eleições, mas, sim, da política!
Norberto Bobbio, no seu dicionário de política, nos ensina que o termo política é "derivado do adjetivo pólis (politikós), que significa tudo o que se refere à cidade, o que é urbano, civil, público e até mesmo sociável e social, o termo política se expandiu graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada como o primeiro tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado, e sobre as várias formas de governo."
Portanto, as propagandas que encheram as diferentes mídias deveriam deixar claro de que a política, essencialmente, não se resume ao voto em um número específico de um candidato ou candidata e nem se presta para, apenas, participar de um evento cívico como a eleição, mas que ela é, sim, o "espírito" que move o "corpo social", e que é a partir e através dela que se trava o embate, as lutas de classes sobre a direção que queremos dar às questões referentes a pólis, a cidade e tudo o que nela ocorre. E esta é uma dinâmica cotidiana e não apenas e tão somente de tempos em tempos.
Podemos, como muitos fazem, até não nos preocuparmos com a política, mas, com toda a certeza, a política nunca, jamais, deixará de se preocupar conosco e com as coisas que fazem parte da vida da cidade, dentre elas, aquela que nos interessa de maneira especial: o esporte, que no século passado, tanto nos governos de direita, quanto nos de esquerda, se transformou em um objeto muito apreciado para a divulgação dos feitos políticos, economômicos e sociais dos seus regimes e que no século atual, se transforma em objeto capaz de mudar, estruturalmente, a cara da cidade, da pólis, se transformando em receita e remédio para todos os problemas da sociedade.
No embate que se trava entre modelos de desenvolvimento esportivo, no atual quadro de correlação de forças, seria muito importante pautar a necessidade da consulta popular para a definição das políticas relacionadas ao esporte. Penso que estaríamos desenvolvendo a democracia de cunho participativo que, juntamente com a representativa, de caráter restritivo, que só se lembra do povo e o transforma em cidadão apenas e tão somente em épocas de eleições, potencializaria uma dinâmica política mais ampla.
Poderíamos ter consultado a população sobre a necessidade da implosão da Fonte Nova, da construção de um novo estádio de futebol como o pituaçu, da derrubada do balbininho, da alocação de recursos públicos para desenvolvimento de ações que beneficiam setores privados do esporte, entre outros.
Poderíamos começar, aqui e agora, consultando o povo sobre a necessidade de eleição direta para a presidência e conselho consultivo de um clube esportivo. O mesmo seria feito nas ligas, nas federações, confederações e comitês. Penso que procedendo desta forma, estaríamos exercitando, aprofundando e ampliando o sentido e significado da politikós aristotélica, pois desta ação participaria toda a população.
Vamos observar se desta eleição sairão lutadores do povo efetivamente comprometido com o processo de democratização ampla da sociedade em todas as esferas que a constitue e com a politização do debate em torno dos fenômenos sociais fundamentais da contemporaneidade: o esporte entre eles.
domingo, 26 de setembro de 2010
Por uma política esportiva democrática e popular
No próximo domingo, 03 de outubro, milhões de brasileiros e brasileiras estarão indo em direção às seções eleitorais para exercerem um ato democrático que, contraditoriamente, é obrigatório: votar. Muitos exercerão este ato cívico imbuídos de convicções ideológicas, sabedores do que representa um partido político e do seu papel no desenvolvimento de uma nação. Outros tantos votarão pela obrigação do voto, por gostar deste ou daquele condidato ou candidata, ou por que ele foi bom para a "minha" cunhada, "minha" nora, "meu" sobrinho, etc, etc.
Neste pleito, nesta ordem, votaremos nos deputados e deputadas estaduais, depois para federal, dois senadores da república ou senadoras, governador ou governadora e, no final, para presidente ou presidenta. Embora a propaganda oficial das eleições tenha como representações midiáticas figuras que lembram o gênero masculino, é importante pontuar que teremos duas candidatas ao cargo mais alto da república brasileira nestas eleições. Uma pelo partido verde, Marina Silva e outra pelo partido dos trabalhadores, Dilma Rousself.
Até o presente momento, apesar de todos os factóides construídos pelo chamado partido da imprensa golpista (PIG), a candidata pelo PT está a frente das pesquisas e para o desespero dos partidos tidos como conservadores, PSDB e DEM, a mesma pode vencer já no primeiro turno, confirmando uma máxima muito comum no âmbito esportivo que diz que em time que tá ganhando, não se mexe.
Nesse caso, nos resta avaliar o time atual naquilo que nos é cabível neste latinfúndio internético, a política esportiva nacional, buscando desenvolver uma perspectiva para os anos que se seguirão neste assunto específico. Evidentemente que isso será feito no limite deste espaço.
1930. Estado Novo. Nesta época, mais de uma Confederação ligada ao esporte podia tomar conta de uma mesma modalidade esportiva. O Brasil foi convidado para participar de um campeonato de futebol no exterior. A Confederação do Rio de Janeiro ficou responsável em montar a equipe. O Estado de São Paulo, com ciúme por não ter sido o escolhido e por birra, boicotou o evento e não mandou nenhum jogador. O Brasil se deu mal. Getúlio Vargas, exigiu do Ministro da Justiça, João Lyra Filho, diretrizes para organizar o esporte no país. E assim foi.
Dez anos depois, mas precisamente no ano de 1941, surge, através do decreto-lei 3.199, o primeiro documento que busca dar uma direção a uma política esportiva nacional. Esta lei de diretrizes e bases vai se extender até a década de 70 do século passado onde a ideia de um estado interventor e conservador terá prosseguimento junto a uma estrutura verticalizada, piramidal, com a criação das respectivas Confederações, Federações, Ligas e Clubes. A base e o centro da pirâmide se justifica em função do seu âpice, o esporte de rendimento. Nesse ínterim, a massificação do esporte em diferentes setores da sociedade tem como objetivo fundamental, a detecção de talentos esportivos que possam, nos grandes eventos, presentear a sociedade com troféus e medalhas.
Na década de 90, em face do processo de reestruturação do capital de cunho neoliberal, o modelo de Estado conservador e interventor se transmuta em uma outra lógica programática, tendo o mercado como pólo de influência substantiva. Essa nova configuração terá na "Lei Zico" (1993) e na "Lei Pelé" (1998), a sua base legal, criando um Estado Esportivo dentro do Estado. As entidades esportivas tornam-se instituições com personalidade jurídica de direito privado, isentando o Estado do seu papel intervencionista, mas deixando-o como financiador da pirâmide.
Chegamos, finalmente, no governo atual. Estamos agora em 2003. 80 anos aproximadamente se passaram desde o primeiro ato de Getúlio Vargas até o governo Lula que cria algo nunca antes visto neste país, um ministério todinho só para tratar de assuntos relacionados ao esporte. Agora vai, pensei. Finalmente teremos uma política esportiva democrática e popular.
Ledo engano. Algumas coisas importantes foram feitas em direção ao processo de massificação esportiva, como o projeto "Segundo Tempo", e o "Esporte e Lazer da Cidade" por exemplo. Mas ambos insuficientes para o atendimento da demanda historicamente reprimida. Tivemos também as Conferências Nacionais de Esporte, precedidas dos seus respectivos fóruns municipais e estaduais, na tentativa de democratizar o debate em torno da política esportiva, que apesar de todo esse esforço meritório, continua centrada no esporte de rendimento.
Este, por sua vez, apesar de nunca ter trazido de forma proporcional, benefícios para o país, continua sempre e cada vez mais recebendo o afago e o carinho do Estado financiador através da "Lei de Incentivo ao Esporte", "Lei Piva", "Timemania", patrocínio das estatais Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica entre outras,
Na verdade, o governo federal, no tocante a política esportiva de caráter democrático e popular, ficou devendo e muito e tudo indica que este modelo continuará por mais alguns anos, independente de quem ganhe a atual eleição. Com as mediações dos grandes eventos esportivos que ocorrerão no país nos próximos dez anos, as ações de governo se dirigirão ao atendimento das demandas do Estado Esportivo (conservador, concentrador e autoritário), tão autoritário quanto o governo Vargas, que não por acaso, foi quem deu o ponta-pé inicial para a implementação de diretrizes e bases para o esporte nacional.
