De repente, não mais que de repente, os gestores esportivos, governos de diferentes colorações, promovem ações com o dinheiro público sem consultar, previamente, o próprio público.
De repente, não mais que de repente, novas praças esportivas são erguidas, outras, demolidas (como será o caso do Balbininho) e tudo isso em nome da "melhoria da qualidade de vida" do povo.
De repente, não mais que de repente, um dirigente esportivo do futebol baiano, quando da celeuma sobre se o Esporte Clube Bahia deveria ou não jogar no Estádio Manuel Barradas Carneiro, o barradão, santuário rubro-negro, disse que iria consultar os torcedores do Esporte Clube Vitória sobre o assunto. Interessante, muito interessante. Nunca me consultaram sobre a compra ou venda deste ou daquele atleta, sobre o salário deste ou daquele jogador e muito menos sobre os preços dos ingressos.
De repente, não mais que de repente, em um passe de mágica, as favelas da cidade do Rio de Janeiro desaparecem. Os meninos das sinaleiras somem. Os pedintes e mendigos de todos os tipos tornam-se invisíveis. Muros são erguidos, policiais invadem as comunidades de favelados, matam “as bestas”, os “elementos” da massa ignara, os sem-direitos e sem-justiça.
De repente, não mais que de repente, uma Copa do Mundo no Brasil, uma possibilidade de Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro sob os diversos argumentos: melhoria do transporte público (ó nóis aí!!!), incremento do turismo, ampliação dos empregos, distribuição de renda pelos empregos temporários, etc, etc. Argumentos autojustificadores, pois até onde consegue ir a minha compreensão das coisas, esses aspectos deveriam ser inerentes às políticas públicas de governos, e não moeda de troca por aceitarmos eventos esportivos deste ou daquele porte.
É como se dissessem: olha, aceitando os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo, o Pan-Americano, melhorias virão. Se não aceitarmos, sofreremos as conseqüências. Pensem bem, meu povo.
De repente... o povo pensa! A massa, ignara, pensa! As "bestas domadas", pensam! Os miseráveis, os famintos, pensam! Mas, paradoxalmente, o "governo do povo, pelo povo e para o povo" decide o pensamento final do povo. Pois já tá tudo pronto, decidido, pensado.
Mandar o povo pensar foi só "força de expressão", um "jogo de linguagem". Nós fomos escolhidos pelo povo justamente para desobrigá-lo desta tarefa. Nós pensamos em tudo muito antes do povo pensar em pensar. Nós sabemos o que o povo quer, o que o povo precisa. Circo, ao invés de pão. Medalhas, troféus e pódiuns ao invés de feijão, arroz e carne. Uma nova Fonte Nova, ao invés de nova habitação.
De repente, não mais que de repente, a utopia. O povo que se descobriu pensante, descobre-se, também, motor da história. Que tudo que existe e o cerca não foi obra do divino espírito santo, mas fruto do seu trabalho. Tá vendo aquele edifício, moço? Eu trabalhei lá. Tá vendo aquela escola, aquele estádio, aquela estrada e hospital? Fui eu que construir.
Palavras do Lula após reunião com o Comitê Olímpico Internacional quando da sua visita ao Rio de Janeiro e seu Cristo indiferente: “fazer os Jogos é "um compromisso do Estado brasileiro".
Como o Estado é o gerente da burguesia, tá tudo explicado, de repente, não mais que de repente.
Refletir sobre o esporte para além das configurações táticas e técnicas que lhes são próprias e tendo o mesmo como expressão singular para pensarmos fenômenos mais gerais da sociedade, eis o objetivo do blog.
domingo, 31 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
Discursos sobre o esporte
Embora as nossas investidas sobre as questões relativas as Olimpíadas 2016 não tenham se esgotadas, pois ainda há muito o que se dizer e refletir sobre este evento, não podíamos nos furtar de "falar" sobre o périplo dos políticos de diferentes colorações esta semana na Confederação Brasileira de Futebol, apertando a mão (talvez melhor seria dizer "beijando a mão"), abraçando e dando tapinhas nas costas do seu presidente, o senhor Ricardo Teixeira. Disse um influente deputado baiano da bancada da bola em um jornal local de sexta-feira (22/05) que bastava observar os visitantes para saber quais estados serão os escolhidos.
