quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O que está havendo com o CNPq?

Pelo terceiro ano consecutivo (2011, 2012 e 2013) é negado, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma bolsa produtividade à professor Celi Taffarel.

Quem a conhece sabe, perfeitamente, a sua capacidade de trabalho, que vem sendo desenvolvido há mais de 20 anos, não só na pesquisa mas, também, na extensão e no ensino, tanto na graduação como na pós-graduação latu e strictu senso, orientando mestrandos, doutorandos, bolsistas de iniciação científica entre outros.

Podemos contar, em seu conjunto, atualmente, para mais de 50 acadêmicos oriundos de diversas universidades do país que concluíram, sob a sua orientação, dissertações e teses, muitas transformadas em livros que auxiliam na formação humana dos graduandos dos cursos de Educação Física existentes nas Universidades brasileiras. O impacto deste movimento, apenas, já daria condições para a doutora adquirir a bolsa pleiteada.

Mas alguns podem pensar que esta avaliação é muito subjetiva. É uma constatação emotiva de um ex orientando da Celi Taffarel. Mas não é, afirmo e reafirmo. Pois agindo assim, estaria indo de encontro as suas orientações quando do desenvolvimento da minha tese.

No entanto, para que não fique nenhuma dúvida, vou me valer dos dados levantados pelo pesquisador Wagner Santos Santana, bolsista de Apoio Técnico Científico que trabalha em uma das maiores pesquisas encomendadas pelo Ministério dos Esporte, o Diagnóstico Nacional do Esporte, não por acaso, coordenada pela professora Celi Taffarel.

Esses dados são importantes por demonstrarem, de maneira objetiva, que os professores e professoras que concorreram a mesma bolsa produtividade, muito embora tenham no computo geral pontuações inferiores de produtividade aos da professora Celi Taffarel, os mesmos foram beneficiados.

Inicialmente apresento os ítens que são considerados pelo CNPq. Itens esses comuns para todos os pesquisadores. São eles: a) orientações concluídas de mestrado; b) orientações concluídas de doutorado; c) trabalhos publicados em anais de eventos; d) resumos publicados em anais de eventos; e) artigos completos publicados em periódicos; f) livro ou capítulo; g) apresentações de trabalho; h) trabalhos técnicos e i) outras.

Considerando os itens elencados acima, a professora que teve a sua solicitação de bolsa produtividade negada, computou o total de 1, 086 (hum mil e oitenta e seis) pontos. Uma outra professora, conhecida pelas suas publicações no âmbito da educação física escolar, notadamente às de implicações para as práticas pedagógicas e que teve o seu pedido de bolsa produtividade aceito, computou apenas 713 (setecentos e treze) pontos.

Uma outra professora, esta graduada em fisioterapia, obteve o total de 380 (trezentos e oitenta) pontos e teve o seu pedido de bolsa produtividade aceito, o que ocorreu também com um professor, este graduado em educação física e que alcançou a assombrosa pontuação de número 99 (noventa e nove). Dez vezes menos do que a professora Celi Taffarel.

Esses são apenas três exemplos de um total de 42 pesquisadores, todos da Área 21, que conseguiram a bolsa produtividade. Nenhum deles. Atenção por favor. Absolutamente nenhum desses doutores tiveram pontuações iguais ou superiores a da professora Celi Taffarel. Tendo muitos desses obtidos pontuações irrisórias se comparadas a da professora.

Nesse momento a professora está recorrendo. Mais uma vez, na luta não pelo direito dela, apenas. Mas por um direito que é de todos os pesquisadores, que é de ter o seu trabalho reconhecido quando o mesmo é colocado em apreciação nos órgãos de fomento de pesquisa científica.

No cotidiano, na prática social concreta, o trabalho da professora Celi Taffarel já é, por demais, conhecido. Nacional e internacionalmente, como comprova a coordenação, por ela desenvolvida, dos convênios feitos com Portugal, Cuba, Itália e Alemanha.

No entanto, independente desse reconhecimento socialmente referenciado, é preciso buscar a justa medida do trabalho. Em sociedades republicanas esse reconhecimento também se dá na observância das leis elaboradas em contexto democrático e que mesmo reconhecendo sua limitação, devem ser considerados os elementos objetivos por este sistema elaborado.

