A escolha do Rio de Janeiro como cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 reacendeu um debate muito antigo - embora um tanto quanto adormecido ultimamente - entre os professores de educação física no Brasil e que diz respeito ao papel tanto do professor quanto do esporte no interior das instituições de ensino, principalmente, nas escolas públicas.
Entra Olimpíadas, saem Olimpíadas, os freqüentes fracassos brasileiro nas mesmas são sempre justificados em função da precariedade com que se desenvolvem as aulas de educação física nas escolas. Professores desmotivados, escolas sem estruturas, alunos e alunas evadindo-se das aulas, falta de material esportivo, são os motivos mais comuns arrolados por todos os que pensam o esporte olímpico e enxergam a escola como a base da pirâmide esportiva.
Os que têm uma visão esportivizante da educação física consideram o professor como um técnico, os alunos como atletas e as escolas como espaço de detecção de talentos. Nesse sentido o esporte deve ser massificado nas escolas, os alunos devem ser encorajados a participarem das aulas, ou melhor, dos treinos, e aos professores cabem, com o olhar clínico que lhe é nato, perceber as habilidades técnicas dos seus alunos, alçando-os à condição de atletas da escola.
O professor de educação física será reconhecido como bom, pelo número de troféus que ele conseguir para a escola e quanto mais medalhas conseguir colocar no peito dos agora atletas escolares.
A escola será a instituição principal da pirâmide esportiva, será aquela instituição que ficará na base da pirâmide, sustentando o processo de detecção dos possíveis talentos esportivos, daqueles sujeitos que, um dia, brindará o país com medalhas olímpicas, de preferência, de ouro.
Alguns depoimentos colhidos aleatoriamente em alguns sítios ligados ao esporte expressam, por parte de alguns, a função da educação física escolar. Vejamos:
"(...) em se tratando de base, de lapidação (...) tem que partir da escola de "Ensino Fundamental"
"Eu nao sei nem pra que uma Escola Tecnica possui uma piscina "semi-olimpica", ja que sendo "técnica" nao é de sua responsabilidade nenhuma prática esportiva de competição e muito menos de aprendizado (Educacao fisica)...Esse tipo de ensinamento e capacitação, se fosse bem organizado, partiria do Ensino Fundamental, onde as crianças podem ser avaliadas como futuros atletas em potencial..."
"Bem, meu ponto de vista é o seguinte: Se o MEC, funcionasse como se deve, e de novo a velha reclamacao em relacao a eficiência do "esporte nas escolas de base", nao precisaria de "Ministério dos Esportes"..Sendo que a seunda etapa ficaria a cargo do COB e das federacoes esportivas...Apareceriam muito mais jovens atletas em potencial, que poderiam ser aproveitados pelos clubes e academias e suas respectivas federacoes...Ou seja, trabalhando a Escola na base, os clubes teriam que se preocupar só com o alto nível..."
Se tivermos um fracasso retumbante nos Jogos Olímpicos que se aproximam, não tenho dúvida alguma de que esses argumentos aparecerão com mais força ainda nos discursos dos dirigentes esportivos.
Não obstante, isso não pode fazer com que nós, professores e professoras, preocupados com a formação humana, se deixe levar por esse debate que mais restringe do que amplia o nosso papel no âmbito escolar. Inclusive, penso que o mesmo deva ser incorporado nas nossas aulas, para que os alunos e alunas tomem consciência do sentido e do significado que é sediar os Jogos Olímpicos e, também, os paraolímpicos, na dimensão social, política e cultural do país.