sexta-feira, 30 de junho de 2023

Esporte e transformação social

Existe toda uma cadeia de produção, circulação e consumo quando se fala de esporte, principalmente quando o mesmo é visto como uma mercadoria, como tudo sob o movimento do capital. Não podemos perder isso de vista quando pensamos na relação esporte/transformação social.

A prática esportiva no Brasil representa 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto - dados de 2015). Uma cadeia produtiva extremamente subutilizada na produção da riqueza nacional, se fizermos a comparação com os Estados Unidos das Américas, cujo o PIB do esporte está na casa dos 3,2%. Algo nada desprezível.

Em evento recente, produzido pela Sports Summit, em São Paulo, que contou com a presença de executivos da indústria esportiva na América Latina, além de atletas e ex-atletas (como Ronaldo Nazário), técnicos e técnicas, CEO do Atlético de Madrid, o presidente da LaLiga, entre outros, a cada R$ 1 real investido em esporte, economizamos R$ 3 reais em segurança e R$ 5 reais em saúde, além de uma melhora de 35% na frequência escolar.


Em abril deste ano, aqui mesmo neste blog, trouxemos a informação de que mais de 360 mil viagens realizadas no Brasil, são motivadas pelo esporte (acesse a matéria AQUI).

São muitos os elementos que compõem a cadeia produtiva do esporte. Os mais imediatos dizem respeito aos artigos esportivos (vestuários e calçados, principalmente). Mas nós podemos também mencionar os lugares onde se praticam esportes, como estádios, ginásios, quadras, piscinas (construção e permanente manutenções), a cadeia que envolve o marcado de suplementos alimentares, entre outros.

O fato é que a relação do esporte e a transformação social não pode ser visto de forma mecânica. Há interesses mercadológicos à vista e nós sabemos que esses, em vários momentos da história da humanidade, sobre vários aspectos, quando se sobrepõem aos interesses sociais, humanos, provocam uma transformação para uma parcela específica da sociedade, muito bem representada no evento citado acima.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Dia Nacional do Voleibol

No último dia 27 do mês corrente, foi comemorado o Dia Nacional do Voleibrol, esporte que desde os anos 80 do século passado, vem sendo colocado como o segundo em preferência pelos brasileiros, ficando atrás apenas do futebol.

Para marcar esta data, o blog sugeri a leitura do livro "Sacando" o voleibol, do professor Wanderley Marchi Júnior (imagem da capa do livro abaixo).


Aos interessados em saber o conteúdo da obra, remetemos a uma resenha da professora Juliana Vlastuin e do professor Luiz Alberto Pilatti, publicada na revista Movimento. (Clique AQUI)

Boa leitura.

Competição de Xadrez

Bullet Brawl agora é semanal!

O Chess.com tem o prazer de anunciar que o nosso evento mensal, Bullet Brawl, agora será toda semana! A partir de julho, nossa arena de bullet para jogadores titulados acontecerá semanalmente, com $1.000 em prêmios a cada evento. Todos os sábados, a partir das 14:00 de Brasília/18:00 de Lisboa, fãs e jogadores terão a chance de aproveitar a emoção do xadrez ultra-rápido.

O Bullet Brawl começou como um evento mensal no início de 2023, com o primeiro evento acontecendo em 28 de janeiro. Desde então, dois jogadores dividiram o monopólio do primeiro lugar nas cinco arenas que aconteceram.

Não é nenhuma surpresa que o rei absoluto do Bullet Brawl até agora tenha sido o lendário GM Hikaru Nakamura. O americano é provavelmente o jogador de bullet mais perigoso do planeta e tem sido presença regular no evento. Os fãs podem esperar ver mais do maior bulleteiro nas próximas arenas, jogando um xadrez incrível e realizando mais de seus golpes inacreditáveis: (VÍDEO AQUI!!!).

Com duas vitórias no currículo, o GM José Martinez é o outro jogador que domina o evento até agora. O grande mestre peruano é um conhecido demônio da velocidade, sempre traiçoeiro em controles de tempo rápidos. Agora com mais oportunidades para jogar, será interessante ver se Martinez alcançará Nakamura.


Com o aumento da frequência do evento, os fãs também podem esperar ver mais dos seus jogadores de bullet favoritos. O GM Daniel Narodistsky, atualmente o jogador com maior rating bullet no Chess.com (em 19 de junho de 2023), também já participou do Bullet Brawl. Já tendo dividido o pódio com Nakamura e Martinez, Naroditsky é um dos muitos jogadores esperados para as próximas edições do evento.

Se você não é um jogador titulado, mas ainda gosta do perigo e da emoção do bullet, também temos boas notícias. Membros da comunidade que não são titulados poderão participar do Community Bullet Brawl, agora também semanalmente. Com o mesmo formato, mas ainda mais prêmios, o evento da comunidade está melhor do que nunca. Junte-se ao Chess.com Community Club oficial para jogar este e outros eventos da comunidade.

Links ativos para acessar maiores informações na página do Chess.com


quarta-feira, 28 de junho de 2023

Maior acordo da história do futebol brasileiro

R$ 1,2 bilhão! Maior acordo da história do futebol brasileiro: presidente de gigante confirma negociações com o dono do PSG


Acordo pode ser o maior da história do futebol brasileiro

O Presidente de um gigante do futebol brasileiro confirmou, em entrevista, que está negociando uma possível grande parceria com o dono que comanda o PSG, grande potência do futebol europeu. As conversas, que acontecem há bastante tempo, pode ter um final feliz no próximo mês.