No tocante as ações contra-hegemônicas, resta-nos, no marco das correlações de forças atuais, aprofundar o debate sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, ideia emergida da Segunda Conferência Nacional de Esporte e que pode ser um ponto de partida importante para discutir a problemática da política esportiva nacional e romper com a programática da pirâmide esportiva.
domingo, 19 de setembro de 2010
Abertura da Copa 2014: e vai rolar a festa!!!
A abertura da Copa do Mundo de 2014 está em aberto. Há quem acredite que pode ser em Salvador, a cidade de um Estado que até bem pouco tempo era ignorada de forma veemente pelo dono do futebol brasileiro, o senhor Ricardo Teixeira, magoado pelas vaias lançadas pela torcida baiana quando da atuação da seleção brasileira de Lazaroni quando jogou em Salvador, pela Copa América em 1989, que excluiu do seu elenco o jogador Charles, protagonista do título brasileiro do Esporte Clube Bahia no ano anterior.
Mas isso tem muito tempo, dirão alguns. A estes lembro que vigança é um prato que se come frio e o senhor Teixeira sabe e pratica muito bem isso. Vinte anos separaram o jogo das vaias do último jogo da seleção em Pituaçu, contra o Chile, ano passado. Aliás, somente o sentimento de vigança pode explicar o fato da abertura da Copa não ser em São Paulo, cidade sede das elites retrógradas do Brasil, salvo raríssimas exceções.
Para as não excessões, é querer demais nós, nordestinos, abrirmos um dos eventos mais importantes, senão o mais, em termos de imagem, e deixar para trás o bastião da política do café com leite. Já não basta o presidente da república? Questionam os seus parcos neurônios.
A abertura da Copa do Mundo em Salvador é tão provável, quanto a transformação, do reino vegetal para o reino animal, de uma planta carnívora.
Não é o que pensa o senhor Ney Campello, secretário extraordinário para assuntos da Copa (Secopa). Movido pelo ônus e bônus do cargo que ocupa e por um louvável sentimento de otimismo que beira a ingenuidade e com muita fé nos orixás, o mesmo entregou ao Teixeira, que além de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acumula o cargo de presidente do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014, um documento formalizando o pedido da capital baiana para sediar o evento da abertura da Copa do Mundo.
No documento, além da demonstração da infraestrutura e da história da cidade, continha cartas de apoio de cidades dos estados do Norte e do Nordeste do Brasil. Se juntará ao documento, como mais um esforço de sensibilização ao sensível presidente do COL, um grande evento público, envolvendo o povo (há, o povo), os artistas, as autoridades e todos àqueles que de uma forma ou de outra, possam transformar este sonho em realidade.
Já não bastasse o montante de dinheiro público que será direcionado para as empreiteiras na construção de uma Nova Fonte Nova, quando a antiga poderia muito bem ser reformada com custos menores, segundo 17 entidades dos setores de arquitetura e urbanismo, entre outros, mais dinheiro público agora será necessário para pagar a farra e atender aos anseios (seriam devaneios?) de uns poucos.
Mas isso tem muito tempo, dirão alguns. A estes lembro que vigança é um prato que se come frio e o senhor Teixeira sabe e pratica muito bem isso. Vinte anos separaram o jogo das vaias do último jogo da seleção em Pituaçu, contra o Chile, ano passado. Aliás, somente o sentimento de vigança pode explicar o fato da abertura da Copa não ser em São Paulo, cidade sede das elites retrógradas do Brasil, salvo raríssimas exceções.
Para as não excessões, é querer demais nós, nordestinos, abrirmos um dos eventos mais importantes, senão o mais, em termos de imagem, e deixar para trás o bastião da política do café com leite. Já não basta o presidente da república? Questionam os seus parcos neurônios.
A abertura da Copa do Mundo em Salvador é tão provável, quanto a transformação, do reino vegetal para o reino animal, de uma planta carnívora.
Não é o que pensa o senhor Ney Campello, secretário extraordinário para assuntos da Copa (Secopa). Movido pelo ônus e bônus do cargo que ocupa e por um louvável sentimento de otimismo que beira a ingenuidade e com muita fé nos orixás, o mesmo entregou ao Teixeira, que além de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acumula o cargo de presidente do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014, um documento formalizando o pedido da capital baiana para sediar o evento da abertura da Copa do Mundo.
No documento, além da demonstração da infraestrutura e da história da cidade, continha cartas de apoio de cidades dos estados do Norte e do Nordeste do Brasil. Se juntará ao documento, como mais um esforço de sensibilização ao sensível presidente do COL, um grande evento público, envolvendo o povo (há, o povo), os artistas, as autoridades e todos àqueles que de uma forma ou de outra, possam transformar este sonho em realidade.
Já não bastasse o montante de dinheiro público que será direcionado para as empreiteiras na construção de uma Nova Fonte Nova, quando a antiga poderia muito bem ser reformada com custos menores, segundo 17 entidades dos setores de arquitetura e urbanismo, entre outros, mais dinheiro público agora será necessário para pagar a farra e atender aos anseios (seriam devaneios?) de uns poucos.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
CBF, Ricardo Teixeira e Fonte Nova
O jornalismo esportivo na semana da independência divulgou com empenho a polêmica declaração do presidente do clube de futebol atletico mineiro. No dia 06 do corrente mês, o senhor Alexandre Kalil disse em alto e bom som em entrevista a uma rádio que “os jogadores têm que se cuidar, sim. O Atlético não é brinquedo. E, se eles tomarem um cacete na madrugada, não vai fazer mal nenhum”. Em função disso, o mesmo será indiciado pelo Ministério Público mineiro e caso se comprove incitação a violência, o mesmo pode perder o seu cargo no clube.
O mesmo empenho não demonstrou a mesma imprensa esportiva e principalmente alguns canais de televisão sobre um outro acontecimento tão grave quanto o primeiro: a sonegação de impostos por parte da CBF. Poucos foram os órgão de imprensa que relataram o fato. A Folha de São Paulo informou que "A entidade foi acusada de usar verbas para bancar jornalistas, juízes e advogados e abater essas despesas no pagamento do imposto. A dívida se arrastou de 2002 a 2009, quando a CBF pagou a multa para não ser inscrita na Dívida Ativa da União e levar o caso a público."
E isso não é tudo, pois o rombo nos cofres públicos pode ser ainda maior, já que existem mais de 100 processos abertos contra a CBF pelo Ministério da Fazenda desde 2003. Mas a entidade não deve tá muito preocupada com a multa de três milhões de reais, pois somente neste ano, dos patrocinadores, a mesma vai faturar mais de duzentos milhões de reais.
Não custa nada lembrar que a CBF é presidida pelo senhor Ricardo Teixeira que também é presidente do Comitê Local da Copa de 2014 e que ironicamente receberá isenções fiscais na ordem da bagatela de R$ 900 milhões para beneficiar os seus parceiros junto à FIFA e seu comitê organizador do mundial de futebol.
Falando em mundial de futebol, um fato extremamente relevante, inclusive como jogada de marketing, foi a desnecessária implosão da fonte nova, aqui em Salvador. Os governantes e a própria imprensa esportiva se fizeram de cegos, surdos e mudos e não deram nenhuma visibilidade as ideias de quase vinte entidades da sociedade civil sobre a viabilidade da revitalização da fonte nova. Preferiram demolir a mesma e a inchar a grade de programação das suas redes com sentimentalismo baratos. "Foi ali que fiz o meu primeiro gol", "lembro quando o meu pai me levou na fonte nova...", "vai ficar saudades, pois guardo na memória os melhores Ba-Vi que assisti", e outras baboseiras.