Diante do exposto, entendemos que os mesmos não estão sendo observados há, pelo menos, três anos. E por isso, exigimos explicações. Nós, professores, pesquisadores, estudantes, militantes, perguntamos o que está havendo com o CNPq e exigimos explicações do mesmo, órgão maior de fomento da pesquisa científica deste país.

A professora Celi Taffarel não está sozinha. Vários pesquisadores de diferentes universidades dos estados de Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Bahia, federais e estaduais deste país se solidarizam ao pleito da professora e solicita a reconsideração, por parte do CNPq, do indeferimento relativo a concessão da bolsa produtividade à professora, doutora, Celi Taffarel.

Por fim, pontuamos que o seu caso não é particular, como talvez possa parecer. Mas trata-se da luta por uma política de fomento às pesquisas socialmente referenciadas, notadamente no norte e nordeste deste país.

Mais um elefante branco?

Uma imagem que sempre me coloca para refletir sobre a situação do esporte no país é a de um certo ginásio que fica na rodovia que liga a linha verde da Bahia a linha verde de Sergipe, logo após a entrada da cidade de Indiaroba.

Foto tirada no mês de junho do ano passado
Em junho do ano passado o ginásio continuava ali me instigando, afirmando que a política esportiva do país era para pouquíssimos, voltada única e exclusivamente para os chamados atletas de ponta, embora nesse aspecto também tenhamos sérios problemas de estruturas e equipamentos, diga-se de passagem.

Na verdade não há preocupação efetiva com o que chamamos e defendemos de democratização do esporte. Este se torna um valor exclusivo para os que podem acessar no plano privado ou, quando muito, nas instituições particulares de ensino.

E nas escolas públicas? Perguntarão. É possível, mas em sua grande maioria, existe o monopólio do futebol. A vivência do esporte fica prejudicada por isso e, sobretudo, pela falta de estrutura pedagógica e física do espaço. O esporte precisa ser compreendido não apenas como uma determinada modalidade, mas, sobretudo, como um fenômeno sócio-histórico.

Mas voltando ao ginásio. Ele ainda me leva a refletir, pois o mesmo ainda está lá como um "elefante branco" feito de concreto, ocupando a paisagem sergipana. Com uma diferença. No início deste mês, estacas foram colocadas ao seu redor e faixas de agradecimentos foram fixadas nas paredes pinchadas e já bastante maltratadas pelo tempo e desuso do equipamento esportivo.

Quando deparei com esta simples modificação da paisagem, fiquei animado. Parei o carro no acostamento e perguntei a um morador da localidade, residente de uma casa defronte ao ginásio, senhor Nhô, se havia algo ocorrendo por ali. Ele disse que sim. Afirmou que existem algumas intervenções sendo feitas e assegurou que as obras começarão para valer no próximo mês de fevereiro.
Foto tirada em 14 de janeiro deste ano
Passei pela localidade segunda-feira, dia 27, retornando de Aracaju onde fui buscar meus filhos que passavam férias com a avó e pude constatar que mais do que estacas e faixas existiam homens trabalhando. Alguns juntavam entulho e outros carregavam pedras para o interior do ginásio. Isso me deixou animado, otimista que ao menos o espaço iria realmente ser reformado. Fevereiro tinha, então, se antecipado.

Mas, meu otimismo não é alimentado pela ingenuidade. Essa dinâmica não significa que mudou a forma do Estado compreender a política esportiva. Podemos melhorar a estrutura, é um passo importante, mas é preciso haver projetos de utilização, políticas efetivas de formação humana via esporte e lazer nas cidades.

O equipamento é parte desse processo. Nada mais. O Estado precisa perguntar o que fazer com os mesmos, como utilizá-lo, quais os objetivos, as estratégias de ocupação, etc, etc, envolvendo toda a comunidade nesse debate.

Do contrário, teremos mais um "elefante branco". Reformado, "novinho em folha" mas...um "elefante branco".

sábado, 18 de janeiro de 2014

Melhor do mundo

"Foi-me dito pelo meu presidente para votar em Ronaldo para ajudar Blatter limpar a sua imagem como um símbolo de apreciação por trazer a copa do mundo aqui". (Al Zarra Fahad. Técnico do Catar).

