domingo, 26 de setembro de 2010

Por uma política esportiva democrática e popular


No próximo domingo, 03 de outubro, milhões de brasileiros e brasileiras estarão indo em direção às seções eleitorais para exercerem um ato democrático que, contraditoriamente, é obrigatório: votar. Muitos exercerão este ato cívico imbuídos de convicções ideológicas, sabedores do que representa um partido político e do seu papel no desenvolvimento de uma nação. Outros tantos votarão pela obrigação do voto, por gostar deste ou daquele condidato ou candidata, ou por que ele foi bom para a "minha" cunhada, "minha" nora, "meu" sobrinho, etc, etc.

Neste pleito, nesta ordem, votaremos nos deputados e deputadas estaduais, depois para federal, dois senadores da república ou senadoras, governador ou governadora e, no final, para presidente ou presidenta. Embora a propaganda oficial das eleições tenha como representações midiáticas figuras que lembram o gênero masculino, é importante pontuar que teremos duas candidatas ao cargo mais alto da república brasileira nestas eleições. Uma pelo partido verde, Marina Silva e outra pelo partido dos trabalhadores, Dilma Rousself.

Até o presente momento, apesar de todos os factóides construídos pelo chamado partido da imprensa golpista (PIG), a candidata pelo PT está a frente das pesquisas e para o desespero dos partidos tidos como conservadores, PSDB e DEM, a mesma pode vencer já no primeiro turno, confirmando uma máxima muito comum no âmbito esportivo que diz que em time que tá ganhando, não se mexe.


Nesse caso, nos resta avaliar o time atual naquilo que nos é cabível neste latinfúndio internético, a política esportiva nacional, buscando desenvolver uma perspectiva para os anos que se seguirão neste assunto específico. Evidentemente que isso será feito no limite deste espaço.

1930. Estado Novo. Nesta época, mais de uma Confederação ligada ao esporte podia tomar conta de uma mesma modalidade esportiva. O Brasil foi convidado para participar de um campeonato de futebol no exterior. A Confederação do Rio de Janeiro ficou responsável em montar a equipe. O Estado de São Paulo, com ciúme por não ter sido o escolhido e por birra, boicotou o evento e não mandou nenhum jogador. O Brasil se deu mal. Getúlio Vargas, exigiu do Ministro da Justiça, João Lyra Filho, diretrizes para organizar o esporte no país. E assim foi.

Dez anos depois, mas precisamente no ano de 1941, surge, através do decreto-lei 3.199, o primeiro documento que busca dar uma direção a uma política esportiva nacional. Esta lei de diretrizes e bases vai se extender até a década de 70 do século passado onde a ideia de um estado interventor e conservador terá prosseguimento junto a uma estrutura verticalizada, piramidal, com a criação das respectivas Confederações, Federações, Ligas e Clubes. A base e o centro da pirâmide se justifica em função do seu âpice, o esporte de rendimento. Nesse ínterim, a massificação do esporte em diferentes setores da sociedade tem como objetivo fundamental, a detecção de talentos esportivos que possam, nos grandes eventos, presentear a sociedade com troféus e medalhas.

Na década de 90, em face do processo de reestruturação do capital de cunho neoliberal, o modelo de Estado conservador e interventor se transmuta em uma outra lógica programática, tendo o mercado como pólo de influência substantiva. Essa nova configuração terá na "Lei Zico" (1993) e na "Lei Pelé" (1998), a sua base legal, criando um Estado Esportivo dentro do Estado. As entidades esportivas tornam-se instituições com personalidade jurídica de direito privado, isentando o Estado do seu papel intervencionista, mas deixando-o como financiador da pirâmide.

Chegamos, finalmente, no governo atual. Estamos agora em 2003. 80 anos aproximadamente se passaram desde o primeiro ato de Getúlio Vargas até o governo Lula que cria algo nunca antes visto neste país, um ministério todinho só para tratar de assuntos relacionados ao esporte. Agora vai, pensei. Finalmente teremos uma política esportiva democrática e popular.

