A FIFA exige, para que um país sedie jogos da Copa do Mundo de Futebol que os mesmos realizem modificações estruturais nos estádios existentes de maneira que os mesmos se adéqüem ao seu modelo ou construam novos estádios. Tal como um país imperialista, exige que governos autônomos, emancipados e democráticos se submetam ao seu tacanho. Ou você se ajusta e obedece ao que dita a FIFA, ou estarás impossibilitado de realizar a Copa do Mundo de Futebol.
Se o estádio comporta uma escola pública, desconsidere. Não pode. Estádio é estádio e deve servir ao monopólio do futebol. Que se transfiram os alunos e alunas para outras escolas. Se em torno do campo de futebol tiver uma pista de atletismo, retire-a. Futebol é futebol, pista de atletismo é pista de atletismo. Todo o entorno tem que girar em função do futebol, o deus supremo das modalidades esportivas.
Piscina? O estádio tem uma piscina que serve à comunidade? Pois que os cidadãos vá se banhar, se deslocar no meio líquido, hidroginasticar em outro lugar. Que mordomia é essa? Futebol é futebol e se não combina com pista de atletismo, muito menos com piscina. Ainda mais se ao lado do estádio tem um dique de águas límpidas onde até se pesca perto dos Orixás. Pois que se banhem por lá, ora bolas.
Onde já se viu aproveitar o espaço urbano aonde vai se construir um estádio de futebol agregando junto ao mesmo outras opções que sirvam a todos, todos os dias da semana? Essa concepção já estar deveras atrasada. Moderno mesmo é construir arenas só para futebol e que funcionem, no máximo, uma vez por semana, eis o que pensam os imperadores da FIFA.
Nenhuma consulta aos cidadãos. Nenhuma consulta popular. A democracia é o governo do povo, para o povo e pelo povo. Pois sim. Quem quiser que conte outra. Essa não cola mais. Os governos eleitos pelo povo, os políticos eleitos pelo povo, se tornam automaticamente autônomos ao se sentarem nas poltronas acolchoadas dos seus parlamentos e gabinetes e decidem tudo como querem e bem entendem. E tudo, pasmem...em nome do povo!
Decidiram que vão demolir a Fonte Nova e construir uma Nova Fonte Nova. O povo não quer. Que se dane o povo. A FIFA exige. Que se cumpra, então! Fechemos os olhos para não enxergarmos o absurdo e tapemos os ouvidos para não ouvir o clamor de entidades organizadas como o Conselho Regional de Engenharia, o Instituto dos arquitetos do Brasil, a Associação Brasileira dos Engenheiros Civis entre outras entidades e representantes de diversos movimentos sociais que são contra a demolição da Fonte Nova.
Essas entidades estão defendendo “a requalificação do equipamento em função dos aspectos culturais e do valor arquitetônico. Para eles, não cabe destruir um complexo olímpico com estádio, ginásio e piscina para substituí-lo por uma arena exclusiva para o futebol, em um momento em que o Brasil se prepara para sediar as Olimpíadas de 2016”.
E mesmo se assim não fosse a Fonte Nova é muito mais do que um simples estádio de futebol e compõe, junto com o balbininho, que também será demolido, a paisagem do Dique do Tororó, tombado em 12 de maio de 1959. Portanto, a Fonte Nova é patrimônio histórico da humanidade, tombado pelo IPHAN.
Mas entre as siglas FIFA e IPHAN, existem segredos que fogem a compreensão da vã filosofia do povo, esse mesmo que estar agora sendo chamado a cumprir com o seu direito de cidadão: votar nas eleições que se aproximam.
É para isso que serve o povo na ótica do império. Votar em quem não representa os interesses públicos, legitimando assim as atitudes fascistas de pseudos democratas que estão à frente das diferentes entidades organizativas dos eventos esportivos.
Refletir sobre o esporte para além das configurações táticas e técnicas que lhes são próprias e tendo o mesmo como expressão singular para pensarmos fenômenos mais gerais da sociedade, eis o objetivo do blog.
domingo, 30 de maio de 2010
sábado, 22 de maio de 2010
De leão à canarinho
Com a proximidade da Copa do Mundo de futebol na África do Sul, o sentimento de nacionalidade se aflora e todos passam a vestir a camisa da seleção brasileira, inseri as bandeiras nas janelas e as flâmulas nos carros. Os pneus, antes pretos, passam a ter faixas amarelas e verdes. Os outdoors ficam todos com cores parecidas e os mais diversos produtos, mesmos os que nada tem de comum com o esporte, aproveitam a deixa e fazem o seu marketing.