Simples assim.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Jacuipense inova

Já tinha pensado nessa possibilidade. Com tantos aplicativos sendo usados para várias atividades, por que não um que permitisse a escalação de um time de futebol por parte do torcedor?

Pois é. O Jacuipense, time da cidade de Riachão do Jacuípe, na Bahia, adotou este aplicativo e foi mais além do que eu tinha pensado, permitindo que o torcedor não só escale o time, mas também, participe de maneira que ganhe prêmios pela performance dos jogadores escalados por ele pelo aplicativo de nome Total Choice.

Parabéns ao Jacuipense pela iniciativa.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Ronaldo é um mafioso?

Em 2013 um dos comentaristas esportivos mais polêmicos da televisão brasileira fez uma denúncia sobre o ex-jogador Ronaldo "fenômeno" muito séria e que teve pouca repercussão na mídia.


Caso você queira saber quem é este comentarista e maiores detalhes da denúncia, clik na imagem abaixo e deixe seu comentário sobre o que o jornalista pensa do atual embaixador da copa.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Esporte como indústria

Há muito tempo que o esporte deixou de ser praticado apenas como uma atividade de ocupação do tempo disponível sem nenhum caráter mercadológico.

Para todos que se preocupam e se ocupam com este fenômeno mundial que é o esporte, setor que vem crescendo economicamente "à taxa de 7,4% ao ano" ,sugiro a leitura do livro da m.Books do Brasil Editora, intitulado A Indústria do Esporte no Brasil: Economia, PIB, Empregos e Evolução Dinâmica.

Os autores, Istvan Kasznar e Ary S. Graça Filho, economista e advogado respectivamente, são conhecedores profundos do mercado financeiro e de capitais. O último, inclusive, é presidente da Confederação Brasileira de Voleibol, vice-presidente da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) e presidente da Confederação Sul Americana de de Voleibol.

Já Istvan Kasznar é funcionário da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e, entre outras atividade no ramo do ensino e de consultorias é pioneiro do país no tratamento do tema Economia do Esporte, uma área bastante desenvolvida na França e que no Brasil ainda engatinha.

Apesar do livro está na sua quarta edição, ele é muito pouco conhecido no Brasil e o tema proposto está dividido em seis capítulos e contém quadros, gráficos e equações.

Cito aqui apenas os títulos dos capítulos sem as suas respectivas subdivisões: 1) Atual Quadro do Esporte Brasileiro: Geral e Voleibol; 2) O Voleibol como Indústria Geradora de Renda, Riqueza, Emprego e Impostos; 3) Sensibilidade (Elasticidade) dos Esportes às Políticas Correntes do Governo e seu Peso em face do PIB, através dos Multiplicadores; 4) Uma Visão Atual sobre a Evolução do Esporte em Termos de Produção - PIB, Renda per capita e Impostos; 5) Evoluções dos Esportes no Período de 2003 a 2010 e 6) Conclusões Estratégicas.

Fica aqui, portanto, a dica para mais esta leitura, indispensável para todos os que querem entender o esporte para além dos seus aspectos técnicos e táticos.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Agora vai!!!

Hoje conversei com um colega de "baba" sobre as contratações do Bahia. Aliás quase todo o sábado pela manhã é assim. Um tempo jogando bola para logo depois conversar sobre tudo. Inclusive futebol. Alguns só conseguem conversar sobre isso. Paciência.

Mas como ia dizendo, um colega de "baba" estava todo feliz. Junto com ele alguns amigos, torcedores do Esporte Clube Bahia, contentes com as contratações que o tricolor vem fazendo. A de Max Biancucchi era a mais comemorada. Agora vai!!! Dizia ele.

Eu provocava perguntando "para onde?". Entre outras. Uns falavam de lá, eu provocava de cá e assim ia descendo a cervejinha gelada, até que falei em um tom mais provocador:

- Contratar é bom. Quero ver honrar compromissos, pagando, por exemplo, salário dos jogadores.

Silêncio. Um gritou logo surgiu informando que o Consórcio da Arena Fonte Nova iria pagar o salário. 

- De todos? Perguntei continuando a provocação.

- Claro que não. O de Biancucchi. Informaram sem grito.

