Dez meses depois de Sochi sediar a Olimpíada de Inverno e cerca de três anos antes da Copa do Mundo de 2018, na Rússia, as instituições esportivas do país europeu viraram alvo de grave denúncia internacional. Nesta quarta-feira, a rede de televisão alemã MDR exibiu um documentário de que denuncia um esquema de dopagem em massa no esporte olímpico russo.
Segundo o documentário, 99% dos atletas olímpicos do país fazem uso de substâncias proibidas, em um sistema alimentado por corrupção e que envolve oficiais da agência antidopagem russa, um laboratório de contro antidoping em Moscou e a Federação Internacional de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês).
A obra foi produzida pelo jornalista alemão Hajo Seppelt, que investigou práticas de doping no período pré-Olimpíada de Sochi, quando foi procurado por duas pessoas, que fizeram a denúncia: Yuliya Stepanova, fundista banida do atletismo por anormalidades em seu passaporte biológico, e o marido dela, o ex-oficial da agência antidoping russa, Vitaliy Stepanov.
De acordo com a denúncia, atletas eram encorajados a manter congeladas amostras de urina considerada 'limpa' para enganar os testes periódicos, enquanto usavam anabolizantes proibidos pela Organização Mundial Antidoping (Wada). O presidente da entidade, David Howman, classificou a informação como chocante e prometeu investigação profunda do caso.
Vitaliy Stepanov afirmou que atletas de modalidades como natação, esqui e levantamento de peso sequer eram testados, enquanto que a entidade antidoping russa fazia vista grossa se atletas considerados esperança de medalha ou já conhecidos eram pegos nos exames realizados. "Você tem que se dopar. É assim que funciona na Rússia", afirmou.
O documentário indica que uma das atletas beneficiadas pelo esquema de corrupção e falsificação de testes é a corredora Mariya Savinova, medalha de ouro na Olimpíada de Londres, em 2012. Evgenia Pecherina, ex-competidora do lançamento de peso, afirmou ao documentarista que 99% dos atletas russos participam do esquema. "Você consegue o que quiser", apontou.
Grigory Rodchenkov, diretor do laboratório antidopagem russo, negou a existência de irregularidades, enquanto que Nikita Kamaev, diretor do órgão de controle de dopagem do país, reforçou que o processo é conduzido dentro das normas internacionais. A IAAF prometeu apurar o caso.