sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Obesidade e atividade física

Hoje o Globo Repórter vai tratar de um tema sempre candente e que geralmente aparece nos noticiários e reportagens de diversos canais e meios de comunicação próximo ao verão: a obesidade. Não é este o caso. Estamos em plena vigência da primavera e o verão ainda vai ter que esperar até o dia 21 de dezembro para ser anunciado oficialmente.

Além de candente, o tema também é controverso. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é uma doença caracterizada por um balanço energético positivo. Dito de uma outra forma é quando você tem uma ingesta calórica maior do que o gasto calórico. Com o passar do tempo, o saldo positivo acumula-se em forma de gordura no seu corpo e dependendo do nível deste acúmulo, acarreta problemas na saúde do indivíduo agora caracterizado como obeso.

Mas por que o tema é controverso? Porque "A definição de uma doença, do ponto de vista tradicional, requer a existência de um grupo de sinais e sintomas e alteração funcional de uma forma universal". O que não é caso da obesidade, já que ela "(...) é definida através de um valor antropométrico ou de gordura corporal acima de um ponto de corte" e em função disso, "(...) muitos consideram que tal procedimento, muito embora possa definir uma ameaça à saúde e longevidade, não permitiria considerar obesidade como doença" (pág.11). (1)

No máximo, a obesidade pode ser considerada como um agravante, um fator de risco para a potencialização de outras doenças e não ela mesma ser considerada como tal.

Mas não é apenas no seu aspecto conceitual que o tema da obesidade se apresenta como controverso. A forma, a maneira como a mesma é tratada e a sua hegemônica abordagem pelo campo da ciência médica, biológica ou como simples problema estético, também é um fator de debate.

Para alguns autores, a obesidade deve ser vista como um fenômeno social moderno, produto e processo de fatores que estão localizados externamente ao corpo mas que nele se expressam na poética expressão do balanço energético positivo, popularmente conhecido como gorduras localizadas ou pelo horrível "pneuzinhos".

Consumo de alimentos industrializados em excesso e altamente calóricos. Riquíssimos em sal, açúcar e gorduras saturadas, mudanças nas formas de mobilidade urbana, o processo de urbanização, o nível de stress entre muitos outros elementos são situados como fatores que determinam a obesidade e que, por conta disso, a mesma deve ser tratada de maneira interdisciplinar, com uma abordagem multiprofissional que considere o conjunto de fatores e que leve em consideração a constituição do sujeito como sínteses de múltiplas determinações.

Não podemos mais, como querem nos fazer acreditar, pensar que o combate a obesidade é responsabilidade unicamente no sujeito e da sua força de vontade. Ou é algo que vai ser resolvido com determinados "princípios da vida ativa" com base nas atividades físicas, preceitos tão sólidos quanto um punhado de algodão doce.

Os elementos controversos da obesidade, começando pelo seu conceito, passando pela forma de intervenção e compreensão por determinadas áreas do conhecimento entre outros, já nos oferece uma visão complexa do fenômeno e do quanto é simplista os argumentos da importância da atividade física em si.

Ou tratamos isso com a seriedade devida e por dentro de uma visão de mundo que considere a totalidade dos fatores sociais ou ficaremos sempre imersos na problemática assim situada: quanto mais falamos da importância da atividade física para o combate a obesidade, mais essa cresce. Quanto mais defendemos a atividade física como melhoria da qualidade de vida, mais essa  desaparece.
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(1) ANJOS. Luiz Antonio dos. Obesidade e saúde pública. Rio de Janeiro. Editora Fiocruz, 2006.

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