Durante
este mês que marca o 8 de março como dia internacional das mulheres
trabalhadoras, apresentarei uma série de textos com as importantes
personalidades femininas que contribuíram para a introdução das mulheres na história do esporte moderno. Mulheres
que enfrentaram um período conturbado, onde predominou uma construção do
feminino baseada na fragilidade e submissão (que não está longe da contemporaneidade),
excluindo-as da possibilidade de praticar modalidades ligadas à força. Nomes
importantes, que lutaram dentro e fora dos ginásios e estádios pela visibilidade
das mulheres nos espaços públicos.
Claro
que as atividades esportivas reproduzem todas as características da sociedade capitalista:
disparidade salarial, falta de políticas de permanência para as mulheres
(entendendo que estas possuem jornadas tripla de trabalho), falta de
representatividade nos setores de organização e direção do esporte, assédio
moral e sexual, etc. Mas, já podemos visualizar alguns avanços: como
a federação de futebol da Noruega, que irá igualar os salários das jogadoras,
e Corinne
Diacre, a primeira mulher a comandar um time de futebol masculino. Frutos
das disputas políticas individuais ou de grupos feministas, contrariando alguns setores midiáticos que teimam em fortalecer a cisão esporte/política.
Um fato é inegável: o esporte em sua dimensão social, ainda é um lugar de predominância masculina. Temos muita luta pela frente.
Alice
Melliat (1884-1957) foi um quadro relevante diante à exclusão das
mulheres nas atividades esportivas. A francesa frequentava muitos estádios e
acreditava que o esporte era uma excelente ferramenta de desenvolvimento da
personalidade. Como praticante, foi a primeira mulher a obter um diploma
concebido apenas a remadores de longa distância. Em 1917, fundou a FFSF
(Federação de Sociedades Femininas da França) que passou a regular atividades
esportivas das mulheres, num período em que existiu um forte mito de
fragilidade, para
justificar a proteção paternalista dos homens sobre as mulheres, expressada na
proibição da participação destas nas olimpíadas modernas. Como já foi
citado na introdução do nosso texto.
Por
este motivo, em 1921
ela organizou a Olimpíada feminina, em Mônaco. O evento teve a participação
de cinco países: Inglaterra, Suíça, Itália, Noruega e França. Ainda em 31 de outubro 1921,
com apoio dos EUA, Tcheco Eslováquia, Itália e França, Organizou a Federação
Internacional Desportiva Feminina (FSFI), e, no ano seguinte, 300 mulheres, de
sete países, participavam da segunda Olimpíada Feminina.
Em
1938 a FSFI se dissolveu pois, as “crenças” que até então o Barão de Coubertin possuía
sobre as mulheres (Fragilidade e submissão) iam caindo por terra, e, o mesmo,
começou a introduzir cada vez mais provas femininas em seus jogos Olímpicos. O
sucesso de público e a grande repercussão dos eventos que Alice ajudou a
introduzir e a popularizar culminaram com o reconhecimento das mulheres como
atletas olímpicas pelo COI em Berlim, 1936. Uma
“capitalização” de todo o esforço da francesa.
Por
outro lado, a contribuição de Alice Melliat forneceu ao movimento feminista do
período uma possibilidade de protestar sobre os papéis sociais das mulheres.
Toda retórica embasada numa perspectiva biológica de que “a mulher tem útero e
ovários, o homem não tem”, ou que justificasse sua “inferioridade natural”,
poderia ser contestada, diante dos recordes e das excelentes participações
femininas em modalidades antes, destinadas apenas aos homens. Sua luta deu um
importante passo para a desconstrução de paradigmas que alicerçam a estrutura
social vigente. Alertando até mulheres que não se consideravam feministas.
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