No entanto, já houve um tempo em que as coisas eram bem diferentes e os conhecidos canarinhos mais pareciam com leões famintos fora da jaula. Quem nos ensina rapidamente isso é David A. Yallop, no livro "Como eles roubaram o jogo: segredos dos subterrâneos da FIFA". Lá na página 31 do livro da editora Record, o jornalista nos diz que "(...) na Copa do Mundo de 98, na França, o Brasil representa para milhões de pessoas em todo o planeta o que há de melhor em futebol. (...) Mas nem sempre foi assim". Sublinha.
Ainda segundo Yallop, agora na página 32, "Na década de 1950 (...) o talento do grupo era frequentemente mascarado e desfigurado por um nível de violência que, se perpetrado fora do campo, teria resultado em sentenças à prisão".
Em 1954, na Suiça, ano em que se começou a televisionar os jogos da Copa do Mundo de futebol a seleção do Brasil e da Hungria proporcionaram um jogo que ficou conhecido como a "Batalha de Berna". "O bom, o mal e o feio foram todos exibidos (...). O ministro dos esportes húngaro (...) foi esmurrado no rosto (...). A seleção brasileira invadiu o vestiário dos húngaros".
E para completar os feitos desta seleção brasileira que esbanja "estilo, jeito, elegância, garbo, sucesso, gênio", tudo isso segundo Yallop em relação a seleção de 98, que fique bem entendido, "Em 1956, durante uma excursão pela Europa, o lado sombrio do jogo brasileiro seria visto mais uma vez. Após um jogo em Viena, a seleção brasileira e membros da delegação tentaram agredir o árbitro. O Brasil se tornara a equipe que todos os demais temiam, por todas as razões erradas".
Mas este tempo animalesco já se foi. No máximo podemos ter um burro empacado, pouco afeito a penas e aves, no comando da seleção. Mas como ele não entra em campo, a esperança de vermos o ganso jogar se transmuta em um sonho de canarinhos voando de volta com a taça na mão. Pois verde também é a cor da esperança e nós, brasileiros, como sabemos, não desistimos nunca!!!
No entanto, já houve um tempo em que as coisas eram bem diferentes e os conhecidos canarinhos mais pareciam com leões famintos fora da jaula. Quem nos ensina rapidamente isso é David A. Yallop, no livro "Como eles roubaram o jogo: segredos dos subterrâneos da FIFA". Lá na página 31 do livro da editora Record, o jornalista nos diz que "(...) na Copa do Mundo de 98, na França, o Brasil representa para milhões de pessoas em todo o planeta o que há de melhor em futebol. (...) Mas nem sempre foi assim". Sublinha.
Ainda segundo Yallop, agora na página 32, "Na década de 1950 (...) o talento do grupo era frequentemente mascarado e desfigurado por um nível de violência que, se perpetrado fora do campo, teria resultado em sentenças à prisão".
Em 1954, na Suiça, ano em que se começou a televisionar os jogos da Copa do Mundo de futebol a seleção do Brasil e da Hungria proporcionaram um jogo que ficou conhecido como a "Batalha de Berna". "O bom, o mal e o feio foram todos exibidos (...). O ministro dos esportes húngaro (...) foi esmurrado no rosto (...). A seleção brasileira invadiu o vestiário dos húngaros".
E para completar os feitos desta seleção brasileira que esbanja "estilo, jeito, elegância, garbo, sucesso, gênio", tudo isso segundo Yallop em relação a seleção de 98, que fique bem entendido, "Em 1956, durante uma excursão pela Europa, o lado sombrio do jogo brasileiro seria visto mais uma vez. Após um jogo em Viena, a seleção brasileira e membros da delegação tentaram agredir o árbitro. O Brasil se tornara a equipe que todos os demais temiam, por todas as razões erradas".