O essêncial? Bota embaixo do tapete junto com a poeira da implosão, pois o ideal é despolitizar o acontecimento e sentimentalizá-lo. É a bola da vez do irracionalismo atuando no imaginário do telespectador. Mas duro mesmo foi ler uma fala do Bobô, afirmando que o acontecimento era "o renascimento do futebol baiano. A história não será apagada. Vi meus gols no telão agora e me emocionei. Estou muito feliz - disse Bobô".
Esperamos mesmo que a história não se apague e se lembre sempre que junto aos escombros da implosão segue um acontecimento que foi fundamental para o debate entre reforma ou implosão da fonte nova e sobre o qual a imprensa também silenciou nos últimos dias: a tragédia do dia 25 de novembro de 2007. Um bom momento, penso, para perguntar as autoridades: como andam as famílias vitimadas? E as vítimas? Terão elas os nomes lembrados no tal museu do futebol que vão construir? A idenização tá sendo paga ou ela sobrecarrega os cofres públicos?
O mesmo empenho não demonstrou a mesma imprensa esportiva e principalmente alguns canais de televisão sobre um outro acontecimento tão grave quanto o primeiro: a sonegação de impostos por parte da CBF. Poucos foram os órgão de imprensa que relataram o fato. A Folha de São Paulo informou que "A entidade foi acusada de usar verbas para bancar jornalistas, juízes e advogados e abater essas despesas no pagamento do imposto. A dívida se arrastou de 2002 a 2009, quando a CBF pagou a multa para não ser inscrita na Dívida Ativa da União e levar o caso a público."
E isso não é tudo, pois o rombo nos cofres públicos pode ser ainda maior, já que existem mais de 100 processos abertos contra a CBF pelo Ministério da Fazenda desde 2003. Mas a entidade não deve tá muito preocupada com a multa de três milhões de reais, pois somente neste ano, dos patrocinadores, a mesma vai faturar mais de duzentos milhões de reais.
Não custa nada lembrar que a CBF é presidida pelo senhor Ricardo Teixeira que também é presidente do Comitê Local da Copa de 2014 e que ironicamente receberá isenções fiscais na ordem da bagatela de R$ 900 milhões para beneficiar os seus parceiros junto à FIFA e seu comitê organizador do mundial de futebol.
Falando em mundial de futebol, um fato extremamente relevante, inclusive como jogada de marketing, foi a desnecessária implosão da fonte nova, aqui em Salvador. Os governantes e a própria imprensa esportiva se fizeram de cegos, surdos e mudos e não deram nenhuma visibilidade as ideias de quase vinte entidades da sociedade civil sobre a viabilidade da revitalização da fonte nova. Preferiram demolir a mesma e a inchar a grade de programação das suas redes com sentimentalismo baratos. "Foi ali que fiz o meu primeiro gol", "lembro quando o meu pai me levou na fonte nova...", "vai ficar saudades, pois guardo na memória os melhores Ba-Vi que assisti", e outras baboseiras.
O essêncial? Bota embaixo do tapete junto com a poeira da implosão, pois o ideal é despolitizar o acontecimento e sentimentalizá-lo. É a bola da vez do irracionalismo atuando no imaginário do telespectador. Mas duro mesmo foi ler uma fala do Bobô, afirmando que o acontecimento era "o renascimento do futebol baiano. A história não será apagada. Vi meus gols no telão agora e me emocionei. Estou muito feliz - disse Bobô".
Esperamos mesmo que a história não se apague e se lembre sempre que junto aos escombros da implosão segue um acontecimento que foi fundamental para o debate entre reforma ou implosão da fonte nova e sobre o qual a imprensa também silenciou nos últimos dias: a tragédia do dia 25 de novembro de 2007. Um bom momento, penso, para perguntar as autoridades: como andam as famílias vitimadas? E as vítimas? Terão elas os nomes lembrados no tal museu do futebol que vão construir? A idenização tá sendo paga ou ela sobrecarrega os cofres públicos?
sábado, 4 de setembro de 2010
Referências Curriculares para a Educação Física
Do dia 30 de agosto a 03 de setembro, na Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal da Bahia, realizou-se o Simpósio Internacional sobre Formação de Professores e Referências Curriculares Básicas para a Educação Física Escolar e o II Seminário do Pólo de Referência de Formação e Pesquisa em Educação do Campo. A responsabilidade pela realização coube ao Grupo Lepel/UFBa, coordenado pelo professor Cláudio Lira e pela professora e diretora da FACED, Celi Taffarel.
Ao contrário do que muitos defendem em relação a escola, entendendo-a como um espaço de detecção e formação de atletas, neste evento a escola foi pensada como um espaço de contradição, onde se materializam determinadas maneiras de direcionar o conhecimento. Nesse sentido, durante a semana, foram apresentadas as principais abordagens, com a presença dos principais articuladores das mesmas, que vem se preocupando em sistematizar o conhecimento possível e necessário de ser trabalhado pela Educação Física no chão da escola.
Estiveram presentes no evento os professores Reiner Hildebrandt Stramann, a professora Heike Beckmann, ambos da Alemanha; os professores Lucio Martinez e Nicolas Borres, da Espanha, os professores Antonio Faustino, de Portugal. Todos com a incubência de socializarem suas experiências no campo da investigação do currículo e da formação do professor de Educação Física.
As experiências brasileiras ficaram a cargo dos professores Alex Branco Fraga (RS), Ana Rita Lorenzini (PE) e Felipe Gonçalves (PR), estados onde já se materializam algumas diretrizes no campo didático-pedagógico da Educação Física. Tivemos também a exposição das experiências de outros estados, como a própria Bahia, junto com Sergipe, Alagoas e Paraíba.
O professor Elenor Kunz, da Universidade Federal de Santa Catarina também se fez presente, fazendo uma abordagem histórica da educação física e situando, em linhas gerais, a abordagem crítico-emancipatória. Tomando como mote a questão Educação Física para quê?, problematizou o papel das pesquisas que hoje são feitas nos programas de pós-graduação de diferentes estados brasileiros, evidenciando que pouca contribuição trazem aos professores e professoras que estão na escola.
Vários coordenadores e coordenadoras das diversas Diretorias Regionais de Educação (DIRECS) do Estado da Bahia, juntamente com a Coordenação de Educação Física e Esporte Escolar, estiveram presentes e participaram de forma efetiva das reflexões e debates sobre as diretrizes curriculares da Educação Física, expondo suas visões de mundo e pontos de vistas, sempre buscando compreender as relações de aproximação e distanciamento das diferentes abordagens que foram apresentadas.
Com a intenção de aprofundar o debate, foram distribuídos alguns livros (Dicionário Crítico da Educação Física, Metodologia do Ensino da Educação Física, Transformação Didático-pedagógica do Esporte) aos representantes das DIRECS, e os mesmos chegarão aos professores e professoras para uma maior e melhor aproximação e aprofundamento sobre o que vem sendo desenvolvido no que diz respeito a organização didática-pedagógica da educação física escolar, para poderem discutir com propriedade, as questões que foram fomentadas neste encontro nos seminário regionais, próximo passo a ser realizado pelo coletivo de professores e professoras.
Um evento riquíssimo, que certamente repercutirá na Educação Física baiana, não entendida como uma disciplina que no interior da escola fomenta atletas mas, sim, uma disciplina que deve está a serviço da formação humana emancipada, com clareza do seu projeto histórico, da sua teoria pedagógica e das matrizes filosóficas que as sustentam.
Ao contrário do que muitos defendem em relação a escola, entendendo-a como um espaço de detecção e formação de atletas, neste evento a escola foi pensada como um espaço de contradição, onde se materializam determinadas maneiras de direcionar o conhecimento. Nesse sentido, durante a semana, foram apresentadas as principais abordagens, com a presença dos principais articuladores das mesmas, que vem se preocupando em sistematizar o conhecimento possível e necessário de ser trabalhado pela Educação Física no chão da escola.
Estiveram presentes no evento os professores Reiner Hildebrandt Stramann, a professora Heike Beckmann, ambos da Alemanha; os professores Lucio Martinez e Nicolas Borres, da Espanha, os professores Antonio Faustino, de Portugal. Todos com a incubência de socializarem suas experiências no campo da investigação do currículo e da formação do professor de Educação Física.
