domingo, 9 de janeiro de 2011

A novela Ronaldinho Gaúcho

A novela intitulada Ronaldinho Gaúcho me lembrou duas postagens que socializei nesse espaço. Uma, a de abertura deste blog, intitulada Esporte: mero detalhe de business, postada no dia 19 de abril de 2009 e que mencionava a força do nome de Ronaldinho Gaúcho que centralizava em torno de si, pela capacidade de agregar valor a diferentes mercadorias, várias marcas de produtos comercializáveis, "de picolé a agência bancária, passando por cerveja, guaraná, desodorante, entre outros".

Foi uma postagem que retomava um texto publicado no sítio do Observatório da Imprensa nas vésperas da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Àquela época, Ronaldinho era o grande nome do futebol nacional e mundial, estava no topo da pirâmide futebolística e vivia o verdadeiro auge da carreira como jogador de bola.

A outra postagem é mais recente. Intitulada A volta dos que foram, foi publicada em 07 de fevereiro do ano passado e abordava justamente a volta de jogadores brasileiros que em baixa no futebol europeu, tornam-se  um ótimo negócio para o futebol tupiniquim. Ou melho, para usar uma linguagem mais correta, para o mercado da bola que se torna mais intenso nas proximidades do início de temporada do futebol brasileiro.

Dizia na postagem supra citada o seguinte: "Eis que agora o mercado da bola apresenta um movimento bastante interessante: a volta dos que foram. Refiro-me ao retorno de jogadores brasileiros de futebol que foram vendidos para times europeus e que agora retornam. Ronaldo, Robinho, Fred, Adriano, Wagner Love, Roberto Carlos..."

Se quiséssemos atualizar o texto, podíamos falar da revalorização do valor de alguns, que tendo retornado para o Brasil, se credenciaram a retornarem para os gramados da Europa. Foi o caso de Adriano, Robinho, Wagner, entre outros. Não se espantem, se amanhã, estiverem por aqui mais uma vez, desfilando em gramados e beijando o brasão do time (já quase invisível) ou a marca da empresa "x", "y" ou "z". Estas visíveis, com toda a certeza.

E o que tem tudo isso de mais? Nada! Absolutamente, nada!!! Na minha compreensão, tudo perfeitamente coerente com o movimento do capital mundializado. Tudo altamente dentro da ordem mundial ditada pelo capital financeiro.

O que me deixa estupefato é ainda encontrar manifestações de torcedores indignados pela atitude de Ronaldinho Gaúcho de não aceitar jogar no Grêmio em função da oferta que lhe foi dirigida. Não consegui acreditar na cena que assiti de gremistas abanando suas cédulas de dez, cinquenta reais, enquanto xingavam o jogador de mercenário. Até entendo a reação, pois foi lá dentro que o mesmo foi formado, lapidado e...transformado em mercadoria.

É isso que o torcedor apaixonado do Grêmio não consegue entender. Não se trata mais de Ronaldinho, mas de uma pessoa que teve a sua força de trabalho metamorfoseada em mercadoria. Futebol é negócio. Ronaldinho é uma mercadoria. Ponto final. Quem pagar mais, leva.

O que dá para problematizar, e nisso a imprensa silencia, mesmo reconhecendo que os patrocinadores entrarão com o montante maior de dinheiro, é saber como o flamengo e o próprio grêmio, extremamentes endividados, com um passivo altíssimo, dívidas no fisco entre outros, tem a permissão de entrar neste tipo de jogada.

18 comentários:

Elson Moura disse...

óóóóóóóóóóóóóóóótima postagem Welington!!
Férias e tal, dá para acompanhar as notícias dos “especialistas” sobre o mundo da bola.
Fico me questionando sobre a ingenuidade de muitos em relação a esta situação do Ronaldinho Gaúcho.
Dos torcedores vocês até entende (com certa dificuldade). Sua paixão acaba trazendo, como consequência, uma certa ingenuidade.
Mas por parte da imprensa ESPECIALIZADA... faça-me o favor!!
Por outro lado, pensando na imprensa, devemos ter cuidado. Se de um lado pode existir ingenuidade, por outro, pode existir um certo cinismo de quem sabe que o que determina é o mercado, mas precisa vender (também enquanto mercadoria) uma imagem "limpa" do esporte. SÃO OS PUROS!!!
Não podem deixar transparecer de que o esporte é hoje uma grande mercadoria e não adianta chorar!!
É VALOR-DE-TROCA NA VEIA!!!!!!
E nós?!?!!??
Eu to me preparando para pegar o "baba" do Sábado.
VALOR-DE-USO NA VEIA!!!
Abraços e parabéns pela postagem!!

Anônimo disse...