Mas este tempo animalesco já se foi. No máximo podemos ter um burro empacado, pouco afeito a penas e aves, no comando da seleção. Mas como ele não entra em campo, a esperança de vermos o ganso jogar se transmuta em um sonho de canarinhos voando de volta com a taça na mão. Pois verde também é a cor da esperança e nós, brasileiros, como sabemos, não desistimos nunca!!!
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Meu esporte não é torcer pelo Brasil!!!
A postagem desta semana é do professor de educação física da Universidade Federal da Paraíba(UFPB), Jeimison de Araújo Macieira. Mestrando em Serviço Social pela mesma universidade, Jeimison também é graduando em Filosofia e membro do grupo Lepel da Paraíba e do grupo de estudos marxistas ligado ao programa de pós-graduação em serviço social desde 2007, ano que iniciou também sua gestão na Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física, coordenando a regional 3 até 2008. Além do mestrado, onde o mesmo vem estudando a precarização do trabalho dos professores de educação física do Município da Cidade de João Pessoa - PB, o mesmo vem elaborando junto a uma equipe de professores, o primeiro livro didático público de Educação Física de João Pessoa, na linha critico-superadora. Vamos ao seu texto.
O treinador da seleção brasileira “Dunga”, durante entrevista coletiva realizada no dia 11 de maio de 2010 no Rio de Janeiro, encenou uma das mais trágicas peças dos últimos anos. Durante a peleja o técnico se dirigia ao povo brasileiro dizendo: estou falando com você torcedor! Que ama a pátria! Mas que pátria? Quem são esses guerreiros que se dizem capazes de lutar por nossa honra? Que guerra é essa que iremos travar além mar? Será que ainda temos brasileiros convictos de que ainda somos a pátria de chuteiras, apregoada em momentos da nossa história que merecemos esquecer?
Dizer que quem não esteve no Brasil em tempos de ditadura, não pode opinar e nem dar um parecer a respeito me faz pensar no seguinte: sou torcedor da seleção brasileira desde 90, quando daquela trágica eliminação contra a Argentina, mas gostaria de dizer que adoro ver os jogos “gravados” da seleção de 1970, 1982 e 1986. Será que não posso mesmo dizer que o Falcão era demais com sua elegância e refinamento no passe, que o Zico me maravilhava com sua maestria, e ainda que o Sócrates e seus toques quase que inimagináveis me fazia pensar que futebol se assemelhara a arte? Bem, não tenho dúvidas que posso e, por isso, não farei o menor esforço para não dizer!
O velho barbudo certa vez nos disse, parafraseando Hegel que “todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa! Espero que a farsa anunciada pela coerência da volúpia impetuosa do nosso treinador não se torne uma tragédia anunciada! Alias a tragédia anunciada da renegação do lúdico, da arte, do brincar, do divertir-se através desse “jogo” transformado em espetáculo, já sucumbiu ao pragmatismo dos resultados do modelo capitalista de dominar nosso imaginário. Só não sei se essa convocação é uma farsa ou a anunciação de uma tragédia.
Sou torcedor da seleção brasileira, mas meu esporte não é torcer pelo Brasil! Meu esporte é acreditar que este jogo “um dia” pode reencenar tempos de arte, de criatividade, de imaginação, de sonho! Meu esporte é lutar incessantemente pelo significado histórico do esporte, do jogo, da arte e das manifestações da cultura corporal, ressaltando seu caráter de classe, onde os verdadeiros guerreiros são aqueles que constroem a história da nossa cultura diariamente nos terrenos de terra batida.
O treinador da seleção brasileira “Dunga”, durante entrevista coletiva realizada no dia 11 de maio de 2010 no Rio de Janeiro, encenou uma das mais trágicas peças dos últimos anos. Durante a peleja o técnico se dirigia ao povo brasileiro dizendo: estou falando com você torcedor! Que ama a pátria! Mas que pátria? Quem são esses guerreiros que se dizem capazes de lutar por nossa honra? Que guerra é essa que iremos travar além mar? Será que ainda temos brasileiros convictos de que ainda somos a pátria de chuteiras, apregoada em momentos da nossa história que merecemos esquecer?
