quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O SURPREENDENTE PROJETO EL@ LUTA




Num final de aula, a então estudante do curso de Educação Física da UEFS, Liamara Martfeld, me procurou com todas as dúvidas de quem quer se aproximar e apresentar para os seus alunos, algo que está distante dos estudantes em várias esferas do ensino: - Como vou trabalhar o conteúdo lutas na escola, David? Este episódio me foi recordado com emoção e algumas lágrimas de felicidade pela própria “Lia” justamente na realização da segunda edição do seu El@ Luta. Projeto que busca apresentar o percurso histórico e social das lutas, desenvolvendo conceitos e habilidades relacionados a este conteúdo da cultura corporal.

            Já seria um grande avanço planejar, coordenar e executar numa escola pública, da rede municipal de ensino e todas suas limitações, um conteúdo que passeia pelo consciente de uma grande parcela de nossa sociedade relacionado à violência. E claro, compreendendo como é corrida a vida de uma professora que precisa estudar, planejar e cumprir sua carga horária de ensino, desempenhando suas outras jornadas de trabalho, pois é mulher, numa sociedade contaminada com ideais que naturalizam sua exploração.

A colega foi além. Um de seus maiores objetivos é desconstruir a ideia de que meninas/mulheres não podem participar das lutas.



Sua metodologia, além de abordar o processo histórico de produção desse objeto da cultura corporal, questões de gênero e diversos preconceitos, se baseia também na apresentação dos traços essenciais de cada manifestação das lutas, que são as particularidades contidas em cada uma. A professora que não domina todas estas produções humanas, apresenta durante as aulas, através de jogos de oposição, os traços técnicos que constituem o boxe, Judô, caratê, Jiu-jitsu, Muay Thay, Kickboxing, MMA, Capoeira e este ano, acrescentou a defesa pessoal feminina. Por fim, convida os profissionais de cada luta para apresentar as técnicas mais avançadas em cada produção.

O projeto é surpreendente pelo conjunto de ações educativas, diretas e indiretas, que a colega propõe. Desmistifica a lógica de que, para apresentar um conteúdo na escola o professor precisa dominar totalmente o objeto, inclui toda a comunidade escolar (pais, estudantes, gestores, funcionários e professores) dentro do debate de superação de algumas “crenças” a respeito das lutas, se articula com a universidade, desde professores a estudantes de projetos como o Programa Institucional de Bolsas de iniciação à Docência. Participando do planejamento e execução do projeto.  Como também resgata e divulga importantes personagens no cenário das lutas em Feira de Santana. Como o mestre Gago, que já participa de duas edições do projeto, e Virna Jandiroba, uma de nossas promessas no MMA internacional.   



O meu desafio e do camarada e professor Elson Moura, nesta edição, ficou em apresentar o que tínhamos trabalhado no primeiro minicurso de defesa pessoal para mulheres e LGBTs da UEFS. Entretanto, havia algo de diferente do nosso projeto, a participação de meninos na oficina. Como professor de artes marciais para crianças, percebo o quanto é fundamental a desconstrução de preconceitos já nas idades iniciais, intervindo na fala, nas atitudes e ações, em prol da superação das relações submissas entre os seres humanos.

A violência contra as mulheres é fomentada desde a infância, pois a criança tem acesso a diversos tipos de meios que propagam a visão da mulher passiva, omissa e à disposição dos homens. Naturalizando à violência. Isso foi constatado em perguntas feitas durante a oficina, sobre propagandas de cerveja, entre outras. Esta naturalização também foi constatada numa pesquisa realizada pelas organizações Visão e Instituto Igarapé, com crianças e adolescentes entre 8 e 17 anos. Foi verificado que crianças em situação de vulnerabilidade socioeconômica percebem a violência (de uma forma geral) nos ambientes que estão inseridos (escola, casa e comunidade), mas, ao mesmo tempo, a sensação de segurança delas é elevada.

Incluímos no nosso plano de ensino, além das técnicas de defesa, ações de identificação de violência contra a mulher, atitudes que os meninos devem tomar diante de episódios de violência física ou sexual com suas colegas, como também, inclui-los na responsabilidade de não cometer, perceber e intervir nestas agressões quando seus colegas praticarem.    
É muito esperançoso observar eventos dessa natureza, que surgem do esforço e da preocupação de uma mulher com a comunidade estudantil que ela está envolvida, como também é esperançoso ver todo esforço coletivo durante a realização do evento. Não poderia esquecer da participação e do empenho dos professores da escola, dos alunos da UEFS, envolvidos no projeto, dos “oficineiros” e claro, dos estudantes da escola que leva o nome do grande ativista político e líder sindical Chico Mendes, assassinado em 1988 por lutar pelos seringueiros e pela reforma agrária, na região amazônica.

Liamara Martfeld me deu a resposta para a pergunta feita por ela, que descrevi no início do texto. Aliás, me deu uma aula. Parabéns, camarada!   

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Por que o Vitória não caiu?

Por que o Vitória não caiu?

Você pensa que foi por causa da chapecoense? Não.

Eu não cai porque fiz mais pontos que Ponte Preta e Atlético de Goiás.

Eu não cai porque tive mais vitórias que o Avaí.

Eu não cai porque fiz mais gols que o Coritiba.

Eu não cai porque quando tinha 12 pontos e estava na lanterna soube me recuperar e terminei com 43 pontos e soube superar as adversidades e para isso venci o líder e campeão Corinthians em São Paulo, ganhei do Flamengo no Rio de Janeiro, venci a batalha com a Ponte em Campinas, virei um jogo improvável contra o Botafogo.

Eu não cai porque joguei, lutei e acreditei até o fim.

Eu sou Vitória e não jogo a toalha jamais.

