Parece-me que este ano vai ficar marcado pela mídia esportiva como o ano da denúncia sobre as diversas e diferentes falcatruas que ocorrem no chamado "mundo do esporte", seja por parte de dirigentes, seja por parte de jogadores. E que assim seja.
Depois da retirada do tapete que permitiu que alguns ingênuos esportistas enxergassem a sujeira de nome FIFA sob o mesmo, da matéria exibida pela rede record sobre as atitudes suspeitas do senhor ricardo teixeira, entre outros, agora chegou a vez do conhecido baixinho Romário, ex-jogador de futebol e atual deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro.
Segundo Mario Jorge Lobo Zagallo em entrevista ao SPORTV, Romário "forjou uma lesão na semifinal da Copa América de 1997, na goleada por 7 a 0 sobre o Peru". Será verdade? Qual o motivo? A simples entrada do Edmundo, como faz crer pela continuação do depoimento à rede de televisão citada?
Duas outras perguntas para pensarmos: por que somente agora, Zagallo resolveu tocar neste assunto? Será pelo envolvimento do Romário na busca de explicações sobre os atos de Ricardo Teixeira no sub "mundo do futebol?
Refletir sobre o esporte para além das configurações táticas e técnicas que lhes são próprias e tendo o mesmo como expressão singular para pensarmos fenômenos mais gerais da sociedade, eis o objetivo do blog.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Mr. Teixeira, please...
Série da Jornal da Record investiga denúncias contra o presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa 2014 no Brasil, Ricardo Teixeira. A onda de acusações ligando Teixeira à corrupção iniciou com uma matéria divilgada na BBC. Nesta sexta-feira (24), o deputado federal Romário (PSB-RJ) questionou a demora de Ricardo Teixeira em apresentar explicações.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
A culpa é da lei de licitação
Na semana que passou as manchetes das secções de política das diferentes mídias foram pautadas, como nunca antes neste país, pelos megaeventos nacionais ligados ao esporte, principalmente os relacionados a Copa do Mundo de 2014 por dois motivos principais: 1) pela sua proximidade e 2) pelo cunho polêmico de algumas decisões de governo como, por exemplo, questões ligadas a processos licitatórios.
Há 1079 dias da Copa do Mundo, a grande maioria dos estados brasileiros que ganharam o direito de sediar jogos do evento estão com suas obras atrasadas. Na última semana de maio, a revista Veja publicou uma matéria especial sobre o evento enfatizando, ironicamente, que já estávamos prontos para a Copa do Mundo de...2038. Isso mesmo, 2038. Não foi erro de digitação nem você está com problema de visão.
Em função do atraso, o governo federal resolveu se mexer e alterar algumas regras sobre licitação para poder acelerar as obras relativas ao evento. Ou seja, dizendo de uma outra forma, resolveu premiar a incompetência dos responsáveis pela materialização do evento, já que a população, a mesma que pagará a conta pelos atos dos irresponsáveis "senhores dos anéis", nunca foi consultada em relação a estes mesmos eventos e estas mesmas obras. Eles simplesmente entenderam que o Brasil era a bola da vez, e pronto: cá estamos!
Aparentemente, e só aparentemente, a culpa recai sobre questões legais, sobre as letras, artigos e parágrafos da lei de licitação de obras, tão desconhecida da população em geral quanto a fórmula da bomba atômica. Mas sabemos, tanto de uma quanto da outra, das consequências do seu uso.
A bem da verdade é importante esclarecermos que existe sim, na Lei de Licitações (Lei n.º 8.666/93), a possibilidade de não realizar alguns procedimentos licitatórios, viabilizando contratações diretas sem os trâmites ditos burocráticos, mas necessário para o bem público. Até o seu vizinho de cima ou do lado, caso tenha condições, pode ser contratado para a execução da obra e atenção, sem a devida preocupação se o preço de um ou do outro é maior ou menor. É o Brasil que ainda temos.
O problema é que esta possibilidade fica condicionada às questões de urgência. E aqui, penso eu, a porca torce o rabo e o seu fucinho vira tomada. Estamos ou não em processo de urgência urgentíssima para a execução das obras necessárias para a realização dos megaeventos esportivos que ocorrerão no Brasil? A resposta fácil, óbvia e imediata que serve aos espertalhões de plantão é sim, estamos.