Dizer que quem não esteve no Brasil em tempos de ditadura, não pode opinar e nem dar um parecer a respeito me faz pensar no seguinte: sou torcedor da seleção brasileira desde 90, quando daquela trágica eliminação contra a Argentina, mas gostaria de dizer que adoro ver os jogos “gravados” da seleção de 1970, 1982 e 1986. Será que não posso mesmo dizer que o Falcão era demais com sua elegância e refinamento no passe, que o Zico me maravilhava com sua maestria, e ainda que o Sócrates e seus toques quase que inimagináveis me fazia pensar que futebol se assemelhara a arte? Bem, não tenho dúvidas que posso e, por isso, não farei o menor esforço para não dizer!
O velho barbudo certa vez nos disse, parafraseando Hegel que “todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa! Espero que a farsa anunciada pela coerência da volúpia impetuosa do nosso treinador não se torne uma tragédia anunciada! Alias a tragédia anunciada da renegação do lúdico, da arte, do brincar, do divertir-se através desse “jogo” transformado em espetáculo, já sucumbiu ao pragmatismo dos resultados do modelo capitalista de dominar nosso imaginário. Só não sei se essa convocação é uma farsa ou a anunciação de uma tragédia.
Sou torcedor da seleção brasileira, mas meu esporte não é torcer pelo Brasil! Meu esporte é acreditar que este jogo “um dia” pode reencenar tempos de arte, de criatividade, de imaginação, de sonho! Meu esporte é lutar incessantemente pelo significado histórico do esporte, do jogo, da arte e das manifestações da cultura corporal, ressaltando seu caráter de classe, onde os verdadeiros guerreiros são aqueles que constroem a história da nossa cultura diariamente nos terrenos de terra batida.
sábado, 8 de maio de 2010
O esporte pode tudo!!!
Utilizo-me do título do mais recente livro do professor Vitor Marinho de Oliveira para refletir sobre o movimento das Conferências Municipais de Esporte que aconteceram em praticamente todo o país e que conta com a sua terceira edição. O livro faz parte da nova coleção questões da nossa época e “integra os projetos comemorativos dos 30 anos da Cortez Editora”
Já a III Conferência do Esporte é fruto da política do governo, oriunda do aconselhamento do Banco Mundial e que objetiva o propósito de democratizar o debate em torno do esporte e da sua função social. A forma encontrada pelo organismo internacional para a aproximação do estado com a sociedade civil foi o modelo das conferências, que aconteceram não só em relação ao esporte, mas, também, em relação à comunicação, à educação entre outros.
No que diz respeito ao esporte, a impressão que fica lendo alguns documentos e ouvindo algumas explanações sobre o mesmo é de que realmente, tal como expressa o título do livro já citado, o esporte pode tudo!!! Fenomenologicamente, colocamos o mesmo “entre parênteses”, e o analisamos de forma isolada, descontextualizada “de todo o processo histórico que o produz” e reproduz, “deixando de lado as condições materiais de sua existência”.
Nesse sentido, um discurso humanista de cunho existencial cola no esporte aspectos sociais que intrínseca e imediatamente não é função do mesmo. Para além do seu caráter lúdico e agonista, o mesmo assume a função de tirar as crianças e jovens das drogas, “é eficaz no processo de ressocialização, é prática democrática, proporciona saúde, combate a violência, reintegra deficientes físicos”, etc, etc. Um verdadeiro elixir salvacionista, receita e remédio para todos os males da sociedade capitalista.
A Universidade Federal de Goiás, através dos pesquisadores do GEPELC (Grupo de Estudo e pesquisa de esporte, lazer e comunicação) vem analisando os documentos produzidos na primeira e na segunda Conferências Nacionais do Esporte e o que eles tem encontrado se caracteriza como uma “avalanche semântica” onde “um conjunto de funções, de atribuições, de qualidades são coladas ao esporte (...)”.
É o esporte enquanto “desenvolvimento humano”, como “promotor da qualidade de vida”, da “cidadania”, o esporte como “ferramenta da paz”,toda uma gama de atributos e qualidades que apresentadas “entre parênteses” só contribuem para a mistificação do próprio esporte e de todos esses elementos colados ao mesmo.
Nesse sentido, destituído de qualquer referência sócio-histórica, passamos a pensar as políticas públicas de esporte e lazer descoladas tanto da política quanto do público, transformando o objetivo democrático das Conferências em democratismo, puro sofismas, falácias, verdadeiro exercício ideológico no sentido clássico do termo, de falseamento da consciência.