(Texto Anônimo)

Economia do Esporte

Com as classificações dos times já consolidadas, em função do término do Campeonato Brasileiro da Série A deste ano, veja quanto o clube do seu coração vai ganhar de prêmio em dinheiro da Confederação Brasileira de Futebol.


terça-feira, 21 de novembro de 2017

JUNINHO PERNAMBUCANO PODERIA ESCALAR UMA SELEÇÃO






Na minha infância, mais precisamente, década de 90 em Recife, capital pernambucana, um moleque de quase 18 anos perturbava meus fins de semana de clássicos Sport x Santa Cruz. Eu torcedor doente do tricolor do arruda, sofria em ver alguns lances daquele pós-adolescente com cara de “playboy” jogando aquele futebol todo. Claro, precisou que os ponteiros do relógio desse algumas voltas, que eu passasse por algumas experiências pessoais para que eu, fiel da coral, chegasse diante da minha tela de computador pra colocar o nome desse, “pivete”, num texto pra falar de seus feitos dentro e fora dos gramados. Inferno coral, me perdoe!
Juninho não é herói. Deixo bem claro que não faz parte do meu “jogo” ficar nomeando salvadores para tarefas que devem ser feitas por mim mesmo. Isso é coisa de "técnicos" caras-pintadas, que já erraram na escalação dos seus centroavantes há algum tempo. E como trocam de atacantes viu? Primeiro foi o Joaquim Barbosa, depois o Eduardo cunha, Aécio... Até chegar na contratação curiosa de um jogador que nunca fez um mísero golzinho, mas já está treinando com investimento público por alguma décadas, e com sérias possibilidades de ser escalado para o time principal.
Acho que a experiência que o atleta acumulou nos seus 22 anos de futebol e claro, contrariando minha expectativa de que o futebolista fosse na década de 90 playboy, como o próprio já afirmou em suas redes sociais que é filho de militar de baixa patente, lhe condicionou a produzir algumas análises da realidade diferente da maioria. Seus discursos e, não podemos esquecer, “indicações” ultimamente vem me surpreendendo. Principalmente, quando se trata de uma figura pública que toma posições políticas diferentes da empresa que o contratou e que também tem o poder de decidir alguns “jogos”.
Primeiro Juninho marcou um golaço, solicitando a expulsão de seguidores (daquele jogador) em suas redes sociais. Aquele, que falei que há algum tempo está por ai sem marcar gols e mesmo assim é uma crescente possibilidade de jogar no time principal. O camisa 6 (seus mandatos como deputado), Jair Bolsonaro. Uma jogada, considerada por mim ideal contra o fascismo. Me lembrou Eric Cantona dando uma voadora no hooligan fascista Matheus Simmons, em 1995, só que de uma forma mais suave, literalmente: “Vaza Bolsominions, te respeito fora de meu twitter!
Suave sim!
E como numa premiação dos melhores do ano do campeonato, o craque elegeu o melhor jogador da temporada: Um zagueiro! 



Espero que suas próximas indicações (comentários) girem em torno de um grupo de “(em)boleiros” que há algum tempo eram divisão de base e que hoje, possuem alguns atletas atuando como profissionais em times pelo Brasil afora. Suas táticas são antigas, copiadas de uma conhecida equipe de futebol alemã de 1936. Gostam de driblar a atenção da geral com um toque de bola rasteiro, sem fundamentos, e de proteger o craque da equipe, que apesar de parecer um senhor senil, adora dar uns carrinhos por trás e estimular a diretoria do clube a terceirizar os lucros nas “costas” dos pobres torcedores. Oriundos do Austeridade F.C. MBL e Michel Temer. Ultimamente, para deixar seu protegido longe dos holofotes, esses jogadores estão forçando o jornalismo e a torcida a focar em homens nus que invadem o jogo, como intervenção artística.

Vamos encerrar nosso bate bola. Como sugere o título do texto, o comentarista poderia escalar uma seleção dos melhores do ano, com banco de reservas, comissão técnica e tudo que se tem direito. Não custa nada sonhar, mas, como um torcedor de um time que fez história em Pernambuco, um time que levanta multidões em qualquer série do campeonato que estiver, torço para sairmos da apatia nessa temporada e que façamos como numa final de campeonato diferente: Invadir o campo, ocupar o gramado e decidir novas regras para esse jogo. Quem sabe até, criar um campeonato só nosso.



sábado, 7 de outubro de 2017

No futebol da Noruega, homens doarão quantia para que mulheres tenham mesmo salário que eles

Um acordo histórico foi anunciado pela Federação Norueguesa de Futebol neste sábado. A partir de agora, homens e mulheres receberão pagamento iguais quando defenderem a seleção de futebol do País. E mais: a equipe masculina vai contribuir financeiramente com o time feminino. 

O valor pago às mulheres vai praticamente dobrar, passando de 3.1 milhões de coroas norueguesas para 6 milhões. A quantia já inclui a contribuição de 550 mil coroas que os homens darão às compatriotas, dinheiro que eles recebem de publicidade. 

“A Noruega é um país onde a igualdade é muito importante. Acredito que seja algo inédito e essencial para o país e para o esporte. Na Dinamarca, ainda estão negociando. E nos Estados Unidos, a situação tem melhorado. Mas devemos ser o único país onde homens e mulheres são tratados igualmente”, disse Joachim Walltin, líder da união nacional dos jogadores. 

Meio-campista, Caroline Graham Hansen escreveu em sua conta no Instagram para agradecer aos atletas da seleção masculina pela ‘doação’. “Obrigada por nos ajudarem a darmos esse passo. Por apoiarem a igualdade, tornarem tudo um pouco mais fácil. Por compartilharem dos nossos sonhos.” 

Os detalhes do acordo ainda estão sendo costurados. Mas a ideia é que as jogadoras recebam uma quantia mensal, dependendo de quantas vezes forem convocadas, enquanto os homens terão pagamento anual. 

“Para as meninas, com certeza fará diferença. Algumas delas trabalham e estudam, além de jogarem. E mais do que o dinheiro, terão o sentimento de serem respeitadas. A federação enxerga a decisão como um investimento para melhorar o nível da seleção feminina”, completou Walltin.