Esse tema tem mexido até com data e horário de jogos, como foi o caso do jogo entre o Flamengo e o Atlético do Paraná, transferido do dia 30 para o dia 31 de maio, domingo, para que o todo poderoso Ricardo Teixeira apareça no telão do Maracanã informando que o mesmo será o palco da final da Copa de 2014.
Isso por que, somente dia 31 de maio, na cidade de Nassau (capital e maior cidade das Bahamas), será divulgada de forma oficial pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) os nomes das capitais que sediarão jogos da referida Copa do Mundo.
Falando em Maracanã, o editorial da Folha de São Paulo de ontem nos apresenta algumas informações que nos permitem relacionar os fatos acima mencionados com os assuntos abordados em nosso blog nas últimas semanas.
Segundo o articulista, o Estado do Rio de Janeiro, depois de gastar R$ 300 milhões em obras para os Jogos Panamericanos entre os anos de 1999 e 2007, terá que desembolsar nova quantia para adequar o estádio para a Copa 2014.
"Além disso, o projeto prevê a demolição do parque aquático Júlio Delamare, erguido ao custo de R$ 10 milhões. As autoridades fluminenses consideram que falta qualidade ao parque. Em 2007, era tido como exemplar". Uma verdadeira farra com dinheiro do erário público!!!
Aqui na Bahia, em Salvador, o Governador Jaques Wagner, em entrevista a uma rede de televisão local avisou que a cidade não só sediará um jogo das eliminatórias no dia 9 de setembro como também será palco dos jogos da Copa do Mundo. Para isso, mais dinheiro público deverá ser injetado na reforma da Fonte Nova.
Segundo o governador, "a Assembléia Legislativa já aprovou o pedido de empréstimo de R$ 375 milhões no BNDES" Existem outros empréstimos previstos, como o do Banco Interamericano, no valor de R$ 408 milhões e uma provável "ajuda" do Banco Mundial, não informado o valor.
Os posicionamentos que são favoráveis a esses investimentos, sempre trazem um discurso de que os mesmos promovem centenas de milhares de empregos diretos e indiretos e geram receitas diversas, beneficiando todos os baianos.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de maio de 2008, desmente esta cantilena. Ele demonstra que a riqueza gerada na capital baiana não é distribuída de forma equânime. Aqui em Salvador os 10% mais ricos concentram o montante de 67% da riqueza em suas mãos.
No Rio de Janeiro a realidade não é diferente. Lá, segundo a mesma pesquisa, os 10% mais ricos concentram 62,9% da riqueza. E esta realidade não é de hoje. Já nos idos do final do século 18, os 10% mais ricos concentravam 68% da riqueza no Rio de Janeiro.
Várias foram as obras que transpassaram o tempo com discursos de melhoria da qualidade de vida, ampliação dos empregos, distribuição de renda, etc, etc, para os barnabés da vida. Mais de 200 anos se passaram e a desigualdade não só continua a mesma, como novos fatores apareceram fruto deste mesmo processo de desigualdade crônica.
O esporte é hoje, mesmo considerando todas as mediações possíveis, uma grande mercadoria que serve para a maximização do lucro de empresas capitalistas. Nozaki e Penna(2007) assim se referem a esse respeito em artigo de uma revista eletrônica:
"A fabricação do esporte pelas grandes corporações, adaptada ao mais alto grau da exploração capitalista para a maximização dos lucros: na Indonésia, a Nike chegou a pagar 0,40 centavos de dólar a hora, utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tênis, os quais não são fabricados em lugar nenhum dos EUA onde esta empresa em sede. Outro exemplo de modalidade de exploração que vem se disseminando é a utilização de presidiários, por parte das grandes empresas nos EUA, em troca de um pequeno salário (de US$ 0,02 a 2,00 a hora) e/ou de uma redução de sua pena. Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe, desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execução de trabalhos".
Essa parece ser a lógica presente nos discursos que buscam legitimar os grandes eventos esportivos. Ampliar a reprodução metabólica do capital às custas das forças de trabalho humano das classes subalternas, única que efetivamente gera riqueza e mais valor em tudo que toca e faz, que constrói edifícios, colégios, estádios mas não são convidados nem possibilitados a participarem da festa.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Rio 2016: vale mesmo apena? (III Parte)
TÁ RINDO DO QUÊ MESMO?