As experiências brasileiras ficaram a cargo dos professores Alex Branco Fraga (RS), Ana Rita Lorenzini (PE) e Felipe Gonçalves (PR), estados onde já se materializam algumas diretrizes no campo didático-pedagógico da Educação Física. Tivemos também a exposição das experiências de outros estados, como a própria Bahia, junto com Sergipe, Alagoas e Paraíba.
O professor Elenor Kunz, da Universidade Federal de Santa Catarina também se fez presente, fazendo uma abordagem histórica da educação física e situando, em linhas gerais, a abordagem crítico-emancipatória. Tomando como mote a questão Educação Física para quê?, problematizou o papel das pesquisas que hoje são feitas nos programas de pós-graduação de diferentes estados brasileiros, evidenciando que pouca contribuição trazem aos professores e professoras que estão na escola.
Vários coordenadores e coordenadoras das diversas Diretorias Regionais de Educação (DIRECS) do Estado da Bahia, juntamente com a Coordenação de Educação Física e Esporte Escolar, estiveram presentes e participaram de forma efetiva das reflexões e debates sobre as diretrizes curriculares da Educação Física, expondo suas visões de mundo e pontos de vistas, sempre buscando compreender as relações de aproximação e distanciamento das diferentes abordagens que foram apresentadas.
Com a intenção de aprofundar o debate, foram distribuídos alguns livros (Dicionário Crítico da Educação Física, Metodologia do Ensino da Educação Física, Transformação Didático-pedagógica do Esporte) aos representantes das DIRECS, e os mesmos chegarão aos professores e professoras para uma maior e melhor aproximação e aprofundamento sobre o que vem sendo desenvolvido no que diz respeito a organização didática-pedagógica da educação física escolar, para poderem discutir com propriedade, as questões que foram fomentadas neste encontro nos seminário regionais, próximo passo a ser realizado pelo coletivo de professores e professoras.
Um evento riquíssimo, que certamente repercutirá na Educação Física baiana, não entendida como uma disciplina que no interior da escola fomenta atletas mas, sim, uma disciplina que deve está a serviço da formação humana emancipada, com clareza do seu projeto histórico, da sua teoria pedagógica e das matrizes filosóficas que as sustentam.
sábado, 28 de agosto de 2010
Implosão da Fonte Nova
Em menos de 20 segundos, o estádio Otávio Mangabeira, mais conhecido como FONTE NOVA, será demolido em definitivo neste domingo (29) e um novo estádio surgirá dos escombros do velho, a Arena Fonte Nova. Esta preservará, da anterior, o seu formato ferradura abrindo-se para o belo Dique do Tororó.
A "Arena", que também sediará shows, congressos e encontros, pois a mesma terá a função multiuso, terá capacidade para mais de 50.000 (cinquenta mil pessoas), assentos cobertos, 70 camarotes com possibilidade de ampliação para 100, restaurante panorâmico e exatos 1.978 vagas para estacionamento. Teremos também sala de imprensa, quiosques (39), elevadores (12), sanitários (81), além do museu do futebol, lojas e um centro de negócios.
Após a construção da nova "Arena", não esperem encontrar por lá nenhuma piscina pública, ginásio com quadra poliesportiva nem, tampouco, uma escola pública. É importante frisar que a agora Velha FONTE NOVA, que também era multiuso, pois tinha funções que transcendiam o futebol, não existe mais. Aliás, desde a última tragédia ocorrida no dia 25 de novembro do ano de 2007, onde parte da arquibancada caiu, derrubando vários torcedores e como consequencia deixando vários feridos e sete mortes.
Antes desse acidente, a Fonte Nova não estava nos planos do governo baiano que concorria, já naquele ano, para o estado da Bahia ser uma das sedes da Copa. O que se tinha como ideia era a construção da chamada Arena da Bahia, que teria capacidade para 40.000(quarenta mil) torcedores. Com o incidente, ou com a chamada tragédia anunciada, pois vários órgãos já apontavam o sucateamento do Otávio Mangabeira, fato inclusive determinante para não se pensar nele como sede da Copa do Mundo de 2014, os planos governamentais modificaram-se e a Fonte Nova passou a ser objeto de peleja: demolir ou reformar?
Nas postagens aqui no nosso blog, reinteradas vezes defendemos a reforma como a melhor ação por parte do governo. Posteriormente, diversas entidades (ABENC – Associação Brasileira ; ANEAC; IAB/BA; CREA-BA, CEB; Fórum A Cidade Também é Nossa; IBAPE; Movimento Vozes de Salvador, SENGE; SINARQ; GAMBÁ; UMP/BA; FABS -Federação das Associações de Bairros de Salvador; FAMEB – Federação das Associações deMoradores do Estado da Bahia; CONAM – Confederação Nacional das Associações deMoradores. GERMEM – Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental; Faculdade de Arquitetura da UFBA; Escola Politécnica da UFBA) se uniram e propuseram, dia 11 de maio, alternativas à demolição. Colocamos as mesmas na parte esquerda, abaixo da logomarca da Copa 2014 já naquele momento, com a intenção de publicizar.
Mas os interesses corporativos falaram mais alto. A demolição, apesar dos pesares, ocorrerá. Dos escombros, entre memórias tristes e alegres, entre mortos e feridos, se erguerá uma modernosa Arena. Resta esperar que a mesma seja tudo o que se espera dela, não para os poucos abastardos da sociedade, os turistas daqui e alhures, mas para todo nós que compomos esta pólis, cada vez e sempre mais complexa e contraditória, sociedade do capital.
domingo, 22 de agosto de 2010
Que culpa tenho eu?
O jornal Folha de São Paulo nos brinda, neste domingo, com uma elucidativa entrevista com o senhor Carlos Artur Nuzman, feita pela jornalista Mariana Bastos e publicada no caderno de esporte da folha. A entrevista foi realizada em Cingapura, onde Nuzman acompanha os Jogos Olímpicos da Juventude. Neste evento, uma boa parte da geração que disputará os Jogos Olímpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro, está presente.
O senhor Nuzman é o mesmo homem que deixou o senado federal a ver navios quando da tentativa de sabatina sobre o Pan-americano do Rio-2007 por parte dos senadores da república. Após falar sobre o evento e deitar louros sobre o mesmo, se vangloriando na companhia do seu eterno sorriso no rosto, retirou-se alegando ter coisas mais importantes para fazer naquele momento do que responder, dá satisfação à República brasileira sobre o evento.
Na entrevista, embora acumule os dois principais cargos do esporte olímpico nacional, Nuzman diz que "O COB não tem atletas e nem forma atletas", frase repetida inúmeras vezes durante o tempo que durou a entrevista, como quisesse transformar em verdade esta frase retórica, pois se é factível que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) não tem atletas e nem tampouco forma os mesmos, pela sua razão intrínseca, o mesmo é responsável em repassar os recursos oriundos das loterias federais para as entidades responsáveis em desenvolver projetos de detecção, formação e aperfeiçoamento de atletas das diferentes modalidades representadas pelas diversas confederações existentes. O que o torna, no mínimo, co-responsável pelo sucesso ou fracasso do desenpenho brasileiro nas competições Olímpicas e Para-olímpicas.
Se isso já não bastasse para impedir que o Nuzman retire o seu braço da seringa esportiva, é importante lembrar que a entidade que o mesmo preside há nada mais que 10 anos, gere as verbas do desporto escolar e universitário, grandes centros de captação de recursos humanos, desde 2001.
Falando em gerenciamento, tudo indica que o Nuzman não acredita na capacidade de gestão dos chefes das confederações brasileiras, os mesmos que o apoia desde sempre. Questionado pela jornalista sobre a responsabilidade do COB em ter projeto olímpico para buscar ajudar o esporte que distribuem mais medalhas, ele saiu-se com essa: "Sim. É o que estamos procurando fazer. (...). Eu topo o seguinte desafio: acaba com as confederações e eu dirijo tudo, mas não acho justo me cobrarem por um trabalho que não é meu".
