No último dia 21 de outubro completou 70 anos de idade o jogador mais conhecido do planeta, o senhor Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé. Mineiro da cidade de Três Corações, Pelé recebeu do jornal francês L´Equipe, o título de Atleta do Século no ano de 1981. Em 1999 o Comitê Olímpico Internacional, na esteria do L´Equipe, também o elegeu como Atleta do Século. A FIFA pegou ponga no ano 2000 e repetiu a honraria. O elegeu como Jogador de Futebol do Século XX. Estava batido o martelo pela terceira vez, consagrando assim, em definitivo, o título de Atleta do Século ao Pelé, que além de apelido, virou também adjetivo. Existe o Pelé da pintura, da escultura, da arquitetura, entre outros.
Mas o que mais chama a atenção para este humilde escrivinhador é o salário que o Pelé recebia à época quando jogava no Santos. Nada mais do que R$ 5.500(cinco mil e quinhentos reais) na moeda de hoje, o equivalente a 5.000 cruzeiros novos. Estamos nos anos 70 e o esporte, mais especificamente o futebol, não tinha ainda se tornado business. Robinho, que até recentemente defendia as cores do mesmo time que consagrou o Rei do Futebol, recebia em torno de 1 milhão de reais por mês.
Se, comparativamente, Pelé recebia muito menos do que recebem hoje os craques duvidosos dos gramados mundiais, o mesmo teve muito mais visão em relação aos negócios do que os seus contemporâneos Didi, Vavá, Zito e do consagrado Garrincha. Com um patrimônio pessoal estimado em 25 milhões de dólares, as empresas de Pelé movimentam atualmente cerca de 40 milhões de dólares por ano.
Passados mais de 25 anos que finalizou sua carreira de jogador de futebol, até hoje é homenageado em vários países do mundo. Com sua trajetória vitoriosa, e que continua, entre outras coisas, como instrutor/conselheiro do infantil e juvenil do Santos, Pelé é alvo de críticas, bajulações, adulações e polêmicas.
Chegado a dizer o que pensa sobre os diferentes atletas nacionais e internacionais, vira e mexe, o aclamado Rei do Futebol está sempre na mídia falada e escrita. Estratégia? Talvez sim. Quem não as tem?
O homem que marcou 1281 gols no total de 1375 jogos (0,9 por partida) foi protagonista de discursos politicamentes corretos, quando pediu atenção às crianças e às pessoas pobres do Brasil no seu milésimo gol, sofreu com a prisão do seu filho Edinho e ficou marcado pela saga de Sandra Machado, reconhecida como filha do rei pela justiça em 1994, após ter sido negada por diversas vezes pelo rei.
Um misto de mito e homem se misturam na trajetória deste jogador de futebol, o atleta do século, o senhor Edson Arantes do Nascimento ou, simplesmente, Pelé.
Refletir sobre o esporte para além das configurações táticas e técnicas que lhes são próprias e tendo o mesmo como expressão singular para pensarmos fenômenos mais gerais da sociedade, eis o objetivo do blog.
domingo, 24 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Esporte e política
Pela enésima vez, elevada a centésima potência, ouvir a seguinte frase: “meu negócio não é política. Gosto mesmo é de futebol!” Foi ontem, na casa de um amigo. Estávamos festejando o aniversário da sua esposa e entre copos de cervejas, guaranás e salgadinhos, não necessariamente nesta ordem, a inevitável conversa sobre o segundo turno das eleições presidenciais apareceu.
Entre dilmistas, serristas, marinistas e outros, o libelo da frase, acima aspeada, reverberou e entrou rasgando nos meus sensíveis labirintos auriculares, ativando os meus neurônios poéticos e me fazendo lembrar de uma poesia do Bertold Brecht, o analfabeto político. Evidente que a frase aludida acima não tem a mesma força do “odeio política”, tão comumente ouvida e do qual o Brecht faz a crítica, mas não deixa de ser uma posição analfabeta sobre o aspecto da política.