Olá, pessoal. Mais uma vez estamos aqui pensando coletivamente a necessidade de se organizar uma Olimpíada no Brasil, especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Estamos pautando os nossos argumentos, por enquanto, nas questões referentes ao Pan-Americano. Isso se justifica por quatro razões. I) foi um evento pensado como uma vitrine para as Olimpíadas; II) foi realizado na mesma cidade que protagoniza hoje o direito legítimo de sediar as Olimpíadas; III) foi o mega evento mais recente que tivemos e IV) muitas das figuras carimbadas do Pan estão também na luta pró-Rio 2016.
Nas duas primeiras postagens procuramos trazer à baila argumentos que demonstrassem como essa é uma atitude inócua quando se pensa em desenvolver o esporte brasileiro. Nomes de peso como o da Magic Paula foi apresentado e comentários suscitados pelo artigo completaram e reforçaram nossas idéias.
O colega do curso de Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana, professor Elson Moura, questiona: quais nossas prioridades? Medalha no peito ou comida no prato? Esporte para todos ou esporte para alguns?
Nossa colega Larissa também pergunta: qual a posição dos atletas brasileiros em relação à realização das Olimpíadas no Brasil? Pensam só em ganhar medalhas ou eles têm consciência que é o dinheiro do contribuinte, ou melhor, é o nosso dinheiro que financiará esse "circo? Até quando o Brasil será o país do faz de conta?
Esses comentários demonstram que não estamos muito satisfeitos com a direção que o esporte vem tomando hoje em dia. Os quadros que estão à frente da administração esportiva não têm dado muita satisfação aos que gostam e pensam o esporte numa outra dimensão. Pelo menos essa é a impressão deixada pelos freqüentadores deste blog. Professores, pesquisadores, esportistas, praticantes, etc, etc.
E essa insatisfação já começa a se notar também entre os grandes, entre aqueles que fazem parte do métier. Falamos de Paula, tivemos o Ronaldo, o incansável fênix, que esta semana externou sua insatisfação com o Ricardo Teixeira. Outros nomes de peso do esporte já se manifestaram também contra a figura deste senhor que certa vez disse que sairia da presidência da Confederação Brasileira de Futebol após a Copa de 1994. Como nós ganhamos o caneco, ele achou por bem continuar e estar até hoje. Homem de palavra esse senhor.
Filipão, Sócrates, Zico, Juca Kfouri, entre outros, já disseram em alto e bom som palavras que externaram suas insatisfações. Esses senhores precisam agora, de forma coletiva, levar a frente um movimento pró-retirada do Ricardo Teixeira da CBF. Que tal revitalizando o debate da CPI da Nike? Talvez fosse uma boa estratégia.
Voltando ao tema atual do blog, podemos notar nas enquetes que fizemos aqui mesmo no nosso Esporte em Rede elementos importantes que embora não represente estatisticamente um “n” cientificamente legítimo para os padrões da academia, nos dar uma certa dimensão da realidade. Na primeira enquete, a opção de que o Rio de Janeiro não tem condições de sediar uma Olimpíadas teve 66% dos votos, contra 33% daqueles que acharam o contrário. Foram 21 os votantes.
Nossa segunda enquete foi sobre informação. Queríamos saber se os nossos visitantes estavam ou não suficientemente informados sobre o assunto. 22 pessoas votaram. Destas, 21 (95%) não se consideravam bem informadas. Tivemos um “iluminado”. Esse dado não só demonstra o óbvio (sempre dentro do limite do alcance do levantamento) como aponta que estamos longe de debater publicamente questões públicas. Poucos pensam sobre algo, consideram que esse algo é fundamental para o povo, mas não inclui o povo no debate.
Para quer debater com uma massa ignara?
A terceira e última versou sobre investimento. Perguntamos para onde deveria ir o dinheiro do Comitê Olímpico Brasileiro. 18 pessoas participaram da enquete. 12 (66%) favoráveis ao incentivo esportivo sem preocupação na formação do atleta; 4 (22%) favoráveis ao direcionamento para o esporte de rendimento e de base e 2 (11%) pessoas favoráveis apenas ao esporte de base.
