sábado, 9 de maio de 2009

Rio 2016: vale mesmo apena? (II Parte)

Os Jogos Pan-Americanos, realizados na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2007 é, sem sombra de dúvida, além de recente, um dos exemplos mais concretos e esclarecedores de como as entidades esportivas trabalham para levar a cabo os seus projetos de mega eventos. Aliás, o próprio discurso de sustentação destes Jogos teve como um dos seus alicerces de sustentação o fato do mesmo servir como uma prova incontestável de que o Brasil tem capacidade de organizar eventos esportivos de grande monta nos marcos estruturais que assumiu o esporte na contemporaneidade.

No nosso caso, essas “entidades” têm em um nome específico, a referência fundamental para o desenvolvimento destes eventos: Carlos Arthur Nuzman. Ex-jogador de voleibol na década de 60 e que se dedicou durante 20 anos a Confederação Brasileira de Voleibol, como presidente desta e que fez um profícuo trabalho do ponto de vista do marketing esportivo, fazendo desta relação (esporte e marketing) um forte passaporte para o Comitê Olímpico Brasileiro, vem protagonizando a mais de 14 anos a frente desta entidade um verdadeiro périplo buscando justificar e convencer as autoridades esportivas e não esportivas, da importância para o esporte profissional e para o Brasil, da realização das Olimpíadas no país.

Somados, o senhor Nuzman tem nada mais, nada menos, do que 34 anos como dirigente esportivo. Um tempo expressivo e ao que tudo indica, tomando como referência a última eleição da entidade em 2008, deverá se extender por muito mais tempo.

Mas ele não estar só. Muitos outros estiveram e estão ao seu lado nessas empreitadas esportivas. Uma dessas pessoas, ao não concordar com as condutas consideradas anti-esportivas (digamos assim) do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) quando do desenvolvimento do Pan, a jogadora de basquete Magic Paula (Maria Paula Gonçalves da Silva), assim se expressou sobre o significado do Pan no Brasil, essa vitrine que nos serve de reflexão para pensarmos as Olimpíadas para o Rio 2016. “O problema do esporte brasileiro é mais embaixo. Não é um Pan-Americano aqui que vai solucioná-lo. Além do mais, esse é um gasto absurdo. Com muito menos dinheiro daria para estruturar o esporte no País. O Pan é importante para dar visibilidade ao esporte e seria bom se tivéssemos base, se tivéssemos estrutura para os atletas se manterem e trabalharem. Fico preocupada com os atletas depois que tudo acabar e eles voltarem a viver na corda bamba” (Carta Capital, nº 432, 21 de fevereiro de 2007).

Essas palavras, vinda de uma ex-atleta de ponta do esporte nacional, protagonista viva da história da Secretaria Nacional de Alto Rendimento no Ministério do Esporte, da qual pediu exoneração em 2003 por não concordar com as relações entre o COB e o Ministério de Agnelo Queiroz na época, podem ser bem utilizadas para o projeto Olímpico Rio 2016. Trata-se de uma linha de raciocínio que demonstra de forma inconteste, a falta de projeto de longo prazo para o esporte nacional, inclusive no tocante à formação de atletas.

As palavras de Paula também são interessantes e ganham força maior ainda por se tratar de alguém que fez e faz parte da estrutura do esporte de rendimento. Não é nenhum inimigo do esporte brasileiro, nenhum pessimista esclarecido que ver negatividade em tudo que se pensa fazer e se faz nesse país, seja no campo esportivo ou em outro qualquer. As palavras não saíram – digamos assim – de qualquer pessoa.


Passado algum tempo, já podemos verificar o quanto de razão tinham todos aqueles que eram contra a realização do Pan da forma como o mesmo vinha sendo desenvolvido. E também, o quanto de (dês)razão dos que eram altamente favoráveis, como um dos representantes do CO-Rio em 2007, o senhor Carlos Roberto Osório. Em entrevista na mesma edição da revista Carta Capital, assim se posicionou em relação ao Engenhão (estádio João Havelange). “O projeto do Estádio (...) é de um nível espetacular. Em termos esportivos, nenhum estádio do mundo é mais moderno. Em minha opinião tem um futuro bastante interessante”.

O Botafogo que o diga.

Um comentário:

Anônimo disse...

O que Paula tem é caráter, compromisso verdadeiro com o esporte brasileiro é não com o espetáculo para saciar a vaidade dos dirigentes pavões e pés no chão diante da realidade brasileira que não tem base esportiva para bancar com o dinheiro do povo as Olimpíadas. Até quando o Brasil será o país do faz de conta?

Larissa