Não é novidade para nenhum fã de futebol que o dono do PSG tem interesse em fazer parte do futebol brasileiro. A ideia do grupo QSI, que comanda o clube da França e outros do futebol europeu, é ser dono de uma parte das ações de clubes do futebol brasileiro. Para isso, conversas acontecem, em um acordo que pode ser o maior da história do Brasil.

Nos últimos anos, é bem comum clubes brasileiros optando pelo modelo SAF. O primeiro a adota esse estilo foi o Bragantino, com a Red Bull. Depois, veio o Botafogo, Cruzeiro, Vasco, Coritiba e entre outros grandes. O grupo QSI quer fazer parte dessa nova era.

Matéria de Wagner Oliveira AQUI!!!


Lamento por mudança de categoria

Promessa do peso palha, Tatiana Suarez lamenta mudança de categoria de ex-campeã: ‘Se esquivou de mim’


Uma das maiores promessas do UFC neste século, a peso palha (até 52,2kg) Tatiana Suarez não escondeu o seu descontentamento com a subida de categoria da ex-campeã Rose Namajunas. Em entrevista ao programa 'MMA Hour', a norte-americana lamentou a migração da 'Thug Rose' para a categoria das moscas (até 56,7kg) e provocou de forma irônica ao insinuar que a antiga dona do cinturão esteja fugindo de um possível confronto.

"Acho que ela se esquivou totalmente de mim. Não estou provocando. De modo algum. Acho que esse foi o plano dela o tempo todo. Isso nem sou eu, eu nem diria isso se eu pensasse isso. Sempre que eu digo que quero lutar com ela, não é porque eu só quero ir bater nela ou algo assim, como se eu não gostasse dela. Eu só acho que ela é uma boa lutadora. Tipo, eu vejo ela lutar e fico impressionada como ela é ótima", disse Tatiana.

Matéria de Gabriel Fareli AQUI!!!

terça-feira, 27 de junho de 2023

Olimpíada sustentável


 Os Jogos Olímpicos de Paris em 2024 serão a primeira edição do evento a banir completamente o uso de plástico descartável. O anúncio foi feito pela prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo.

No evento, que acontece entre julho e agosto de 2024, o público das competições será admitido apenas sem garrafas de plástico. A coca-cola, patrocinadora oficial das Olimpíadas é uma das maiores poluidoras plástica do mundo. [Ela] distribuirá seus produtos em garrafas de vidro reutilizáveis e mais de 200 fontes de refrigerante, que serão reaproveitadas após os jogos.

Os organizadores das Olimpíadas de Paris disseram ainda que querem reduzir pela metade a pegada de carbono em comparação com os Jogos do Rio em 2016 e Londres em 2012.

Fonte: Planetapospandemia (instagram)

O número "88" está proibido

 A Liga Italiana, Série A, comunicou aos clubes que o número 88 está proibido de ser utilizado nas camisas dos times nessa temporada.

O "88" era o número que os neonazistas utilizavam como lema, numa referência ao grito: "Heil, Hitler". Porque o "H" é a oitava letra do alfabeto.

Via Gazzeta Dello Sport.

sábado, 24 de junho de 2023

Pai de Neymar continua se achando acima das leis

 


Foto: Pai de Neymar / ou Neymar Pai

Por Riva / 24 de junho de 2023 / sábado / 12h15 
Quando nós imaginamos que já vimos tudo, eis que novas situações desagradáveis e desrespeitosas surgem envolvendo o pai de Neymar e o próprio Neymar.
Como é do conhecimento de todos, Neymar tem uma bela mansão em Mangaratiba-RJ e o pai de Neymar decidiu fazer uma reforma na mansão sem cumprir as regulamentações ambientais do município.
Para surpresa de ninguém, quando os fiscais do município chegaram no local para interditar a obra, o pai de Neymar ficou insatisfeito e fez vários questionamentos em um tom nada educado.
O bate-boca com a Secretária de Meio Ambiente de Mangaratiba-RJ, Shayenne Barreto, foi tão caloroso que foi dada voz de prisão para o pai de Neymar. Depois de muitos pedidos dos assessores em um tom mais calmo, o pai de Neymar foi liberado.
A Prefeitura de Mangaratiba-RJ emitiu a seguinte nota:
- A Prefeitura de Mangaratiba informou ainda que a fiscalização foi feita por parte da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Mangaratiba, em conjunto com a Polícia Militar Ambiental, a Polícia Civil e agentes do Grupamento de Proteção Ambiental do munícipio.
Antes que alguém imagine que a interdição da obra tenha sido feita por causa de perseguição ou inveja, segue abaixo o motivo da ação.
A ação se deu após denúncias baseadas em postagens de redes sociais, que mostravam uma grande obra sendo feita, segundo a secretaria sem autorização ambiental, na propriedade do jogador.
O ocorrido não tem nada a ver (ou haver) com o campo e bola. Mas, nas duas últimas décadas, Neymar foi o jogador mais importante do futebol brasileiro e inspiração para muitos jovens.
A situação envolvendo o pai de Neymar e a Secretaria do Meio Ambiente de Mangaratiba-RJ aconteceu na última quinta-feira, 22 de junho, e é um péssimo exemplo para os jovens que se espelham no jogador Neymar.
Segue abaixo as infrações ambientais encontradas na obra que estava sendo feita na mansão de Neymar.
1) Desvio de curso de água;
2) Captação de água de rio sem autorização;
3) Captação de água para lago artificial;
4) Terraplanagem;
5) Escavação;
6) Movimentação de pedras e rochas sem autorização;
7) Aplicação de areia de praia sem autorização ambiental.
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quinta-feira, 22 de junho de 2023

Arábia Saudita e o Golf

Familiares das vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001 se disseram "chocados e profundamente ofendidos" pela decisão do PGA Tour, principal organização de golfe profissional do mundo, de se fundir com a LIV Golf, organização criada e bancada pela Arábia Saudita.
Os grandes golfistas disputam campeonatos do PGA Tour.