Retirado do site UOL

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Os jogadores da NFL estão dizendo algo

                                                                   (imagem: O Globo)

Um dos esportes mais consumidos pelos norte-americanos está passando por um momento de euforia política, dividindo patriotas e defensores da “liberdade de expressão” norte americana. Na realidade, trata-se do fenômeno esportivo materializando as relações mais gerais dentro das suas 4 linhas. Desde a eleição que nomeou Donald Trump presidente dos Estados Unidos, uma cortina de medo e revolta paira sobre a população que já sofre há algum tempo com o genocídio do seu povo negro. Seus discursos carregados de incentivo à divisão racial, religiosa e claro instigando a xenofobia, desenterrou alguns monstros, como a passeata da extrema-direita em Charllotesville, suásticas decorando fachadas de residências e vandalismos em templos muçulmanos.
Um quarterback é o protagonista de um crescente movimento político dentro do evento que movimenta milhões em transmissão, vendas de ingresso e lucros em produtos licenciados. A mais ou menos um ano, Colin Kaepernick, ex- San Francisco49ers, hoje, desempregado, iniciou uma onda de protestos simbólicos durante o início das partidas da liga, mais precisamente durante a realização do hino nacional norte americano. O jogador ajoelha-se em protesto. O que para vários patriotas significa uma afronta, uma injuria, para ele é um ato em resposta ao genocídio do povo negro contra a violência estatal nos EUA.

                              (Colin, de joelhos, durante a execução do hino)


Alguns críticos creditam a demissão do atleta e a sua não contratação ao seu mau desempenho durante algumas partidas, entretanto, o incomodo do presidente Donald Trump, que chegou ao nível de chamar o atleta de “filho da puta” e a solicitar que os amantes do fenômeno esportivo deixem de prestigiar os eventos da NFL, nos indica que algo de maior há por trás da polêmica. Assédio moral e ameaças também fazem parte das declarações do mandatário: “Se os seguidores da NFL se recusarem a ir aos jogos enquanto os jogadores desrespeitarem nossa bandeira e nosso país, vocês verão uma mudança rápida. Demitam ou suspendam [os jogadores]”.
Essas declarações causaram uma onda de solidariedade a pauta do quarterback. Inclusive, equipes que fizeram doações de campanha ao presidente racista, se posicionaram em suas redes sociais contra seus comentários. Obviamente, seria uma contradição muito grande se as equipes não se posicionassem a favor dos seus atletas negros, que são maioria dentro do esporte. O que causa dúvidas é se, realmente foi um ato gentil com essa população financiar a campanha de um candidato que sempre se posicionou segregacionista. Até a década de 60 no país a comunidade negra sofria com leis de segregação racial e hoje, possuem piores moradias, piores postos de trabalho e lotam os presídios.  
Por outro lado e dentro da perspectiva da causa negra, diversos jogadores aderiram à manifestação durante as partidas nos EUA e no mundo, inclusive, celebridades do mundo da música, artistas, apresentadores de TV e produtores musicais, utilizando em suas publicações nas redes sociais a hashtag #TakeTheKnee. O que demonstra um enfrentamento ao presidente e a todo o contexto, sem esquecer do peso simbólico que é uma representação esportiva encarar toda a lógica econômica por trás desses grandes eventos, na luta por uma causa. Me lembrou Tommie Smith e John Carlos, com seus punhos cerrados nas olimpíadas do México, em 1968.
O esporte instigando uma mobilização política de enfrentamento, diante de um cenário de recrudescimento da moral conservadora, racista, fascista. Se observarmos na nossa história e em outros “estádios”, o esporte já serviu de objeto de hipnose (do grego hipinos = Sono, Latin osis = ação ou processo) das massas, particularmente no período da ditadura civil/militar, e na Alemanha nazista. O que unia todos no “mesmo sentimento”, num momento histórico parecido, agora divide opiniões e críticas. Coloca em exposição mazelas sociais que pareciam invisíveis, e provocam à reflexão se realmente existem ambientes propícios ou adequados para se discutir, expressar, ou denunciar a violência de uma forma geral, já que vivemos numa “democracia”. Uma excelente pauta para nossas aulas na universidade, escola, academia...
            Uma boa oportunidade para nós da Educação Física, ou não, refletirmos sobre nossas práticas, já que nossa conjuntura não é tão diferente. Além do genocídio do povo negro em nosso país, estamos passando por um desmonte das universidades públicas, nos programas de incentivo e permanência de estudantes e de atletas (o governo enviou uma proposta orçamentária reduzindo 87% das verbas disponíveis para os programas do ministério dos esportes), que vai afetar resultados de uma maneira geral. Na escassez de concursos públicos e no fortalecimento da lógica de que o local do/e o acesso ao esporte é exclusividade da esfera privada.      

Deixo, por fim, um recado bem interessante. Não precisamos esperar o momento do hino!

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
(Intertexto – Bertolt Brecht)

REFERÊNCIAS


terça-feira, 19 de setembro de 2017

La mano de Jô: o que não só o juiz não viu

Por Elson Moura

No último dia 17 de setembro do corrente ano, no jogo Corinthians e Vasco pelo campeonato Brasileiro, um lance escandaloso definiu o placar (1x0); um gol de mão do atacante Jô. O gol definiu a vitória para o Corinthians e fez sua vantagem para o segundo colocado, o Grêmio, chegar na casa dos dez pontos. Desde então uma enxurrada de críticas tem desabado sobre o atacante do líder do campeonato. 

Para agravar a situação, os críticos estão resgatando um lance em que Jô foi, na pior das hipóteses, um coadjuvante de um lance chamado no futebol de fair play (jogo justo). No campeonato Paulista deste mesmo ano, no jogo entre Corinthians e São Paulo, o atacante se envolveu em um lance que resultou em um esbarrão com o goleiro do São Paulo. Para o árbitro da partida Jô mereceu o cartão amarelo. Ele chegou a aplicar. Foi quando o zagueiro do São Paulo, Rodrigo Cairo, o fez retroagir da decisão se acusando como aquele que esbarrou acidentalmente no goleiro. Isso possibilitou a Jô jogar a próxima partida. Se “amarelado” fosse, estaria suspenso pelo segundo cartão. O atacante do Corinthians não poupou elogios à atitude nobre do zagueiro adversário. Zagueiro este que enfrentou problemas com parte da imprensa, com o próprio técnico, colegas de clube e a própria torcida. O famoso "fogo amigo". 

