Enquanto alguns lembram o mês de junho como àquele em que se celebram festas dos santos Antônio, João e Pedro respectivamente, estou a me lembrar dos movimentos que foram às ruas e praças de 22 capitais e centenas de cidades protestarem sobre a situação política, social e econômica do país. Refiro-me, mais especificamente, a revolta popular que ficou conhecida como “jornadas de junho”.
O movimento de contestação, inicialmente centrado no questionamento do aumento das tarifas do transporte público na cidade de São Paulo foi se ampliando, e em poucos dias, vários atores foram incorporados às manifestações e muitas outras reivindicações foram acrescentadas nas pautas dos manifestantes. Para além da luta pela redução das tarifas dos transportes urbanos, muitas outras palavras de ordem eram lançadas e, entre elas, o “não vai ter Copa” foi a mais disseminada, principalmente pela mídia escrita e televisionada.
Estávamos na dinâmica da Copa das Confederações. Esse era o evento mais presente nos noticiários. A captação desse momento esportivo e a transformação do mesmo como elemento de crítica social ao status quo nacional se tornou natural. Transporte privatizado, saúde e educação abandonadas, condição de moradia degradada, segurança pública sucateada, entre outros, todos esses elementos, em vários momentos, estavam amalgamados nos gritos de “não vai ter Copa”.
O gigante tinha, enfim, acordado. 70 mil pessoas se fizeram presentes nas manifestações e passeatas no auge do movimento, ocupando, além das ruas e praças, prédios públicos, questionando a mercadorização da vida, alertando para a saturação, o esgotamento do modelo neoliberal das políticas econômicas e sociais que até então vinha sendo implementado pelos governos de FHC e levemente alterado por Lula e Dilma.
E eis que, ao chegar próximo ao terceiro aniversário desta jornada que criticou o establisment no momento que questionava os megaeventos esportivos, as perguntas surgem: cadê o gigante que tinha acordado? Voltou a dormir? As bandeiras antes levantadas foram atendidas? Não há mais pelo quê lutar?
As questões levantadas são pelo reconhecimento, de minha parte, de vários elementos explosivos que estamos vivenciando: a) ocupações de escolas, motivadas pelo desvio de merendas pelo governo Alckmim e questionamento sobre o modelo educacional em geral; b) golpe institucional comprovado pelos últimos vazamentos de áudios dos novos ministros do governo Temer; c) retiradas de direitos duramente conquistados pela classe trabalhadora; d) possibilidade de entrega de uma das nossas maiores riquezas, o pré-sal, para o mercado internacional; e) o risco de maior sucateamento do Sistema Único de Saúde; f) a extinção do Ministério da Cultura entre outros. No entanto, não estou percebendo um movimento pujante como o que ocorreu há três anos.
Com isso, não estou dizendo que não existam. Parece-me que eles não só existem como expressam uma categoria cada vez mais importante para nossas análises: luta de classe. Só não estão tendo a visibilidades de antes. Os canais pelos quais ecoavam as palavras de ordem das “jornadas de junho” estão fechados. Talvez falte aos movimentos diversos um componente aglutinador, algo que dê sentido e significado às lutas mais gerais e abram os canais de comunicação de massa.
Eu tenho uma sugestão. Não sei se funcionaria como antes. Reconheço inclusive que há certo desgaste na sua forma, mas não no seu conteúdo. Que tal, então, experimentar um “Não vai ter Olimpíadas”?