Em 2021, porém, a Arábia Saudita criou a LIV, turnê alternativa financiada pelo seu fundo soberano, o PIF (Public Investment Fund).

A ideia era usar dinheiro para atrair os grandes golfistas para a LIV.

O golfe se dividiu: alguns permaneceram fiéis ao PGA Tour, outros preferiram ir com os sauditas.


O PGA, por sua vez, foi à Justiça para impedir que a LIV crescesse. Um dos argumentos do PGA Tour era que entregar o controle do golfe mundial aos sauditas seria apenas uma maneira de contribuir para o plano de sportswashing do reino teocrático, fazer com que o esporte limpe a péssima reputação de direitos humanos do país.

Por isso, eles recorreram à 9/11 Families United, organização que reúne familiares das vítimas do ataque de 11 de setembro, para que se posicionassem contra a existência da LIV Golf.

A Arábia Saudita é, afinal, a principal financiadora da organização conhecida como Al-Qaeda.

Sob a liderança de seu fundador, Osama bin Laden, a Al-Qaeda organizou os ataques de 11/9, que resultaram na morte de 3000 pessoas. Dos 19 terroristas envolvidos naquele episódio, 15 eram sauditas.

Por isso, os familiares das vítimas se sentiram usados pelo PGA Tour na disputa.

Segundo comunicado da 9/11 Families United, o PGA e seu comissário, Jay Monahan, se tornaram "fantoches sauditas" aceitando bilhões de dólares para "limpar a reputação" do país, que "financia o terrorismo e espalha o ódio pelos EUA".

A fusão altera tudo: o PIF passa a ter controle dos principais torneios do mundo, exclusividade para investir neles e poder para vetar outros investidores. É quase como se o golfe como um todo tivesse sido adquirido pela Arábia Saudita.

Quem ficou feliz com a notícia foi Donald Trump, aliado dos sauditas, entusiasta do golfe (emprestou vários de seus campos para a LIV) e candidato à presidência: diz que a fusão é "grande, linda e glamourosa".

Texto retirado do Instagram Copa Além da Copa

O futebol brasileiro precisa parar. A cultura do abuso nos levou ao descontrole e ao flerte com a tragédia

 

Incidentes na Vila Belmiro precisam ser tratados como ponto de ruptura



Torcida do Santos atira fogos no gramado da Vila Belmiro — Foto: Reprodução / Premiere