No conjunto das enquetes, sempre reconhecendo os seus limites estatísticos como já mencionado, podemos inferir que os que pensam as políticas esportivas da nação estão muito distantes da maioria dos mortais. Eles dialogam entre si, operam entre si, e se favorecem mutuamente por dentro do Estado e das suas instituições.
Uns mamíferos de luxo que não largam as tetas do Estado desde muito tempo.
MEDALHA NO PEITO OU COMIDA NO PRATO?
sábado, 9 de maio de 2009
Rio 2016: vale mesmo apena? (II Parte)
Os Jogos Pan-Americanos, realizados na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2007 é, sem sombra de dúvida, além de recente, um dos exemplos mais concretos e esclarecedores de como as entidades esportivas trabalham para levar a cabo os seus projetos de mega eventos. Aliás, o próprio discurso de sustentação destes Jogos teve como um dos seus alicerces de sustentação o fato do mesmo servir como uma prova incontestável de que o Brasil tem capacidade de organizar eventos esportivos de grande monta nos marcos estruturais que assumiu o esporte na contemporaneidade.
No nosso caso, essas “entidades” têm em um nome específico, a referência fundamental para o desenvolvimento destes eventos: Carlos Arthur Nuzman. Ex-jogador de voleibol na década de 60 e que se dedicou durante 20 anos a Confederação Brasileira de Voleibol, como presidente desta e que fez um profícuo trabalho do ponto de vista do marketing esportivo, fazendo desta relação (esporte e marketing) um forte passaporte para o Comitê Olímpico Brasileiro, vem protagonizando a mais de 14 anos a frente desta entidade um verdadeiro périplo buscando justificar e convencer as autoridades esportivas e não esportivas, da importância para o esporte profissional e para o Brasil, da realização das Olimpíadas no país.
Somados, o senhor Nuzman tem nada mais, nada menos, do que 34 anos como dirigente esportivo. Um tempo expressivo e ao que tudo indica, tomando como referência a última eleição da entidade em 2008, deverá se extender por muito mais tempo.
Mas ele não estar só. Muitos outros estiveram e estão ao seu lado nessas empreitadas esportivas. Uma dessas pessoas, ao não concordar com as condutas consideradas anti-esportivas (digamos assim) do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) quando do desenvolvimento do Pan, a jogadora de basquete Magic Paula (Maria Paula Gonçalves da Silva), assim se expressou sobre o significado do Pan no Brasil, essa vitrine que nos serve de reflexão para pensarmos as Olimpíadas para o Rio 2016. “O problema do esporte brasileiro é mais embaixo. Não é um Pan-Americano aqui que vai solucioná-lo. Além do mais, esse é um gasto absurdo. Com muito menos dinheiro daria para estruturar o esporte no País. O Pan é importante para dar visibilidade ao esporte e seria bom se tivéssemos base, se tivéssemos estrutura para os atletas se manterem e trabalharem. Fico preocupada com os atletas depois que tudo acabar e eles voltarem a viver na corda bamba” (Carta Capital, nº 432, 21 de fevereiro de 2007).
Essas palavras, vinda de uma ex-atleta de ponta do esporte nacional, protagonista viva da história da Secretaria Nacional de Alto Rendimento no Ministério do Esporte, da qual pediu exoneração em 2003 por não concordar com as relações entre o COB e o Ministério de Agnelo Queiroz na época, podem ser bem utilizadas para o projeto Olímpico Rio 2016. Trata-se de uma linha de raciocínio que demonstra de forma inconteste, a falta de projeto de longo prazo para o esporte nacional, inclusive no tocante à formação de atletas.
As palavras de Paula também são interessantes e ganham força maior ainda por se tratar de alguém que fez e faz parte da estrutura do esporte de rendimento. Não é nenhum inimigo do esporte brasileiro, nenhum pessimista esclarecido que ver negatividade em tudo que se pensa fazer e se faz nesse país, seja no campo esportivo ou em outro qualquer. As palavras não saíram – digamos assim – de qualquer pessoa.
