TÁ RINDO DO QUÊ MESMO?Olá, pessoal. Mais uma vez estamos aqui pensando coletivamente a necessidade de se organizar uma Olimpíada no Brasil, especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Estamos pautando os nossos argumentos, por enquanto, nas questões referentes ao Pan-Americano. Isso se justifica por quatro razões. I) foi um evento pensado como uma vitrine para as Olimpíadas; II) foi realizado na mesma cidade que protagoniza hoje o direito legítimo de sediar as Olimpíadas; III) foi o mega evento mais recente que tivemos e IV) muitas das figuras carimbadas do Pan estão também na luta pró-Rio 2016.
Nas duas primeiras postagens procuramos trazer à baila argumentos que demonstrassem como essa é uma atitude inócua quando se pensa em desenvolver o esporte brasileiro. Nomes de peso como o da Magic Paula foi apresentado e comentários suscitados pelo artigo completaram e reforçaram nossas idéias.
O colega do curso de Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana, professor Elson Moura, questiona: quais nossas prioridades? Medalha no peito ou comida no prato? Esporte para todos ou esporte para alguns?
Nossa colega Larissa também pergunta: qual a posição dos atletas brasileiros em relação à realização das Olimpíadas no Brasil? Pensam só em ganhar medalhas ou eles têm consciência que é o dinheiro do contribuinte, ou melhor, é o nosso dinheiro que financiará esse "circo? Até quando o Brasil será o país do faz de conta?
Esses comentários demonstram que não estamos muito satisfeitos com a direção que o esporte vem tomando hoje em dia. Os quadros que estão à frente da administração esportiva não têm dado muita satisfação aos que gostam e pensam o esporte numa outra dimensão. Pelo menos essa é a impressão deixada pelos freqüentadores deste blog. Professores, pesquisadores, esportistas, praticantes, etc, etc.
E essa insatisfação já começa a se notar também entre os grandes, entre aqueles que fazem parte do métier. Falamos de Paula, tivemos o Ronaldo, o incansável fênix, que esta semana externou sua insatisfação com o Ricardo Teixeira. Outros nomes de peso do esporte já se manifestaram também contra a figura deste senhor que certa vez disse que sairia da presidência da Confederação Brasileira de Futebol após a Copa de 1994. Como nós ganhamos o caneco, ele achou por bem continuar e estar até hoje. Homem de palavra esse senhor.
Filipão, Sócrates, Zico, Juca Kfouri, entre outros, já disseram em alto e bom som palavras que externaram suas insatisfações. Esses senhores precisam agora, de forma coletiva, levar a frente um movimento pró-retirada do Ricardo Teixeira da CBF. Que tal revitalizando o debate da CPI da Nike? Talvez fosse uma boa estratégia.
Voltando ao tema atual do blog, podemos notar nas enquetes que fizemos aqui mesmo no nosso
Esporte em Rede elementos importantes que embora não represente estatisticamente um “n” cientificamente legítimo para os padrões da academia, nos dar uma certa dimensão da realidade. Na primeira enquete, a opção de que o Rio de Janeiro não tem condições de sediar uma Olimpíadas teve 66% dos votos, contra 33% daqueles que acharam o contrário. Foram 21 os votantes.
Nossa segunda enquete foi sobre informação. Queríamos saber se os nossos visitantes estavam ou não suficientemente informados sobre o assunto. 22 pessoas votaram. Destas, 21 (95%) não se consideravam bem informadas. Tivemos um “iluminado”. Esse dado não só demonstra o óbvio (sempre dentro do limite do alcance do levantamento) como aponta que estamos longe de debater publicamente questões públicas. Poucos pensam sobre algo, consideram que esse algo é fundamental para o povo, mas não inclui o povo no debate.
Para quer debater com uma massa ignara?
A terceira e última versou sobre investimento. Perguntamos para onde deveria ir o dinheiro do Comitê Olímpico Brasileiro. 18 pessoas participaram da enquete. 12 (66%) favoráveis ao incentivo esportivo sem preocupação na formação do atleta; 4 (22%) favoráveis ao direcionamento para o esporte de rendimento e de base e 2 (11%) pessoas favoráveis apenas ao esporte de base.
No conjunto das enquetes, sempre reconhecendo os seus limites estatísticos como já mencionado, podemos inferir que os que pensam as políticas esportivas da nação estão muito distantes da maioria dos mortais. Eles dialogam entre si, operam entre si, e se favorecem mutuamente por dentro do Estado e das suas instituições.
Uns mamíferos de luxo que não largam as tetas do Estado desde muito tempo.
