terça-feira, 28 de outubro de 2014

Isenção, não!!!

O Brasil acaba de passar por mais um teste da sua democracia. Mais uma vez a mesma mostrou-se forte, pelo menos no âmbito eletivo, com as instituições funcionando adequadamente, apesar de algumas publicações terem tentado, mais uma vez, macular o processo.

Mais a democracia não se resume ao processo eleitoral. Ela é organicamente pautada por distintas instituições fora os tribunais, superiores e regionais, responsáveis pelas diferentes dinâmicas do pleito eletivo.

A democracia é um regime que exige o atendimento dos direitos fundamentais, muitos deles negados a grande maioria da população. E estamos falando de direitos, além de básicos, elementares para uma vida decente: habitação, moradia, saúde, educação, entre outros.

Não podemos aceitar, no âmbito desse regime, que uns sejam mais beneficiados do que outros. Sabemos que é assim que a "banda toca", mas isso, em um certo grau, é uma excrescência do sistema.

Digo isso porque espero uma atitude republicana do Congresso Nacional sobre a dívida dos clubes de futebol do Brasil. Em valores atuais, os mesmos devem mais de dois bilhões...vou repeti...dois bilhões de reais ao governo federal.

A bancada da bola vem manobrando para isentar os clubes do pagamento desta dívida. São todos grandes e poderosos. Entre eles os quatro grandes do Rio estão presentes. Os dois maiores de Minas, os do estado de São Paulo, entre outros.

Todos eles muito poderosos, não economicamente, como imaginamos, estão devedores. Mas politicamente são muito fortes. E nessa equação, devemos levar em consideração que economia e política não se separam. Logo, é bom ficarmos com a barba de molho.

No nosso entendimento, todos devem pagar. Isenção, não!!!

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A barbárie na forma de comentário

Quando abordamos o termo barbárie, geralmente o fazemos citando grandes atentados terroristas, as diferentes guerras em curso no mundo (além das duas de alcance mundial), o holocausto, o uso da bomba atômica, etc, etc.

No entanto, penso eu, muito embora os elementos supracitados realmente expressem a barbárie, os atos que a contém, a eles não se resumem. Muitos outros traduzem o quanto não só a barbárie está em curso em função das relações sociais de produção e reprodução da nossa vida nessa quadra histórica, mas, sobretudo, demonstram o grau de desenvolvimento da mesma, sua ampliação e extensão, sendo demonstrada em situações e expressões que passariam por naturais se trágicas não fossem.

O que me levou a desenvolver esta postagem tem relação com isso. Um jovem jogador do futebol indiano, que atuava no Bethlehem Vengthlang FC, foi vítima de uma fatalidade.



Ao comemorar o gol que acabara de fazer com uma pirueta, algo muito comum entre os jogadores, inclusive do futebol brasileiro, ele caiu de mal jeito, sofrendo lesões na espinha. Hospitalizado, ele veio a falecer no domingo último, cinco dias após o incidente.

Uma tragédia, sem dúvida alguma. Como é toda e qualquer perda, abrupta ou não, de jovens como ele, ou de qualquer ser vivo e que merece ser tratada com humanidade.

Mas o que fica expresso nos comentários (imagens reproduzidas abaixo), traduz, na justa medida, a falta, para dizer o mínimo, de sensibilidade das pessoas frente ao ocorrido.

A tragédia é mote para piadas e "brincadeiras". São várias do tipo: "vacilão"; "esse deu a vida pelo time literalmente"; "trágico, mas morreu feliz"; "kkkkk"; "vacilão morre cedo" entre muito outros bárbaros comentários.





 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

15 de outubro: dia do professor

Imagem e texto retirado do site do MNCR
O Movimento Nacional contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física (MNCR) parabeniza todos os professores e professoras que lutam cotidianamente por uma educação transformadora.


O MNCR, desde o seu surgimento, vem defendendo o direito ao trabalho dos professores e professoras de Educação Física em todo o país, lutando pela regulamentação do trabalho. Para auxiliar os professores e professoras, ao longo destes 15 anos de existência, vem produzindo materiais que possibilitam aos trabalhadores da Educação Física compreender a não necessidade do Sistema CONFEF/CREF. Neste sentido, o MNCR lançou, no ano de 2013, a Campanha Nacional Pelo direito ao trabalho dos professores e professoras de Educação Física, que busca apontar as ingerências do Sistema CONFEF/CREF e dar subsídios para a luta dos professores e professoras de Educação Física contra este Conselho. Mas, mais do que isto, a campanha visa ampliar o debate sobre a formação e a atuação dos professores de Educação Física, com o objetivo de promover uma qualificação no âmbito da formação acadêmica, onde não mais haja a fragmentação do curso (bacharelado e licenciatura).

Ressaltamos a importância do dia 15 de outubro, em especial, para nós, professores e professoras de Educação Física, pois esse recupera o sentido da luta da data e também porque se contrapõe ao dia 1.º de setembro – data que o conselho profissional (CONFEF/CREF) tenta impor a esses trabalhadores e trabalhadoras como sendo o seu dia, este Conselho que ataca os trabalhadores da cultura corporal, impõe a necessidade de fragmentar a formação e em nada contribui para a luta por melhores condições aos trabalhadores da Educação Física.