Passado algum tempo, já podemos verificar o quanto de razão tinham todos aqueles que eram contra a realização do Pan da forma como o mesmo vinha sendo desenvolvido. E também, o quanto de (dês)razão dos que eram altamente favoráveis, como um dos representantes do CO-Rio em 2007, o senhor Carlos Roberto Osório. Em entrevista na mesma edição da revista Carta Capital, assim se posicionou em relação ao Engenhão (estádio João Havelange). “O projeto do Estádio (...) é de um nível espetacular. Em termos esportivos, nenhum estádio do mundo é mais moderno. Em minha opinião tem um futuro bastante interessante”.
O Botafogo que o diga.
No nosso caso, essas “entidades” têm em um nome específico, a referência fundamental para o desenvolvimento destes eventos: Carlos Arthur Nuzman. Ex-jogador de voleibol na década de 60 e que se dedicou durante 20 anos a Confederação Brasileira de Voleibol, como presidente desta e que fez um profícuo trabalho do ponto de vista do marketing esportivo, fazendo desta relação (esporte e marketing) um forte passaporte para o Comitê Olímpico Brasileiro, vem protagonizando a mais de 14 anos a frente desta entidade um verdadeiro périplo buscando justificar e convencer as autoridades esportivas e não esportivas, da importância para o esporte profissional e para o Brasil, da realização das Olimpíadas no país.
Somados, o senhor Nuzman tem nada mais, nada menos, do que 34 anos como dirigente esportivo. Um tempo expressivo e ao que tudo indica, tomando como referência a última eleição da entidade em 2008, deverá se extender por muito mais tempo.
Mas ele não estar só. Muitos outros estiveram e estão ao seu lado nessas empreitadas esportivas. Uma dessas pessoas, ao não concordar com as condutas consideradas anti-esportivas (digamos assim) do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) quando do desenvolvimento do Pan, a jogadora de basquete Magic Paula (Maria Paula Gonçalves da Silva), assim se expressou sobre o significado do Pan no Brasil, essa vitrine que nos serve de reflexão para pensarmos as Olimpíadas para o Rio 2016. “O problema do esporte brasileiro é mais embaixo. Não é um Pan-Americano aqui que vai solucioná-lo. Além do mais, esse é um gasto absurdo. Com muito menos dinheiro daria para estruturar o esporte no País. O Pan é importante para dar visibilidade ao esporte e seria bom se tivéssemos base, se tivéssemos estrutura para os atletas se manterem e trabalharem. Fico preocupada com os atletas depois que tudo acabar e eles voltarem a viver na corda bamba” (Carta Capital, nº 432, 21 de fevereiro de 2007).
Essas palavras, vinda de uma ex-atleta de ponta do esporte nacional, protagonista viva da história da Secretaria Nacional de Alto Rendimento no Ministério do Esporte, da qual pediu exoneração em 2003 por não concordar com as relações entre o COB e o Ministério de Agnelo Queiroz na época, podem ser bem utilizadas para o projeto Olímpico Rio 2016. Trata-se de uma linha de raciocínio que demonstra de forma inconteste, a falta de projeto de longo prazo para o esporte nacional, inclusive no tocante à formação de atletas.
As palavras de Paula também são interessantes e ganham força maior ainda por se tratar de alguém que fez e faz parte da estrutura do esporte de rendimento. Não é nenhum inimigo do esporte brasileiro, nenhum pessimista esclarecido que ver negatividade em tudo que se pensa fazer e se faz nesse país, seja no campo esportivo ou em outro qualquer. As palavras não saíram – digamos assim – de qualquer pessoa.
Passado algum tempo, já podemos verificar o quanto de razão tinham todos aqueles que eram contra a realização do Pan da forma como o mesmo vinha sendo desenvolvido. E também, o quanto de (dês)razão dos que eram altamente favoráveis, como um dos representantes do CO-Rio em 2007, o senhor Carlos Roberto Osório. Em entrevista na mesma edição da revista Carta Capital, assim se posicionou em relação ao Engenhão (estádio João Havelange). “O projeto do Estádio (...) é de um nível espetacular. Em termos esportivos, nenhum estádio do mundo é mais moderno. Em minha opinião tem um futuro bastante interessante”.