(Texto escrito por Carlos Eduardo Mansur e publicado no Portal ge.globo.com dia 22 de junho de 2023)
Há momentos de crise em que é preciso ter um cuidado: não fazer pesar sobre os ombros das vítimas a responsabilidade de agir pela solução. No entanto, o descontrole e o flerte cotidiano com a tragédia que marcam o futebol brasileiro atual se arrastam há tanto tempo que desapareceram as razões para acreditar que autoridades públicas, judiciário ou dirigentes esportivos irão se mobilizar.
Restam os jogadores, vítimas cotidianas do ambiente tóxico e violento em que se transformou futebol, como alternativa final. Se agirem como classe, em solidariedade aos companheiros já abusados e em reconhecimento ao estado de permanente ameaça que vivem, os atletas têm poder de iniciar um movimento por mudanças estruturais. Antes que nos reste apenas lamentar uma vítima fatal. Falta pouco. Por ora, houve mais sorte do que juízo.
Que ninguém se engane: o futebol brasileiro precisa parar. Os jogos desta quinta-feira não deveriam ocorrer, tampouco os do fim de semana. Os incidentes da Vila Belmiro, desde a véspera, precisam ser tratados como um ponto de ruptura. Não são os primeiros, não serão os últimos. A cena dos jogadores do Corinthians confinados num ônibus, obrigados a voltar a São Paulo por falta de garantias para que desembarcassem e entrassem no hotel que os hospedaria, é uma indignidade. Assim como é indigno ver atletas do Santos acuados, obrigados a correr para o vestiário tentando evitar que uma bomba os atingisse.
Só uma ação conjunta dos jogadores, interrompendo atividades, irá dar o tom da gravidade do que estamos assistindo. Está instalada no futebol brasileiro uma cultura do abuso contra os profissionais do jogo. Uma normalização da agressão, seja ela verbal ou física. E transformações culturais dificilmente ocorrem sem choques de realidade. Só uma medida radical colocaria em xeque todo o sistema: o calendário não suporta adiamentos de jogos, completar os campeonatos seria desafiador, as entidades estariam contra a parede e precisariam agir.
Num dia, são os jogadores do Atlético-MG ameaçados, constrangidos na porta do CT. No outro, são os do Fluminense, do Flamengo, do Corinthians, sem falar nos ataques à sede do Vasco. Até que vieram os rojões no estádio do Santos. Palco onde, há um ano, Cássio foi agredido e a punição foi bem branda. É importante entender como chegamos a este ponto. Porque se a fotografia do momento é assustadora, a construção do descontrole atual é uma história que atravessa décadas.
Escolhemos acreditar que estádios de futebol são territórios de leis próprias, porque a paixão justificava qualquer comportamento. Do pai que autoriza a criança a falar palavrão e xingar o juiz aos extremos do racismo, da misoginia, da homofobia. Instalada a cultura de permissividade, o futebol perdeu qualquer rédea da situação. Porque o jogo não é uma ilha numa sociedade cada vez mais agressiva, intolerante. Mas revelar-se como um mero reflexo da realidade vivida fora dos limites do estádio não isenta o futebol de tentar entender por que ele se permitiu ser depositário de todas as patologias do mundo moderno; por que o ambiente do jogo se tornou tão convidativo; e por que os profissionais se tornaram alvos nos quais se descontam todas as frustrações cotidianas.
Por conveniência, em nome da tal paixão e como um alívio das tensões, terminamos nos convencendo de que o atleta de futebol é o único trabalhador obrigado a considerar normal ter o xingamento, a ofensa, como parte do cotidiano de sua atividade: o abuso direcionado a ele ou à família dele. Normalizamos crimes de toda ordem. No intervalo da fatídica noite de quarta-feira na Vila Belmiro, bem antes dos rojões serem lançados no campo, os jogadores do Santos iam para o vestiário enquanto dezenas de cidadãos ensandecidos, o ódio traduzido em suas expressões, aproximavam-se do alambrado para gritar ofensas num tom raivoso, num ataque de fúria.
A relação com o futebol se edificou sobre estes pilares: ou o profissional entrega resultado, ou parte da plateia se vê no direito do abuso, seja verbal ou físico. E parte da falta de ação dos atletas como classe, até hoje, tem como pano de fundo a cultura do medo.
Na temporada passada, ônibus apedrejados ou alvos de bombas caseiras levaram atletas a hospitais, um deles com ferimentos que, por questão de milímetros, não lhe tiraram a visão. Neste ano, faltou pouco para um rojão provocar ferimentos que poderiam ser graves. O futebol não pode ser uma espécie de reality show em que a plateia vê homens colocarem em disputa não apenas três pontos: mas o direito de, por alguns dias, não terem sua integridade física ameaçada, poderem circular com seus familiares nas ruas, entrarem num restaurante ou até poderem desembarcar num aeroporto sem que grupos de justiceiros descontem neles a violência represada de uma sociedade doente.
É claro que o componente da paixão ainda está lá. Mas quando o resultado de um jogo não provoca mais tristeza, mas apenas raiva, fúria e violência, é porque cruzamos uma fronteira perigosíssima. Enquanto permitíamos que estádios fossem terras sem lei, o mundo ao redor das arenas se transformava, a intolerância crescia e a sociedade se tornava mais e mais agressiva. Claro que o imenso guarda-chuva do futebol, capaz de abrigar todo tipo de comportamento violento com a benevolente justificativa da paixão, sofreria as consequências.
Os jogadores estão acuados, mas ainda assim são um elo forte na engrenagem do jogo. Se é evidente o risco de um deles ficar exposto ao se colocar como líder de uma crise, ficou provado que é possível uma mobilização de classe, como foi feito quando conseguiram modificar trechos da nova lei geral do esporte. Agora não se trata de dinheiro, mas de lutar para que ninguém morra. Porque, se não aconteceu até agora, não foi porque o futebol é um lugar seguro. Foi apenas por sorte.
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quarta-feira, 21 de junho de 2023

Opinião: a saída antiética de Felipão do Athlético-PR

 

Por Riva / 21 de junho de 2023 / quarta-feira / 12h30
Depois de longos dez dias sem partidas do campeonato brasileiro, a competição será reiniciada na noite desta quarta-feira, 21 de junho de 2023. Durante esse período de pausa para a data FIFA, os clubes aproveitaram para aprimorar a forma física, fazer trabalhos táticos e, mesmo de forma tímida, movimentar o mercado da bola.
Dois assuntos tomaram conta do noticiário esportivo nos últimos dez dias. 1) A possível contratação do técnico Carlo Ancelotti para ser o técnico da seleção brasileira de futebol. 2) A saída de Felipão do Athlético-PR.
A possível contratação do técnico Carlo Ancelotti para treinar a seleção brasileira ainda é uma incógnita. Muitas informações ainda precisam ser confirmadas pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, pelo presidente do Real Madrid, Florentino Perez, e pelo técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti.
A saída de Luiz Felipe Scolari do Athlético-PR para assumir o comando técnico do Atlético-MG foi, sem nenhuma dúvida, a notícia mais impactante dos últimos dez dias.
Luiz Felipe Scolari ou Felipão disse recentemente que não trabalharia mais como técnico e, no Athlético-PR, Felipão assumiu o cardo de diretor de futebol. O técnico da equipe paranaense era Paulo Turra – que, diga-se de passagem, foi indicado por Felipão.
O Athlético-PR acreditou no projeto de futebol de Felipão para 2023 e, tenho quase certeza, que jamais esperava que ele saísse do clube da forma que saiu. É preciso abrir um parênteses. “No futebol, o que chega ao nosso conhecimento é apenas uma pequena parte do que acontece nos bastidores”.
Você pode usar a nomenclatura que achar melhor (rasteira, traição, falta de ética, etc….). Mas, nesse mundo que chamamos de futebol, situações idênticas são corriqueiras. Claro que jamais irei generalizar a atitude antiética de Felipão.
Existe uma pergunta que não podemos deixar de fazer.
Se Felipão não fosse um técnico vencedor e blindado por parte da imprensa esportiva e torcedores, ele seria capaz de fazer o que fez (melhor- abandonar o Athlético-PR)?
Na minha opinião, Felipão jamais faria o que fez.
A conquista de muitos títulos pelos clubes que passou e a conquista da Copa do Mundo de 2002 pela seleção brasileira – apesar de ser um dos principais responsáveis pela derrota da seleção brasileira por 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014 – servem de habeas corpus para Felipão fazer o que quiser (dentro do âmbito esportivo) e ser perdoado por boa parte da imprensa esportiva e torcedores.
Resgatando uma parte do brilhante texto escrito por Rodrigo Mattos do Portal UOL: “por isso, no final das contas, Felipão, que é bem perspicaz, sabia que poderia dar a rasteira que deu no Athlético-PR sem temer repercussões. Só precisava levar em conta o seu próprio interesse. E assim foi.”

