No dia 30 de outubro de 2007 o Brasil e muitos brasileiros de todos os cantos vibraram pela escolha do país como sede da Copa do Mundo de Futebol.
Dali a pouco mais de seis anos e alguns meses, o país seria anfitrião da maior festa do futebol mundial. Um feito pleiteado por diversos países de diferentes cantos do mundo.
Poucos meses nos separam daquele dia para a abertura do evento. 2014 chegou acompanhado dos inexoráveis e amadurecidos dados da realidade. De lá para cá muitas coisas ocorreram. Águas e mais águas passaram por debaixo da ponte e desembocaram em um mar de gente revolta.
Os balões em verde e amarelo, soltos em estádio paulista na comemoração do sorteio, o cristo redentor no Rio de Janeiro, ocupado por bandeiras esvoaçantes e até a estátua de Juscelino, em Brasília, sendo envolvida por camisa comemorativa ao fato contrastam, hodiernamente, com as recentes manifestações de junho do ano passado e outras tantas que pululam em editoriais da mídia nativa.
Há quem afirme, inclusive, que atualmente existe um movimento tentando sabotar a realização da Copa do Mundo no Brasil. Teoria da conspiração? Não sei. Mas a hipótese levantada (que consideramos plausível) é que o objetivo do intento é "melar" a reeleição da presidenta Dilma, incentivando e dando gás para novas manifestações de rua, rebaixando sua popularidade que vem crescendo e, com isso, forçar um segundo turno.
Não se trata aqui da política do quanto pior, melhor, de alguns jornalistas que apregoam a cartilha neoliberal. Nem de inverter a informação, procurando o lado ruim das boas notícias relativas a Copa no Brasil. Não duvidamos que esta será um sucesso e o número de ingressos já vendidos no mundo inteiro para o evento demonstram confiança na realização do mesmo. Não temos, também, a compreensão de que legado é só o que estiver pronto e acabado até a Copa. Muito embora a Matriz de Responsabilidades, apresentada em 2010, pelo próprio governo, assim estabeleça.
A nossa reflexão parte de dados concretos, da dinâmica real e mais visível deste tal "legado da Copa" e que se encontra mais próximo do objeto deste blog: os estádios. Vejamos.
Não exige muito esforço perceber que dos elementos colocados como legados para a Copa, apenas as "arenas" estão prontas. Mesmo assim, nem todas. E algumas, tidas como acabadas ou quase finalizadas, apresentam alguns problemas estruturais.
O próprio valor da construção destas "arenas" é um problema em si. O mesmo ultrapassa em muito todos os outros valores somados, direcionados para segurança, telecomunicações e turismo, por exemplo.
Em relação as áreas da saúde e educação, prioridades nacionais, a diferença em relação a Copa é assustadora. Para Salvador, por exemplo, foram repassados pelo governo federal para as duas áreas entre 2010 e 2013 o montante de R$ 133 milhões, enquanto para a Copa, foram transferidos a título de empréstimo via BNDES R$ 4 bilhões e 600 milhões.
Esses dados são do próprio governo e podem ser constatados por qualquer um no site da CGU/Portal da Transparência. Há quem afirme que, como é empréstimo, esses valores direcionados para a Copa irão voltar com juros. Isso é um dado que deve ser levador em consideração nas nossas reflexões, observando necessariamente a dinâmica da gestão do dinheiro público pelo estado neoliberal.
Essa mesma dinâmica precisa ser considerada quando pensamos no lucro que a Copa do Mundo vai gerar para o país. Sim, pessoal. A Copa do Mundo gera lucros e dividendos para o país sede em pequeno, médio e longo prazo. Só o setor de turismo pode ter um incremento de R$ 22 bilhões de reais em 2014. Parte deste recurso serão gerados pela Copa do Mundo.
No geral, a Fundação Getúlio Vargas tem apresentado estudos que contabilizam, por baixo, um retorno financeiro para o país em função da organização/realização da Copa na ordem de R$ 140 bilhões.
No entanto, reafirmo a observação que precisamos olhar para esses dados tomando como referência a dinâmica do estado neoliberal e agora perguntando: quem se apropria e/ou se apropriará destes bilhões?
Países outros já realizaram e realizam grandes eventos. A maioria se encontra em situação lastimável de crise. Não por que realizaram ou realizam megaeventos. Mas em função da apropriação privada da riqueza produzida por eles e das dinâmicas próprias das opções políticas que fizeram/fazem na condução do estado.
2 comentários:
Sugestão de um camarada...Pode combinar com o "Quem fica com o lucro?"
http://www.youtube.com/watch?v=Skf61jS7IuI
é uma vergonha essa copa. Perguntaram ao Presidente da CBF se ele não se importava com os problemas que o Brazil apresentava, ele respondeu que era um caso a ser avaliado, mas no momento estou somente voltado para a copa. Não poderia sair do foco dele. Ou seja, o bambá dele está no tal foco. E assim vai. Abraço fessor.
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