Em outro clássico do mesmo campeonato, desta vez contra o Palmeiras, uma expulsão injusta de um jogador do Corinthians resultou numa crítica contundente do nosso personagem em questão. Para Jô, os jogadores do Palmeiras se omitiram ao não revelar ao árbitro que a expulsão era injusta (não tinha sido o jogador expulso o que cometeu a falta). 

Imagem retirada do site Gazeta Esportiva
Pois bem, para os críticos do Jô ele teve sua chance de demonstrar inclinação ao fair play dentro do futebol. Tal chance teria sido desperdiçada. E mais; após o jogo, nas entrevistas na chamada “zona mista”, o atacante se defendeu. Apresentou-se como um homem de Deus e afirmou que não sentiu a bola bater em seu braço; o lance foi rápido, ele se jogou na bola e não sentiu onde pegou. Continuou: se tivesse percebido, teria alertado o árbitro. Acrescentamos o fato de o Corinthians ser líder do campeonato, o time a ser batido. Um lance – irregular- que beneficie a equipe ganha uma dimensão amplificada.

A atitude do jogador não anula a responsabilidade da equipe de arbitragem por não ter visto a irregularidade da jogada. Um erro gravíssimo! Não à toa, pressionada, a CBF anunciou já no dia 18 de setembro que utilizará o recurso do vídeo para resolver questões polêmicas nos jogos. Aqui temos uma outra discussão que não cabe neste texto. 

Imaginamos que a defesa da equipe de arbitragem girará em torno do argumento de não ter visto o lance.

Aqui precisamente começa nossa análise. Até então apenas estávamos apresentando os fatos.

Parece-nos que não só os árbitros estão tendo problemas em enxergar as coisas. Ao criticar única e exclusivamente o atacante pela atitude, no mínimo, desonesta, alguns críticos parecem só querer enxergar aquilo que lhes convém. Vemos limites bem demarcados quando a crítica recai apenas sobre o indivíduo.

Primeiro destaque. Muito se falou que não devemos misturar futebol – e as atitudes desonestas- com a conjuntura maior de nosso país. Divergimos! O futebol não pode ser pensado como uma ilha isenta das contradições das relações sociais de produção no Brasil. Sequer pode ser pensado como algo imune à crise econômica, política e moral que abala nosso país. Ele é expressão singular das relações que estabelecemos; as macro e as micro. O surgimento do esporte de uma forma geral e seu desenvolvimento acompanhou pari passo o surgimento e desenvolvimento das relações sociais de produção capitalista. É só olhar para a história. Por outro lado, entendemos isso ser insuficiente para uma análise. Por ser uma expressão singular, além de ser pensado nesta generalidade, tem o futebol que ser pensado, também, naquilo que lhe é específico, singular. Em síntese, uma singularidade carregada de generalidade.

Foge ao objetivo deste texto abordar as questões mais ligadas ao geral. Fiquemos, por hora, com as questões singulares que, por si só, são carregadas da generalidade acima exposta.

Como Jocimar Daólio, no livro “Cultura, educação física e futebol”, expressou isso? Parte o autor do mesmo entendimento, ou seja, de que as questões inerentes ao futebol não estão desligadas do mais geral. Porém, ao tratar das singularidades cita um exemplo representativo. Nas relações cotidianas ainda impera a máxima de que o “homem não chora”. Ainda que esta expressão não seja literalmente usada, somos, homens, educados para tais princípios. Exceção feita ao campo e à arquibancada. Neste espaço singular, por tudo que ele envolve, é permitido ao homem chorar, expressar suas emoções.

Precisamos realizar este duplo movimento: singular-geral-singular... E ao fazê-lo evitamos a demonização do indivíduo que é, ao mesmo tempo, a preservação da lógica do futebol na sua expressão atual, de alto rendimento, e de todo um conjunto de contradições que carrega.

Esqueçamos um pouco o Jô e pensemos em outro tema bastante polêmico não só no futebol, mas no esporte de uma forma geral: o doping. A Revista Brasileira de Ciências do Esporte (v. 27, n. 1, p. 7-184, setembro de 2005) dedicou todo este volume à temática. Chamou-nos a atenção o primeiro artigo: “Doping: consagração ou profanação” de autoria da Dra. Méri Rosane Santos da Silva. Nele, a autora parece seguir na contramão da forma como os casos de doping são expostos pela grande mídia e apropriados pelo grande público, ou seja, a exclusiva demonização do atleta pego em doping. Para tal faz menção ao mercado do doping (laboratório, testes, antidoping, etc.) e ao rompimento com uma perspectiva romântica em relação ao esporte. Ao citar Escobar (1993), indica: ‘os princípios românticos que animavam o esporte há algumas décadas foram substituídos por outros menos altruístas e de maior afinidade com nossa sociedade de consumo’.

Ou seja, para discutir seriamente o doping no esporte, precisamos discutir uma expressão histórica do esporte, o de alto rendimento, em que o doping é quase que uma exigência. Ainda no artigo: 

[...] um sistema esportivo que se estabelece na performance e na busca incessante pela melhoria do desempenho do atleta, o doping pode ser considerado ‘uma estratégia racional’, já que o aumento do rendimento é ‘uma condição intrinsicamente ligada à própria natureza da competição esportiva’. Portanto, a ilegalidade do doping é absolutamente arbitrária e contradiz a sua própria lógica. (p. 14-15).

O que fazem com os atletas é o contrário; preservam a lógica do esporte intocada, atacam sistematicamente o indivíduo/atleta.

No documentário “Bigger, Stronger, Faster” (Maior, Mais forte, Mais rápido), a questão singular do esporte extrapola suas fronteiras para encontrar uma sociedade “em anabolizante” – expressão comumente utilizada nos Estados Unidos para identificar algo de desempenho mais intensificado. Estudantes usam substâncias para realizar exames, músicos nas audições, ator pornô para melhorar o desempenho, sujeitos “comuns” para melhorar a estética e, lógico, atletas para melhorar desempenho esportivo.

Voltamos ao Jô. Quer dizer, voltamos a uma lógica que envolve o jogador e que lhe dá a opção da trapaça. Diria mais, o pressiona para a trapaça. Negar isso é insistir na concepção liberal que pensa a organização social como um somatório de indivíduos isolados concorrendo entre si. Sucesso e insucesso é prerrogativa do que cada um, individualmente, realiza nesta lógica. São os únicos responsáveis.