E assim seguimos em frente. Apaixonados por futebol, mas com plena consciência que o esporte mais popular do Brasil e quiçá do Mundo não tem espaço para amadores e românticos.
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terça-feira, 20 de junho de 2023

Berlusconi: a Itália que deu certo

"O futebol é uma coisa, a política é outra. O futebol, devo lembrá-lo, é coisa séria", disse Silvio Berlusconi em uma entrevista.




À frente do Milan, que elevou ao patamar de supertime, ele ganhou um palanque político e mudou a história da Itália.

O Milan vivia crise nos anos 80, rebaixado duas vezes. Ele, que fez fortuna no mercado da TV privada, resolveu comprar o clube para promover ainda mais sua figura.

Numa época em que o futebol italiano se abria para estrangeiros, Berlusconi apostou em três neerlandeses: Van Basten, Gullit e Rijkaard.

Acostumada às retrancas, a Itália se encantou com o time treinado por Arrigo Sacchi, inspirado no futebol total.

O Milan conquistou a Europa e o mundo em 89 e 90, e os italianos acompanhavam aquela linda camisa brilhando nos maiores palcos do futebol, ao vivo e a cores pela TV.

Berlusconi queria mais e chegou a sonhar com uma superliga europeia como a que quase saiu do papel em 2021.

Ele via potencial numa competição que colocava frente à frente os melhores da Europa, mas a Copa dos Campeões Europeus, disputada em mata-mata, era um obstáculo.

Sob pressão de Berlusconi e com medo de perder o controle, a UEFA transformou o torneio na Champions League em 92.

No início dos anos 90, o Milan era "a Itália que deu certo".

Na política, o país vivia um caos, resultado dos inquéritos da Operação Mãos Limpas, que levou até 5000 figuras públicas a serem investigadas.

A imprensa, incluindo os jornais e TVs de Berlusconi, se esbaldava.

Em 90, ao receber a Copa do Mundo, os italianos apoiaram a seleção com a expressão "Forza Italia".

Na onda antipolítica que acabou com os principais partidos políticos do país, Berlusconi fundou seu próprio partido com esse nome em 1993. Virou primeiro-ministro no ano seguinte.

No poder, em meio a escândalos de corrupção, manejou o Milan de forma a se favorecer, com contratações às vésperas das eleições.

Em 2009, negou que venderia Kaká a todo custo. Veio a eleição, num domingo, e sua coalizão venceu.

Na segunda, Kaká foi anunciado pelo Real Madrid.

Nos estádios italianos, a frase "Forza Italia" foi trocada por "Forza Azzurri".

Berlusconi reclamou: "Estão politizando o futebol.

Leia mais matérias sobre futebol no instagram do Copa Além da Copa

Lionel Messi contraria os defensores dos Direitos Humanos e é o novo embaixador da Arábia Saudita

 