Exemplos da relação entre esporte e política abundam na história. O mais famoso data de 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim. Adolfo Hitler queria demonstrar a superioridade da raça ariana através do esporte. Antes mesmo disso a humanidade já tinha presenciado a político do “pão e circo” da Roma antiga.
Maurício Murad, no seu livro Sociologia e Educação Física, da Fundação Getúlio Vargas nos lembra na página 166 que “Exemplos explícitos de dominação política e de aproveitamento ideológico dos esportes são os campeonatos mundiais de futebol de 1934, na Itália, e de 1938, na França” e o já citado Jogos Olímpicos de Berlim. “Todos esses eventos, ocorridos em plena era do totalitarismo nazifascista e às vésperas da II Guerra, foram entendidos como questões nacionais pelos governos da Itália e da Alemanha”.
O próprio movimento da chamada guerra fria, iniciada pós a II Guerra Mundial, teve no esporte um elemento riquíssimo de simbologia. Os números de medalhas e troféus ganhos por um país buscavam representar o sucesso de suas políticas econômicas e sociais. Países do bloco capitalista e do então bloco socialista procuravam, pelo esporte, dizer ao mundo o quanto seu modo de vida era melhor do que o do outro.
Existem casos de atletas que também utilizaram o esporte para manifestar suas preferências políticas. Quem não se lembra de Ronaldo, jogador do atlético mineiro e seu punho erguido em cada comemoração do gol, em clara alusão ao movimento Black Power norte-americano? Leônidas da Silva, atleta e militante do Partido Comunista. Nosso Afonsinho, jogador que conseguiu na justiça o direito ao passe livre. Dieguito, mais conhecido como Maradona, hoje técnico da seleção da Argentina, proponente de uma Associação Internacional de Jogadores de Futebol. Isso sem falar do movimento da Democracia Corintiana, com jogadores como Biro-biro, Casagrande, Vladimir e o cabeça, doutor Sócrates.
Não poderia faltar nesta postagem os dirigentes esportivos. Esses, quase sempre procuram conquistar uma cadeira nas assembléias dos seus estados ou no congresso nacional pela via e pela veia do futebol, modalidade esportiva que tem o maior número de representante na chamada bancada da bola, talvez a expressão maior da relação entre esporte e política.
domingo, 10 de outubro de 2010
Os factoides na política e no esporte
A abertura das urnas no último domingo, 03 de outubro, demonstrou uma expressiva votação na candidata do Partido Verde (PV), Marina Silva, que com os seus quase 20 milhões de votos (exatos 19.636.359, o que representou 19,3% dos votos válidos), transformou-se no atual fiel da balança para os que ficaram na disputa pela presidência no segundo turno, a Dilma (PT) e o Serra (PSDB).
Passado uma semana, a avaliação que o partido do trabalhador, que até uma semana antes das eleições tinha, em larga medida, a certeza da vitória no primeiro turno, foi que o tema do aborto foi o principal responsável pela guinada de Marina Silva, forçando o improvável segundo turno.
Tema indigesto, para dizer o mínimo, o mesmo não foi trazido à lúmen por nenhum dos dois candidatos, mas foi produzido por meio de um instrumento sabidamente escuso: a produção de factoides.
O mesmo tinha um alvo determinado e consistia em atingir a candidata do governo.
Responsável por 15% de morte materna no país, pelo menos uma em cada cinco mulheres com menos de 40 anos de idade já praticou o aborto, ato este que malsucedido, é responsável por mais de 180 mil curetagens pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Pois esse tema de saúde pública transformou-se em uma arma no debate das idéias, atingindo, em cheio, as consciências puritanas e conservadoras deste país que passaram a enxergar na figura da candidata Dilma Rousseff, a “matadora de criancinhas”.
Enganam-se quem considera que os factoides são construídos apenas no âmbito da política ou utilizados somente para desestabilizar candidatos ou candidatas. O mundo do esporte também se encontra povoado desse mecanismo bizarro.