Insistir nisso é querer impor à lógica das relações sociais uma especulação idealista do “dever ser”. Ou seja; ao invés de realizar uma análise concreta das situações concretas, esmiuçar ao máximo o objeto e fenômeno, para pensar nas possibilidades; limita-se a uma imposição de uma moral descolada desta mesma realidade. Uma moral – bem-intencionada na maior parte das vezes- que só existe na forma especulativa. Por isso o “dever ser”.

Nossa concepção, a materialista (histórico e dialética), aponta para uma outra direção. Sim; são indivíduos, mas o são como expressões singulares das relações sociais que estabelecem. Repito: as macro e as micro. A posição ativa que cada um ocupa no processo de produção e reprodução da vida vai determinar, em última instância, suas decisões (inclusive às futebolísticas). Isso não isenta o indivíduo de suas decisões ao mesmo tempo em que não isenta as determinações econômicas e sociais. São estas relações que devemos analisar minuciosamente. Pensando que o objeto é composto por uma multiplicidade de determinações e que se movimenta num eterno “vir a ser”.

Que poder tem um jogador de superar sozinho esta lógica? Quanto dinheiro está envolvido hoje no esporte, notadamente no futebol? Quantos patrocinadores condicionam seu apoio ao sucesso? Quantos sócios torcedores condicionam sua associação ao sucesso? Como se organiza inicialmente a cota da TV? Qual o conjunto de interesses não estão por trás de apenas um jogador de futebol? Que tipo de pressão ele sofre para obter resultados positivos? Como vem se dando a formação das novas gerações de jogadores? Uma formação toda ela voltada ao fair play ou voltada à necessidade vital da vitória (a qualquer custo)? A frase aparentemente inofensiva – “o importante é competir”, geralmente utilizada como consolo ao derrotado, além de expressar a lógica de concorrência, oculta a necessidade imperiosa da vitória.

Ao pensar que esta lógica supera inevitavelmente o fair play, ao mesmo tempo em que ressaltamos a postura do zagueiro Rodrigo Cairo, identificamos os seus limites. Uma atitude – positiva- pontual que tem o poder de mudar quase nada. A saída não nos parece individual.

Jô errou, pagou pela incoerência entre suas declarações e seus atos. A equipe de arbitragem também errou ao não enxergar o lance escandaloso. Mas erram também os que, intencionalmente ou não, ocultam e preservam a lógica de uma expressão histórica do esporte, a de alto rendimento, colocando todo peso nas costas dos indivíduos. Pegam o problema pela sua expressão aparente, pela periferia, pela superfície.

Nesse sentido, ao olharmos só para "La mano de Jô", demonstramos estar carentes de um olhar mais apurado sobre a realidade do esporte de uma maneira geral e a do futebol, em particular.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

PRIMEIRO MINICURSO DE DEFESA PESSOAL PARA MULHERES E LGBTs DA UEFS: UMA RESPOSTA NECESSÁRIA.



Nossas demandas cotidianas, trabalho, estudos, obrigações com o lar, vão consumindo nosso tempo e nossa capacidade de observar e reagir a algumas situações inadequadas que ferem qualquer convenção social mais simples. Prioridades implantadas nos corações e mentes através das relações individualistas e competitivas do capitalismo. Falta empatia, falta solidariedade, falta o respeito mínimo. Estamos deixando de enxergar o outro. Estamos deixando de nos enxergar.

Esta catarata anti-humano de longas datas já se faz presente na realidade de mulheres e LGBTs no nosso país e no mundo. Debates que não fazem parte da lista de prioridades de muita gente, até porque, dentro de uma lógica patriarcal de exploração dos corpos femininos e LGBTs, que precisam estar à disposição da dominação dos “insaciáveis” no sexo e claro, como instrumento de produção, é ameaçador alertar para alguns processos. Tipo, mulheres e LGBTs são seres humanos. Precisam ser atendidos pela mesma luz constitucional que ilumina os direitos e garantias dos homens cis, para exercerem o mínimo de dignidade humana. Precisam ir e vir com segurança, precisam acessar os espaços públicos ou não. E claro, sem sangrar.

Para se ter uma ideia, nosso país é um dos que mais assiste transexuais no Red Tube, canal especializado em reproduzir vídeos pornográficos. Somos um dos que mais consomem este tipo de pornografia, e, no entanto, matar uma transexual em plena luz do dia ninguém viu, ninguém vê, como a tortura e assassinato de Dandara, em 15 de fevereiro deste ano. Nos primeiros 50 dias de 2016, segundo a publicação da página Super interessante de 14 de junho deste ano, 13 pessoas foram assassinadas por serem transexuais.

É preciso se fazer entender sobre qual tipo de invisibilidade que falo. Não necessariamente convocando a empatia aos modos modernos do “poderia ser um parente seu”. A que nível nós chegamos? Tá difícil, mas certamente a ironia não é minha. Principalmente se observarmos algumas respostas dentro da justiça.

 Basta olharmos a jurisprudência. Ejacular numa mulher em um transporte “público” não é violento. Não cabe nem atentado violento ao pudor, pois, segundo o magistrado, não houve violência (decisão do Juiz José Eugênio do Amaral Souza Neto sobre o caso em que Diogo Ferreira de Novaes que ejaculou numa passageira, num transporte coletivo). Engels em 1884 na obra A Origem da Família do Estado e da Propriedade Privada já aconselhava que o direito, como outras instituições burguesas, contribuiriam para a perpetuação do patriarcado. O pior de tudo é que o agressor sabe que pode contar também com a invisibilidade de sua prática, com a culpabilização da vítima (1 em cada 3 brasileiros culpam a mulher - Datafolha, 2016) e com textos jurídicos que pouco dialogam com violência sexual. Os avanços conquistados por mulheres e LGBTs na esfera das leis foram: tipificação do crime (matar uma mulher virou crime hediondo), direito ao casamento, redesignação sexual, nome social, mas, pouco se avançou a respeito da violência sexual. Que faz vítimas e mais vítimas, minuto a minuto.  

