domingo, 22 de maio de 2011

Racismo made in France

Quem diria. A França, palco da revolução política, berço dos valores liberais clássicos como a igualdade, liberdade e fraternidade procura, através do esporte, recrudescer ainda mais as ondas xenofóbicas que varrem a Europa há muito tempo.

A ideia de limitar o número de vagas nas "academias de futebol" (o mesmo que a divisão de base brasileira), a serem ocupados por negros e árabes em, no máximo, 30%, desconstrói, ao menos aparentemente, a noção de uma França multicultural e multiracial presente nas consciências dos diferentes povos no mundo. A própria seleção francesa de futebol, com os seus "Bleus, Blancs, Rouge", ajudou a introjectar nessas mesmas consciências, esses mesmos ideários, o que pese as críticas feitas aos mesmos.

No entanto, parece que os ventos discriminatórios, de cunho racista, que ao bem da verdade sempre existiram na França (assim como no Brasil e em outros países, da Europa e fora dela), parece ter assumido maior densidade no contexto contemporâneo, desde a posição do Nicolau Sarkozy contra os ciganos, no ano passado.

Soma-se ao fato o fiasco da seleção francesa na última Copa do Mundo de Futebol, também em 2010, quando o selecionado foi eliminado já na primeira fase, ficando em último lugar no seu grupo. Desde então, o rumo do futebol no país vem sendo discutido e a questão racial faz parte do debate e expressa, também, a direção política que Sarkozy vem dando as suas ações, que alguns críticos chamam de "táticas lepenistas", numa clara alusão a neofascista Marine Le Pen, filha do ultradireitista Jean-Marie, que segundo as últimas pesquisas eleitorais da França, será presença certa no segundo turno das eleições presidenciais em 2012 no país.

De um lado o presidente Sarkozy querendo capitaniar os votos da chamada França "profunda". Do outro, é o esporte ecoando sentimentos desta mesma França, onde os principais dirigentes esportivos vem colocando na miscigenação da seleção um dos seus principais problemas, esquecendo que se um dia a seleção francesa e a França teve reconhecimento mundial, foi pela sua celebrada miscigenação.

6 comentários:

Anônimo disse...

Welington e demais.

O interessante é saber que esta mesma seleção francesa em 1998 foi campeã com boa parte de seus jogadores possuindo uma dupla nacionalidade. Um dos maiores jogadores da história dessa seleção - Zidane - é tunisiano.

Preocupante também como cresce a extrema-direita na Europa e como isso se reflete nos episódios de racismo não somente nos campos de futebol, mas em diversos setores da vida social nesses países.

Gostaria de finalizar (Como disse no comentário anterior, no estilo conta-gotas)com uma frase que ouvir numa entrevista de um imigrante da Tunísia, quando falava da restrição da entrada dos mesmos pela União Européia e, ao mesmo tempo reportando a um período nefasto da nossa história mundial, protagonizado pela política colonialista e imperialista destes países. Ele dizia: "Nós hoje estamos aqui, porque um dia eles estiveram lá em nossas terras".

Fica a reflexão...

Forte abraço e parabéns pelo blog!

Edson do Espírito Santo
LEPEL/UEFS

Anônimo disse...

CORRIGINDO: ZIDANE É FRANCÊS CUJOS AVÓS SÃO ARGELINOS. CONTUDO, POSSUI DUPLA NACIONALIDADE.

EDSON

Deraldo Pitombo disse...

Vocês não acham um pouco exagerado ver xenofobia em um percentual de 30%?
Por outro lado não vejo que as ações comentados no texto tenham como origem um retrocesso no pensamento cultural francês. E sim decorrentes da preocupação, por parte dos governantes europeus, com a ocupação de espaços no mercado de trabalho por estrangeiros, diante das previsões nefastas sobre os cenarios futuros da economia daquele continente. O espaço aqui é muito pequeno para elucidar este comentário, por isto sugiro uma analise comparativa entre as eras gloriosas da Greccia, Espanha e Portugal e os cenários de hoje, no qual estes paises precisam de apoio financeiro de outros para manter vivas suas culturas.

Welington disse...

O percentual de 30% não me preocupa Deraldo mas,sim,a lógica que se encontra por trás dos números.Podia ser 10%, 5% e não deixaria de expressar uma dinâmica que vem ocupando as cabeças dos dirigentes europeus preocupados, como vc bem disse, "com a ocupação de espaços no mercado de trabalho por estrangeiros".O fato é que a europa se tornou o que se tornou,entre outros elementos,pela força de trabalho destes que hj são considerados "escórias", "inimigos"da punjança econômica.E é claro que não podemos separar o econômico nem do político nem, tampouco,do cultural,no meu entendimento.A França de Sarkozy é fascista,amigo.E a oposição ao mesmo é mais do que isso,é ultradireitista,nada parecida com a França liberal clássica,berço da revolução política burguesa,democrática,da liberdade,igualdade e fraternidade.Estamos nos distanciando disso.O que é uma lástima

Anônimo disse...

Mais um texto brilahante proefssor.Infelizmente a frança realmente tem mudado muito,li hj na carta capital q ela virou agora belicista junto aos EUA.Vou tratar deste tema no ensino médio aqui na escola e vou começar com o seu texto.Obrigado.

Deraldo Pitombo disse...

Caro Welington.
Olhando pelo prisma cultural e a nivel internacional, concordo com sua qualificação de "lástima" o cenário para o qual a França é conduzida pela politica do Sarkozy.
Entretanto, no intuito de participar e contribuir no tratamento deste assunto, venho lembrar que a grande maioria das populações (se não todas) cobram dos seus governantes medidas que mantenham ou elevem os niveis das condições economicas de seus respectivos paises. Para nós pode ser uma lástima, porem para os franceses pode ser apenas um dos custos afins à tomada de decisões adequadas ao mundo contemporâneo.
É bom e necessário estar sempre alimentando nossos sonhos, porém vê-los como o melhor alimento para os outros é complicado. Alexandre Magno (da Macedonia), o Rei Leonidas (de Esparta), Hitler (austria/Alemanha), o rei Príamo (de Tróia) e muitos outros fizeram isto, Levando à morte milhões de pessoas. Mas todos eles eram comandantes impostos. Hoje vivemos em uma democracia. Tal como Bush, Sarkozy foi eleito por seus compatriotas e de acordo os interesses destes. Que tal respeitarmos os direitos dos franceses escolherem seus governantes?
Antes de concluir quero lembrar que "em nome" dos sonhos de Jesus Cristo, a igreja católica ja assassinou milhões, e pessoas continuam sendo mortas todos os dias. É sempre agradavel falar sobre os nossos sonhos. E dificilmente simpático falar sobre a realidade que vivemos e para a qual temos TAMBÉM de preparar os nossos filhos.