No mês passado, a revista esportiva ESPN publicou uma matéria intitulada “Meu Craque de Mentira” que trouxe a seguinte reportagem. “Uma transferência agitou o futebol uruguaiu na janela européia. Por 3 milhões de libras, o Danubio vendeu a revelação Néstor ‘Colibri’ Coratella ao Villareal, negociação amplamente divulgada pela imprensa espanhola. Tudo perfeito, não fosse um detalhe: Coratella não existe. Foi inventado por um grupo de internautas”.
Vejam vocês. Um acontecimento completamente falso, fabricado, foi divulgado como se verdade fosse por órgãos de imprensa especializados. Na mesma matéria tomamos conhecimento de um caso parecido. Trata-se de “Masal Bugduv, a revelação moldava de 16 anos, pretendida pelo Arsenal, que foi parar em uma lista de jogadores que poderiam explodir em 2009 sem nunca ter existido”.
Não se está aqui buscando equivaler as produções dos factoides. No esporte, este tipo de problema afeta apenas e exclusivamente parcelas específicas da população, torcedores das suas respectivas agremiações. Já na política, a divulgação de mentiras e a produção de fatos visando desestruturar uma candidatura tem repercussão na vida de todos nós, principalmente quando esta candidatura tem, no conjunto das suas proposições, perspectivas de ampliação de direitos sociais das camadas menos favorecidas da população.
Ambos os casos de produções de factoides, nos ensinam a ter maiores cuidados com as informações que recebemos e que muitas vezes repassamos, divulgamos, sem ao menos ter checado a veracidade da mesma.
Passado uma semana, a avaliação que o partido do trabalhador, que até uma semana antes das eleições tinha, em larga medida, a certeza da vitória no primeiro turno, foi que o tema do aborto foi o principal responsável pela guinada de Marina Silva, forçando o improvável segundo turno.
Tema indigesto, para dizer o mínimo, o mesmo não foi trazido à lúmen por nenhum dos dois candidatos, mas foi produzido por meio de um instrumento sabidamente escuso: a produção de factoides.
O mesmo tinha um alvo determinado e consistia em atingir a candidata do governo.
Responsável por 15% de morte materna no país, pelo menos uma em cada cinco mulheres com menos de 40 anos de idade já praticou o aborto, ato este que malsucedido, é responsável por mais de 180 mil curetagens pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Pois esse tema de saúde pública transformou-se em uma arma no debate das idéias, atingindo, em cheio, as consciências puritanas e conservadoras deste país que passaram a enxergar na figura da candidata Dilma Rousseff, a “matadora de criancinhas”.
Enganam-se quem considera que os factoides são construídos apenas no âmbito da política ou utilizados somente para desestabilizar candidatos ou candidatas. O mundo do esporte também se encontra povoado desse mecanismo bizarro.
No mês passado, a revista esportiva ESPN publicou uma matéria intitulada “Meu Craque de Mentira” que trouxe a seguinte reportagem. “Uma transferência agitou o futebol uruguaiu na janela européia. Por 3 milhões de libras, o Danubio vendeu a revelação Néstor ‘Colibri’ Coratella ao Villareal, negociação amplamente divulgada pela imprensa espanhola. Tudo perfeito, não fosse um detalhe: Coratella não existe. Foi inventado por um grupo de internautas”.
Vejam vocês. Um acontecimento completamente falso, fabricado, foi divulgado como se verdade fosse por órgãos de imprensa especializados. Na mesma matéria tomamos conhecimento de um caso parecido. Trata-se de “Masal Bugduv, a revelação moldava de 16 anos, pretendida pelo Arsenal, que foi parar em uma lista de jogadores que poderiam explodir em 2009 sem nunca ter existido”.
Não se está aqui buscando equivaler as produções dos factoides. No esporte, este tipo de problema afeta apenas e exclusivamente parcelas específicas da população, torcedores das suas respectivas agremiações. Já na política, a divulgação de mentiras e a produção de fatos visando desestruturar uma candidatura tem repercussão na vida de todos nós, principalmente quando esta candidatura tem, no conjunto das suas proposições, perspectivas de ampliação de direitos sociais das camadas menos favorecidas da população.