Por Riva / 20 de junho de 2023 / terça-feira / 12h45
O jogador Lionel Messi – escolhido por várias vezes como melhor jogador de futebol do mundo e atual campeão mundial com a seleção argentina – assinou dois contratos depois que saiu do Paris Saint-Germain.
O primeiro contrato foi com a Inter Miami, clube que disputa a MLS (Major League Soccer). Segundo o empresário Jorge Mas, Messi ganhará entre 50 e 60 milhões de dólares ( aproximadamente 286 milhões de reais) por temporada até o fim de 2025. Depois do termino do contrato, existe uma cláusula que permite a renovação automática do contrato.
Os Estados Unidos sediarão a Copa do Mundo de 2026 ao lado de Canadá e México. Ter um jogador (ou vários jogadores) do nível de Lionel Messi é muito importante para alavancar o futebol no país e uma excelente estratégia de marketing para captar investidores / patrocinadores para a atividade esportiva no país durante o período que antecede a Copa do Mundo de 2026.
O segundo contrato foi com o Governo da Arábia Saudita. Lionel Messi será um dos embaixadores do turismo no país e, segundo o jornal “New York Times”, o jogador pode receber até 22,5 milhões de euros (aproximadamente 117 milhões de reais) no período de três anos. O contrato inclui férias pagas para toda a família de Lionel Messi, algumas postagens nas redes sociais e compromissos comerciais.
O contrato de Lionel Messi com o Governo da Arábia Saudita tem, em uma das cláusulas, a proibição de comentários negativos ou qualquer outra declaração que manche a imagem da Arábia Saudita. Não custa nada lembrar que a Arábia Saudita é governada por uma Monarquia Absolutista Islâmica e é marcado por violações aos Direitos Humanos.
De acordo com o jornal “New York Times” as obrigações de Messi e suas respectivas remunerações são as seguintes:
- Cerca de 2 milhões de dólares (aproximadamente 9,6 milhões de reais) para o mínimo de uma férias anuais em família com a duração de cinco dias, ou alternadamente duas férias anuais de três dias cada. As despesas de viagem e acomodações cinco estrelas seriam pagas pelo Governo Saudita para Messi e até vinte familiares e amigos.
- Outros 2 milhões de dólares para promover a Arábia Saudita em suas contas de rede social dez vezes ao ano, separadamente da promoção de suas férias no país.
- Cerca de 2 milhões de dólares a mais para participar de uma campanha anual de turismo. (Ele e o Governo Saudita compartilharam a primeira campanha, um vídeo elaborado no deserto, em novembro).
- Outros 2 milhões de dólares para trabalhos de caridade e aparições.
Os críticos da Arábia Saudita caracterizam a estratégia como sportswashing: usar esporte e figuras do esporte para encobrir o histórico de direitos humanos do país, o tratamento dado às mulheres, o assassinato do colunista do Washington Post Jamal Khashoggi e outras ações autoritárias.
Não é novidade para ninguém a utilização do esporte e de pessoas que tem visibilidade para criar uma cortina de fumaça e camuflar os Regimes Autoritários. Lionel Messi, por exemplo, têm quatrocentos milhões de seguidores somente no Instagram e é uma das pessoas mais vistas no esporte mundial.
Lionel Messi foi criticado por muito tempo pelos argentinos por causa da sua saída prematura do país e, para muitos, ele (Messi) não tinha o mesmo comprometimento na seleção argentina que tinha no Barcelona. Depois da conquista da Copa do Mundo de 2022, Messi tornou-se um dos símbolos da Argentina.
Lionel Messi demonstra ser uma pessoa simples e consciente do que aconteceu e acontece no Mundo. Não é necessário muito esforço para Messi, seus assessores e empresários entender que a Argentina sofreu uma Ditadura Militar (1976 – 1983) que deixou um rastro de torturas e mortes.
Diante da situação que a Argentina passou durante o período da Ditadura Militar (perseguições, prisões arbitrárias, torturas, mortes,...) Lionel Messi jamais poderia aceitar um convite para representar um país como a Arábia Saudita.
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segunda-feira, 19 de junho de 2023

Teve racismo e teve jogo!!!

Detalhes sobre o fracasso do amistoso contra o racismo promovido pela CBF

O slogan que tem sido promovido pela Fifa e pela CBF diz assim: com racismo não tem jogo. Pois teve.

Logo na entrada no estádio escolhido para o amistoso Brasil x Guiné na Espanha a equipe de Vini Jr. foi recebida por um dos fiscais com uma banana.

Tudo testemunhado por muitas pessoas e registrado em imagens. Dava tempo de sobra para cancelar o jogo e honrar o slogan. Cancelaram? Não. Com racismo tem jogo. Tem muito jogo. O pequeno estádio escolhido, mais vazio do que cheio, refletia o que a seleção brasileira é hoje para o mundo: não muita coisa. Será que isso não deveria preocupar patrocinadores? A imagem já representa em si um fracasso bastante deprimente.

Leia mais AQUI!!!

sábado, 17 de junho de 2023

Até quando?

Quem assistiu ao jogo do selecionado brasileiro contra a seleção da Guiné, hoje à tarde, viu que a Seleção Brasileira jogou todo o primeiro tempo com um uniforme de cor preta. A mudança da cor do uniforme faz parte da campanha contra o racismo, que foi intensificada após o Vini Jr. ter sido alvo de posturas racistas por parte dos torcedores do Valência, no jogo contra o Real Madrid no último 21 de maio.

Não foi a primeira vez que o jogador da seleção foi alvo de discriminações por parte de torcedores espanhóis. E ele também não é o único a sofrer com este tipo de atitude que parece percorrer o mundo.

É muito triste ter que reconhecer que em pleno século XXI, ainda precisamos lembrar aos indivíduos de que racismo é crime. E tudo indica que a luta será árdua.

Antes do início da partida, mais um ato racista foi identificado. Desta feita, com um dos funcionários que acompanhava o selecionado brasileiro, que ao ser revistado pelo segurança do estádio, teve uma banana oferecida de presente.

Até quando?

Drogas Recreativas nos esportes

 Não deveria existir teste de drogas recreativas nos esportes

Jogadores da NBA e outros atletas têm enfrentado repetidamente punições pelo uso de drogas recreativas. Essas políticas são um resquício racista da guerra contra as drogas. Chegou a hora de acabar com elas.

A velocista olímpica e aspirante à medalha de ouro Sha’Carri Richardson foi banida do esporte por um mês devido a um teste positivo de cannabis. Como punição por seu uso de drogas recreativas, a Agência Antidoping dos Estados Unidos proibiu Richardson de competir nas Olimpíadas de Tóquio. O incidente chamou a atenção para a injustiça das políticas de teste de drogas nos esportes.