Ledo engano. Algumas coisas importantes foram feitas em direção ao processo de massificação esportiva, como o projeto "Segundo Tempo", e o "Esporte e Lazer da Cidade" por exemplo. Mas ambos insuficientes para o atendimento da demanda historicamente reprimida. Tivemos também as Conferências Nacionais de Esporte, precedidas dos seus respectivos fóruns municipais e estaduais, na tentativa de democratizar o debate em torno da política esportiva, que apesar de todo esse esforço meritório, continua centrada no esporte de rendimento.



Este, por sua vez, apesar de nunca ter trazido de forma proporcional, benefícios para o país, continua sempre e cada vez mais recebendo o afago e o carinho do Estado financiador através da "Lei de Incentivo ao Esporte", "Lei Piva", "Timemania", patrocínio das estatais Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica entre outras,

Na verdade, o governo federal, no tocante a política esportiva de caráter democrático e popular, ficou devendo e muito e tudo indica que este modelo continuará por mais alguns anos, independente de quem ganhe a atual eleição. Com as mediações dos grandes eventos esportivos que ocorrerão no país nos próximos dez anos, as ações de governo se dirigirão ao atendimento das demandas do Estado Esportivo (conservador, concentrador e autoritário), tão autoritário quanto o governo Vargas, que não por acaso, foi quem deu o ponta-pé inicial para a implementação de diretrizes e bases para o esporte nacional.

No tocante as ações contra-hegemônicas, resta-nos, no marco das correlações de forças atuais, aprofundar o debate sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, ideia emergida da Segunda Conferência Nacional de Esporte e que pode ser um ponto de partida importante para discutir a problemática da política esportiva nacional e romper com a programática da pirâmide esportiva.

domingo, 19 de setembro de 2010

Abertura da Copa 2014: e vai rolar a festa!!!

A abertura da Copa do Mundo de 2014 está em aberto. Há quem acredite que pode ser em Salvador, a cidade de um Estado que até bem pouco tempo era ignorada de forma veemente pelo dono do futebol brasileiro, o senhor Ricardo Teixeira, magoado pelas vaias lançadas pela torcida baiana quando da atuação da seleção brasileira de Lazaroni quando jogou em Salvador, pela Copa América em 1989, que excluiu do seu elenco o jogador Charles, protagonista do título brasileiro do Esporte Clube Bahia no ano anterior.


Mas isso tem muito tempo, dirão alguns. A estes lembro que vigança é um prato que se come frio e o senhor Teixeira sabe e pratica muito bem isso. Vinte anos separaram o jogo das vaias do último jogo da seleção em Pituaçu, contra o Chile, ano passado. Aliás, somente o sentimento de vigança pode explicar o fato da abertura da Copa não ser em São Paulo, cidade sede das elites retrógradas do Brasil, salvo raríssimas exceções.

Para as não excessões, é querer demais nós, nordestinos, abrirmos um dos eventos mais importantes, senão o mais, em termos de imagem, e deixar para trás o bastião da política do café com leite. Já não basta o presidente da república? Questionam os seus parcos neurônios.

A abertura da Copa do Mundo em Salvador é tão provável, quanto a transformação, do reino vegetal para o reino animal, de uma planta carnívora.

Não é o que pensa o senhor Ney Campello, secretário extraordinário para assuntos da Copa (Secopa). Movido pelo ônus e bônus do cargo que ocupa e por um louvável sentimento de otimismo que beira a ingenuidade e com muita fé nos orixás, o mesmo entregou ao Teixeira, que além de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acumula o cargo de presidente do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014, um documento formalizando o pedido da capital baiana para sediar o evento da abertura da Copa do Mundo.