Mas vamos com calma com o andor que o santo é de barro, gritam os meus estupefatos botões. E mais calmos, indagam: podemos chamar de urgente urgentíssima obras que desde o ano de 2008 já tínhamos conhecimento que eram essenciais para a realização dos megaeventos esportivos? Creio que não e penso que aqui está a chave eurística do problema cuja a hipótese é: conhecedores que são das leis que regem as licitações no país e sabedores da competência do estado para gerenciar e validar, com dinheiro público, as ações necessárias para a realização do que se propôs fazer, e tendo uma experiência concreta, vide Pan-Rio 2007 como exemplo, os "senhores dos anéis", conscientemente e com a anuência do estado-entretenimento, retardaram os processos necessários para a execução das obras em tempo hábil.
Mas entre a pergunta e a hipótese, melhor para eles ficarem com a tese de que a culpa é da lei de licitação, da burocracia, da incompetência. É mais palatável e serve bem ao "jogo sujo" da Fifa e congêneres.
Há 1079 dias da Copa do Mundo, a grande maioria dos estados brasileiros que ganharam o direito de sediar jogos do evento estão com suas obras atrasadas. Na última semana de maio, a revista Veja publicou uma matéria especial sobre o evento enfatizando, ironicamente, que já estávamos prontos para a Copa do Mundo de...2038. Isso mesmo, 2038. Não foi erro de digitação nem você está com problema de visão.
Em função do atraso, o governo federal resolveu se mexer e alterar algumas regras sobre licitação para poder acelerar as obras relativas ao evento. Ou seja, dizendo de uma outra forma, resolveu premiar a incompetência dos responsáveis pela materialização do evento, já que a população, a mesma que pagará a conta pelos atos dos irresponsáveis "senhores dos anéis", nunca foi consultada em relação a estes mesmos eventos e estas mesmas obras. Eles simplesmente entenderam que o Brasil era a bola da vez, e pronto: cá estamos!
Aparentemente, e só aparentemente, a culpa recai sobre questões legais, sobre as letras, artigos e parágrafos da lei de licitação de obras, tão desconhecida da população em geral quanto a fórmula da bomba atômica. Mas sabemos, tanto de uma quanto da outra, das consequências do seu uso.
A bem da verdade é importante esclarecermos que existe sim, na Lei de Licitações (Lei n.º 8.666/93), a possibilidade de não realizar alguns procedimentos licitatórios, viabilizando contratações diretas sem os trâmites ditos burocráticos, mas necessário para o bem público. Até o seu vizinho de cima ou do lado, caso tenha condições, pode ser contratado para a execução da obra e atenção, sem a devida preocupação se o preço de um ou do outro é maior ou menor. É o Brasil que ainda temos.
O problema é que esta possibilidade fica condicionada às questões de urgência. E aqui, penso eu, a porca torce o rabo e o seu fucinho vira tomada. Estamos ou não em processo de urgência urgentíssima para a execução das obras necessárias para a realização dos megaeventos esportivos que ocorrerão no Brasil? A resposta fácil, óbvia e imediata que serve aos espertalhões de plantão é sim, estamos.
Mas vamos com calma com o andor que o santo é de barro, gritam os meus estupefatos botões. E mais calmos, indagam: podemos chamar de urgente urgentíssima obras que desde o ano de 2008 já tínhamos conhecimento que eram essenciais para a realização dos megaeventos esportivos? Creio que não e penso que aqui está a chave eurística do problema cuja a hipótese é: conhecedores que são das leis que regem as licitações no país e sabedores da competência do estado para gerenciar e validar, com dinheiro público, as ações necessárias para a realização do que se propôs fazer, e tendo uma experiência concreta, vide Pan-Rio 2007 como exemplo, os "senhores dos anéis", conscientemente e com a anuência do estado-entretenimento, retardaram os processos necessários para a execução das obras em tempo hábil.
Mas entre a pergunta e a hipótese, melhor para eles ficarem com a tese de que a culpa é da lei de licitação, da burocracia, da incompetência. É mais palatável e serve bem ao "jogo sujo" da Fifa e congêneres.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
sábado, 11 de junho de 2011
Dragão do Sul
Itabuna Esporte Clube, que fez aniversário no último dia 23 de maio, conseguiu se classificar para a primeira divisão do baianão do próximo ano, lugar de onde o mesmo nunca deveria ter saído. O povo grapiúna gosta muito de futebol e não merece ficar de fora da elite do baiano. Parabéns ao Itabuna e aos itabunenses que mostra vitalidade nos seus 44 anos de existência.