Para irmos de encontro a esses e outros fatores, sugiro que façamos um esforço de estudo e análise sobre o que está prescrito nas leis que regem o esporte e nas formulações presentes nos documentos das Conferências já realizadas e cotejemos com a realidade concreta do nosso país, explicitada, dentre outros, no documento Habitat, da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado no dia 2 de março e que aponta o Brasil como o país mais desigual da América Latina, onde os 10% mais ricos da população controlam 50,6% das riquezas do país, enquanto que os 10% mais pobres detêm apenas 0,8%. Isso tudo apesar do Brasil ser hoje a oitava maior economia do mundo.
Para aqueles que acham que esses dados são apenas para economistas e sociólogos, sugiro então que se debrucem apenas sobre os documentos das Conferências e analisem, tomando os mesmos como referências, o que foi realmente realizado e que setores foram mais privilegiado no desenvolvimento das políticas de esporte dos governos.
Helvétius, nos ensina o Vitor Marinho, no bojo da revolução burguesa, afirmou que a educação pode tudo. O desenvolvimento histórico demonstrou que nem tanto e interrogou sobre de qual educação se tratava. Aprendamos com a história e interroguemos: o esporte pode tudo? De qual esporte estamos falando? Para quem praticar? Sobre quais estruturas e modo de produção e reprodução da existência? Esporte para todos ou esporte para poucos?
Já a III Conferência do Esporte é fruto da política do governo, oriunda do aconselhamento do Banco Mundial e que objetiva o propósito de democratizar o debate em torno do esporte e da sua função social. A forma encontrada pelo organismo internacional para a aproximação do estado com a sociedade civil foi o modelo das conferências, que aconteceram não só em relação ao esporte, mas, também, em relação à comunicação, à educação entre outros.
No que diz respeito ao esporte, a impressão que fica lendo alguns documentos e ouvindo algumas explanações sobre o mesmo é de que realmente, tal como expressa o título do livro já citado, o esporte pode tudo!!! Fenomenologicamente, colocamos o mesmo “entre parênteses”, e o analisamos de forma isolada, descontextualizada “de todo o processo histórico que o produz” e reproduz, “deixando de lado as condições materiais de sua existência”.
Nesse sentido, um discurso humanista de cunho existencial cola no esporte aspectos sociais que intrínseca e imediatamente não é função do mesmo. Para além do seu caráter lúdico e agonista, o mesmo assume a função de tirar as crianças e jovens das drogas, “é eficaz no processo de ressocialização, é prática democrática, proporciona saúde, combate a violência, reintegra deficientes físicos”, etc, etc. Um verdadeiro elixir salvacionista, receita e remédio para todos os males da sociedade capitalista.
A Universidade Federal de Goiás, através dos pesquisadores do GEPELC (Grupo de Estudo e pesquisa de esporte, lazer e comunicação) vem analisando os documentos produzidos na primeira e na segunda Conferências Nacionais do Esporte e o que eles tem encontrado se caracteriza como uma “avalanche semântica” onde “um conjunto de funções, de atribuições, de qualidades são coladas ao esporte (...)”.
É o esporte enquanto “desenvolvimento humano”, como “promotor da qualidade de vida”, da “cidadania”, o esporte como “ferramenta da paz”,toda uma gama de atributos e qualidades que apresentadas “entre parênteses” só contribuem para a mistificação do próprio esporte e de todos esses elementos colados ao mesmo.
Nesse sentido, destituído de qualquer referência sócio-histórica, passamos a pensar as políticas públicas de esporte e lazer descoladas tanto da política quanto do público, transformando o objetivo democrático das Conferências em democratismo, puro sofismas, falácias, verdadeiro exercício ideológico no sentido clássico do termo, de falseamento da consciência.
Para irmos de encontro a esses e outros fatores, sugiro que façamos um esforço de estudo e análise sobre o que está prescrito nas leis que regem o esporte e nas formulações presentes nos documentos das Conferências já realizadas e cotejemos com a realidade concreta do nosso país, explicitada, dentre outros, no documento Habitat, da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado no dia 2 de março e que aponta o Brasil como o país mais desigual da América Latina, onde os 10% mais ricos da população controlam 50,6% das riquezas do país, enquanto que os 10% mais pobres detêm apenas 0,8%. Isso tudo apesar do Brasil ser hoje a oitava maior economia do mundo.