Uma história semelhante, embora com menos destaque, foi divulgada várias semanas antes. A NBA dispensou o novato Jalen Harris, jogador do Toronto Raptors, em julho, por violar o programa antidrogas da liga. Harris não foi acusado de usar “drogas que melhoram o desempenho” (PEDs) para obter uma vantagem injusta sobre outros jogadores. Em vez disso, a NBA o acusou pelo uso de drogas recreativas. Isso tem muito mais a ver com a abordagem retrógrada dos Estados Unidos em relação às drogas e com o histórico de racismo que acontece na liga do que com qualquer tentativa de promover uma competição justa.

texto do Abdul malik, traduzido pela gercyane oliveira que pode ser lido integralmente na jacobin brasil

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Zico na Udinese: os 40 anos da venda mais dolorosa da história do Flamengo

 


(Texto escrito pelo colunista Carlos Eduardo Mansur e publicado no Portal ge.globo.com )

Dois de junho de 1983. Quatro dias após o maior público da história do Campeonato Brasileiro assistir a mais um título do Flamengo, Zico desembarcava num tumultuado aeroporto do Galeão. Ao pisar o saguão após representar uma seleção mundial no jogo de despedida do alemão Breitner, um jornalista mostrou a ele a capa do jornal O Globo: “Zico vendido por 2 bilhões à Itália”. O Rio de Janeiro amanhecera sob o impacto de uma bomba que soterrara a alegria por um time que empilhava conquistas. Começava um dos dias mais loucos da história do clube, por causa de uma transferência que, sob qualquer aspecto, é um retrato de época.

Em especial quando examinada com o olhar de quem vive tempos em que a exportação de grandes craques, ou de candidatos a estrelas, é vista quase como inevitabilidade. Parece estranho imaginar que o maior jogador do Brasil e um dos maiores do mundo deixava o Brasil pela primeira vez aos 30 anos. E o faria para jogar num clube modesto do futebol italiano.

Àquela altura, os dois bilhões de cruzeiros, ou US$ 4 milhões, eram uma montanha de dinheiro quase surreal. Em números de hoje, Zico saiu do Flamengo por R$ 55 milhões, 25% do valor pago pelo Real Madrid por Vinícius Júnior, aproximadamente 29% do que o Milan pagou por Lucas Paquetá – todos os valores foram atualizados pelo IPCA.

Mas não são apenas os valores que retratam outros tempos. O impacto da notícia também. Falcão deixara o país em 1980, quando a Itália abriu seu mercado para um estrangeiro por equipe. Eventualmente, outros brasileiros passaram pelo futebol italiano: em 1982, Dirceu chegou ao Verona após atuar no México e na Espanha. Mas a venda de Zico, revisitada após 40 anos, é uma espécie de marco. Foi como se o Brasil, que logo veria a exportação de Cerezo, Sócrates, Júnior e tantos outros, percebesse que o êxodo de seus ídolos se tornaria rotina. Se hoje a venda de um jogador é parte da rotina brasileira, tratada quase como uma inevitabilidade, aquele 2 de junho foi vivido como se um pedaço do Flamengo tivesse sido extirpado. A comoção chegou a tal ponto que, dois meses depois, o então presidente Antonio Augusto Dunshee de Abranches renunciou ao cargo.

Tumulto na Gávea

Ao ver o jornal, Zico sabia, em seu íntimo, que o caminho era quase irreversível. Ele jogara a final com o Santos sabendo que, salvo por uma improvável reviravolta, fazia seu último jogo pelo Flamengo antes da transferência. Mas na Gávea, 14 chefes de torcidas organizadas foram à sala de Dunshee. Ouviram do dirigente que tudo já fora tentado, até novas verbas publicitárias. A negociação, que ganhara corpo na semana da decisão do Brasileiro com o Santos, fora fechada na véspera, no antigo Rio Palace Hotel, no Posto 6 da praia de Copacabana, onde hoje está o hotel Fairmont. Enquanto o tumulto era contido, dois funcionários de uma empresa financeira entravam na Gávea para procurar dirigentes e propor a abertura de cadernetas de poupança para ajudar na manutenção de Zico.

- Ha, ha, ha, se vender vai apanhar – gritavam centenas de torcedores que ocuparam a Gávea. Três carros de polícia foram chamados e um dos vice-presidentes do clube, Paulo Dantas, subiu num muro junto ao bar para tentar dar explicações, dizer que a venda ainda não estava assinada e tentar acalmar a pequena multidão, que chegou a quebrar instalações do bar.

- Eram tempos da lei do passe (em que mesmo ao fim do contrato o jogador seguia vinculado ao clube), que dava muito poder ao clube. O mercado europeu era fechado e a gente não jogava pensando em ir para a Europa como meta. Meu negócio era o Flamengo e a seleção – recorda Zico. – Foram dias muito difíceis pela comoção das pessoas. E, na época, embora fosse importante financeiramente, a gente não saía para fazer um desses contratos que resolvem a vida. O que eu ganhei foi uma ajuda importante, deu talvez para construir a casa onde moro até hoje. Mas se eu não continuasse a trabalhar a vida toda, não viveria bem como hoje.

Na capa do Globo, Dunshee aparecia em duas fotos: numa estava rindo, na outra, simulava chorar numa camisa 10 do Flamengo. Logo, o termo “lágrimas de crocodilo” seria usado pela torcida para atacá-lo e o acompanharia nos últimos meses de sua gestão.

Quem seria o porta-voz?

O fato é que, com o negócio apalavrado, uma questão se colocava: como anunciar oficialmente para a torcida que Zico estava vendido? Quem seria o porta-voz?

