Nunca estivemos tão perto e tão distante uns dos outros. Já li e ouvir isso em algum lugar. Assim como também já li e ouvir sobre a existência de uma nova sociedade, interligada ou ligada em rede. Nos dizem e explicam que estamos vivendo um revolução comunicacional e que, portanto, está emergindo uma sociedade da comunicação, da informação. O planeta terra, repaginado, se transformou em um "planeta mídia".
Embora discorde dos fundamentos teóricos explicativos desta tal sociedade da comunicação, informação e outros adjetivos que explicam pouco sobre a base estrutural da qual se produz e reproduz as formas sóciometabólicas das relações sociais contemporâneas, sempre e cada vez mais complexas e contraditórias, não posso deixar de considerar a existência de novos meios, artefatos, tecnologias entre outras denominações, que nos permitem um alcance quase ilimitado entre as pessoas, fazendo com que a informação percorra em átimo de segundos, diferentes partes do globo terrestre.
Foi dessa forma que várias pessoas no mundo ficaram sabendo quase ao mesmo tempo, da contratação milionária em uma semana do Kaká e, na outra, do Cristiano Ronaldo pelo Real Madri, no ano de 2009. Tudo foi tão rápido e homogêneo, como deve ser para impactar o produto a ser vendido, que quase se confunde uma com a outra.
Aqui nos trópicos, recentemente, tivemos também uma experiência muito parecida em relação ao impacto informacional da contratação de um craque do Mila. Ou ex-craque. Logo saberemos. Seu nome? Ronaldinho Gaúcho. Foi posto à leilão. Quem dava mais? Palmeiras? Corinthians? Grêmio? Flamengo? Todos os torcedores ficavam sendo informados pelos novos mecanismos de comunicação a cada passo dado pelos dirigentes das diferentes agremiações. Não faltaram coletivas à imprensa. O Palmeiras não tem mais interesse? Explicações eram dadas. O Grêmio desistiu? Mais coletiva com toda a imprensa em cadeia nacional de rádio e tv. Não faltaram as "twitadas", os orkuts, o facebook entre outros. Todos queriam ser informados e ser informantes. Democracia total no processo comunicacional.
Infelizmente, o mesmo processo informacional que semanas antes da tragédia ocorrida no mesmo estado do Rio de Janeiro, que saudou o craque Ronaldinho Gaúcho - pois o Flamengo se saiu bem no leilão - não foi acionado para salvar as vítimas da hecatombe na região serrana do Rio. Estamos a contar os mortos que podem chegar a 1.000.
O sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho(LF), publicou no site
Carta Maior no dia 13 do corrente mês um artigo intitulado
"Tempo como serviço, não como espetáculo", onde questiona o papel das redes de televisão que não tiveram a sensatez de comunicar ao povo das cidades serranas e outras, afetadas pela chuva, como em Minas Gerais, por exemplo, a ocorrência de grande quantidade de chuva. Diz ele em um trecho do artigo:
"Quantas vidas não poderiam ter sido salvas se, em vez colocar no ar o Ratinho ou o Big Brother, as emissoras tivessem avisado à população de que fortes chuvas estavam previstas para a serra fluminense na noite anterior à tragédia, com instruções dos poderes públicos sobre como agir". (LF)
Essas redes de televisão, afeitas ao espetáculo para alavancar audiência, poderiam fazer com um alcance gigantesco, o que foi feito em uma cidade, que não me recordo do nome agora, onde soubemos que foi afetada pela chuva mas sem vítimas, simplesmente por ter se utilizado de um serviço de alto falante acoplado em um carro.
Mais de vinte mil pessoas foram à sede do Flamengo, na Gávea, recepcionar Ronaldinho Gaúcho. Um número equivalente aos processos informacionais que mobilizaram as emoções dos torcedores de diferentes classes sociais. Uma ação de mídia, que não precisaria ser tão equivalente assim, poderia não salvar todos, mas com certeza a tragédia ocorrida na região serrana seria muito menor.
"Furacões violentos que varrem o Caribe todos os anos causam grandes estragos materiais em Cuba, mas pouquíssimas vítimas. Simplesmente porque as autoridades estabelecem planos precisos para a retirada da população das áreas criticas e a orientam através do rádio e da TV, com razoável antecedência, sobre as medidas que devem ser tomadas." (LF)
A ocorrência de chuvas, enchentes no sudeste, no centro-oeste é problema datado, assim como secas e estiagens no nordeste do país. É de conhecimento notório do poder público que deve se organizar para estabelecer um planejamento que evite essas catástrofes que vitimam centenas de milhares de pessoas todos os anos.
Quem sabe o poder público não aprenda com os marketeiros esportivos que sabem muito bem impactar, mobilizar as emoções do povo para os seus objetivos comerciais e consiga fazer que as informações não sirvam única e exclusivamente para a espetacularização da vida, mas, em respeito a ela, sirvam, sobretudo, para a sua manutenção e ampliação.