No documento, além da demonstração da infraestrutura e da história da cidade, continha cartas de apoio de cidades dos estados do Norte e do Nordeste do Brasil. Se juntará ao documento, como mais um esforço de sensibilização ao sensível presidente do COL, um grande evento público, envolvendo o povo (há, o povo), os artistas, as autoridades e todos àqueles que de uma forma ou de outra, possam transformar este sonho em realidade.

Já não bastasse o montante de dinheiro público que será direcionado para as empreiteiras na construção de uma Nova Fonte Nova, quando a antiga poderia muito bem ser reformada com custos menores, segundo 17 entidades dos setores de arquitetura e urbanismo, entre outros, mais dinheiro público agora será necessário para pagar a farra e atender aos anseios (seriam devaneios?) de uns poucos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

CBF, Ricardo Teixeira e Fonte Nova

O jornalismo esportivo na semana da independência divulgou com empenho a polêmica declaração do presidente do clube de futebol atletico mineiro. No dia 06 do corrente mês, o senhor Alexandre Kalil disse em alto e bom som em entrevista a uma rádio que “os jogadores têm que se cuidar, sim. O Atlético não é brinquedo. E, se eles tomarem um cacete na madrugada, não vai fazer mal nenhum”. Em função disso, o mesmo será indiciado pelo Ministério Público mineiro e caso se comprove incitação a violência, o mesmo pode perder o seu cargo no clube.

O mesmo empenho não demonstrou a mesma imprensa esportiva e principalmente alguns canais de televisão sobre um outro acontecimento tão grave quanto o primeiro: a sonegação de impostos por parte da CBF. Poucos foram os órgão de imprensa que relataram o fato. A Folha de São Paulo informou que "A entidade foi acusada de usar verbas para bancar jornalistas, juízes e advogados e abater essas despesas no pagamento do imposto. A dívida se arrastou de 2002 a 2009, quando a CBF pagou a multa para não ser inscrita na Dívida Ativa da União e levar o caso a público."

E isso não é tudo, pois o rombo nos cofres públicos pode ser ainda maior, já que existem mais de 100 processos abertos contra a CBF pelo Ministério da Fazenda desde 2003. Mas a entidade não deve tá muito preocupada com a multa de três milhões de reais, pois somente neste ano, dos patrocinadores, a mesma vai faturar mais de duzentos milhões de reais.

Não custa nada lembrar que a CBF é presidida pelo senhor Ricardo Teixeira que também é presidente do Comitê Local da Copa de 2014 e que ironicamente receberá isenções fiscais na ordem da bagatela de R$ 900 milhões para beneficiar os seus parceiros junto à FIFA e seu comitê organizador do mundial de futebol.

Falando em mundial de futebol, um fato extremamente relevante, inclusive como jogada de marketing, foi a desnecessária implosão da fonte nova, aqui em Salvador. Os governantes e a própria imprensa esportiva se fizeram de cegos, surdos e mudos e não deram nenhuma visibilidade as ideias de quase vinte entidades da sociedade civil sobre a viabilidade da revitalização da fonte nova. Preferiram demolir a mesma e a inchar a grade de programação das suas redes com sentimentalismo baratos. "Foi ali que fiz o meu primeiro gol", "lembro quando o meu pai me levou na fonte nova...", "vai ficar saudades, pois guardo na memória os melhores Ba-Vi que assisti", e outras baboseiras.

O essêncial? Bota embaixo do tapete junto com a poeira da implosão, pois o ideal é despolitizar o acontecimento e sentimentalizá-lo. É a bola da vez do irracionalismo atuando no imaginário do telespectador. Mas duro mesmo foi ler uma fala do Bobô, afirmando que o acontecimento era "o renascimento do futebol baiano. A história não será apagada. Vi meus gols no telão agora e me emocionei. Estou muito feliz - disse Bobô".