Por hora, vai levar um tempo para que se alcance algumas alterações por meio da justiça, ou que se adotem ações educacionais efetivas a respeito do combate à violência sexual, ou não, contra mulheres e LGBTs. Aqui na cidade de Feira de Santana por exemplo, já tivemos projetos de políticas sustentáveis sendo repudiados por conter no texto um trecho solicitando igualdade de gêneros. E, vamos dar nomes aos bois. Foi o vereador Edvaldo Lima (PP). É preciso, como ação educativa, mostrar a cara dessas pessoas como também mostrar como é o trabalho de uma bancada evangélica conservadora na esfera municipal.

Foi pensando em todo este caos, invisível e silencioso, e logo após uma ocorrência no nosso “quintal” universitário que realizamos alguns encontros para organizar um evento que sabemos que não tem o poder de encerrar toda essa conjuntura, pois o problema é estrutural, mas, que garanta à mulheres e LGBTs condições de lutar por sua integridade física e de evitar a incidência destes quadros estatísticos. Condições que Dandara, Claudia, Rafaela, Vitor, entre vários outros não tiveram em situações de estupro, homofobia, misoginia. Não esquecendo que já era uma pauta de alguns coletivos a urgência de um curso de defesa pessoal na instituição.

Não somos institucionalizados, e isso é mais uma ação educativa, uma primeira resposta. A segurança dessas populações não foi um debate massivo, não chegou à todos na universidade. E se faz necessário, podemos dizer até urgente, um olhar mais específico, menos ingênuo ou policialesco, do ponto de vista da segurança. Os dados já nos mostraram que os agressores, na maioria dos casos, são pessoas próximas. Medidas que garantam o deslocamento desses estudantes para os banheiros sem que sejam violados. Que garantam o deslocamento entre os módulos, permanência na biblioteca, na fila do bandejão. Que garantam que poderão exercer sua autonomia intelectual em sala de aula sem serem agredidos fisicamente.

Oferecemos nossas horas livres para que pessoas se apropriem de técnicas de defesa pessoal, da mesma forma que outros grupos na história e quando foi necessário, responderam à apatia social ou jurídica. As sufragistas por exemplo, fizeram uso do Jiu-jitsu para se proteger nas manifestações quando entravam em confronto com a polícia na luta pela reivindicação de seus direitos, alvorada do século XX, na Inglaterra. Ou como, Partindo de uma realidade agravada por pertencer a uma etnia criminalizada num dado momento histórico, o transformista brasileiro João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã, fazia uso da capoeira nas noites cariocas. Última instância de quem reunia características sociais odiadas no período, e ainda hoje.

Respostas, que não poderiam ser diferentes quando as estatísticas nos provam que há um verdadeiro extermínio de mulheres e LGBTs. Que não podem ser as mesmas que alguns, por conveniência utilizam, como culpabilização da vítima ou dar às costas ao problema que cresce absurdamente. Se até nosso organismo quando é invadido por uma bactéria (um visitante indesejado e não autorizado ao nosso corpo) reage, e não de forma pacífica, então, porque mulheres e LGBTs tem que responder com o silêncio da sensação da impunidade? Da naturalização?


ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE O MINICURSO

Os módulos estão sendo realizados no parque esportivo da UEFS desde o dia 19/08, aos sábados, das 9 às 12 horas. Serão 6 módulos ao todo. Os participantes são 30 aluno(a)s de diversos cursos da UEFS, que se organizam em coletivos ou não.

A equipe organizadora é composta pelo professor Elson Moura, pelos egressos: Virna Jandiroba e Lucas Lima, e pelos alunos do curso de Educação Física, Gigliola Souza, Lucas Nunes e David Torres. Colaboram também nos encontros os estudantes Bruno Barros, Marivaldo Andrade e o Professor de Jiu-jitsu Breno Lira.

Já existem 18 inscrições para participação de um possível segundo evento.     

REFERÊNCIAS



quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Formação unificada em Educação Física

Diante das últimas e recorrentes ofensivas do sistema CONFEF/CREF, esse primeiro de setembro reveste-se de importância ímpar para todos os que defendem uma formação unificada em Educação Física.

Não podemos ter receio de politizar o debate nem, tampouco, baixar a bandeira desta formação unificada, contra a fragmentação do conhecimento historicamente desenvolvido na área.

Então, os professores que já estão há mais de dez anos no mundo do trabalho, não estão aptos ao exercício da profissão simplesmente porque um agente externo à Universidade diz que não? E a prática concreta desse profissional durante todos esses anos, não diz nada? Não informa nada? Que história é essa?. Iremos ficar a reboque do CONFEF/CREF? Até quando? É ele que vai pautar o conhecimento necessário de ser conhecido pelos professores da Educação Física? É sério isso?

Nós, professores e estudantes, precisamos de organização, estudos sistemáticos, recuperar o debate que foi silenciado por uma conjuntura imposta pelo fenômeno do "recuo da teoria" e dos "jogos de linguagens" próprios ao contexto de "esvaziamento e desvalorização do professor".

Precisamos, inclusive, incluir no debate a precarização da formação atual. "(...) nem os estudantes da Licenciatura e nem os do Bacharelado possuem uma formação que realmente traga elementos que contribuam para sua prática pedagógica". E pedagógico aqui não se resume ao âmbito da escola. Que fique bem entendido."Antes de sermos técnicos, instrutoras, treinadores, somos fundamentalmente professoras e professores. Reconhecer esse fato significa entender que onde estivermos atuando, estaremos (...) trabalhando com a formação humana, através e com as especificidades de nossa área, tratando pedagogicamente os temas da cultura corporal, seja no clube, nas escola, na academia, no hospital, no hotel, na praça, etc".

Lutar pela unificação da formação não significa negar conhecimento de nenhum campo de atuação. Queremos unificar não para privilegiarmos o conhecimento do campo "a", "b", ou "c". Mas para proporcionar uma compreensão ampla sobre os conhecimentos da fisiologia, pedagogia, biologia, filosofia, anatomia, sociologia, história, saúde coletiva, primeiro socorros, biomecânica, etc, etc, etc.