O MNCR parabeniza a todos os professores e professoras pelo seu dia!

Força na Luta, que a luta é para vencer, sempre!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A EDUCAÇÃO NAS TEIAS DO ARANHA

Imagem retirada do site Folha do Estado
Jornal Correio Popular de Campinas, p. A-2, Coluna Opinião, em 24/09/2014, ISSN 1518-1286
Texto do Prof. Dr. Marcos Francisco Martins
Prof. da UFSCar e pesquisador do CNPq

Personagem conhecido em Campinas, o Aranha, ex-goleiro da Ponte Preta, acabou se envolvendo em um emaranhado debate nacional e disso se podem extrair lições para a educação das nossas relações sociais.

Há 30 dias, no jogo Grêmio X Santos, em Porto Alegre, parte da torcida local fez xingamentos racistas contra o Aranha. Ele reagiu, saiu do gol, foi à torcida reclamar e recorreu ao juiz, que nada fez e nem registrou o acontecimento na Súmula da partida. Todavia, alguns veículos de comunicação registraram o fato e o denunciaram, o que foi acompanhado por redes sociais, fazendo com que o juiz alterasse a Súmula após o jogo. Os que se seguiu foi amplamente reportado, motivando o debate sobre o racismo no futebol e na sociedade brasileira.

A punição exemplar veio ao Grêmio, que foi, inclusive, excluído da Copa do Brasil. Por sua vez, para defender a própria dignidade, o Aranha se agarrou nas teias dos direitos humanos, que ele afirmou terem sido conquistados com “[...] muita luta e gente morrendo.” Baseado nesses direitos, disse que até poderia perdoar os agressores, mas que não abriria mão da punição deles pela Justiça. Disse mais: o racismo no Brasil foi “[...] colocado em baixo do tapete e precisamos revirar tudo isso?”.

A jovem que foi tomada como “exemplo” de agressor do Aranha tem sofrido muito: perdeu o emprego, teve a casa apedrejada e está sem moradia fixa, algo condenável pelos mesmos direitos humanos que protegem o Aranha. Contudo, ao recorrer às redes de TV para pedir perdão, muitas vezes ela dá a entender que o amor pelo Grêmio justifica a agressão à dignidade de alguém apenas pelo fato deste ter mais melanina do que ela, o que faz com que o corpo escureça a cor da pele, dos olhos, do cabelo etc.
Em 18/09, um novo jogo ocorreu entre os mesmos times. A torcida do Grêmio não poupou o Aranha, que foi vaiado e xingado desde que pisou no gramado. Alguns torcedores taparam a boca ao se manifestar, para evitar que as câmaras das TV´s e do Grêmio os flagrassem em atitude contrária ao que se está sendo condenado no Brasil hoje: o racismo. Essa atitude de parte da torcida gremista indica descontentamento com quem não aceita mais o racismo. Durante o jogo, o Aranha destacou-se em campo, garantindo o empate ao Santos, e ao final, nas entrevistas, também “bateu um bolão”. Disse até que aceita encontrar-se com a jovem que o ofendeu, mas desde que isso não seja espetacularizado: “Eu não quero circo!”.

Entre os xingamentos no segundo jogo, destacaram-se os homofóbicos, o que é comum – mas não mais deveria ser! - em estádios de futebol. Sobre isso, nada foi feito. Será que há hierarquia entre os direitos, colocando os relacionados à orientação sexual abaixo de outros? Esse comportamento não se limita à torcida do Grêmio, pois torcedores de todos os times recorrem, amiúde, a ofensas homofóbicas quando equipes gaúchas jogam fora do Estado de origem. Frequentemente, são recebidas por insultos orientados por uma heteronormatividade que começa a ser questionada nos ambientes sociais e por variados meios, inclusive, pelas telenovelas.

Esses episódios demonstram que a sociedade está começando a produzir um processo educativo-social que nos ensina a viver de outra forma, questionando o ódio racial, p. ex. Isso é positivo ética, política, social e culturalmente, muito embora nesse processo traumas ocorram, como o que está a afetar a vida do Aranha e da jovem que o ofendeu, além de estimular setores mais conservadores a se agarrarem a dogmas incivilizados.

A construção de outra civilização exige debate e a radicalização da defesa de posições por um mundo mais justo, que reconheça a alteridade como valor social e a dignidade de cada um independentemente da cor da pele, da orientação sexual, da crença etc. É nessa teia histórica de construção de outra nação que o Aranha se meteu, mas o fez colaborando com a educação das relações sociais em outras bases, para além da herança cultural de um país que foi o último na América Latina a promover a “abolição da escravidão”, processo em curso até os dias atuais.

Do que fez o Aranha até aqui, é possível concluir que ele não negligenciou o papel que lhe cabe como brasileiro e como negro, como integrante de uma comunidade que sofre na pele – ou por causa da cor dela! – violências de toda sorte. Se outra personalidade negra, muito mais famosa no futebol, descuidou dessa luta, mesmo sendo considerado “Rei do futebol”, um simples ex-goleiro da Ponte Preta tem mostrado o reto caminho, tecendo uma teia firme em favor do respeito à dignidade humana, algo indispensável à construção de outro Brasil.