Tua boca que é tua e minha
tua boca não se equivoca
te amo porque tua boca
sabe gritar rebeldia
Jeff Vasques
No
meio do templo da paixão popular uma demonstração de carinho entre duas pessoas
se tornou num ataque homofóbico entre torcedores. O flagra foi no jogo Flamengo
X Vasco no sábado (17). As diversas páginas das torcidas flamenguistas, nas redes
sociais, estão repudiando o fato e prestando total solidariedade ao casal.
O
amor é um ato de coragem. Em tempos difíceis como estamos vivendo, onde até os
intestinos são convidados a se retrair, me orgulhou muito a bravura do casal. A
imagem soou aos meus olhos como uma flor no meio dos escombros. Me lembrou um
cartaz que dizia: Beije sua Preta em praça pública!
Eu
pensei em escrever, revoltado, o quanto nosso país é um dos que mais matam
LGBTQ+ no mundo. No quanto isso ainda é encarado como simples “brincadeira”.
Canalhas! Casais homoafetivos são coagidos diariamente. Sangram, sentem,
sofrem. Mas, respirando um pouco, observando um pouco mais a imagem, refleti
que não poderia marcar tal momento com o avesso do que o casal pregava. No
outro lado, eles querem o ódio. Não poderia ser igual a eles.
Eles
irão passar muito tempo ainda resmungando e perseguindo demonstrações de afeto
e carinho dos casais LGBTQ+ em público. Eles não suportam a felicidade. E é por isso que mais e mais imagens assim
deverão florir as arquibancadas do país. Eles não suportam o amor.
Não
se trata aqui de passar pano para o episódio homofóbico. Eles nos querem doentes,
revoltados a todo instante, bombardeados pelo chorume do ódio. Se não numa
declaração racista, num comentário imbecil, uma piada machista, ou eliminando
uma jovem vida na periferia, que sonhava em ser mais um artista nos gramados.
Querem nos ver aos cacos.
Lembrei
de Guimarães Rosa: Qualquer amor já é um
pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Portanto, no momento do gol,
beije seu dengo, sua “bença”, sua preta. Beije, dê-se ao direito do descanso,
de respirar o amor um pouco. Precisamos estar fortes e saudáveis para escrever
outra história, colocaremos eles no ralo dela. Já dizia o camarada
Chê: Endurecer, sem perder a ternura!
Obrigado
aos amantes pelo gole de saúde!