Vejam só. Parece que Nuzman está mandando um recado muito claro para todos nós. Mesmo com toda essa dinheirama pública sendo gerenciada pelo COB e pelos presidentes das confederações esportivas nacionais, que recebem patrocínios polpudos do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, Petrobrás entre outros, seremos um fiasco em 2016. E aí...bem, neste caso, a culpa não é minha, entende? São dos maus gestores que sempre me apoiaram, sempre estiveram à frente das entidades com o meu aval, sempre votaram em mim, confiaram em mim, me perpetuaram no poder, mas daí a ter culpa pelo fracassso, repito, "não acho justo me cobrarem por um trabalho que não é o meu".
O senhor Nuzman é o mesmo homem que deixou o senado federal a ver navios quando da tentativa de sabatina sobre o Pan-americano do Rio-2007 por parte dos senadores da república. Após falar sobre o evento e deitar louros sobre o mesmo, se vangloriando na companhia do seu eterno sorriso no rosto, retirou-se alegando ter coisas mais importantes para fazer naquele momento do que responder, dá satisfação à República brasileira sobre o evento.
Na entrevista, embora acumule os dois principais cargos do esporte olímpico nacional, Nuzman diz que "O COB não tem atletas e nem forma atletas", frase repetida inúmeras vezes durante o tempo que durou a entrevista, como quisesse transformar em verdade esta frase retórica, pois se é factível que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) não tem atletas e nem tampouco forma os mesmos, pela sua razão intrínseca, o mesmo é responsável em repassar os recursos oriundos das loterias federais para as entidades responsáveis em desenvolver projetos de detecção, formação e aperfeiçoamento de atletas das diferentes modalidades representadas pelas diversas confederações existentes. O que o torna, no mínimo, co-responsável pelo sucesso ou fracasso do desenpenho brasileiro nas competições Olímpicas e Para-olímpicas.
Se isso já não bastasse para impedir que o Nuzman retire o seu braço da seringa esportiva, é importante lembrar que a entidade que o mesmo preside há nada mais que 10 anos, gere as verbas do desporto escolar e universitário, grandes centros de captação de recursos humanos, desde 2001.
Falando em gerenciamento, tudo indica que o Nuzman não acredita na capacidade de gestão dos chefes das confederações brasileiras, os mesmos que o apoia desde sempre. Questionado pela jornalista sobre a responsabilidade do COB em ter projeto olímpico para buscar ajudar o esporte que distribuem mais medalhas, ele saiu-se com essa: "Sim. É o que estamos procurando fazer. (...). Eu topo o seguinte desafio: acaba com as confederações e eu dirijo tudo, mas não acho justo me cobrarem por um trabalho que não é meu".
Vejam só. Parece que Nuzman está mandando um recado muito claro para todos nós. Mesmo com toda essa dinheirama pública sendo gerenciada pelo COB e pelos presidentes das confederações esportivas nacionais, que recebem patrocínios polpudos do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, Petrobrás entre outros, seremos um fiasco em 2016. E aí...bem, neste caso, a culpa não é minha, entende? São dos maus gestores que sempre me apoiaram, sempre estiveram à frente das entidades com o meu aval, sempre votaram em mim, confiaram em mim, me perpetuaram no poder, mas daí a ter culpa pelo fracassso, repito, "não acho justo me cobrarem por um trabalho que não é o meu".
sábado, 14 de agosto de 2010
Imagem esporte clube
Quando o ex-técnico da seleção brasileira, Carlos Caetano Bledorn Verri, mais conhecido como Dunga, assumiu a seleção brasileira no ano de 2006, o objetivo maior era promover um retorno da imagem de uma seleção aguerrida, briosa, cheia de garra e de vontade de vencer, elementos que pareciam ter faltado à seleção de Carlos Alberto Parreira, que mais parecia está em um parque de diversão nos dias de treinamento. A missão do então novo técnico Dunga era mexer com os brios de uma seleção que parecia ter estado sem comando, dispersa e desatenta durante todo o torneio da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Era preciso montar um time competitivo e vencedor. E o jogador Dunga, que levantou a taça do tetra em 1994, era a encarnação desta imagem.
Com o fracasso da seleção brasileira na última Copa, na África do Sul, todos os elementos que antes eram imprescindíveis para a seleção canarinho sagrar-se campeã, se voltaram contra ela. O parque de diversão da seleção de Parreira transformou-se em quartel general. A imagem austera, comandada pelo "general" Dunga estava presente. Nem mesmo os jornalistas brasileiros tinham acessos privilegiados. Até mesmo os profissionais da Rede Globo, que sempre tinham ligação direta com os selecionados, foram barrados no baile.
A imagem da seleção estava sendo desgastada pelo excesso de rigor e disciplina e isso vinha se expressando em campo e fora dele. Nos gramados, uma seleção sem surpresas, sem genialidade, extremamente previsível. Fora, um técnico desprovido de qualquer senso de responsabilidade, ao ponto de pouco se importar com o que falava nas entrevistas coletivas oficiais que era obrigado a dar. Só mesmo um título mundial faria a imprensa nacional engolir, à moda zagalo, tanto destempero. Mas ele não veio e a imagem que ficou foi de uma seleção truculenta, à moda Felipe Melo.
Eis que esta semana jogou a seleção brasileira. Técnico novo. Novo time e novas estratégias para cuidar da imagem da seleção brasileira. E parece que está dando certo. Ouvir alguns comentários de algumas pessoas do tipo "recuperei o gosto de ver a seleção jogar". E realmente a seleção jogou muito bem fora e dentro de campo, extremamente de acordo ao script montado pelos marketeiros de plantão para recuperação da sua imagem.
O primeiro ato para aproximar o selecionado do povo brasileiro foi a convocação dos meninos da vila. Distribuição de autógrafos, sorrisos para todos os lados, conversas com os fãs e entrevistas para os jornalistas foram outras ações necessárias. O próprio Ricardo Teixeira foi quem aconselhou o grupo para tal atitudes que somadas ao presente recebido por Alex Escobar, jornalista destratado ao vivo e a cores pelo ex-técnico Dunga em entrevista coletiva após o jogo contra a Costa do Marfim, pretende colocar uma pá de cal na imagem deixada pela chamada Era Dunga, seja lá o que isso signifique.
Mas essa questão da imagem não fica restrita aos gramados e nem tampouco, circunscrita a aparição na mídia. Muitas vezes para preservar uma imagem, é preciso ocultá-la. É o que parece está fazendo o nosso Felipe Massa. Depois da corrida de fórmula 1 da Alemanha, onde o mesmo protagonizou uma desacelerada exigida por sua equipe Ferrari em benefício do seu colega de escuderia Fernando Alonso, ele tem evitado aparições públicas e as diferentes mídias. Há quem diga que a estratégia foi imposta pela própria Ferrari, tudo em nome da imagem da equipe.
Um outro que parece está com sua imagem de vencedor abalada é o técnico Luiz Felipe scolari. São seis partidas sem vencer à frente do Palmeiras. Segundo o sítio Máquina do Esporte, "O patrocínio a qualquer personalidade ligada ao futebol, concordam especialistas, está condicionado aos valores e à imagem do patrocinado".
Ainda no próprio sítio, o especialista em indústria do futebol, Oliver Seitz, opina que "Se ele ficar dez ou 15 partidas sem ganhar, não dá para manter a imagem de vencedor que angariou nos últimos anos". E se isso acontecer, enfatizamos, os patrocinadores irão buscar outros lugares para investirem seu capital.
Com o fracasso da seleção brasileira na última Copa, na África do Sul, todos os elementos que antes eram imprescindíveis para a seleção canarinho sagrar-se campeã, se voltaram contra ela. O parque de diversão da seleção de Parreira transformou-se em quartel general. A imagem austera, comandada pelo "general" Dunga estava presente. Nem mesmo os jornalistas brasileiros tinham acessos privilegiados. Até mesmo os profissionais da Rede Globo, que sempre tinham ligação direta com os selecionados, foram barrados no baile.
