quinta-feira, 27 de abril de 2023

Corinthians versus sua história: anistia, não!!!

O futebol, no Brasil, não é apenas uma modalidade esportiva. É uma das expressões culturais mais relevantes, junto com o carnaval, o samba, a umbanda, entre outras. A identidade de uma nação de quase duzentos e vinte milhões de habitantes se expressa no gramado praticamente todos os dias, e é vista por milhares de brasileiros através dos mais diferentes meios de comunicação e informação.

Quando um político quer ser entendido pelas massas, quando ele deseja que a sua mensagem faça sentido para o eleitor, ele recorre a metáforas envolvendo situações que se apresentam nas partidas de futebol. Ferreira (2019), enfatiza que "o futebol é em si mesmo, no campo, uma metáfora da guerra, e os próprios jogadores são caracterizados metaforicamente (defesas e atacantes), bem como há chutes que são bombas e mísseis".

Através das metáforas, podemos transcender os aspectos imediatos - técnicos e táticos (por exemplo) - para expressarmos o futebol além das quatro linhas.

Nesta direção, podemos dizer que ontem, a batalha entre os "timoneiros" e os "remadores", projetada na telinha dos televisores, smartphones e afins, transcendia o drama técnico/tático. O  Corinthians não enfrentou o Remo. Ele enfrentou a sua história. O seu maior desafio não era reverter a vantagem do seu oponente, mas expressar fielmente os valores conquistados pelo movimento da "Democracia Corinthiana".

Não podemos nos esquecer que isso ocorre em um momento histórico específico: nós estamos tentando nos reconstruir após uma guerra interna, fruto de uma política neofascista, que ceifou a vida de mais de 700 mil brasileiros. O processo de reconstrução nacional passa por processos de várias curas. Isso é fundamental para um país que foi, desde a sua origem, violentado. Que se desenvolveu através da tentativa de eliminação dos seus povos originários e que até recentemente, vide a situação dos Yanomamis, continuava este processo. 

A violência, de qualquer ordem e exercida em qualquer tempo, precisa ser combatida. Ela não é só estrutural. É estruturante do modo de vida de uma nação. O Brasil, não nos esqueçamos, é o país que mais mata homossexuais. Em pleno século XXI, a população negra continua liderando estatísticas trágicas. Não podemos permitir sua naturalização. Combater a violência faz parte deste processo de cura. A impunidade dos nossos algozes não pode mais ser tolerada.

Ao entrar em campo, ontem, Cuca, então técnico do Corinthians, condenado na Suíça por participar de um estupro de uma criança de 13 anos, em 1987, trouxe a imagem da impunidade consigo. A imagem deste Brasil que flerta com o passado, que teima em não se modernizar. Mas nós expressamos, recentemente, que a Anistia não é uma solução para nossos problemas. E assim como “o futebol foi capaz de servir de palco para muitas preocupações e esperanças do povo brasileiro” (DaMatta) hoje, ele mais uma vez nos ajuda a reafirmar que #AnistiaNão!!!

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