Veja você. Em campo jogam 11. Para treinar precisam, no mínimo, de mais 11. E todos devem estar contentes e com salários em dia. Mas os torcedores não conseguem enxergar isso.

Para eles, no caso relatado acima, basta pagar o salário do Biancucchi que... Agora vai!!!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Arena: era uma vez um patrimônio histórico

Desde que o termo arena passou a designar os novos estádios construídos ou os reformados, na maioria enormes elefantes brancos, para sediar grandes jogos de futebol e shows de cantores e cantoras famosos e famosas, pois trazem na sua alcunha o sobrenome de multiuso, que não me acostumo com esta palavra.

Sei que a mesma já era utilizada na Europa há tempo. Mas quando começou a ser insistentemente falada em terra brasilis, não agradou aos meus ouvidos. E continua desagradando.

São dois os motivos. O primeiro é semântico. As partidas de futebol jogadas nesses espaços se dão sobre a grama e não sobre a areia, como é comum na praia.

Nos ensina Houaiss (2008) no seu formato mini, revisado e aumentado para a sua terceira edição que o termo ARENA significa: 1) parte central, coberta de areia, dos anfiteatros romanos; 2) anfiteatro; 3) área central do circo; picadeiro; 4) espaço circular para touradas e outros espetáculos; 5) estrado onde lutam os boxeadores 6) local de debate, de desafio.

Logo, nada referente ao futebol. A não ser que forçosamente se queira incluí-lo nos indefinidos termos "outros espetáculos" e "desafio". Mas ainda assim faltariam as areias.
Imagem retirada do site www.gazetamaringa.com.br
Pouco importa, dirão. Podemos tudo. E é verdade. Sobre isso falemos sobre o segundo motivo que torna o termo "arena" estranho aos meus ouvidos.

Lembro-me que quando houve a decisão de demolir o Estádio da Fonte Nova, diversas entidades (ABENC – Associação Brasileira ; ANEAC; IAB/BA; CREA-BA, CEB; Fórum A Cidade Também é Nossa; IBAPE; Movimento Vozes de Salvador, SENGE; SINARQ; GAMBÁ; UMP/BA; FABS -Federação das Associações de Bairros de Salvador; FAMEB – Federação das Associações deMoradores do Estado da Bahia; CONAM – Confederação Nacional das Associações deMoradores. GERMEM – Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental; Faculdade de Arquitetura da UFBA; Escola Politécnica da UFBA) se uniram e propuseram, dia 11 de maio de 2010, alternativas à demolição.

Essas entidades defendiam a requalificação do equipamento em função dos aspectos culturais e do valor arquitetônico que o mesmo tinha. O Estádio da Fonte Nova, junto com o ginásio do balbininho, completamente destruído para construção de um estacionamento, conjuntamente com o Dique do Tororó tinha sido, em 1959, tombados pelo IPHAN.

Era Patrimônio Histórico.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Quem fica com o lucro?


No dia 30 de outubro de 2007 o Brasil e muitos brasileiros de todos os cantos vibraram pela escolha do país como sede da Copa do Mundo de Futebol.


Dali a pouco mais de seis anos e alguns meses, o país seria anfitrião da maior festa do futebol mundial. Um feito pleiteado por diversos países de diferentes cantos do mundo.

Poucos meses nos separam daquele dia para a abertura do evento. 2014 chegou acompanhado dos inexoráveis e amadurecidos dados da realidade. De lá para cá muitas coisas ocorreram. Águas e mais águas passaram por debaixo da ponte e desembocaram em um mar de gente revolta.

Os balões em verde e amarelo, soltos em estádio paulista na comemoração do sorteio, o cristo redentor no Rio de Janeiro, ocupado por bandeiras esvoaçantes e até a estátua de Juscelino, em Brasília, sendo envolvida por camisa comemorativa ao fato contrastam, hodiernamente, com as recentes manifestações de junho do ano passado e outras tantas que pululam em editoriais da mídia nativa.

Há quem afirme, inclusive, que atualmente existe um movimento tentando sabotar a realização da Copa do Mundo no Brasil. Teoria da conspiração? Não sei. Mas a hipótese levantada (que consideramos plausível) é que o objetivo do intento é "melar" a reeleição da presidenta Dilma, incentivando e dando gás para novas manifestações de rua, rebaixando sua popularidade que vem crescendo e, com isso, forçar um segundo turno.

