A publicidade deve atingir em cheio a consciência do espectador. Ou telespectador, dependendo do meio que se utiliza para passar a mensagem. Aliás, o meio também exerce uma influência no conteúdo da mensagem publicitária.
No rádio, onde os sentidos são "mais reduzidos" a mensagem de um produto apresenta um conteúdo diferente na apresentação deste mesmo conteúdo anunciado na televisão, por exemplo. Conteúdo e forma são dois elementos que balizam as produções da mensagem e suas disseminações nos diferentes meios.
Conteúdo/forma e meio/mensagem se evidenciam pela linguagem. Esta, como produto e processo das relações sociais, não é neutra e garante sentidos e significados distintos às produções publicitárias, expressando nas mesmas uma visão de mundo que pode ser reducionista, ampliada, flexível, entre outras, podendo até classificar socialmente os indivíduos.
No mês de setembro último, para comemorar o dia do Profissional de Educação Física, o Conselho Regional de Educação Física (CREF) de Minas Gerais veiculou uma propaganda com um teor, no meu ponto de vista, além de reducionista, grosseiro, minimalista e preconceituoso.
Além de tudo isso, classificou também o indivíduo obeso, enquadrando-o em coordenadas geográficas. Seria a metáfora perfeita para o chamado "mundo dos magros" ou dos "menos redondos"? Um mundo onde as linhas e os meridianos são mais importantes do que as pessoas?
Ao dar de frente com esse tipo de mensagem expressa na propaganda da imagem acima, fico me perguntando até que ponto a mesma denota uma preocupação com o fenômeno da obesidade ou trata a mesma com nítidos contornos preconceituosos. O que justifica "fazer de tudo por um mundo menos redondo"? O que este "mundo menos redondo" tem de tão bom que é preciso "fazer de tudo" para que ele prevaleça?
Aliás, a expressão "fazer de tudo" já é preocupante. Aqui entra, portanto, até a prática do uso de anabolizantes, remédios para emagrecer, utilização de atividades físicas não condizentes, etc, etc, etc. Em outras palavras, o importante é ser "menos redondo", pleonasmo para dizer que o fundamental é ser magro!!! Não importa o que você faça.
Uma instituição como o CREF não pode desconhecer os estudos realizados no campo da psicologia que vem identificando que quanto mais se rejeita a obesidade, quanto mais se idolatra a magreza, mais e mais problemas relacionados à própria obesidade se ampliam.
Na minha humilde opinião, esse discurso da mensagem publicitária acima só se justifica pelo atendimento aos interesses da "maquinaria do agito". Conota muito mais uma estratégia que visa ao endereçamento. Esse discurso do "menos redondo" compõe uma tática recorrente que objetiva capturar o sujeito. Subliminarmente, propagandeia produtos e serviços ao mesmo tempo em que vende um certo estilo de vida "saudável" e "ativa".
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P.S. Observe o que fizeram nas camisas da mensagem publicitária com o suposto suor. Isso demonstra cabalmente que as suspeitas da postagem anterior - Coração de suor... - não são infundadas.