Ambos os casos de produções de factoides, nos ensinam a ter maiores cuidados com as informações que recebemos e que muitas vezes repassamos, divulgamos, sem ao menos ter checado a veracidade da mesma.
domingo, 3 de outubro de 2010
Eleição e política: pela consulta popular também na esfera esportiva
Durante os últimos três meses, foram muitas as propagandas falando sobre a importância da eleição e do voto do povo. Muitas insistiam que com o voto era possível mudar o rumo do país e falavam das maravilhas de uma certa urna eletrônica. O destino da nação estava na ponta dos nossos dedos e a esperança de dias melhores nas teclas da mágica máquina. Talvez por isso a tecla de confirmação do voto tenha a cor verde. A esperança é a última que morre, diz o ditado.
Desde o fim da ditadura militar, esta será a sexta vez em que o povo, alçado agora como cidadão, se dirigirá às diferentes zonas eleitorais nos 5.565 municípios exitentes no país. E foi em uma dessas zonas, a sexta, no bairro de brotas, cidade do salvador, bahia, esperando em uma fila a minha vez de justificar o voto por estar longe do meu domicílio eleitoral(Itabuna), que a reflexão tema desta postagem brotou e que diz respeito sobre a necessidade do povo brasileiro participar não tão somente das eleições, mas, sim, da política!
Norberto Bobbio, no seu dicionário de política, nos ensina que o termo política é "derivado do adjetivo pólis (politikós), que significa tudo o que se refere à cidade, o que é urbano, civil, público e até mesmo sociável e social, o termo política se expandiu graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada como o primeiro tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado, e sobre as várias formas de governo."
Portanto, as propagandas que encheram as diferentes mídias deveriam deixar claro de que a política, essencialmente, não se resume ao voto em um número específico de um candidato ou candidata e nem se presta para, apenas, participar de um evento cívico como a eleição, mas que ela é, sim, o "espírito" que move o "corpo social", e que é a partir e através dela que se trava o embate, as lutas de classes sobre a direção que queremos dar às questões referentes a pólis, a cidade e tudo o que nela ocorre. E esta é uma dinâmica cotidiana e não apenas e tão somente de tempos em tempos.
Podemos, como muitos fazem, até não nos preocuparmos com a política, mas, com toda a certeza, a política nunca, jamais, deixará de se preocupar conosco e com as coisas que fazem parte da vida da cidade, dentre elas, aquela que nos interessa de maneira especial: o esporte, que no século passado, tanto nos governos de direita, quanto nos de esquerda, se transformou em um objeto muito apreciado para a divulgação dos feitos políticos, economômicos e sociais dos seus regimes e que no século atual, se transforma em objeto capaz de mudar, estruturalmente, a cara da cidade, da pólis, se transformando em receita e remédio para todos os problemas da sociedade.
No embate que se trava entre modelos de desenvolvimento esportivo, no atual quadro de correlação de forças, seria muito importante pautar a necessidade da consulta popular para a definição das políticas relacionadas ao esporte. Penso que estaríamos desenvolvendo a democracia de cunho participativo que, juntamente com a representativa, de caráter restritivo, que só se lembra do povo e o transforma em cidadão apenas e tão somente em épocas de eleições, potencializaria uma dinâmica política mais ampla.
Poderíamos ter consultado a população sobre a necessidade da implosão da Fonte Nova, da construção de um novo estádio de futebol como o pituaçu, da derrubada do balbininho, da alocação de recursos públicos para desenvolvimento de ações que beneficiam setores privados do esporte, entre outros.
Poderíamos começar, aqui e agora, consultando o povo sobre a necessidade de eleição direta para a presidência e conselho consultivo de um clube esportivo. O mesmo seria feito nas ligas, nas federações, confederações e comitês. Penso que procedendo desta forma, estaríamos exercitando, aprofundando e ampliando o sentido e significado da politikós aristotélica, pois desta ação participaria toda a população.
Vamos observar se desta eleição sairão lutadores do povo efetivamente comprometido com o processo de democratização ampla da sociedade em todas as esferas que a constitue e com a politização do debate em torno dos fenômenos sociais fundamentais da contemporaneidade: o esporte entre eles.
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