Para aqueles que acham que esses dados são apenas para economistas e sociólogos, sugiro então que se debrucem apenas sobre os documentos das Conferências e analisem, tomando os mesmos como referências, o que foi realmente realizado e que setores foram mais privilegiado no desenvolvimento das políticas de esporte dos governos.
Helvétius, nos ensina o Vitor Marinho, no bojo da revolução burguesa, afirmou que a educação pode tudo. O desenvolvimento histórico demonstrou que nem tanto e interrogou sobre de qual educação se tratava. Aprendamos com a história e interroguemos: o esporte pode tudo? De qual esporte estamos falando? Para quem praticar? Sobre quais estruturas e modo de produção e reprodução da existência? Esporte para todos ou esporte para poucos?
domingo, 2 de maio de 2010
Até quando?
Escolhir para a postagem desta semana comentar uma denúnica publicada no site do IG que aborda temáticas relacionadas à Copa do Mundo. A reportagem denúncia é do jornalista Allan Brito e o mesmo toma como suporte para desenvolver a matéria um livro publicado pelo Instituto de Estudos de Segurança da África do Sul, intitulado "Player and Referee: Conflicting Interests and the 2010 FIFA World Cup", traduzido livremente pela reportagem como “Jogador e árbitro: conflitos de interesse na Copa do Mundo de Futebol de 2010”.
"Jornalistas investigativos da África do Sul e do Reino Unido foram os autores do livro, que traz à tona seis situações relacionadas a construção de estádios, seleção de fornecedores oficiais, práticas de concorrência pública e estrutura de fiscalização governamental. Tudo isso teria ocorrido sem qualquer transparência e até com manipulações. São citados casos que envolvem propina, fraude e extorsão".
Muitos elementos relatados devem servir para os brasileiro refletirem sobre a Copa do Mundo que se realizará por aqui em 2014. Um dos casos relatados e que preocupam a população africana diz respeito a construção de estádios considerados verdadeiros elefantes brancos. É citado na reportagem o caso do Green Point(foto), estádio situado na Cidade do Cabo que custou a bagatela de R$ 1,15 (um bilhão e quinze milhões de reais) por força da vontade dos senhores dos anéis encastelados na Fifa (Federation Internationale de Football Association). Se o mesmo terá alguma serventia pós-Copa, isso não é matéria que preocupem os botões de seus paletós. O fundamental mesmo é que a maior beneficiária da Copa do Mundo é a FIFA e o país sede é que tem que arcar com “ (...)uma parcela desproporcional dos custos", aponta o estudo de impacto econômico presente no livro.
Um outro ponto, que ao meu ver atinge diretamente a figura do representante-mor da FIFA diz respeito "a pouca concorrência aberta pelos lucros com a construção dos estádios ou até mesmo com os serviços oficiais durante o evento. A Match Hospitality é citada como exemplo de empresa suspeita. Ela tem entre os seus acionistas ninguém menos que Philippe Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, Joseph Blatter. Com essa facilidade, ela teria conseguido, sem grandes concorrências, direitos exclusivos para oferecer pacotes de hospitalidade a clientes empresariais".
O que para nós não é nenhuma novidade e nos faz lembrar dos benefícios de parentes do senhor Nuzman quando da realização do Pan-Americano aqui no Brasil entre outros fatos. Aliás, aproveitando a deixa, abro um parêntese para perguntar sobre a tal da CPI do Pan. Por onde e a quantas anda? Questionamento inclusive feito também, em fevereiro do corrente ano pelo jornalista José Cruz, em matéria publicada no seu blog.
Como entendemos que esporte atualmente é negócio, um fenômenos com alto potencial de reprodução do capital e que agrega valor a diferentes mercadorias e alimenta a ganância e vaidade dos poderosos que se esforçam em não se deixarem pegar com cifrões nos olhos, não tomamos os elementos expostos aqui e no livro com nenhum tipo de surpresa e perplexidade. O que me surpreende mesmo é o silêncio de certos setores das mídias esportivas e a passividade com que algumas instituições e intelectuais importantes do campo da cultura corporal se comportam.
Mas talvez uma coisa tenha relação com a outra. O difícil mesmo é compreender nessa relação as regularidades fenomênicas que nos permitam dar um salto qualitativo rumo a uma política de esportes para todos e não para os mesmos.