Prof. Welington, parabéns por mais uma importante postagem!
As vezes parece que gostamos de ser chatos, demonstrando todas as vezes a lógica que transforma uma atividade lúdica (para os que jogam e para os que assistem), o futebol, em uma mercadoria. Mas a culpa não é nossa, mas sim dos que tentam velar a realidade do futebol travestindo-o com um espírito romântico e apaixonado desatrelado da realidade contemporânea. Aliás, é esse ideário construído e suas características lúdicas que torna-o uma excelente mercadoria, favorecendo assim o processo de valorização do valor.
Indico que leiam a entrevista de Léo Rabelo,empresário FIFA nº01 do Brasil,realizado pela Globo.com, intitulado:'Futebol é uma mentira. O que o jogador vê é dinheiro' - http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2010/12/leo-rabello-futebol-e-uma-mentira-o-que-o-jogador-ve-e-dinheiro.htm. Reafirmo que não é a entrevista de um anticapitalista num meio de comunicação subversivo da ordem, ou seja, a realidade nem sempre é possível de ser disfarçada.

Forte abraço grapiuna,

David

PROF. ADRIANOV ZHUKOV/ TCHÊ disse...

PURESA NO FUTEBOÇL, BEM COMO, NOS ESPORTES COMPETITIVOS NÃO MAIS EXISTE...O MALDITO CAPITAL E A MAIS VALIA IMPERA NO PLANETA....RONALDINHO É O FRUTO DESTE SISTEMA DESUMANO E ANIMAL QUE SE CHAMA "CAPITALISMO"....OS MERCENÁRIOS DEVEM SENTIR NOSSA REPULSA, BEM COMO, DEVEM URGENTEMENTE REAPRENDER O SIGNIFICADO DO "AMOR,COLEGUISMO E UNIDADE"...VIVA MARX/ENGELS,LENIN,HO CHI MIM,FIDEL,MANDELA,MARIGUELLA E O SEMPRE CHE....SAUDAÇÕES SOCIALISTAS CAMARADAS!!!!
www.zhukov.flogbrasil.com.br
www.flogao.com.br/zhukov

Anônimo disse...

Caro professor!!!


O seu post e todos os comentários são extremamente relevantes, contudo esquecemos de mencionar o próprio Ronaldinho e o seu frustrado irmão. Será que esse espalhafato todo não tem outra intensão? Ora vejamos, o R10 tem um bom tempo que não vem jogando esse futebol todo, comendo um banco horroroso no Milan, que também não é lá essa Coca-Cola toda, e agora fica vendendo um "vale a pena ver de novo" com preço de novela das nove de autor consagrado. Ahh meu caro ele quer é grana! Será que esquecemos epísódios parecidos com esse, mas discretos e sem a pirotecnia orquestrada pelo Assis, irmão do Ronaldinho? Lembremo-nos do centenário do próprio Flamengo, e do Timão, e caos como esses não ficam apenas no Rio ou SP, há casos em MG, PR e RS, e que deram no mesmo, ou seja, afundando o time em dívidas homéricas e o deixando numa depressão futebolística sem precedentes. Quantos Ronaldinhos já saíram das nossas equipes de base? Ele já teve a sua vez e fez o seu papel de maneira brilhante, agora exercendo a democracia, vislumbremos a oxigenação entre as quatro linhas, para evitarmos sofrimentos maiores em copas do mundo. O capitalismo impera no futebol, enquanto pagamos nossos ingressos para assistirmos o MELHOR FUTEBOL DO MUNDO, os nosso astros ficam bebendo e se desgastando nas noitadas e dando entrevistas formatadas por acessores de imprensa para uma imprensa tão ou mais capitalista que eles para tentar justificar o injustificável. Senhores!! Vamos à várzea, lá pode não ter o glamour de um campeonato europeu, mas tem o futebol penta campeão na sua forma mais pura e livre de qualquer contaminação!!

Abraços

John

E viva ao socialismo!!!!

Julierme Souza disse...

òtima postagem Professor Wellington!
É muito fácil ver a ingenuidade de uns e o cinismo de outros quando opinam em relação ao caso Ronaldinho e outros casos de jogadores/mercadorias e seus clubes. eu venho discutir o fato do Pelé ter dito que Ronaldinho deveria jogar de graça no Grêmio. Ora não devemos esquecer que os clubes de futebol são empresas e que movimentam muito dinheiro, não devemos esquecer também que Ronaldinho também é trabalhador e muito produtivo por sinal. agora eu pergunto: qual trabalhador trabalharia de graça em alguma empresa sabendo que a mesma estaria lucrando rios de dinheiro por conta dele? Ronaldinho é uma exceção, ou seja, um trabalhador muito bem remunerado pelo que produz, além disso sempre foi tratado como mercadoria, principalmente pelo Grêmio que no episódio da saída de Ronaldinho não demonstrou nenhum amor pelo jogador e lutou na justiça pelo dinheiro equivalente pelo seu direito federativo. em nenhum momento pensou se isso iria afetar o psicológico do jogador. afinal não se tratava de um menino indo trabalhar fora do país e sim de um produto que precisava trazer o retorno investido na sua produção.
quem quiser ficar do lado dos clubes/empresa que fique mas eu estou com o Ronaldinho/trabalhador.