Não se trata aqui da política do quanto pior, melhor, de alguns jornalistas que apregoam a cartilha neoliberal. Nem de inverter a informação, procurando o lado ruim das boas notícias relativas a Copa no Brasil. Não duvidamos que esta será um sucesso e o número de ingressos já vendidos no mundo inteiro para o evento demonstram confiança na realização do mesmo. Não temos, também, a compreensão de que legado é só o que estiver pronto e acabado até a Copa. Muito embora a Matriz de Responsabilidades, apresentada em 2010, pelo próprio governo, assim estabeleça.

A nossa reflexão parte de dados concretos, da dinâmica real e mais visível deste tal "legado da Copa" e que se encontra mais próximo do objeto deste blog: os estádios. Vejamos.

Não exige muito esforço perceber que dos elementos colocados como legados para a Copa, apenas as "arenas" estão prontas. Mesmo assim, nem todas. E algumas, tidas como acabadas ou quase finalizadas, apresentam alguns problemas estruturais.

O próprio valor da construção destas "arenas" é um problema em si. O mesmo ultrapassa em muito todos os outros valores somados, direcionados para segurança, telecomunicações e turismo, por exemplo.

Em relação as áreas da saúde e educação, prioridades nacionais, a diferença em relação a Copa é assustadora. Para Salvador, por exemplo, foram repassados pelo governo federal para as duas áreas entre 2010 e 2013 o montante de R$ 133 milhões, enquanto para a Copa, foram transferidos a título de empréstimo via BNDES R$ 4 bilhões e 600 milhões.

Esses dados são do próprio governo e podem ser constatados por qualquer um no site da CGU/Portal da Transparência. Há quem afirme que, como é empréstimo, esses valores direcionados para a Copa irão voltar com juros. Isso é um dado que deve ser levador em consideração nas nossas reflexões, observando necessariamente a dinâmica da gestão do dinheiro público pelo estado neoliberal.

Essa mesma dinâmica precisa ser considerada quando pensamos no lucro que a Copa do Mundo vai gerar para o país. Sim, pessoal. A Copa do Mundo gera lucros e dividendos para o país sede em pequeno, médio e longo prazo. Só o setor de turismo pode ter um incremento de R$ 22 bilhões de reais em 2014. Parte deste recurso serão gerados pela Copa do Mundo.

No geral, a Fundação Getúlio Vargas tem apresentado estudos que contabilizam, por baixo, um retorno financeiro para o país em função da organização/realização da Copa na ordem de R$ 140 bilhões.

No entanto, reafirmo a observação que precisamos olhar para esses dados tomando como referência a dinâmica do estado neoliberal e agora perguntando: quem se apropria e/ou se apropriará destes bilhões?

Países outros já realizaram e realizam grandes eventos. A maioria se encontra em situação lastimável de crise. Não por que realizaram ou realizam megaeventos. Mas em função da apropriação privada da riqueza produzida por eles e das dinâmicas próprias das opções políticas que fizeram/fazem na condução do estado.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Bahia orfã

Em dezembro último, um grande portal de notícias veiculou uma matéria que para nós baianos não é nenhuma novidade. Dizia que a cidade de Salvador com a implosão da Fonte Nova ficou órfã de ginásio, piscina e pista de atletismo.

Acrescento que ficou também com menos "educação", já que nas dependências do estádio também funcionava o Colégio Estadual da Fonte Nova.

Acrescento também que a orfandade em relação às diferentes modalidades esportivas não é uma situação específica de Salvador. Todo o estado sofre com este fenômeno.

Nos 460 quilômetros que separam a capital baiana da cidade de Itabuna, por exemplo, constatamos alguns campos de futebol estragados onde crianças, jovens e adultos praticam o seu "babinha" em condições para lá de precárias.

Torneios existem e podem ser observados nos finais de semana, principalmente nos domingos, graças as iniciativas e protagonismos dos seus moradores e da circunvizinhança, já que o poder público passa ao largo quando o assunto é democratização do esporte.