A imagem da seleção estava sendo desgastada pelo excesso de rigor e disciplina e isso vinha se expressando em campo e fora dele. Nos gramados, uma seleção sem surpresas, sem genialidade, extremamente previsível. Fora, um técnico desprovido de qualquer senso de responsabilidade, ao ponto de pouco se importar com o que falava nas entrevistas coletivas oficiais que era obrigado a dar. Só mesmo um título mundial faria a imprensa nacional engolir, à moda zagalo, tanto destempero. Mas ele não veio e a imagem que ficou foi de uma seleção truculenta, à moda Felipe Melo.
Eis que esta semana jogou a seleção brasileira. Técnico novo. Novo time e novas estratégias para cuidar da imagem da seleção brasileira. E parece que está dando certo. Ouvir alguns comentários de algumas pessoas do tipo "recuperei o gosto de ver a seleção jogar". E realmente a seleção jogou muito bem fora e dentro de campo, extremamente de acordo ao script montado pelos marketeiros de plantão para recuperação da sua imagem.
O primeiro ato para aproximar o selecionado do povo brasileiro foi a convocação dos meninos da vila. Distribuição de autógrafos, sorrisos para todos os lados, conversas com os fãs e entrevistas para os jornalistas foram outras ações necessárias. O próprio Ricardo Teixeira foi quem aconselhou o grupo para tal atitudes que somadas ao presente recebido por Alex Escobar, jornalista destratado ao vivo e a cores pelo ex-técnico Dunga em entrevista coletiva após o jogo contra a Costa do Marfim, pretende colocar uma pá de cal na imagem deixada pela chamada Era Dunga, seja lá o que isso signifique.
Mas essa questão da imagem não fica restrita aos gramados e nem tampouco, circunscrita a aparição na mídia. Muitas vezes para preservar uma imagem, é preciso ocultá-la. É o que parece está fazendo o nosso Felipe Massa. Depois da corrida de fórmula 1 da Alemanha, onde o mesmo protagonizou uma desacelerada exigida por sua equipe Ferrari em benefício do seu colega de escuderia Fernando Alonso, ele tem evitado aparições públicas e as diferentes mídias. Há quem diga que a estratégia foi imposta pela própria Ferrari, tudo em nome da imagem da equipe.
Um outro que parece está com sua imagem de vencedor abalada é o técnico Luiz Felipe scolari. São seis partidas sem vencer à frente do Palmeiras. Segundo o sítio Máquina do Esporte, "O patrocínio a qualquer personalidade ligada ao futebol, concordam especialistas, está condicionado aos valores e à imagem do patrocinado".
Ainda no próprio sítio, o especialista em indústria do futebol, Oliver Seitz, opina que "Se ele ficar dez ou 15 partidas sem ganhar, não dá para manter a imagem de vencedor que angariou nos últimos anos". E se isso acontecer, enfatizamos, os patrocinadores irão buscar outros lugares para investirem seu capital.
sábado, 7 de agosto de 2010
O futebol e os presidenciáveis
Durante os jogos da última Copa do Mundo, principalmente nos dias que antecederam e os posteriores dos jogos da seleção brasileira, muito foi sendo comentado sobre qual seria a escalação ideal do time nacional. Antes mesmo dos jogos do torneio começarem, já na própria escalação do selecionado que iria para a África do Sul, inúmeros brasileiros e brasileiras refletiam, discutiam, debatiam de forma apaixonada os jogadores que iriam participar do maior torneio de futebol do planeta sobre o comando do técnico Dunga.
Aliás, a própria escolha do nome do homem que iria dirigir a seleção mais vencedora das Copas, após o fiasco contra a seleção francesa em 2006, a única que tem o privilégio de ter participado de todos os torneios, foi questionado, assim como também, questionável foi o desempenho dos jogadores sobre o seu comando durante a fase classificatória, tendo sido chamado até de burro em pleno maracanã em uma das participações da seleção canarinho.
Todo esse entusiasmo em torno da seleção brasileira, todo o debate que a mesma sucita em vários momentos por diversos setores da sociedade, da pessoa comum ao próprio presidente da república, sempre inspira comentários do tipo: se o povo brasileiro se preocupasse com o desenvolvimento da política do seu país, como se preocupa com a performance do seu selecionado, o Brasil seria outro.
Logo após a eliminação da seleção brasileira nas oitavas de finais do torneio na África do Sul, uma frase atribuída ao senador Cristóvam Buarque invadiu as caixas de mensagens na rede mundial de computadores. Ela dizia o seguinte>:"No futebol, o Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo e todos estão tristes. Na educação é o 85º e ninguém reclama."
E quando todos achavam que os brasileiros se voltariam para a política neste ano eleitoral, logo após o término da Copa do Mundo, onde não só o presidente, mas deputados, senadores e governadores serão eleitos, eis que o grande debate nacional se volta para quem vai ser o próximo técnico da seleção para a Copa de 2014, que será realizada aqui no Brasil?
Mas já que o técnico foi escolhido, agora a eleição entra na agenda dos brasileiros de forma definitiva e toma de vez o lugar do futebol. Sei não. Se tomarmos como referência a última quarta-feira (04/08), parece que este negócio de eleição não tá empolgando muito não. O futebol entre São Paulo e Internacional pelas Libertadores das Américas que passou na Globo deu de goleada nos presidenciáveis que se apresentavam no mesmo horário em um debate transmitido pela Rede Bandeirantes.
O placar? 36,9 pontos de audiência contra 5,5 respectivamente, segundo o Ibope em divulgação dos dados preliminares da aferição. Entre futebol e eleição especificamente, ou esporte e política mais amplamente, os brasileiros preferem o primeiro, respectivamente. Talvez por isso, tanto um, quanto o outro, carecem de melhores desempenhos e performance.
Aliás, a própria escolha do nome do homem que iria dirigir a seleção mais vencedora das Copas, após o fiasco contra a seleção francesa em 2006, a única que tem o privilégio de ter participado de todos os torneios, foi questionado, assim como também, questionável foi o desempenho dos jogadores sobre o seu comando durante a fase classificatória, tendo sido chamado até de burro em pleno maracanã em uma das participações da seleção canarinho.
Todo esse entusiasmo em torno da seleção brasileira, todo o debate que a mesma sucita em vários momentos por diversos setores da sociedade, da pessoa comum ao próprio presidente da república, sempre inspira comentários do tipo: se o povo brasileiro se preocupasse com o desenvolvimento da política do seu país, como se preocupa com a performance do seu selecionado, o Brasil seria outro.
Logo após a eliminação da seleção brasileira nas oitavas de finais do torneio na África do Sul, uma frase atribuída ao senador Cristóvam Buarque invadiu as caixas de mensagens na rede mundial de computadores. Ela dizia o seguinte>:"No futebol, o Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo e todos estão tristes. Na educação é o 85º e ninguém reclama."
E quando todos achavam que os brasileiros se voltariam para a política neste ano eleitoral, logo após o término da Copa do Mundo, onde não só o presidente, mas deputados, senadores e governadores serão eleitos, eis que o grande debate nacional se volta para quem vai ser o próximo técnico da seleção para a Copa de 2014, que será realizada aqui no Brasil?
Mas já que o técnico foi escolhido, agora a eleição entra na agenda dos brasileiros de forma definitiva e toma de vez o lugar do futebol. Sei não. Se tomarmos como referência a última quarta-feira (04/08), parece que este negócio de eleição não tá empolgando muito não. O futebol entre São Paulo e Internacional pelas Libertadores das Américas que passou na Globo deu de goleada nos presidenciáveis que se apresentavam no mesmo horário em um debate transmitido pela Rede Bandeirantes.