E não quero nem falar sobre o fato deste debate dividirem, também, os próprios professores e estudantes. Na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), por exemplo, esse fenômeno da divisão da formação já criou até adjetivações do tipo "pedagogentos" e "fisiologentos". O feudo dos que defendem a escola e dos que defendem a academia. Nada podia expressar maior reducionismo e esvaziamento do debate científico do que essas expressões, o que é preocupante no contexto da universidade que se baseia, entre outros, no desenvolvimento da ciência. 

Imbuído de argumentos científicos, devemos enfrentar o debate da formação do professor de educação física, contra as ingerências do sistema CONFEF/CREF. A luta é diversa. A prática social tem demonstrado isso e não podemos fechar os olhos para os fatos.

Portanto, as frentes de luta são mediadas pelo contexto do imediato (estratégia de filiação ao sistema para garantir a atuação e o direito ao trabalho - o que é um absurdo, pagar para trabalhar. Tem lógica isso?); mediato (o debate acadêmico, pautado pelo conhecimento científico, papel da universidade) e o histórico (expressão de um projeto de sociedade em que a fragmentação do conhecimento seja uma lembrança distante).

Esses momentos não devem ser compreendidos como etapismo. Elas se relacionam. O imediato, mediato e histórico têm determinações específicas mas, também, características que se interpenetram. Elas dialogam entre si.

Em um mundo do trabalho cada vez mais complexo, a fragmentação da formação é uma temeridade, além de significar o caminho mais curto para o desemprego ou o emprego precarizado.

Em síntese: a divisão é uma armadilha que nós não podemos aceitar. É um equívoco.

Por isso que, reiterando, esse primeiro de setembro que se aproxima é uma data ímpar para todos os que defendem a formação unificada. Lutemos, então!!!


(As citações presentes no texto fazem parte da cartilha de subsídios aos debates da Campanha Nacional pela revogação das atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação em Educação Física (páginas 09 e 10), produzido pela Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física - Gestão 2009-2010)

O que determinou o tempo de 24 segundos para o arremessos no basquete?

Eram 7.021 pessoas presentes no Minneapolis Auditorium, ginásio do Minneapolis Lakers, em 22 de novembro de 1950. O time era o atual bicampeão da NBA, a liga de basquete norte-americana, e enfrentava o Fort Wayne Pistons, que havia sido o vice-campeão da Conferência Oeste na temporada anterior. Os Pistons abriram um ponto de vantagem e o treinador Murray Mendenhall não teve dúvidas: mandou o seu defensor Ralph Johnson enrolar e segurar a bola pelo máximo de tempo possível.

As regras do basquete eram diferentes e não havia limite no tempo de posse de bola. Então, os Pistons ficaram praticamente o jogo inteiro tocando a bola de um lado para o outro da quadra. A torcida ficou impaciente e até mesmo os árbitros e os jogadores dos Lakers imploraram para que os visitantes tentassem anotar mais pontos. No fim das contas, a estratégia não deu certo. Os Lakers conseguiram fazer 3 x 1 no último quarto e viraram o jogo para 19 x 18, vencendo aquela que foi a partida com menor pontuação na história da NBA. Apesar da derrota, a tática foi considerada revolucionária para uns e terrível para outros: “Jogar dessa forma vai matar a beleza do basquete”, profetizou Johny Kundla, então técnico da equipe de Minneapolis.

Quatro anos mais tarde, a profecia de Kundla estava cada vez mais perto da realidade. O número de times da NBA havia caído de 17 para nove. Os jogos estavam cada vez mais monótonos e os times mais ofensivos estavam com dificuldades para dar velocidade ao jogo graças ao tempo em que os adversários passavam na defesa. Em uma reunião informal, envolvendo três apaixonados por basquete, surgiu a fórmula que salvaria a NBA do fracasso completo, como conta uma reportagem publicada pela Sports Illustrated, a principal publicação esportiva dos Estados Unidos.

Danny Biasone, dono do Syracuse Nationals (vice-campeão da temporada 1953-1954), Emil Baroni, responsável do Nationals pela análise das estatísticas, e Leo Ferris, o treinador, se reuniram em um boliche que também era de propriedade de Biasone para discutir o assunto. De posse de uma avalanche de dados sobre jogos, eles chegaram a um número mágico. Ao analisar as estatísticas, o trio concluiu que os jogos mais interessantes tinham em média 60 arremessos de cada time – ou seja, 120 arremessos ao longo de 48 minutos de partida. Aí ficou fácil: foi só fazer em um guardanapo a conta de quanto dava 120 dividido por 48 para descobrir que essas partidas tinham uma média de 2,5 arremessos por minuto. Ou um arremesso a cada 24 segundos.

A conclusão óbvia foi a de que, limitando o tempo de posse de bola a 24 segundos por ataque, os times fatalmente arremessariam uma bola a cada 24 segundos e todos os jogos teriam um índice próximo ao que o trio considerava ideal. O número não foi tão bem aceito de cara, pois uma corrente acreditava que os jogadores, sem ter consciência sobre o tempo de que ainda dispunham para concluir as jogadas, poderiam arremessar desesperadamente todas as bolas logo nos primeiros segundos. Foi isso o que aconteceu no primeiro teste da nova regra, em um amistoso promovido por Biasone reunindo jogadores universitários e jogadores do Syracuse Nationals.

A solução foi desenvolver um relógio para ser colocado no topo da cesta, o que ajudou os jogadores a se adaptarem à novidade e fez com que a regra fosse adotada. Mas outras falhas apareceram no caminho: em um jogo do próprio Syracuse Nationals, quando o tempo expirou, uma bola foi arremessada, acertou a tabela e voltou nas mãos de outro jogador do próprio time. A arbitragem não sabia dizer se o lance contava como um arremesso ou se a posse de bola da jogada anterior ainda não havia se encerrado, o que inviabilizaria a continuidade do lance. Uma reunião foi convocada para decidir a questão e concluiu-se que permitir que a bola fosse atirada deliberadamente na tabela para configurar uma nova jogada faria com que alguns times passassem toda a partida fazendo isso.

