quinta-feira, 5 de abril de 2012

Cadê meu ovo de páscoa?

Eu, ainda um adolescente em passeio de férias no estado natal de meus pais, Sergipe (minha mãe é de Estância e meu pai de Santa Luzia), me defrontei com uma cena que me chocou bastante. Alguns homens, mulheres e crianças se misturavam aos cachorros na cata de alimentos sobre um monte de lixo residencial.

Imediatamente me lembrei de uma poesia do Manuel Bandeira, intitulada O Bicho. Hoje eu sei que esta poesia foi criada em 1947 e publicada em 1948. Mas na época, 1990, não sabia nada disso, mas ela me inspirou a criar uma poesia tematizando a cena que acabava de observar da janela do quarto onde estava.

Na quinta-feira que antecedia a páscoa (esse texto foi escrito em 2009. A cena é de 2010), sentado na poltrona do meu carro, me deparei com a cena que está no vídeo. Esta me remeteu quase que automaticamente a outra cena, de 1990, em Aracaju. A diferença desta para a outra é apenas e tão somente de quantidade. Apenas um homem rebusca o lixo a cata de comida, mas a realidade é tão perversa quanto àquela.

Resolvi socializar com vocês essa experiência, bem como a poesia que fiz e que só agora torno pública. Que ambas nos ajudem a desenvolver ações para que um dia essas expressões do capital sejam apenas lembranças.




UM BICHO?

E lá estava Enoque, no lixo, a catar comida com a mão, lembrando-me uma pequena e significativa poesia de Manuel Bandeira.

Enoque é um nome fictício.

Poderia ser José, João, Ernesto, ou outro, mas a cena é real. Tristemente real.

Ele, o Enoque, que se torna representante de milhões de brasileiros nesse momento, afunda todo o seu corpo dentro de tonel, à cata de resto de comida ou outra coisa qualquer que sirva para amenizar a sua fome.

Quando os seus braços tornam-se curtos, não conseguindo mais revirar os alimentos, habilmente, qual cachorro vira-lata, vira o tonel e recomeça, sofregamente, a catar os "restos", as "sobras" de comidas, tão alegremente levados à boca.

E lembro-me que no meu tempo de escola, aprendi que o Brasil é grande e altaneiro.

Esqueceram de me falar sobre os Josés, Joãos, Ernestos e Enoques da vida.

Não dão divisas e não caem no vestibular.

Um comentário:

Anônimo disse...

Façamos de suas palavras, ações!
Que sirvam de estímulo para essa sociedade acrítica a qual nos submetemos!