Nota do Política Hoje
Ontem, o jornalista Robrigo Aguiar do site Política Hoje deu a seguinte nota: Depois do Portal da Transparência – site gerido pela Controladoria Geral da União (CGU) – publicar nesta sexta-feira (10) a informação de que as obras da Arena Fonte Nova custariam R$ 835 milhões, o secretário extraordinário para assuntos da Copa, Ney Campello, enviou um ofício ao responsável pela CGU, Jorge Hage, e ao ministro do Esporte, Orlando Silva.“Para não ser descortês e pedir logo que corrigissem, enviei um ofício solicitando a origem desses dados”, disse Campello ao Política Hoje. Segundo Campello, não houve nenhuma modificação no orçamento total da obra, acertado entre o governo baiano e a Fonte Nova Participações S.A em R$ 591,7 milhões. Campello ainda afirmou que deve ter havido uma confusão do Portal ao somar o valor da obra com despesas que chamou de “pré-operacionais” e que seriam pagas pelo consórcio OAS-Odebrecht.
O secretário manteve ainda a linha que vem sendo adotada pelo governo, de criticar os setores que têm cobrado explicações quanto ao financiamento da obra e acusá-los de quererem a Bahia “fora da Copa”. Segundo ele, tais setores “incorporam um espírito de porco e têm uma visão provinciana”. “Eu acho lamentável que uma obra que se encontra em estágio avançado e têm sido elogiada até pela Fifa seja alvo de alguns que querem atrapalhar o seu andamento”, declarou Campello.
Esperamos que isso realmente seja verdade, pois já estamos mais do que cansado no uso indevido do dinheiro público.
O secretário manteve ainda a linha que vem sendo adotada pelo governo, de criticar os setores que têm cobrado explicações quanto ao financiamento da obra e acusá-los de quererem a Bahia “fora da Copa”. Segundo ele, tais setores “incorporam um espírito de porco e têm uma visão provinciana”. “Eu acho lamentável que uma obra que se encontra em estágio avançado e têm sido elogiada até pela Fifa seja alvo de alguns que querem atrapalhar o seu andamento”, declarou Campello.
Esperamos que isso realmente seja verdade, pois já estamos mais do que cansado no uso indevido do dinheiro público.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Novo valor para a FONTE NOVA
Como já era esperado por quem acompanha as obras das novas arenas que estão sendo construídas pelo país afora, nos Estados sedes da Copa do Mundo de 2014, o valor da construção vem sendo ampliado. Agora, o valor de construção para o momento da Nova Arena Fonte Nova foi atualizado e custará a bagatela de R$ 835 milhões. É o que nos diz o Portal da Transparência do Governo Federal, ligado a Controladoria-Geral da União (CGU). O custo foi ampliado em "parcos" R$ 244 milhões, saltando de R$ 591 milhões, valor ganhador da licitação em 22 de dezembro de 2009, para os atuais R$ 835 milhões.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Sobre pão e circo - a educação supérflua?!
No contexto e emergência de finalização do movimento grevista por parte dos professores e professoras das Universidades Estaduais da Bahia, reproduzo um texto publicado no Blog Greve UESB, de autoria do Wagnervalter Dutra Júnior, doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe,professor do curso de Geografia da UNEB VI – Caetité-BA,pesquisador do GPECT: Grupo de Pesquisa Estado, Capital, Trabalho e as políticas de reordenamento territorial – CNPQ. Membro do Grupo Crise – UNEB Campus VI.
********************SEGUE ABAIXO O TEXTO
É interessante observar o custo da política de pão e circo. Tanto no primeiro caso, como no segundo, quem paga a conta? De quem é extraído a ‘mais-valia social’ para re-alimentar um sistema tão contraproducente regido pelo capital? Os custos do espetáculo servem para bancar campanhas eleitorais a despeito dos mais pobres, para em seguida permitir o ciclo do capital. Basta tomar, por exemplo, os sucessivos cortes orçamentários realizados pelo governador do Estado da Bahia no ano de 2009 e 2011. E por que não em 2010? Ano de comprar uma reeleição, e viabilizar algo que se situa bem além do Bolsa Família: o Bolsa Empreiteiro - para montar grandes circos, da Copa à Olimpíada.