O Botafogo que o diga.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Rio 2016: vale mesmo apena? (I Parte)
ESTE SORRIDENTE SOL, SÍMBOLO DO PAN 2007 NO RIO, NÃO BRILHOU PARA TODOS. QUEREM NOS FAZER CRER QUE NAS OLIMPÍADAS SERÁ DIFERENTE
Tudo vale apena quando a alma não é pequena, nos ensina as estrofes do poeta português. Talvez Fernando Pessoa ao desenvolver tão formosas linhas não conhecesse o espírito mesquinho que habita os corpos das elites oligárquicas do nosso Brasil que tem hoje, no mundo do esporte, oportunidades sempre renovadas de reprodução do seu capital, financeiro e simbólico, através de grandes eventos esportivos como, por exemplo, os Jogos Olímpicos.
Candidata a possível sede das Olimpíadas de 2016, a cidade do Rio de Janeiro se empenha em realizar esse sonho, que seria muito bem-vindo, caso a história nos fosse favorável. No entanto, a deusa Clio já nos mostrou o outro lado da moeda. Se tomarmos como referência os Jogos Pan-americano, realizado na própria cidade do Rio de Janeiro em 2007, veremos que o melhor para o Rio e para o Brasil, seria a alocação do recurso inicial projetado para o evento de R$ 30.000.000.000 (trinta bilhões de reais), tivesse outro destino como educação, saúde, habitação, segurança, alimentação entre tantas outras questões mais básicas e necessárias em um país de miseráveis.
Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas de 2004, um em cada quatro brasileiros vive na miséria e tenta sobreviver com parcos R$ 115,00 (Cento e quinze reais) por mês. Com a crise que atinge o Brasil e o mundo e com a tendência de crises cíclicas do capital no contexto da financeirização das relações monetárias, existe uma grande possibilidade de essa realidade ser ainda pior.
É sabido que eventos desse porte podem gerar vários fatores para a cidade que o sedia. Alguns deles permanentes e outros esporádicos, tais como empregos, incremento do turismo, melhoria da infra-estrutura das cidades, desenvolvimento e melhorias das políticas de esportes entre outros. Aliás, esses elementos são alguns dos tópicos utilizados nos argumentos sofismáticos dos que querem a qualquer preço e custo, fazer prevalecerem os seus interesses comparados aos interesses nacionais. Pois até me provarem o contrário, o Rio de Janeiro é apenas uma unidade da federação. Não a única e se benefício trouxer será para os aquinhoados cariocas, se muito.
Mas a nossa deusa Clio demonstra muito bem as falácias presentes nesses argumentos dos benefícios proporcionados pelos eventos esportivos grandiosos.
Tomemos como exemplo concreto o que se argumentava para justificar a construção de um Parque Aquático para o Pan. Se dizia, entre outras coisas, que o mesmo era fundamental para o Brasil e o engrandecimento dos esportes aquáticos. Dizia-se também e principalmente que o mesmo já poderia ser aproveitado para os eventuais Jogos Olímpicos, caso o Rio de Janeiro fosse escolhida como a cidade sede.
Pois bem. Se já não bastasse o absurdo de um argumento usar como base de sustentação do mesmo um eventual evento, ou seja, algo que pode não acontecer, o mesmo torna-se uma mentira criminosa na medida em que, mesmo em confirmando o evento, ou seja, mesmo que o Rio de Janeiro sedie as Olimpíadas de 2016, esse mesmo Parque Aquático, construído sobre o argumento da sua possibilidade de uso nos Jogos Olímpicos, não poderá ser utilizado. Para que ocorram provas de natação nas Olimpíadas do Rio, será necessária a construção de um novo Parque, agora com o nome de Estádio Olímpico Aquático, aos custos de US$ 37,9 milhões de dólares.
Os mais otimistas e que conseguem ver positividade em tudo, dirão: “ao menos já teremos espaço para o Pólo Aquático”. Ledo engano. Para que o mesmo seja realizado no “moderno” Maria Lenk, que se tornou obsoleto em pouco mais de um ano, terá que passar por reformas.Se já não bastasse isso, das 13 sedes esportivas consideradas prontas se tomarmos como referência as obras do Pan, ao menos duas (Sambódromo e o Centro de Tiro), estão obsoletas e necessitam de reformas.
Esses são apenas alguns argumentos iniciais que procuram fazer com que pensemos um pouco mais sobre a viabilidade de uma Olimpíada no Brasil. Muita coisa ainda precisa e será dita aqui nesse espaço. Aguardem.
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