O placar? 36,9 pontos de audiência contra 5,5 respectivamente, segundo o Ibope em divulgação dos dados preliminares da aferição. Entre futebol e eleição especificamente, ou esporte e política mais amplamente, os brasileiros preferem o primeiro, respectivamente. Talvez por isso, tanto um, quanto o outro, carecem de melhores desempenhos e performance.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
A fórmula 1 e o espírito do tempo
O circo da fórmula 1 ficou em polvorosa pelo acontecimento entre Fernando Alonso e Felipe Massa no último Grande Prêmio, ocorrido na Alemanha, onde este último foi obrigado pela sua equipe, Ferrari, a deixar o seu companheiro passar para chegar em primeiro lugar. Mas os palhaços somos nós, os incautos, ingênuos telespectadores que ainda acreditam no esporte como um campo de disputa limpa, honrosa, repleto de valores altruístas expressos no anódino fair play ou na máxima de que o importante é competir.
Outros, não tão ingênuos assim, pois se trata de opinião balizada pela experiência no circo da fórmula 1, dizem que fatos como este quebram a essência do esporte. Jornalistas do calibre de Téo José e Reginaldo Leme escorregam nesta casca de banana. No meu entendimento, dizer que este fato quebrou a essência do esporte soa como poético, mas está longe de ser uma verdade. No máximo, uma frase de efeito, simplesmente porque esporte é negócio e o que prevalece há muito tempo na sua lógica é a capacidade que o mesmo tem ou pode vir a ter de reproduzir e ampliar um determinado valor do capital investido, dos mais distintos, inclusive os ilegais. Lembram-se do MSI-Corinthians?
Capital aqui é relação social, não confundam com dinheiro. Enquanto nós, simples torcedores, somos movidos pela paixão, pela emoção proporcionada pelo esporte, este é movido pelo negócio. Sport is business.
Para os puritanos e moralistas que esbravejam que o Massa não poderia atender a solicitação, que deveria peitar, como homem, o chefe da equipe, esses mesmos que também crucificaram o Rubens Barrichello em 2002 por situação semelhante, aviso que existem contratos firmados entre piloto e equipe, cheios de cláusulas que impedem a autonomia do piloto assim como o capital impede a autonomia de qualquer trabalhador. Mandar o Felipe Massa ter vergonha na cara em função da sua atitude anti-esportiva é ridículo, fruto da ignorância das relações sociais que regem o capitalismo.
Para os românticos, as suas lembranças estão a clamar os nomes de Senna, Piquet, Fittipaldi, Mansel, Prost entre outros. Melhor seria que desligassem a TV e fossem passear no parque.
Todos esses incautos, ingênuos, puritanos, moralistas, românticos entre outros se esquecem de que em 2009 o banco Santander firmou parceria com a Ferrari, tornando-se o patrocinador oficial da escuderia italiana até 2014. Dias depois a Ferrari anunciou a contratação do piloto Fernando Alonso. O Santander, assim com Alonso, é da Espanha e foi quem também patrocinou o último Grande Prêmio, realizado na Alemanha, no circuito da cidade de Hockenheim.
Alguma dúvida sobre o resultado desta equação? Há muito que aprendi que quem paga a banda, escolhe a música. O lado comercial sempre irá vencer a tal “essência” do esporte. Aliás, o que existe, no momento no mundo do esporte, nem é um lado ou outro. São um e o mesmo lado. Esporte e negócio têm uma relação simbiôntica, de pertencimento cada vez mais forte e orgânica. Um não existe e sobrevive sem o outro.
Este é o espírito do tempo, na fórmula 1 ou em qualquer outra modalidade esportiva, assim como no mundo dos homens.
Outros, não tão ingênuos assim, pois se trata de opinião balizada pela experiência no circo da fórmula 1, dizem que fatos como este quebram a essência do esporte. Jornalistas do calibre de Téo José e Reginaldo Leme escorregam nesta casca de banana. No meu entendimento, dizer que este fato quebrou a essência do esporte soa como poético, mas está longe de ser uma verdade. No máximo, uma frase de efeito, simplesmente porque esporte é negócio e o que prevalece há muito tempo na sua lógica é a capacidade que o mesmo tem ou pode vir a ter de reproduzir e ampliar um determinado valor do capital investido, dos mais distintos, inclusive os ilegais. Lembram-se do MSI-Corinthians?
Capital aqui é relação social, não confundam com dinheiro. Enquanto nós, simples torcedores, somos movidos pela paixão, pela emoção proporcionada pelo esporte, este é movido pelo negócio. Sport is business.
Para os puritanos e moralistas que esbravejam que o Massa não poderia atender a solicitação, que deveria peitar, como homem, o chefe da equipe, esses mesmos que também crucificaram o Rubens Barrichello em 2002 por situação semelhante, aviso que existem contratos firmados entre piloto e equipe, cheios de cláusulas que impedem a autonomia do piloto assim como o capital impede a autonomia de qualquer trabalhador. Mandar o Felipe Massa ter vergonha na cara em função da sua atitude anti-esportiva é ridículo, fruto da ignorância das relações sociais que regem o capitalismo.
Para os românticos, as suas lembranças estão a clamar os nomes de Senna, Piquet, Fittipaldi, Mansel, Prost entre outros. Melhor seria que desligassem a TV e fossem passear no parque.
Todos esses incautos, ingênuos, puritanos, moralistas, românticos entre outros se esquecem de que em 2009 o banco Santander firmou parceria com a Ferrari, tornando-se o patrocinador oficial da escuderia italiana até 2014. Dias depois a Ferrari anunciou a contratação do piloto Fernando Alonso. O Santander, assim com Alonso, é da Espanha e foi quem também patrocinou o último Grande Prêmio, realizado na Alemanha, no circuito da cidade de Hockenheim.
Alguma dúvida sobre o resultado desta equação? Há muito que aprendi que quem paga a banda, escolhe a música. O lado comercial sempre irá vencer a tal “essência” do esporte. Aliás, o que existe, no momento no mundo do esporte, nem é um lado ou outro. São um e o mesmo lado. Esporte e negócio têm uma relação simbiôntica, de pertencimento cada vez mais forte e orgânica. Um não existe e sobrevive sem o outro.
Este é o espírito do tempo, na fórmula 1 ou em qualquer outra modalidade esportiva, assim como no mundo dos homens.
domingo, 25 de julho de 2010
Mídia, ideologia e esporte
Estive em Fortaleza no último dia 21 de julho, quarta-feira, participando de uma mesa cuja a proposta era discuti as política de mega-eventos dos governos federais e estaduais junto aos alunos e professores de educação física que participavam do seu XXXI Encontro Nacional. A mesa foi em um ginásio de esportes do curso de educação física da Universidade Federal do Ceará, Campus do PICI. Presentes em torno de 600 participantes, num total de quase mil.
A parte que me cabia, sugerida pela ementa que me foi enviada pela Comissão Organizadora, dizia respeito a "fazer uma crítica aos meios de comunicação e sua influência na opinião pública, perpassando pela discussão de ideologia, controle social, poder e comunicação no que se refere à Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas no Brasil. Trazer elementos para a discussão sobre a manipulação das informações e como a mídia burguesa contribui para formar opinião e transmitir valores".
Iniciei conceituando mídia e situando a mesma, me valendo do Venício Lima, como um partido político, já que a mesma: a)constrói a agenda pública; b) gera e transmiti informações políticas; c) fiscaliza as ações de governo; d) exerce a crítica das políticas públicas e e) canaliza as demandas da população. (LIMA, 2006, p. 56).
Esses elementos são preocupantes, já que alguns indicadores apontam que somente um de cada brasileiro entre 15 e 64 anos conseguem entender as informa~ções de textos mais longos e relacioná-los com outros dados e 30% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos funcionais ou "alfabetizados rudimentares" que não conseguem, por exemplo, entender as orientações escritas por um médico.
Por que preocupante? Porque simplesmente 58% dos brasileiros declaram ter na televisão sua principal fonte de informação política (Vox Populi, 2006). Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, indica que 95,1% dos domicílios brasileiros possuem aparelho de televisão. Portanto, podemos dizer que os brazukas tem na televisão o seu principal veículo de informação e se consideramos que a mídia, principalmente a televisão tem uma relação de pertencimento com o esporte, onde um não vive sem o outro, e considerando que o mesmo agrega valor substantivo aos produtos "colados" ao mesmo, podemos raciocinar na direção de que é muito pouco provável de que a mídia terá uma avaliação isenta sobre os chamados mega-eventos, colocando para a população de uma forma geral os pontos positivos e amenizando os negativos dos eventos Copa 2014 e Olimpíadas 2016.
