A Copa do Mundo de Futebol, por ser um mega-evento esportivo que mobiliza bilhões de pessoas no mundo inteiro e centenas de milhares de setores empresariais e da sociedade civil, potencializa a reflexão sobre diversos fenômenos que não são, necessariamente, intrínseco ao evento em si, mas que acaba agregando um certo valor ao mesmo tornando-se, inclusive, um ponto importante que influencia a escolha de determinadas sedes do evento. Um desses fenômenos diz respeito a questão da mobilidade urbana.
Este tema foi muito caro para os paulistanos no mês de dezembro último, quando o prefeito da cidade, Gilberto Kassab (DEM), anunciou que aumentaria o valor do transporte público em 2010, tendo cumprido esta promessa logo no dia 04 de janeiro. O aumento foi da ordem de 17,4%, superior a inflação acumulada do período (novembro 2006/novembro 2009) que foi de 15,9%, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
Este fato nos permite abrir um debate justamente sobre uma das questões colocadas como importantes para a definição de um grande centro como guardião de mega-evento como o da Copa do Mundo que é, como já dissemos, o da mobilidade urbana, pois a majoração do valor do transporte público afeta, fundamentalmente, o direito de ir e vir do cidadão, seja para os estádio onde ocorrerão os jogos seja para outros fins.
Nesse caso, a questão do valor da passagem de ônibus tem muito a ver com os direitos de ir e vir do cidadão do que, necessariamente, de viabilização de uma ou outra competição esportiva, como pode parecer, já que esta questão vem sendo relacionada à viabilidade ou não de determinadas cidades se manterem como sede dos jogos.
A questão da mobilidade urbana é tão importante hoje que existe até uma secretaria no interior do Ministério das Cidades, intitulada Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, que tem como diretrizes os seguintes ítens: 1)Promover a cidadania e a inclusão social por meio da universalização do acesso aos serviços públicos de transporte coletivo e do aumento da mobilidade urbana; 2)Promover o aperfeiçoamento institucional, regulatório e da gestão no setor; e 3)Coordenar ações para a integração das políticas da mobilidade e destas com as demais políticas de desenvolvimento urbano e de proteção ao meio ambiente.
A majoração dos preços das passagens dos transportes públicos restringe, ainda mais, a utilização do mesmo para àqueles que mais precisam, tornando-se, portanto, o termo público colado ao termo transporte uma incongruência. Segundo Tertschitsch, falando ao site Brasil de Fato, “A distinção entre o que é público e privado reside no fato de que público é aquilo que não tem restrições ao uso. No caso, o transporte coletivo passa a ser privado no momento em que seu uso é mediado pela tarifa”.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2006, revelou que cerca de 37 milhões de brasileiros não podiam pagar pelas tarifas do transporte público, se locomovendo a pé para os seus destinos (casa, trabalho, posto médico, etc), fato que pode ser agravado se tomarmos como referência o crescimento da população urbana, o aumento do transporte privado nas cidades e o modelo atual de transporte “público”.
Um elemento fundamental a ser pensado e que não é levado em consideração pelos empresários do setor e gestores públicos é o que nos diz Tertschitsch, militante do Movimento Passe Livre. Segundo ele, “a cobrança de tarifa no transporte coletivo acaba excluindo a população mais carente dos outros serviços básicos, pelo fato de que o transporte é um direito que dá acesso a outros direitos”.
No mundo inteiro, 20 cidades trabalham com a política de tarifa zero o que não significa dizer que esta é uma forma de sistema de transporte público inviável. Ao contrário, penso que esta seja a única a contemplar o verdadeiro sentido e significado da palavra público e oportunizar de fato e de direito a condição de ir e vir do cidadão.
Pensar em mobilidade urbana apenas quando se pensa em eventos esportivos grandiosos é limitar por demais a importância das pessoas se moverem nas suas cidades para o atendimento dos seus diferentes interesses.
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Acesse o Brasil de Fato e fique por dentro de outros elementos relacionados ao tema. A matéria do link foi inspiradora para esta postagem e utilizamos alguns dados trazidos pela mesma.
4 comentários:
Um sonho. Passe livre é um sonho do tamanho e da impossibilidade de uma sociedade llivre do mercado.
Texto muito oportuno. Ainda mais agora que a contradição apareceu com força qando o goiverno reduziu o imposto para compras dos carros.
A questão da mobilidade urbana deve sim ser pensada por todos nós, brasileiros, na medida exata da quantidade de carros que entram no nosso cotidiano que inversamente proporcional a qualidade dos serviços de transporte prestados para a população de baixa renda. Qualquer país que queira sediar grandes eventos aliás, qualquer país que queira ser grande, precisa sim, com urgência urgentíssima elaborar políticas que sejam realmente públicas.
Olha que coisa, professor. Hoje fui pegar o buzú e fui surpreendido com o aumento da tarifa para 2,30. Uma tremenda falta de respeito com o usuário que só foi avisado nas últimas horas de ontem. Reclamei e pelo visto muitos que estavam no ônibus tb só ficaram sabendo no momento de passar a catraca. Uma falta de respeito por parte da prefeitura.
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