Segundo a Wikipédia, o socialismo é um sistema em que há um forte planejamento central, o fim da diferenciação de classes e a propriedade coletiva dos meios de produção. Além disso, Marx dizia que, no socialismo, os homens poderiam trabalhar um dia como pescadores, no outro como pintores e depois como cozinheiros. O trabalho não seria apenas o modo de ganhar a vida, mas seria a própria vida.
O socialismo ficou identificado como uma ideologia que pretendia diminuir o sofrimento de nossa existência, que queria acabar com a pobreza extrema, que achava que os homens deviam ter chances iguais. Essa ideia deu origem a organizações de trabalhadores, partidos políticos e guerras. Dominou boa parte do mundo e depois sumiu de boa parte dele.
Nunca foi o que se esperava, por conta de seus adversários e de seus próprios homens. Em Cuba precisa de reformas e na China houve tantas reformas que há quem diga se transformou num capitalismo de estado.
Porém, neste domingo, felizmente e infelizmente, o socialismo venceu.
Não, não houve uma nova revolução que não saiu nos jornais. Nem um novo PC ganhou alguma eleição. O socialismo de que falo é um socialismo ludopédico, o socialismo do Barcelona. Um socialismo com uma pitada de anarquismo.
E nem me venham dizer que é exagero. Vejam bem, o time tem um planejamento central forte, feito por Pep Guardiola, que conhece bem seus recursos naturais e os utiliza de forma racional para o bem comum. Há também uma certa abolição de classes. Não há mais uma separação nítida entre zagueiros, meio campistas e atacantes. Principalmente entre estes dois últimos. Messi pode ser visto na ponta direita e zanzando como volante, Fábregas é um meio-campista mas aparece para finalizar, Dani Alves é um lateral que mais parece um ponta. Assim sindo, obviamente temos a propriedade coletiva dos meios de produção do gol, pois todos podem, e devem, atacar.
Quanto à pitada de anarquismo, vem da mobilidade decidida pelos próprios jogadores dentro de campo. Não é “cada um faz o que quer”, como se pensa erradamente sobre o anarquismo, mas um conjunto orgânico, que funciona como um ser vivo, com cada indivíduo se comportando como a célula de um grande organismo.
Muitos cronistas esportivos, imitando Francis Fukuyama, diziam que a história do futebol tinha acabado. Que a divisão de classes entre homens de ataque e de defesa era definitiva, com algumas exceções que confirmavam a regra. Mas não. De Barcelona, cidade que esteve ao lado da república na Guerra Civil Espanhola e flertou com o anarquismo, veio uma mudança radical.
Hoje o Barcelona é o “fantasma que assombra a Europa”, como começa o Manifesto Comunista falando do socialismo. E não assombra só a Europa, mas o mundo inteiro.
Se eu não fosse santista, teria me sentido um privilegiado por ter visto ao vivo esta vitória do Barcelona. Como sou, para mim foi um espetáculo cruel e sangrento, com o time grená mostrando o cálculo frio de um vilão de história em quadrinhos e um sadismo de nazista de filme americano.
Mas tudo bem. Passada a dor profunda, sei que vou poder assistir a jogos do time catalão com prazer. Certamente nunca verei o replay deste jogo contra o Santos, mas doravante assistirei a todos outros jogos desta utopia que vai mudar o futebol, porque os outros times terão que imitá-lo de alguma forma, do mesmo modo que o socialismo acabou sendo responsável pela socialdemocracia dos países nórdicos.
Boleiros do mundo, uni-vos. Uni-vos ao belo futebol do Barcelona. Vós não tendes nada a perder, pois o futebol no resto do mundo, inclusive nestas nossas bandas, anda feio e sem arte.
Por José Roberto Torero do site Carta Maior
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