Aqui entra a questão da ideologia. Se utilizando de uma das manobras do discurso ideológico, a generalização de casos particulares, as diferentes mídias e fundamentalmente a televisa, procura apresentar casos particulares de experiências exitosas, como as Olimpíadas realizadas na Espanha, para justificar a importância dos eventos e promover o consenso no conjunto da população.
Esquecem ou se omitem, ou se utilizam de uma outra estratégia ideológica (o discurso lacunar), de apresentarem estudos já realizados e que apontam interesses corporativos pelos mega-eventos, situando o mesmo como um movimento mais do que necessário, em função das crises estruturais do sistema, de reprodução do capital e de que os dados apontam que os benefícios estruturais colados aos eventos para justificar mais uma vez os mesmos poderiam muito bem serem materializados independentes da Copa e das Olimpíadas e com um custo muito menor. Custo esse que, embora orçado atualmente em 24,6 bilhões de dólares (só a Copa, ok?) tem uma projeção orçada em 100 bilhões até o final do evento.
O esporte, principalmente o futebol, entra nesta dinâmica como um elemento mediador, entre tantos outros, que potencializam os processos ideológicos da classe burguesa, catalizando desejos e valores na direção dos seus interesses de classe, operando inversões da realidade, desenvolvendo processos de fetichizações através do reinado das coisas e promovendo a alienação.
Tipos ideais de modalidades esportivas são apresentados, sem nenhuma consistência no real. O próprio discurso esportivizante da escola pública como base para formar atleta esquece de mencionar o sucateamente da mesma e a carência, só no Estado da Bahia, de mais de 80.000 (oitenta mil) professores na rede, enquanto o governo federal retira 28 bilhões do orçamento para a educação. O discurso que promove o volutarismo através do esporte esquece de mencionar o necessário papel do Estado no desenvolvimento de políticas para o público, colocando, no cidadão comum, a responsabilidade em sanar as lacunas do sistema.
Outra questão que podemos mencionar é a apresentação, no discurso ideológico via televisão, do esporte como receita e remédio para todos os males da sociedade. A droga tá correndo solta na comunidade? Esporte. As crianças estão violentas? Esporte para canalizar essas energias raivosas. Além do mesmo poder, de lambuja, promover a ascensão social, afinal de contas, quantos marginalizados socialmente não modificaram o seu status quo pelo esporte?
Como estratégia de resistência a esse discurso ideológico promovido pela mídia, precisamos saber dialogar com a população, disseminando informações poucos conhecidas. De nada adiantará um discurso raivoso, negativista, não dialético em relação aos mega-eventos. Aproveitar do que dizem que precisam fazer como melhoria estrutural necessária para sediar o evento e pressionar para que se cumpra de forma transparente é uma possibilidade. A questão da MOBILIDADE URBANA, DE HABITAÇÃO, MELHORIA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS, entre outros, interessam à todos nós e podem ser elementos importantes para mobilizarmos a população para além dos megaeventos esportivos.
A parte que me cabia, sugerida pela ementa que me foi enviada pela Comissão Organizadora, dizia respeito a "fazer uma crítica aos meios de comunicação e sua influência na opinião pública, perpassando pela discussão de ideologia, controle social, poder e comunicação no que se refere à Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas no Brasil. Trazer elementos para a discussão sobre a manipulação das informações e como a mídia burguesa contribui para formar opinião e transmitir valores".
Iniciei conceituando mídia e situando a mesma, me valendo do Venício Lima, como um partido político, já que a mesma: a)constrói a agenda pública; b) gera e transmiti informações políticas; c) fiscaliza as ações de governo; d) exerce a crítica das políticas públicas e e) canaliza as demandas da população. (LIMA, 2006, p. 56).
Esses elementos são preocupantes, já que alguns indicadores apontam que somente um de cada brasileiro entre 15 e 64 anos conseguem entender as informa~ções de textos mais longos e relacioná-los com outros dados e 30% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos funcionais ou "alfabetizados rudimentares" que não conseguem, por exemplo, entender as orientações escritas por um médico.
Por que preocupante? Porque simplesmente 58% dos brasileiros declaram ter na televisão sua principal fonte de informação política (Vox Populi, 2006). Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, indica que 95,1% dos domicílios brasileiros possuem aparelho de televisão. Portanto, podemos dizer que os brazukas tem na televisão o seu principal veículo de informação e se consideramos que a mídia, principalmente a televisão tem uma relação de pertencimento com o esporte, onde um não vive sem o outro, e considerando que o mesmo agrega valor substantivo aos produtos "colados" ao mesmo, podemos raciocinar na direção de que é muito pouco provável de que a mídia terá uma avaliação isenta sobre os chamados mega-eventos, colocando para a população de uma forma geral os pontos positivos e amenizando os negativos dos eventos Copa 2014 e Olimpíadas 2016.
Aqui entra a questão da ideologia. Se utilizando de uma das manobras do discurso ideológico, a generalização de casos particulares, as diferentes mídias e fundamentalmente a televisa, procura apresentar casos particulares de experiências exitosas, como as Olimpíadas realizadas na Espanha, para justificar a importância dos eventos e promover o consenso no conjunto da população.
Esquecem ou se omitem, ou se utilizam de uma outra estratégia ideológica (o discurso lacunar), de apresentarem estudos já realizados e que apontam interesses corporativos pelos mega-eventos, situando o mesmo como um movimento mais do que necessário, em função das crises estruturais do sistema, de reprodução do capital e de que os dados apontam que os benefícios estruturais colados aos eventos para justificar mais uma vez os mesmos poderiam muito bem serem materializados independentes da Copa e das Olimpíadas e com um custo muito menor. Custo esse que, embora orçado atualmente em 24,6 bilhões de dólares (só a Copa, ok?) tem uma projeção orçada em 100 bilhões até o final do evento.
O esporte, principalmente o futebol, entra nesta dinâmica como um elemento mediador, entre tantos outros, que potencializam os processos ideológicos da classe burguesa, catalizando desejos e valores na direção dos seus interesses de classe, operando inversões da realidade, desenvolvendo processos de fetichizações através do reinado das coisas e promovendo a alienação.
Tipos ideais de modalidades esportivas são apresentados, sem nenhuma consistência no real. O próprio discurso esportivizante da escola pública como base para formar atleta esquece de mencionar o sucateamente da mesma e a carência, só no Estado da Bahia, de mais de 80.000 (oitenta mil) professores na rede, enquanto o governo federal retira 28 bilhões do orçamento para a educação. O discurso que promove o volutarismo através do esporte esquece de mencionar o necessário papel do Estado no desenvolvimento de políticas para o público, colocando, no cidadão comum, a responsabilidade em sanar as lacunas do sistema.
Outra questão que podemos mencionar é a apresentação, no discurso ideológico via televisão, do esporte como receita e remédio para todos os males da sociedade. A droga tá correndo solta na comunidade? Esporte. As crianças estão violentas? Esporte para canalizar essas energias raivosas. Além do mesmo poder, de lambuja, promover a ascensão social, afinal de contas, quantos marginalizados socialmente não modificaram o seu status quo pelo esporte?
Como estratégia de resistência a esse discurso ideológico promovido pela mídia, precisamos saber dialogar com a população, disseminando informações poucos conhecidas. De nada adiantará um discurso raivoso, negativista, não dialético em relação aos mega-eventos. Aproveitar do que dizem que precisam fazer como melhoria estrutural necessária para sediar o evento e pressionar para que se cumpra de forma transparente é uma possibilidade. A questão da MOBILIDADE URBANA, DE HABITAÇÃO, MELHORIA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS, entre outros, interessam à todos nós e podem ser elementos importantes para mobilizarmos a população para além dos megaeventos esportivos.
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