Karl Marx no 18 de Brumário assevera: “Hegel observa algures que todos os grandes fatos e personagens da história [...] aparecem, por assim dizer, duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia e a outra como farsa [...] É precisamente nessas épocas de crise revolucionária que esconjuram temerosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem de combate, a sua roupagem, para, com esse disfarce de velhice venerável e essa linguagem emprestada, representar a nova cena da história universal” (MARX, 2008, 207 – 208). Não poderia haver melhor representação do que se transformou o Partido dos Trabalhadores – ou melhor, Partido do Trabalho Abstrato. Na Bahia o carlismo foi reconvertido numa espécie de neocarlismo, com grande eficácia para construir e operar jogos políticos visando à hegemonia – tal habilidade surpreenderia até mesmo o ‘primeiro cacique’, se estivesse vivo.
Na esteira do discurso do corte de gastos públicos, para estancar a crise, que segundo o próprio Lula da Silva era apenas uma marola, o novo cacique cabeça branca da Bahia atinge em cheio a educação. O decreto n° 12.583/2011, publicado em fevereiro, desfere um duro golpe sobre toda a educação no Estado da Bahia, e demonstra a forma como esse governo trata a educação: para ele o que importa é a educação-empreendedorista-mercadoria-fetiche (de natureza técnico-profissionalizante), expressa pelos programas enquadrados nos ditames do Banco Mundial, a exemplo do PROJOVEM. Uma espécie de adestramento pós-moderno, que transforma/transfere a formação e leitura de mundo para o caminho de volta ao parafuso dos tempos modernos de Charles Chaplin. Querem tornar real o que apontava George Orwell no livro 1984? Produzir uma espécie de novilíngua em que não caibam mais as palavras Utopia? Revolução? Socialismo? Anarquismo? Comunismo?
O caminho é a resistência: as Universidades Estaduais da Bahia deflagraram greve no mês de abril; estudantes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia paralisaram e protestaram contra o ato fascista do governo, antes mesmo que os docentes – negando-se a serem meros apertadores de parafusos!
Há mais surpresas nesse caminho: muitos dos que hoje estão ‘perseguindo’ o movimento docente grevista, tentando criminalizar, marginalizar, eliminar o direito à mobilização e à greve, desrespeitando direitos adquiridos e assegurados por lei, foram os professores que um dia nos ensinaram a importância da crítica à sociedade burguesa: acho que o abismo não apenas olhou para eles – foi mais além do que dissera Nietzsche, o abismo os devorou.
Esses professores optaram pela ‘tirania’, todavia convém recordar Étienne de La Boétie em seu alerta muito útil aos ex-professores, agora aprendizes de operadores de fundos de pensão: “Isso sempre aconteceu porque cinco ou seis obtiveram confiança do tirano e se aproximaram dele por conta própria, ou foram chamados por ele para serem cúmplices de suas crueldades, companheiros de seus prazeres, favorecedores de suas libidinagens e beneficiários de suas rapinas. Esses seis dominam tão bem seu chefe que ele se torna mau para a sociedade, não só com suas próprias maldades, mas também com a deles. Esses seis têm seiscentos à sua disposição, e fazem com esses seiscentos o que os seis fizeram com o tirano. Esses seiscentos têm sob suas ordens seis mil, que elevaram em dignidade. Fazem dar a eles o governo das províncias ou a administração do dinheiro público a fim de tê-los na mão por sua avidez ou crueldade, para que as exerçam oportunamente e façam tanto mal que não possam manter-se senão sob sua sombra nem se isentar das leis e das punições senão graças à sua proteção [...] Do mesmo modo, assim que um rei se declarou tirano, tudo o que é ruim, toda a escória do reino – [...] dos que são possuídos por uma ambição intensa e uma avidez notável – reúne-se ao redor dele e o apóia para participar do butim e se tornar pequenos tiranos sob o grande tirano. [...] É assim que o tirano subjuga os súditos – uns por meios dos outros – e se faz guardar por aqueles contra os quais deveria se precaver, se valessem alguma coisa. [...] Quando penso nas pessoas que bajulam o tirano para explorar sua tirania e a servidão do povo, muitas vezes fico admirado com sua maldade e sinto piedade de sua tolice. Pois, na verdade, o que é aproximar-se do tirano senão afastar-se cada vez mais da liberdade e, por assim dizer, abraçar e apertar com as duas mãos a servidão?” (Discurso da Servidão Voluntária, 2010, p. 62 – 64).
A educação, mesmo tão precarizada pelo governo do PT, é uma das possibilidades na construção da práxis revolucionária que descortina os ‘tiranos’ e as ‘tiranias’, nos colocando além da servidão voluntária; mas, a opção pelo circo, pela sociedade do espetáculo, é o que prevalece.