Esperamos mesmo que a história não se apague e se lembre sempre que junto aos escombros da implosão segue um acontecimento que foi fundamental para o debate entre reforma ou implosão da fonte nova e sobre o qual a imprensa também silenciou nos últimos dias: a tragédia do dia 25 de novembro de 2007. Um bom momento, penso, para perguntar as autoridades: como andam as famílias vitimadas? E as vítimas? Terão elas os nomes lembrados no tal museu do futebol que vão construir? A idenização tá sendo paga ou ela sobrecarrega os cofres públicos?

sábado, 4 de setembro de 2010

Referências Curriculares para a Educação Física

Do dia 30 de agosto a 03 de setembro, na Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal da Bahia, realizou-se o Simpósio Internacional sobre Formação de Professores e Referências Curriculares Básicas para a Educação Física Escolar e o II Seminário do Pólo de Referência de Formação e Pesquisa em Educação do Campo. A responsabilidade pela realização coube ao Grupo Lepel/UFBa, coordenado pelo professor Cláudio Lira e pela professora e diretora da FACED, Celi Taffarel.

Ao contrário do que muitos defendem em relação a escola, entendendo-a como um espaço de detecção e formação de atletas, neste evento a escola foi pensada como um espaço de contradição, onde se materializam determinadas maneiras de direcionar o conhecimento. Nesse sentido, durante a semana, foram apresentadas as principais abordagens, com a presença dos principais articuladores das mesmas, que vem se preocupando em sistematizar o conhecimento possível e necessário de ser trabalhado pela Educação Física no chão da escola.



Estiveram presentes no evento os professores Reiner Hildebrandt Stramann, a professora Heike Beckmann, ambos da Alemanha; os professores Lucio Martinez e Nicolas Borres, da Espanha, os professores Antonio Faustino, de Portugal. Todos com a incubência de socializarem suas experiências no campo da investigação do currículo e da formação do professor de Educação Física.

As experiências brasileiras ficaram a cargo dos professores Alex Branco Fraga (RS), Ana Rita Lorenzini (PE) e Felipe Gonçalves (PR), estados onde já se materializam algumas diretrizes no campo didático-pedagógico da Educação Física. Tivemos também a exposição das experiências de outros estados, como a própria Bahia, junto com Sergipe, Alagoas e Paraíba.

O professor Elenor Kunz, da Universidade Federal de Santa Catarina também se fez presente, fazendo uma abordagem histórica da educação física e situando, em linhas gerais, a abordagem crítico-emancipatória. Tomando como mote a questão Educação Física para quê?, problematizou o papel das pesquisas que hoje são feitas nos programas de pós-graduação de diferentes estados brasileiros, evidenciando que pouca contribuição trazem aos professores e professoras que estão na escola.



Vários coordenadores e coordenadoras das diversas Diretorias Regionais de Educação (DIRECS) do Estado da Bahia, juntamente com a Coordenação de Educação Física e Esporte Escolar, estiveram presentes e participaram de forma efetiva das reflexões e debates sobre as diretrizes curriculares da Educação Física, expondo suas visões de mundo e pontos de vistas, sempre buscando compreender as relações de aproximação e distanciamento das diferentes abordagens que foram apresentadas.

Com a intenção de aprofundar o debate, foram distribuídos alguns livros (Dicionário Crítico da Educação Física, Metodologia do Ensino da Educação Física, Transformação Didático-pedagógica do Esporte) aos representantes das DIRECS, e os mesmos chegarão aos professores e professoras para uma maior e melhor aproximação e aprofundamento sobre o que vem sendo desenvolvido no que diz respeito a organização didática-pedagógica da educação física escolar, para poderem discutir com propriedade, as questões que foram fomentadas neste encontro nos seminário regionais, próximo passo a ser realizado pelo coletivo de professores e professoras.



Um evento riquíssimo, que certamente repercutirá na Educação Física baiana, não entendida como uma disciplina que no interior da escola fomenta atletas mas, sim, uma disciplina que deve está a serviço da formação humana emancipada, com clareza do seu projeto histórico, da sua teoria pedagógica e das matrizes filosóficas que as sustentam.