sábado, 8 de abril de 2023

Apesar das dificuldades e da desvalorização, os campeonatos estaduais permanecem vivos

Por Riva / 08 de abril de 2023 / sábado / 09h50

Não é de hoje que os campeonatos estaduais são questionados. A continuidade ou não dos campeonatos estaduais é motivo de um longo debate, mas, até o momento, os principais envolvidos - federações, clubes, sindicatos de atletas, veículos de comunicação - não conseguiram formar um modelo atrativo e lucrativo para os tempos atuais - principalmente para os clubes de menor expressão e com dificuldades financeiras. O debate em relação aos campeonatos estaduais é complexo e envolve situações relevantes. Vamos analisar algumas.

A rivalidade (sempre deixando bem claro que essa rivalidade não tem nada a ver com a violência estúpida entre "cidadãos" que dizem ser torcedores) ela permanece viva em todos os Estados. Essa disputa interna continua viva e é movida por uma paixão que é passada de pai para filho. Claro que essa paixão perdeu força, mas ninguém quer perder para o rival em nenhuma circunstância. Exemplo: o clássico Bahia x Vitória é disputado em alto nível de competitividade e, independente da situação dos dois clubes, movimenta os torcedores e a imprensa esportiva.

Depois da mudança do Campeonato Brasileiro para pontos corridos em 2003 e da otimização econômica da Taça Libertadores, Copa Sul-Americana e Copa do Brasil, os campeonatos estaduais passaram a serem vistos como título sem muita expressão. Não sei se realmente ficaram sem muita expressão porque quando um grande clube (independente do Estado) não consegue chegar na final ou perde o título causa uma enorme decepção e, em determinadas situações, se transforma em crise. 

Com a pré-temporada muito curta e os inexplicáveis critérios de demissões e contratações de atletas, técnicos e de outros profissionais, os clubes que têm orçamentos robustos e vão
disputar outras competições durante a temporada utilizam os campeonatos estaduais para montagem do elenco - uma espécie de laboratório. Esse modelo desvaloriza os campeonatos estaduais nas primeiras rodadas. Com exceção dos clássicos na primeira fase, os campeonatos estaduais só começam atrair as atenções à partir das semifinais.


A desmotivação dos torcedores, principalmente dos clubes do interior, aumenta quando os grandes clubes colocam os reservas para enfrentá-los quando o mando de campo não é na capital. Os torcedores desses grandes clubes que residem fora das capitais dificilmente têm condições de se deslocar para assistir as grandes partidas e os dirigentes aproveitam a oportunidade para aumentar os preços dos ingressos. A exploração é tão grande que existem jovens torcedores que nunca assistiram sua equipe no estádio.

As marcas mais conhecidas, as que não são tão conhecidas e as que estão surgindo no mercado, procuram ou são procuradas pelos clubes e veículos de comunicação para fazer a divulgação da marca no período em que é disputado o campeonato estadual. Podemos destacar duas situações que viabilizam a parceria entre as empresas detentoras das marcas, os clubes e os veículos de comunicação: 1) Como os campeonatos estaduais são disputados entre três e quatro meses, as empresas não precisam investir um valor fora da realidade para expor a marca. 2) Os contratos têm valores acessíveis para todos porque a competição é estadual. Diferente se fosse nacional ou internacional.

O investimento das empresas no futebol, a comercialização dos direitos de transmissão das partidas, a comercialização de produtos licenciados, os planos de sócio-torcedor e a bilheteria, são importantíssimos para gerar receitas e manter atletas, técnicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, massagista, roupeiros/mordomos, ambulantes, jornalistas, empregados durante a temporada.

Os clubes que só disputam os campeonatos estaduais e, portanto, só permanecem em atividade durante três ou quatro meses, não têm condições financeiras de manter a estrutura e as demissões dos profissionais é inevitável. Os profissionais que conseguiram se destacar e foram observados (tem um detalhe: nem todos que conseguem se destacar são vistos) são contratados por clubes que tem estrutura financeira.

Infelizmente, a maioria dos profissionais não conseguem êxito e só terão  oportunidade de retornar as atividades esportivas profissionalmente no ano seguinte e, para sobreviver, vão exercer outra profissão. O desânimo e a falta de perspectiva batem na porta e inúmeros bons profissionais desistem de trabalhar e viver somente do futebol.

Com os veículos de comunicação instalados em cidades em que os clubes só disputam os campeonatos estaduais não é diferente. A queda de receitas quando termina a competição é grande e, mudanças na programação esportiva - inclusive com demissões -, são inevitáveis.

No entanto, apesar dos pesares, os campeonatos estaduais no país permanecem vivos.

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