- Meu pai sempre comentou que ele foi retratado de uma forma caricata, diferente do que realmente aconteceu. A foto do choro na camisa era uma brincadeira, tinham garantido a ele que as câmeras estavam desligadas. Ficou uma imagem diferente da realidade. Ele tinha muito medo de vender, de anunciar a venda. Mas o Zico teria passe livre ao fim do contrato – diz Rodrigo Dunshee, hoje vice-presidente geral do Flamengo. O pai dele, então comandante do clube, tem hoje 86 anos.

De fato, dar a notícia era difícil. A torcida rubro-negra vivia um período de êxtase. A vitória sobre o Santos por 3 a 0, que sacramentou o título brasileiro de 1983, dera ao clube a terceira conquista nacional em quatro anos. No dia em que voltou da viagem à Alemanha, logo após jogar a final, Zico ficou em casa, diante de uma romaria de torcedores e jornalistas.

- Assino a venda assim que Zico reconhecer, publicamente, que deseja ser transferido – afirmou o presidente.

- Assumo a minha responsabilidade quando o Flamengo declarar publicamente que não tem como renovar meu contrato – rebateu o craque, que avisou a torcedores que não aceitaria uma “vaquinha” proposta por um grupo de rubro-negros. – A responsabilidade não é de vocês.

A relação entre Zico e Dunshee sofreu arranhões.

- Ele era uma pessoa muitas vezes irônica, então a questão da camisa foi algo desnecessário. Mas o respeito ao presidente do Flamengo sempre existiu, ele foi um dos grandes presidentes do clube. Não foi o problema da venda, mas o gesto (do “choro” na camisa) – afirma Zico.

- Meu pai sempre o viu com admiração. Tanto que, quando fez 80 anos, fez questão de convidar Zico, Júnior. É que tudo naquele episódio tinha um peso muito grande. Nunca na história do Flamengo uma venda foi feita no Conselho Deliberativo – afirma Rodrigo.

A venda foi parar no Conselho

Tão difícil era ser o autor da venda, que Antônio Augusto convocou o Conselho Deliberativo para decidir, no dia 6 de junho. E, por mais que a história o rotule como o presidente que vendeu Zico, é fato que a negociação foi aprovada por 111 votos contra três. E, em reunião de diretoria, os vice-presidentes do clube também referendaram o acordo com a Udinese. Caso Zico renovasse contrato com o clube, teria 32 anos ao fim do novo contrato e estaria livre para sair, de acordo com a lei do passe.

Enquanto acontecia o processo político, também se desenrolava uma última tentativa negociada de manter o craque. Através de George Helal, então presidente do Conselho Deliberativo, entrava em cena a Adidas, que se dispunha a pagar parceladamente as luvas que Zico receberia à vista dos italianos.

- Foi uma tentativa do Helal. Tivemos esperança, mas quando fomos conversar com o Dunshee, ele disse que a proposta do Flamengo para mim já incluía estes valores, não era um extra. Então ficou claro que era inviável me manter – recorda Zico.

A renúncia

Dirigentes tentaram valorizar os números que, à época, eram astronômicos. E celebravam que, se aplicado, o dinheiro renderia muito ao Flamengo. Mas os ecos da negociação, no entanto, seriam sentidos por algum tempo. A intensa pressão da torcida e da política interna tornavam-se insustentáveis diante de resultados ruins no futebol. No dia 14 de agosto, mais de dois meses após a venda, uma derrota por 3 a 0 para o Botafogo deixou o ar irrespirável. Chefe de uma torcida organizada, Eugênio Onça entrou no vestiário do Flamengo e foi em direção a Dunshee.

- Enquanto você aplica o dinheiro da venda do Zico, os juros e correção monetária estão dentro das redes do Raul (então goleiro rubro-negro) – vociferou o robusto torcedor.

Até que Dunshee reuniu a imprensa e fez um anúncio:

- Sinto que o problema do Flamengo sou eu – afirmou, para logo em seguida anunciar que, no dia seguinte, iria renunciar ao cargo.

O dirigente tivera que lidar com a doença do pai enquanto negociava a saída de Zico. Entre pressões políticas e questões pessoais, via o time claudicar em seus primeiros dias sem o ídolo.

- Foi uma soma de fatores. Ele ficou abalado com a morte do meu avô. Além disso, os dois dividiam o escritório e meu pai precisava trabalhar. Mas claro que o fator Zico foi importante. Meu pai sempre foi um cara explosivo. Ganhou Brasileiro, Libertadores, Mundial, sempre se sentiu muito realizado. Mas naquele dia, após a derrota, decidiu sair – conta o filho de Dunshee.

E o que foi feito de tanto dinheiro? Há diferentes versões. A mais aceita aponta a compra do terreno onde hoje está o Ninho do Urubu, em Vargem Grande. A aquisição aconteceu somente um ano depois, em março de 1984.

O fato é que o dinheiro não atenuou a sensação de uma perda irreparável, que fugia à rotina. Zico até hoje lembra de rubro-negros na porta de sua casa jurando que nunca mais torceriam pelo clube. E do amigo Moraes Moreira, que compôs “Saudades do Galinho”, conhecida pelos versos “E agora como é que eu fico, nas tardes de domingo, sem Zico no Maracanã. E agora como é que eu me vingo de toda derrota da vida se a cada gol do Flamengo eu me sentia um vencedor”. Zico ainda voltaria ao clube, em 1985, a tempo de ganhar mais um Brasileiro dois anos depois. Hoje, provavelmente seria jogador de um clube europeu desde os 18 anos.

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