E o que restará para os baianos e brasileiros depois do “grande espetáculo de 2014” – a Copa do Mundo de Futebol? Até lá um rastro de especulação, produção de monopólios e rendas diversas, e um caminho amplo para a corrupção e desvio do dinheiro público, conforme reportagem da Revista Caros Amigos (edição n° 166/2011 – Copa e Olimpíadas - o que realmente está em jogo?). Segundo o professor Carlos Vainer, as cidades brasileiras se transformarão num grande negócio, um negócio corrupto e com o aval da presidência da república, financiamento do BNDES, e, como as informações não são transferidas para a população, também com o apoio do povo. Espaços completamente privatizados pelas grandes corporações, tendo em vista que ao redor das áreas dos jogos o consumo em geral só é permitido para os que tem contrato com a FIFA.
E o que fica depois da saída dos megaeventos, como as Copas e Olimpíadas? Ainda segunda matéria publicada na Caros Amigos: na Grécia depois da Olimpíada de 2004, o recurso destinado para construção da Vila Olímpica, com 2292 unidades, foi desperdiçado, pois o lugar hoje é deserto, não foi destinado para habitação social, entretanto é um prato cheio para especulações futuras. O mundial de futebol do ano passado na África do Sul deixou suas marcas, além do estado de exceção que vigora por exigência da FIFA nos locais dos jogos (que precisam ser ‘étnica e socialmente faxinados’), manifestações foram proibidas no mês da Copa; e trabalhadores que migraram para trabalhar nas obras centrais, hoje sofrem xenofobia.
Optamos pela educação que transcenda a auto-alienação do trabalho. Para poder ficar com a greve, a liberdade, a libertação, a revolução, o socialismo, o comunismo, e nunca abrir mão da Utopia.
********************SEGUE ABAIXO O TEXTO
É interessante observar o custo da política de pão e circo. Tanto no primeiro caso, como no segundo, quem paga a conta? De quem é extraído a ‘mais-valia social’ para re-alimentar um sistema tão contraproducente regido pelo capital? Os custos do espetáculo servem para bancar campanhas eleitorais a despeito dos mais pobres, para em seguida permitir o ciclo do capital. Basta tomar, por exemplo, os sucessivos cortes orçamentários realizados pelo governador do Estado da Bahia no ano de 2009 e 2011. E por que não em 2010? Ano de comprar uma reeleição, e viabilizar algo que se situa bem além do Bolsa Família: o Bolsa Empreiteiro - para montar grandes circos, da Copa à Olimpíada.
Karl Marx no 18 de Brumário assevera: “Hegel observa algures que todos os grandes fatos e personagens da história [...] aparecem, por assim dizer, duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia e a outra como farsa [...] É precisamente nessas épocas de crise revolucionária que esconjuram temerosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem de combate, a sua roupagem, para, com esse disfarce de velhice venerável e essa linguagem emprestada, representar a nova cena da história universal” (MARX, 2008, 207 – 208). Não poderia haver melhor representação do que se transformou o Partido dos Trabalhadores – ou melhor, Partido do Trabalho Abstrato. Na Bahia o carlismo foi reconvertido numa espécie de neocarlismo, com grande eficácia para construir e operar jogos políticos visando à hegemonia – tal habilidade surpreenderia até mesmo o ‘primeiro cacique’, se estivesse vivo.
Na esteira do discurso do corte de gastos públicos, para estancar a crise, que segundo o próprio Lula da Silva era apenas uma marola, o novo cacique cabeça branca da Bahia atinge em cheio a educação. O decreto n° 12.583/2011, publicado em fevereiro, desfere um duro golpe sobre toda a educação no Estado da Bahia, e demonstra a forma como esse governo trata a educação: para ele o que importa é a educação-empreendedorista-mercadoria-fetiche (de natureza técnico-profissionalizante), expressa pelos programas enquadrados nos ditames do Banco Mundial, a exemplo do PROJOVEM. Uma espécie de adestramento pós-moderno, que transforma/transfere a formação e leitura de mundo para o caminho de volta ao parafuso dos tempos modernos de Charles Chaplin. Querem tornar real o que apontava George Orwell no livro 1984? Produzir uma espécie de novilíngua em que não caibam mais as palavras Utopia? Revolução? Socialismo? Anarquismo? Comunismo?
O caminho é a resistência: as Universidades Estaduais da Bahia deflagraram greve no mês de abril; estudantes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia paralisaram e protestaram contra o ato fascista do governo, antes mesmo que os docentes – negando-se a serem meros apertadores de parafusos!