MEDALHA NO PEITO OU COMIDA NO PRATO?
9 comentários:
Somos todos pequenos perto da máfia que gerencia o esporte nacional. Não sei
se conseguiremos mudar isso a médio prazo.
Quanto ao quarteto citado, nem o fato de terem sido grandes atletas (grande
técnico, no caso do Felipão) e viverem no imaginário dos brasileiros os
alijará de terem revés se tomarem posição - veja o caso de Sócrates que quer
trabalhar com o esporte, foi estudar o gerenciamento esportivo,
especializou-se e não obtém espaço em qualquer lugar que seja. Penso que ele
tem que assumir e ser candidato a CBF, mas terá de fazer acordos com os
presidentes das federações e aí restam duas questões: ele terá estomago para
isso? Terá êxito, já que é de conhecimento público que ele quer mudar o
sistema e fazer o esporte crescer, ou seja, chega de jeitinhos no futebol?
Não estou dizendo para desistirmos, mas a luta é árdua, quando deveria ser
muito fácil eleger um Oscar, um Marcel, uma Paula, um Sócrates, Um Zico ou
um Gustavo Borges ou, ainda, um Tande para as confederações de suas
respectivas modalidades. Mas não é...
Fiscalizar. Divulgar. Orientar. Denunciar. Talvez seja esse o caminho.
Forte abraço. Fico na escuta...
Carlos Alex Soares
carlosalexsoares@gmail.com
Pelotas-RS
Muitos que defendem as Olimpíadas no Brasil, usam como argumento a importância do esporte para a vida das pessoas. Ninguém questiona tal coisa. Mas é necessário fazermos algumas perguntas básicas para os defensores das Olimpíadas no Rio de Janeiro: Quem será os maiores beneficiados com as Olimpíadas? O esporte brasileiro atinge as camadas populares? Podemos gastar tanto dinheiro em um evento esportivo quando tem gente morrendo nas filas dos hospitais ( Bélem do Pará sabe do que estou falando)? Podemos investir tanto dinheiro nas Olimpíadas quando a dengue ainda mata no Brasil ( os baianos sabem mais que ninguém do que estou falando)? Por que o povo brasileiro é deixado à margem na realização de um evento que será financiado com o dinheiro do mesmo? Por que não é consultado? Por que a mídia não fala a verdade sobre as Olimpíadas? Por que não traz à tona a discussão dessas questões que Welington pontuou tão bem no seu artigo? Sei que tais questões nem deveriam ser feitas diante das imagens postas no blog. São imagens reais, que falam por si mesmas. São argumentos irrefutáveis. São imagens irreconciliáveis com nossa humanidade. Qual a relevância das Olímpiadas diante de tais imagens?
Larissa
Welington, sou mais de acompanhar do que de meter a colher nos espaços virtuais, mas de vez em quando tento entrar no debate. Penso que é extremamente difícil pensar em mudar o esporte apenas sem alterar o próprio contexto que o produz. as confederações e fedarações e o COB e a CBF são a ponta de um iceberg de corrupção e interesses de empresas que lucram muito, muito com as coisas como estão. A CPI da NIKE foi um momento interessante para ver os lacaios destas empresas se articulando no Congresso Nacional - ficaram conhecidos como deputados da bancada da bola - num esquema fortíssimo fazendo com que acabasse em pizza. As mudanças que buscamos no ãmbito do esporte dizem respeito a mudanças mais ampla que inclusive apontem pra alterações profundas no modo de vida. Por isso não podemos mais separar os objetivos imediatos dos históricos. A possibilidade de uma sociedade mais humana não pode ser mais um "tempo de estio". Claro, conforme já foi dito aqui mudar as coisas não é tarefa fácil e nem compete a uma pessoa só - tipo one man, one show - é tarefa coletiva, diuturna e cuja realização não pode ser medida pela intensidade (se não os cansadinhos desistem e ficam nos enchendo com sua eternas lamúrias de vítimas, para render uma homenagem a Gramsci) mas pela necessidade. Cada vez mais me convenço que Marx tinha razão quando dizia que conclamar as pessoas para acabar com as ilusões é conclamar as pessoas para acabar com uma situação que necessita de ilusões.
Belo espaço, boa discussão
Cláudio Lira
Tema muito bom este!
Todos nós sabemos que é extremamente complicado mudar esse tipo de problema em nosso país. Temos um histórico não muito confiável, quando tratamos do assunto de politica, parece até que vivemos na Etiopia país onde muitos passam fome e quando aparece um prato de comida todos querem comer tudo, e o tempo todo.
