No dia 31 de março de 1964, um
golpe civil-militar derrubou o presidente João Goulart, instaurando então um
regime ditatorial que iria durar 21 anos. Até hoje, passados mais de 30 anos
da considerada redemocratização, os torturadores e financiadores desta
repressão que matou centenas de brasileiros, encontram-se livres. Muitos,
inclusive, justificam essa barbárie e criam denominações, no mínimo, perversas,
como a tal “ditabranda” em oposição a ditadura.
A Educação Física, como conteúdo
escolar que tinha no desenvolvimento da aptidão física e nos aspectos
performáticos do gesto esportivo o seu modus
operandis, servia ao regime, na medida em que educava o sujeito
para o respeito incondicional às regras sociais, o desenvolvimento de posturas
individualistas no contexto das competições esportivas, a “ordem unida”, entre
outros elementos, pautando-se em uma base explicativa de relação causal, ou de
causa e efeito, o positivismo.
Importante frisar que nem a
educação física como disciplina e o esporte como conteúdo, isolados da
realidade concreta da época, teriam condições de operar determinadas
subjetividades. Existem as intenções que não, necessariamente, dado o caráter
complexo e contraditório desta mesma realidade, se materializam.
Os sujeitos deste processo,
professores e alunos, devem ser considerados como capazes de reflexão e ação
contra-hegemônica, não são simples sujeitos atomizados frente ao real. Mas é
importante frisar que hegemonicamente, a intenção era fazer das instâncias
sociais, se quiserem, dos aparelhos ideológico do Estado (Althrusser),
organismos de reprodução do ideário oficial do regime militar que estava
calcado na ideologia da Segurança Nacional, do chamado Brasil Grande!!!
Em seu texto, escrito na coleção
Pesquisa Histórica na Educação Física, volume dois, o professor Amarílio
Ferreira Neto vai trabalhar com a hipótese “de que os militares elaboraram uma
teoria pedagógica aplicada à Educação Física brasileira, tendo como referencial
o estatuto da instituição militar, inclusive seu sistema de ensino e o debate
teórico-metodológico realizado em torno do acesso à educação popular pela
população civil. A instrução pré-militar é considerada componente curricular
substantivo dessa proposta educacional, poteriormente à Educação Física”.
É apenas uma hipótese. Mas
sabemos da influência da instituição militar desde a formação da Escola
Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD), considerada a primeira escola
brasileira de educação física ligada a uma Universidade, em 1939, que deu seus
primeiros passos em pleno Estado Novo, “(...) sob os auspícios e égide dos
militares”. Podemos, portanto, inferir sem exageros que durante muitos anos os
militares influenciaram a educação física, não sendo diferente, portanto, no
contexto do regime civil-militar instaurado, como já dissemos, em 1964.
Portanto, a data do dia 31 de março do referido ano não só deve ser lembrada por nós, professores e estudantes de educação física, cidadãos republicanos, como também, precisamos evidenciar as arbitrariedades de um regime que durante 21 anos
matou, torturou, exilou e destruiu centenas de famílias.
Devemos, no mínimo,
gritar em alto e bom som, em respeito a memória dos que lutaram por uma
sociedade democrática que ainda não alcançamos: ditadura, nunca mais!!!
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