Antro, substantivo
masculino, escavação natural que pode servir de abrigo a pessoas ou animais
selvagens; gruta, caverna. Caverna. No sentido figurado, lugar de perdição ou
vícios, abismos. Abismo. Nosso país sempre foi um poço de desvios de conduta
fantasiados de humor e zombaria. Apresentadores de Tv que usam do horário nobre
nos finais de semana para mostrar vídeos de pessoas se machucando ou em
situações desconcertantes. Objetificação e hipersexualização do corpo feminino,
entre outros.
O tempo livre do
trabalhador bombardeado de absurdos. Para nossa sorte, tínhamos os shows de
horrores limitados aos domínios da “janela de vidro”. A televisão. Para nosso
azar, houve um tempo que o antro de canalhas faziam sucesso apenas lá. Hoje,
eles ganharam vida política e pública. Ser canalha, misógino, está garantindo posição de
privilégio nacional. Dá pra virar Presidente.
Ministros que atacam em
palestras internacionais
as esposas dos chefes de estado, a chamando de feia, corroborando com a atitude do Presidente, que vai às redes sociais e curte um meme que também afirma que a esposa
de um outro presidente é feia. “Humorista” que num stand-up diz que discorda
do Presidente da República, quando ele afirma que não estupraria uma deputada
porque ela não merecia, tendo quase sua voz silenciada por afirmar num tom
calmo um “merece”, pelo estrondoso aplauso da plateia. Ser cretino está rendendo aceitação.
O que esperar de um
perfil de instagram que deu control C + control V na conjuntura? Uma página que
se propõe a divulgar “humor ácido” para falar da Arte Marcial Brasileira,
Jiu-jitsu? Numa breve olhada no perfil @Senseisensato, qualquer atleta ou entusiasta que já
deu uma lida na história do Jiu-jitsu Brasileiro, de uma forma mais radical,
percebe as contradições de seu pseudônimo. Usar a foto do patriarca Hélio
Gracie com a palavra sensato embaixo não é lá uma das melhores opções. Invadir
academias e achar que mulheres só servem para procriar são alguns dos atributos
do senhor em questão.
Se você continua a
deslizar a tela, perceberá que as mulheres aparecem hipersexualizadas, como nos
programas cretinos citados no início do texto. Uma mulher vestida apenas com
uma camiseta, insinuando um impedimento para o namorado não ir treinar. Um
compilado de ensaios sensuais em forma de crítica, questionando quando os quimonos
começaram a ser vendidos na seção de lingerie. A cultura do estupro, que
submete o valor das mulheres a uma lista de condutas morais relacionadas a
sexualidade e a violação dos direitos autorais estão presentes nas publicações
do “Sensato”.
O absurdo não está mais
lá, publicado. Foi apagado com muito esforço. Mas, para o azar do administrador, a vítima tirou um print de sua publicação criminosa. Uma atleta de Jiu-jitsu feminino
teve sua foto amamentando seu bebê publicada sem autorização, sendo alterada e
contextualizada sexualmente, tendo um graduado ao fundo exclamando “deixa um
pouco para mim”, insinuando que o mesmo estaria interessado em ocupar o lugar
da criança.
A lei dos Direitos
Autorais (9.610/98) em seu artigo 7 diz que fotografia é obra intelectual
protegida, e no artigo 29, é apontado que sua reprodução depende de autorização
prévia e expressa do autor. A atleta ainda solicitou diversas vezes que tivesse
sua foto retirada da página, como também solicitou o apoio de amigos e de
páginas de Jiu-jitsu feminino para que fizeram denúncias ao instagram por
conteúdo indevido. Recebendo um feedback de não violação das diretrizes da comunidade. Uma falha que deve ser revista urgentemente pela empresa. Para quê servem as denuncias?
A vítima pode comunicar o fato na justiça como crime virtual, pois tal publicação ofendeu a sua reputação
(Art. 139 do Código Penal), que de acordo com o Conselho
Nacional de Justiça, é um dos crimes mais comuns nas redes. Ela
precisa coletar as evidências, registrar as informações em cartório e se
dirigir à uma delegacia mais próxima. O que é de extrema urgência. O administrador da página precisa compreender que o ambiente virtual não é uma "terra de ninguém". Algumas Leis se aplicam na web.
A
violência contra as mulheres nos tatames estão ganhando rostos e nomes através de iniciativas de algumas páginas como a Bjjgirlsmag e UOL, mas
ainda recebe o silêncio e a impunidade aos agressores, das instituições
reguladoras do esporte. Apenas a Sport Jiu-jitsu South America Federation
(SJJSAF) se posicionou contra os abusos disponibilizando uma ouvidoria para
escutar e acolher mulheres vítimas de violência causada por atletas,
professores e praticantes (A
ouvidoria funciona 24h por dia pelo whatsapp ou ligação e o número é: (21)
97102-5414).
Necessitamos de punições rígidas e emergenciais contra os
agressores no Esporte, como proibições de participação em eventos, punições a
equipes que tenha membros envolvidos em casos de violência contra a mulher e
criação de regras específicas que condenem agressores em eventos esportivos.
Precisamos também da punição desses agressores na esfera
civil. Não podemos mais tolerar comportamentos como o da página @senseisensato
ou de figuras públicas que ocupam funções importantes na política Nacional.
Obviamente o ataque às mulheres faz parte da política de governo atual. Sempre
foi sua agenda. Mas devemos nos mobilizar nas redes sociais e nas ruas, não
deixando que isso seja banalizado. O Estado não é um antro exclusivo aos canalhas. A sociedade também não.
Ao contrário da decisão do instagram, tais atitudes violam as diretrizes
das relações sociais humanitárias. São criminosas. Devemos devolver estes
crápulas ao seu lugar de direito: O esgoto da história. A sociedade
brasileira não pode ficar assistindo atônita essa corja. Nem aplaudindo é
claro.
Denuncie!! Disque 180.