Consolidada, a regra logo foi aclamada pelo mundo do basquete. Quando foi adotada, na temporada 1954-1955, o recorde histórico de pontuação média por jogo havia sido registrado na temporada 1951-1952 e era de 83,7. Logo no primeiro ano com o shot clock a média foi de 93,1 e subiu progressivamente até chegar aos 118,8 na temporada 1961-1962 – até hoje este é o recorde histórico da NBA. A Federação Internacional de Basquete adotou a regra dois anos depois, em 1956, mas permitindo 30 segundos de posse de bola – apenas em 2000 a regra foi adaptada e se igualou à NBA.

O mesmo aconteceu com a WNBA, a liga feminina norte-americana, que surgiu em 1996 e adotou inicialmente os 30 segundos, reduzindo para 24 em 2006. No basquete universitário, o tempo limite só foi adotado em 1985 e era de 45 segundos, passando para 35 em 1993 e para 30 em 2015. O shot clock é tão importante para a história do basquete que em Syracuse existe um monumento dedicado a ele: trata-se de uma réplica do primeiro relógio usado na NBA.

(Matéria retirada do site Guia dos Curiosos)

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Venda de anabolizantes

Uma coisa é ser contra a maneira como uma determinada temática é abordada por um programa televiso como, por exemplo, novela. Outra coisa bem diferente é desconhecer os fatos.

Infelizmente, professores de educação física que trabalham em academia vendem drogas anabolizantes para quem quiser consumir no interior do seu local de trabalho e fora dele.

Óbvio que não são todos.

Nenhuma profissão está isenta de mal profissionais. Mas a maneira de enfrentar isso não é simplesmente repudiar o que foi retratado por uma peça da dramaturgia brasileira (em tese é obra de ficção) desconsiderando a realidade.

Sem nenhum critério científico, mas movido apenas por uma curiosidade momentânea, fiz uma "pesquisa" relacionada ao tema "venda de anabolizantes por professores de educação física" no Google e das 11 matérias que apareceram na primeira página, 08 retratavam o fato de professores comercializarem (para dizer o mínimo) drogas anabolizantes.

Essa polêmica que se criou em torno da trama global deve servir para reflexão profunda do nosso papel, ético e estético, frente aos desafios da nossa ação profissional.

Uma sugestão: que tal aproveitar a polêmica e tomando ela como ponto de partida, desenvolver uma pesquisa para investigar mais profundamente esse fato?

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Sobre vândalos e baderneiros

Vândalos e baderneiros são todos àqueles que trajados de paletó e gravata, sem queimar pneus e obstruir vias, impedem o desenvolvimento pleno da classe trabalhadora com a retirada dos seus direitos que foram conquistados duramente.

Se você um dia teve trabalho, carteira assinada, férias, entre outros direitos (até quando?), foi porque em outros tempos, os pais, as mães, os irmãos e irmãs, parentes, amigos e amigas ou seus conhecidos, desses que vocês facilmente adjetivam de baderneiros e vândalos foram às ruas e enfrentaram baionetas e canhões para garantir a dignidade do trabalho e do trabalhador.

Não se trata do direito de ir e vir. Trata-se do direito a dignidade humana que se expressa no e pelo direito ao trabalho digno e emancipador.

Acordem!!!

quinta-feira, 2 de março de 2017

Anandamida - o barato da atividade física


Quem diz que praticar esportes dá barato parece ter razão. Pesquisadores da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, descobriram que exercícios de longa duração, como maratonas, fazem com que o corpo produza um neurotransmissor que causa sensação de euforia e de relaxamento. Surpresa: não é a endorfina. A substância química liberada durante as atividades físicas é a anandamida, que estimula os receptores canabinoides dos neurônios - os mesmos ativados quando alguém fuma maconha.

Testes realizados em ratos mostraram que aqueles que corriam apresentavam menos stress e sensibilidade à dor.

Fonte: Revista Super Interessante. Edição 372. Março 2017. (pág. 18)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Imponderável futebol clube



Se você pensa que já viu de tudo no futebol, eis que uma simples cobrança de pênalti lhe demonstra o contrário.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Futebol: previsão de mudanças

Marco van Basten, ex-técnico da seleção holandesa, ex- jogador do Milan entre outros clubes, onde conquistou diversos títulos em todos pelos quais atuou e atual membro da FIFA, vem apresentando algumas propostas que objetivam, segundo ele, proporcionar uma nova dinâmica para o futebol.

Listaremos abaixo as sugestões do Marco van Basten. As mesmas, antes de serem enviadas para a international board, serão analisadas pela FIFA. São elas:

a) Fim do impedimento;

b) Fim dos cartões amarelos com exclusão temporária durante os jogos;

c) Extinção da disputa de pênalti;

d) Expulsão por acúmulo de faltas;

e) Somente o capitão do time poderá dirigir-se ao árbitro durante a partida;

f) Interromper a marcação do tempo de jogo em momentos específicos;

g) Permissão de uma ou duas substituições extras em caso de prorrogação;

Por fim, Marco van Basten propõe que em nenhum país a temporada tenha mais do que 60 jogos.

E aí, gostaram das sugestões?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Rubro-negras campeãs

Foto retirada do site oficial do Vitória
A temporada 2017 começou muito bem para o Esporte Clube Vitória. No último domingo, a equipe feminina desbancou a aguerrida equipe do Juventude, da cidade de Vitória da Conquista por 8 x 1 no santuário rubro-negro, o Barradão.

As meninas do Vitória já tinham aplicada no jogo de ida uma goleada de 6 x 0 trazendo para a soterópolis uma vantagem bastante larga e tranquilizadora.

O time de Canabrava para chegar às finais teve que eliminar nada mais, nada menos do que a equipe hegemônica do torneio, o São Francisco do Conde, dona dos últimos 14 troféus.

Título histórico, pois inédito para a agremiação rubro-negra, foi marcado também pela premiação da jogadora Verena, camisa 9, como artilheira da competição com 12 gols.

Na final do torneio (2016-2017), que contou com a participação de 10 equipes (Vitória, Lusaca, Ilhéus, ABRUP, Ribeira do Pombal, São Francisco, Juventude, Flamengo de Feira, Terra Nova e Catu), o destaque foi também para a presença da treinadora da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, Emily Lima.

Será que teremos alguma leoa na seleção? Aguardemos.