Talvez se perdéssemos o medo de ferir suscetibilidades, compreendendo a crítica franca e fraterna como elemento fundamental do esclarecimento como verdade revolucionária, tal como nos ensina Trotsky quando nos diz que "expor aos oprimidos a verdade sobre a situação é abrir-lhe o caminho da revolução", estudos como esse, pontuado aqui, nos inspirassem a não fazer mais do mesmo com sempre os mesmos, que nos iludem ao ceder os seus anéis dizendo que estão inovando, quando, na verdade, não querem é perder os seus dedos onde colocarão mais e novos anéis. Até quando???
"Jornalistas investigativos da África do Sul e do Reino Unido foram os autores do livro, que traz à tona seis situações relacionadas a construção de estádios, seleção de fornecedores oficiais, práticas de concorrência pública e estrutura de fiscalização governamental. Tudo isso teria ocorrido sem qualquer transparência e até com manipulações. São citados casos que envolvem propina, fraude e extorsão".
Muitos elementos relatados devem servir para os brasileiro refletirem sobre a Copa do Mundo que se realizará por aqui em 2014. Um dos casos relatados e que preocupam a população africana diz respeito a construção de estádios considerados verdadeiros elefantes brancos. É citado na reportagem o caso do Green Point(foto), estádio situado na Cidade do Cabo que custou a bagatela de R$ 1,15 (um bilhão e quinze milhões de reais) por força da vontade dos senhores dos anéis encastelados na Fifa (Federation Internationale de Football Association). Se o mesmo terá alguma serventia pós-Copa, isso não é matéria que preocupem os botões de seus paletós. O fundamental mesmo é que a maior beneficiária da Copa do Mundo é a FIFA e o país sede é que tem que arcar com “ (...)uma parcela desproporcional dos custos", aponta o estudo de impacto econômico presente no livro.
Um outro ponto, que ao meu ver atinge diretamente a figura do representante-mor da FIFA diz respeito "a pouca concorrência aberta pelos lucros com a construção dos estádios ou até mesmo com os serviços oficiais durante o evento. A Match Hospitality é citada como exemplo de empresa suspeita. Ela tem entre os seus acionistas ninguém menos que Philippe Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, Joseph Blatter. Com essa facilidade, ela teria conseguido, sem grandes concorrências, direitos exclusivos para oferecer pacotes de hospitalidade a clientes empresariais".
O que para nós não é nenhuma novidade e nos faz lembrar dos benefícios de parentes do senhor Nuzman quando da realização do Pan-Americano aqui no Brasil entre outros fatos. Aliás, aproveitando a deixa, abro um parêntese para perguntar sobre a tal da CPI do Pan. Por onde e a quantas anda? Questionamento inclusive feito também, em fevereiro do corrente ano pelo jornalista José Cruz, em matéria publicada no seu blog.
Como entendemos que esporte atualmente é negócio, um fenômenos com alto potencial de reprodução do capital e que agrega valor a diferentes mercadorias e alimenta a ganância e vaidade dos poderosos que se esforçam em não se deixarem pegar com cifrões nos olhos, não tomamos os elementos expostos aqui e no livro com nenhum tipo de surpresa e perplexidade. O que me surpreende mesmo é o silêncio de certos setores das mídias esportivas e a passividade com que algumas instituições e intelectuais importantes do campo da cultura corporal se comportam.
Mas talvez uma coisa tenha relação com a outra. O difícil mesmo é compreender nessa relação as regularidades fenomênicas que nos permitam dar um salto qualitativo rumo a uma política de esportes para todos e não para os mesmos.
Talvez se perdéssemos o medo de ferir suscetibilidades, compreendendo a crítica franca e fraterna como elemento fundamental do esclarecimento como verdade revolucionária, tal como nos ensina Trotsky quando nos diz que "expor aos oprimidos a verdade sobre a situação é abrir-lhe o caminho da revolução", estudos como esse, pontuado aqui, nos inspirassem a não fazer mais do mesmo com sempre os mesmos, que nos iludem ao ceder os seus anéis dizendo que estão inovando, quando, na verdade, não querem é perder os seus dedos onde colocarão mais e novos anéis. Até quando???
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