A mesma Bahia que se orgulha de ter entregue a primeira "arena" para a Copa do Mundo de 2014 que se ergueu das cinzas do antigo estádio, totalmente implodido (portanto uma "arena" construída do zero), é aquela que se arrasta desde 2010, para construir espaços públicos que permitam a prática de esportes para a população nas suas mais diferentes faixas etárias.

A Bahia está orfã. Não apenas Salvador. E sua orfandade não se resume às estruturas esportivas, mas a própria política pública de esporte e lazer.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ecos de 2013: ano novo. Velhas práticas

Começamos o ano de 2014 com alguns ecos de 2013. Não poderia ser diferente. Essa ideia de cortar o tempo em fatias, já nos ensinou Drummond na sua poesia O Tempo, é uma coisa genial. Serve também para organizarmos nossa tarefas. Mas tudo não passa de uma invenção humana, como a maioria das coisas que nos cercam.

O mercado esportivo continua fervendo. Especulações sobre esta ou aquela contratação, dispensas, renovações, empréstimos, entre outras, enchem os editoriais esportivos, principalmente os relacionados sobre o futebol, que continua tendo a preferência da mídia de uma forma geral ano após ano.

Mas foi no handebol feminino que veio a maior e melhor novidade de 2013. Campeãs mundiais. Título inédito para o país. Os holofotes se voltaram para elas. De repente, se tornaram heroínas na "pátria de chuteiras". De promessas, passaram a ser certeza de medalha nas próximas olimpíadas. Mas só em 2016 para confirmarmos.

A recuperação do atleta Anderson Silva, do MMA, repercute. Desde o fatídico dia 28 do mês passado em que se lesionou em uma luta contra Chris Weidman pelo UFC 168, que o questionamento sobre a (im)possibilidade do seu retorno ao esporte foi levantada. O mesmo afirma que voltará. O tempo dirá.

Um outro atleta que também sofreu grave lesão e continua em estado crítico, mas estável, é o piloto de fórmula 1, Michael Schumacher. O seu acidente ainda ecoa e um suposto vídeo pode trazer maiores informações do ocorrido. Mas o fato é que o heptacampeão de fórmula 1 corre risco de ficar totalmente paralisado, segundo últimas informações.

Esses e outros acontecimentos, originários em 2013 e que continuam na mídia em 2014, uns mais e outros menos, pela sua capacidade de mobilizar a opinião pública, não tem a mesma envergadura quando comparados com as manifestações de junho de 2013, na ocasião da realização da Copa das Confederações.

Apesar de temporalmente muito distante em relação aos acontecimentos citados acima, os exemplos que delas emergiram começam a alimentar reflexões que ultrapassam os editorias esportivos, atingindo os que se ocupam da política e da economia. Não nos esqueçamos que este é um ano de eleições. Está em jogo, mais do que cinturões, troféus, medalhas ou o simples gosto pelos esportes radicais, a direção do poder do maior país da América Latina.

Para a direita, que vê nas mobilizações uma estratégia de diminuir a aprovação do governo Dilma que bateu em dezembro a casa dos 43%, a retomada das manifestações é fundamental. Além da judicialização da política, capitaneada pelo Supremo Tribunal Federal via processo do "mensalão", a juventude nas ruas questionando a política pró-copa em detrimento dos aspectos ligados às questões menos efêmeras, fundamentais para a vida dos cidadãos independente de megaeventos, como saúde, educação, segurança entre outras, é praticamente vital.

E para a esquerda, que não caiu ainda no canto da sereia da política desenvolvimentista do governo Dilma, que vem beneficiando de forma mais vultosa o capital (em 2012, segundo auditoria cidadã da dívida, o orçamento federal reservou R$ 752 bilhões para os serviços da dívida que favorece cerca de 10 mil credores. No mesmo ano, menos da metade, R$ 348 bilhões, foram direcionados para a Previdência, que beneficia aproximadamente 28 milhões de brasileiros), também é um momento de reconhecendo os avanços que vem ocorrendo no país, principalmente se comparados aos governos anteriores, de reivindicar uma direção contra-hegemônica da forma como a riqueza vem sendo distribuída.

Infelizmente, no tocante ao orçamento, a previsão para 2014, publicado neste mesmo blog recentemente, reverbera o mesmo eco de 2013.

Ano novo. Velhas práticas.