Há mais surpresas nesse caminho: muitos dos que hoje estão ‘perseguindo’ o movimento docente grevista, tentando criminalizar, marginalizar, eliminar o direito à mobilização e à greve, desrespeitando direitos adquiridos e assegurados por lei, foram os professores que um dia nos ensinaram a importância da crítica à sociedade burguesa: acho que o abismo não apenas olhou para eles – foi mais além do que dissera Nietzsche, o abismo os devorou.
Esses professores optaram pela ‘tirania’, todavia convém recordar Étienne de La Boétie em seu alerta muito útil aos ex-professores, agora aprendizes de operadores de fundos de pensão: “Isso sempre aconteceu porque cinco ou seis obtiveram confiança do tirano e se aproximaram dele por conta própria, ou foram chamados por ele para serem cúmplices de suas crueldades, companheiros de seus prazeres, favorecedores de suas libidinagens e beneficiários de suas rapinas. Esses seis dominam tão bem seu chefe que ele se torna mau para a sociedade, não só com suas próprias maldades, mas também com a deles. Esses seis têm seiscentos à sua disposição, e fazem com esses seiscentos o que os seis fizeram com o tirano. Esses seiscentos têm sob suas ordens seis mil, que elevaram em dignidade. Fazem dar a eles o governo das províncias ou a administração do dinheiro público a fim de tê-los na mão por sua avidez ou crueldade, para que as exerçam oportunamente e façam tanto mal que não possam manter-se senão sob sua sombra nem se isentar das leis e das punições senão graças à sua proteção [...] Do mesmo modo, assim que um rei se declarou tirano, tudo o que é ruim, toda a escória do reino – [...] dos que são possuídos por uma ambição intensa e uma avidez notável – reúne-se ao redor dele e o apóia para participar do butim e se tornar pequenos tiranos sob o grande tirano. [...] É assim que o tirano subjuga os súditos – uns por meios dos outros – e se faz guardar por aqueles contra os quais deveria se precaver, se valessem alguma coisa. [...] Quando penso nas pessoas que bajulam o tirano para explorar sua tirania e a servidão do povo, muitas vezes fico admirado com sua maldade e sinto piedade de sua tolice. Pois, na verdade, o que é aproximar-se do tirano senão afastar-se cada vez mais da liberdade e, por assim dizer, abraçar e apertar com as duas mãos a servidão?” (Discurso da Servidão Voluntária, 2010, p. 62 – 64).
A educação, mesmo tão precarizada pelo governo do PT, é uma das possibilidades na construção da práxis revolucionária que descortina os ‘tiranos’ e as ‘tiranias’, nos colocando além da servidão voluntária; mas, a opção pelo circo, pela sociedade do espetáculo, é o que prevalece.
E o que restará para os baianos e brasileiros depois do “grande espetáculo de 2014” – a Copa do Mundo de Futebol? Até lá um rastro de especulação, produção de monopólios e rendas diversas, e um caminho amplo para a corrupção e desvio do dinheiro público, conforme reportagem da Revista Caros Amigos (edição n° 166/2011 – Copa e Olimpíadas - o que realmente está em jogo?). Segundo o professor Carlos Vainer, as cidades brasileiras se transformarão num grande negócio, um negócio corrupto e com o aval da presidência da república, financiamento do BNDES, e, como as informações não são transferidas para a população, também com o apoio do povo. Espaços completamente privatizados pelas grandes corporações, tendo em vista que ao redor das áreas dos jogos o consumo em geral só é permitido para os que tem contrato com a FIFA.
E o que fica depois da saída dos megaeventos, como as Copas e Olimpíadas? Ainda segunda matéria publicada na Caros Amigos: na Grécia depois da Olimpíada de 2004, o recurso destinado para construção da Vila Olímpica, com 2292 unidades, foi desperdiçado, pois o lugar hoje é deserto, não foi destinado para habitação social, entretanto é um prato cheio para especulações futuras. O mundial de futebol do ano passado na África do Sul deixou suas marcas, além do estado de exceção que vigora por exigência da FIFA nos locais dos jogos (que precisam ser ‘étnica e socialmente faxinados’), manifestações foram proibidas no mês da Copa; e trabalhadores que migraram para trabalhar nas obras centrais, hoje sofrem xenofobia.
Optamos pela educação que transcenda a auto-alienação do trabalho. Para poder ficar com a greve, a liberdade, a libertação, a revolução, o socialismo, o comunismo, e nunca abrir mão da Utopia.
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