Abraço a todoa

Julierme Sales, estudante Ed. Física UFBA - coord EXNEEF R3

Welington disse...

Valeu, Julierme. Seu comentário me inspirou uma observação na próxima postagem. Já tinha pensado sobre o posicionamento do Pelé em relação ao Ronaldinho e sua observação me inspira a tocar no assunto mesmo que en passant. Obrigado.

Anônimo disse...

Querido Wellington,
É sempre muito interessante passar por aqui para dar uma "espiadinha"...rss! Diante do exposto fico a pensar nas reverberações e nos desdobramentos (pra não dizer impactos) de tais evidências de mercadorização no universo escolar. Lembrei-me dos Jogos Escolares da Região de Irecê (JERI), quando as escolas particulares disputavam num "quem dá mais" para ter direito de exploração durante o certame de alunos habilidosos de escolas públicas que se destacavam nas modalidades esportivas. Bolsas de estudos, tênis, viagens, etc. faziam parte do acervo ilusório de sedução. Na verdade o que fazia diferença mesmo era a possibilidade do "Status" conquistado ao ser "contratado" por uma dessas escolas, já que a maioria eram de situação econômica bem desfavorável. Passado os Jogos, quase sempre esses garotos voltavam ao esquecimento e ao desprezo (quando não lesionados pelo estresse da atividade extra-corpórea vivido naqueles dias). A realidade se apresenta como recorte representativo dessas relações perniciosas, fragmentadas e alienadoras, valorizadas e massifcadas pela mídia televisiva (Urubus virtuais). O corpo a serviço do capital, não tão diferente das "bárbies", das modelos anórexicas, dos "bombados" e das "saradas"...Tão distantes da essência do trabalho humano e de seus contextos sócio-corporais . Coisas do capitalismo...E vamos ao leilão: Quem dá mais?!!!...

Atenciosamente,

Mauricio

Wdson Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Ótima postagem Welington,

Enquanto a massa se degladia pelo desejo de ter um "astro" no seu time do coração, eles (Ronaldinho e irmão) estão festejando mais um contrato milionário que será pago sabe lá por quem. Infelizmente o nosso país é o "país das facilidades" e o que presenciamos nestes últimos dias foi mais um episódio da impunidade que reina por aqui. Como pode equipes que estão no vermelho há tanto tempo disponibilizar recursos tão vultuosos para contratar um jogador? Isto é muito lamentável e cabe a nós, enquanto pessoas comprometidas com a justiça social, denunciarmos esses absurdos em todos os espaços de mídia que estiverem ao noso alcance e o seu Blog se consolidou como um desses espaços de denúncia.
Bons tempos idos aqueles em que os atletas se identificavam verdadeiramente com os seus clubes e torcedores. Naquela época o futebol tinha uma magia que encantava a todos. Hoje tudo se tornou mercadoria... até um gesto do atleta é explorado mercadologicamente pela mídia.
Uma pena que a massa ainda não consegue enxergar estes detalhes sórdidos do submundo do futebol... fica a esperança de que um dia as coisas possam melhorar!

Abraços e saudações socialistas amigo!

Prof. Wdson Vieira de Oliveira
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Welington disse...

Grande Wdson. Que prazer enorme "vê-lo" por aqui. Obrigado pela participação e espero encontrá-lo mais vezes aqui neste espaço.

Fábio Santana Nunes disse...

Olá amigos,

falando em mercadoria, na mercadoria (Ronaldinho) valorizar outras mercadorias; marcas de produtos e serviços (Welington falou bem), mas também os próprios produtos do futebol, a exemplo da camisa do Flamengo. Fiquei impressionado quando ontem ví da Tv as camisas do clube com o numero 10 e o nome de Ronaldinho, ele nem havia se apresentado ao mesmo.
Façamos um calculo simples, imaginemos que o clube venda apenas 200 mil camisas oficiais a a preço de 150 reais ( valor de mercado).Serão 30 milhores de reais de receita.!!!
Já daria para paagr o salário de jogador (1 milhão e 300 mil ou algo parecido) por 2 anos.
O resto é lucro!!!! Ou melhor Tudo é lucro e quem paga esta conta são os verdadeiros trabalhadores, AQUELES QUE TERÃO TRABALHO AS 5 DA MANHÃ, MAS MESMO ASSIM AS 22 HORAS DA NOITE ESTÃO AGUARDANDO O APITO DO JUIZ PARA INICIAR A PARTIDA DA LIBERTADORES EM PLENA QUARTA-FEIRA A NOITE. VIVA A ALIENAÇÃO E O QUE A EDUCAÇÃO fÍSICA ESTÁ FAZENDO NAS ESCOLAS/ DEBANTENDO ESTES ASSUNTOS???