Hipocrisia seria a palavra mais correta para definir o país em que vivemos. 95% dos politicos e dos homens que tem cargos importantes, são hipocritas. E o mais incrivel, é que nós ficamos elegendo nomes de possiveis pessoas que possam substituir. Seria essa a solução? Ou seria mais uma decepção? Somos omissos e quando não somos, temos a solução temporária.... vide exemplo de Fernando Collor de Mello que furtou o dinheiro público e hojeestá de volta 17 anos depois como Presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal. Podemos até pensar, é muito tempo! Caros amigos, quantas pessoas ficaram sem estrutura financeira?Quantas pequeas empresas faliram? Perguntas como essas vão ficar sem resposta por muito e muito tempo.
Acho até louvável a tentativa de sugerir nomes como: Paula, Oscar, Zico.. dentre outros, mais a fatia do bolo é muito grande e nunca teremos a garantia de na hora da fome eles não vão resistir. PELE É QUE FOI MINISTRO DO ESPORTES, CRIOU A LEI ZICO QUE HOJE CHAMAMOS LEI PELÉ E QUE MUITA GENTE NÃO SABE PRA QUE É!
UM GRANDE ABRAÇO
CARLOS RIBEIRO
CARLOSHP@POP.COM.BR
Pelé, um ídolo com pés de barro.
Caro colega Welington. Sempre politizado e preocupado com nosso povo, com nossa educação... Parabéns! Assisti a uma reportagem na semana passada sobre dois professores de Karatê, medalha de ouro e bronze no PAN Rio. Eles assumem sozinhos um projeto social onde ministram aulas gratuitas do esporte para crianças carentes do interior de São Paulo. A matéria me deixou comovida e, ao mesmo tempo indignada com o ministério dos esportes. Um dos atletas recebe por mês R$800,00 do clube no qual faz parte. Paga a faculdade e se sustenta (Deus sabe como). Ao ganhar a medalha, recebeu do governo uma bolsa atleta do programa "Faz atleta". Esse ano a bolsa foi cortada. (ninguém sabe o motivo). E o projeto continua firme e forte, com o suor do seu rosto e a boa vontade de quem tem o coração puro e não desiste nunca. Como ele mesmo relatou: "Meu pagamento é o sorriso dessas crianças". É isso ai, meu amigo! Esse negócio de Pan, Olimpíadas, Copa do Mundo aqui no Brasil... fala sério! O buraco é muito mais embaixo. A saúde pede socorro; A Educação pede socorro: A Cultura pede socorro... As Patologias sociais precisam de cura URGENTE!!!
Abraços
Luciana Moraes Santana. (Espoleta se preferir..)
Zé Ramalho canta em sua música "O meu país": " ... um país que engoliu a compostura/atedendo a políticas sutis/que dividem o Brasil em mil brasis/prá melhor assaltar de ponta a ponta/pode ser o país do faz-de-conta/mas não é, com certeza, o meu país. Tô vendo tudo, tô vendo tudo/mas,bico calado, faz de conta que sou mudo."
Não vamos ficar mudos diante da indecência de gastar tanto dinheiro nas Olimpíadas, seja ela no Brasil ou no "raio que o parta", quando a realidade é uma multidão de pessoas sem moradia, sem comida, sem saúde.
Deus meu, não tenha compaixão, pois, os mamíferos de luxo sabem muito bem o que fazem.
Eu sou professora de escola publica em uma cidade do interior, e lendo estas postagem uma coisa mim chamou a atenção!!Essas fotos!!!Pretendo imprimir e levar para a minha turma de 5º ano para fazer um trabalho de reflexão e pesquisa na minha aula!!Parabéns isso realmente diz tudo!!"Medalha no peito ou comida no prato?"
É muito importante para todos nós que participamos do Esporte em Rede, perceber que as nossas imagens e reflexões potencializam ações pedagógicas, no mínimo, interessantes. Mais importante ainda, é reconhecer que ainda existem professores e professoras sensíveis às causas emancipatórias da humanidade. Armar a juventude para a transformação social, para a revolução socialista/comunista é um possível caminho e para muitos o único, com potencial de deter a barbárie que nos assola cotidianamente. Como disse um outro professor, Cláudio Lira, "não podemos mais separar os objetivos imediatos dos históricos". Para tanto, ainda segundo o mesmo professor que se pauta em Marx, "conclamar as pessoas para acabar com as ilusões é conclamar as pessoas para acabar com uma situação que necessita de ilusões".
A educação escolar, se não é a saída, é, com certeza, um caminho imprescindível para o processo de destruição deste sistema capitalista que tenta destruir à todos.
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