Elson disse...

Olá pessoal!
Welington! Pemita-me apimentar o debate. Antes de você permitir, já vou apimentando.
Não são poucas as vezes de quando aparecem casos como este do Ronaldinho, termos expressões de indignação para com o consumo; seja da camisa, do jogo em si e tantos produtos ligados ao futebol.
Mas veja; será o consumo nosso maior problema?
Por que se for, temos um problema; de um lado temos o consumo como necessidade humana independente do tempo histórico; de outro lado, temos o consumismo tão necessário ao capital. Quem se atreve a definir concretamente a linha tênue que divide este dois campos?
Ou seja, algo inatingível. Ainda mais se tivermos enquanto pressuposto que temos o direito a ter acesso ao que de mais avançado é produzido pela humanidade. Eu quero o tênis mais evoluído que me ajude a correr (exemplo hipotético).
E aí, é o nosso consumo que se constitui como maior problema? Ou, de outro modo, é a "transformação” das produções humanas em mercadoria?
Se resgatarmos o sentido de produção humana para satisfazer necessidades do estômago e da imaginação, é possível que não tenhamos a necessidade de consumismos de qualquer ordem.
Aí em cima, alguém disse "viva o socialismo". Pois bem; só em outras relações sociais para termos resgatado o valor-de-uso (sem troca) das produções humanas.
Enquanto mantemos nossa militância pelo socialismo/comunismo, vivamos a cultura corporal pela dimensão do valor-de-uso!!!
Força na luta camaradas!!!

Anônimo disse...

Aprendi muito com os comentários de todo mundo, mas não vou mentir: mesmo não sendo torcedora do Flamengo, estou feliz pela volta de Ronaldinho. Me amarro no jeito dele jogar. Exemplifica o quanto o futebol pode ser bonito. É arte. É magia. Sei que pode acontecer com ele o que aconteceu com Adriano. Que seja bom enquanto dure.

Anônimo disse...

Lapso de memória no comentário anterior: Larissa

Welington disse...

Larissa, creio que todos nós tb gostamos do retorno do Ronaldinho Gaúcho. A questão, me parece não é esta. Gostaríamos que todos os nossos craques estivessem jogando pelos nossos gramados. A questão central é a invasão do marketing e a forma como o futebol vem sendo tratado.

Elson Moura disse...

Wellington e demais!
Desculpa tantas postagens, mas o assunto é muito legal e tô de ferias, tenho mais tempo etc.
Olha que interessante a Larissa trouxe; mesmo se tratando de mercadorias, isso não anula que elas tenham um valor-de-uso, ou seja, uma qualidade que nos encanta.
Quem, apreciador de futebol, teria a ousadia de dizer que o Ronaldinho (com todos os problemas de idade, festas etc.) não encanta os olhos?
Mesmo com toda mercadorização, está lá conservado seu valor-de-uso. É ele, inclusive, que legitima a troca do Ronaldinho por outra mercadoria, o dinheiro.
"Plataforma Freire", aí em cima, perguntou, de forma muito precisa, o que a EF está fazendo nas escolas.
Olha nosso desafio: revitalizar o valor-de-uso do futebol sem que este esteja sendo usado como mercadoria (valor-de-troca).
Difícil? Muito. Necessário? DEMAIS!
Força na luta lutadores da EF!!

Welington disse...

Valeu, Elson. É isso mesmo. E de férias ou não, comente sempre, sem desculpas (é o cupim da alma). Sua "presençá" é sempre oportuna e instigante. Abraços.

Anônimo disse...

Hahahahaha entendi direitinho o que vcs disseram, inclusive a forma como o futebol é tratado no sistema capitalista, mas eu apenas quis ressaltar o que o Prof Elson ( ele sempre vai no ponto, né?? ) explicou tão didaticamente. Mesmo sabendo da mercadorização do futebol ( cada vez mais aprendo com o blog do Prof. Welington ), eu ainda vou pra frente da TV com uma bacia (bacia mesmo ) de pipoca com o único objetivo de me encantar não somente com as belas pernas de alguns jogadores, como também com a beleza de um bom futebol. Tem coisa mais linda do que 22 pessoas correndo atrás de uma bola? Tem coisa mais linda do que Marta jogando futebol ( pena que o salário dela não é igual ao do Ronaldinho )?


Larissa