domingo, 27 de dezembro de 2009

Que tudo não se realize

Estou sentindo muitas dificuldades de desejar boas festas, bom natal, feliz ano novo ou qualquer coisa que o valha nesse ano. As coisas que tenho percebido ocorrer no nosso cotidiano não me permitem enganos e enganar os outros. Portanto, não teremos um ano feliz. Sinto dizer.

Crianças continuarão a morrer de fome. Jovens e adultos também. Muitos, além de morrerem de fome, continuarão cometendo suicídios por não terem os seus legítimos anseios satisfeitos. Além da fome, doenças facilmente curáveis continuarão matando as crianças. Não todas. As chuvas, em função do desmatamento irracional feito pelos homens, continuarão inundando e matando os homens e mulheres. A culpa voltará a ser dos ratos que se escondem nos esgotos. O menino morreu de leptospirose. É um novo nome para a irracionalidade. Calazar é o sobrenome.

A dengue continuará. Outra epidemia aparecerá, mais forte e com mais letras e números. A corrupção continuará e os corruptos também, impunes como sempre. Obama, o prêmio Nobel da Paz, continuará a enviar mais homens para ampliar o contingente no Iraque e no Afeganistão. Mas tudo em nome da paz, pois essa só se garante com guerra.

Os hospitais continuarão cheios e com leitos cada vez mais lotados. Os planos de saúde, sorridentes pelas ampliações das doenças, aumentarão as mensalidades, alertando, para evitar inconvenientes, que não cobrem todas as doenças.

O setor da educação continuará dividido entre aqueles que são educados para ocupar um mercado de trabalho cada vez mais incerto e outros que são educados para pensar como ampliar o mercado, pois o mesmo está incerto, usando cada vez menos a força de trabalho que está sendo educada para o trabalho precarizado. O setor esportivo continuará perpetuando os de sempre, que continuarão a fazer o que sempre fizeram.

Existem muito mais coisas. Inclusive, às boas. Mas preferir às ruins. Pois sei que seus ouvidos estão sendo invadidos por palavras de otimismo. Isso é bom. Mas aprendir com Chico de Oliveira que o otimista é o pessimista mal informado.

Para não finalizar a mensagem sem nenhuma esperança, desejo que tudo isso que coloquei acima não ocorra.

É o meu desejo sincero. Apenas isso.

5 comentários:

Miralva disse...

Como diz o Paulinho Moska...tudo novo de novo.

Anônimo disse...

Eu tenho um problema grave em relação às festas de dezembro: não gosto de nenhuma. O Natal é a festa que mais personifica a hipocrisia. Adota-se uma criança durante um dia para "presenteá-la" com comida, brinquedo, lar. A mesma criança é esquecida durante os outros 364 dias do ano. E tudo isso é feito em nome de Cristo. O Ano Novo continua o mesmo para uma grande parte da humanidade: fome, miséria, doença, desemprego, tufão, terrorismo, guerra... Concordo com Welington: a humanidade não tem muita coisa para comemorar ano após ano e Jesus Cristo chora no Natal junto com a parcela da humanidade que morre de fome, de dor, de desespero... E viva o capitalismo!!!!!!


ANÔNIMA

Rosa Maria disse...

Que bom o seu texto, Welington! Bem diferente de tudo que li até agora por essa época! Obrigada pelas suas provocações à nossa reflexão! Fundamentais! Amei o trocadilho "que tudo não se realize" e todo o texto.

Ainda fico perplexa com depoimentos como o de Hipólito. Ainda assim, e "apesar de", como diz Clarice Lispecto, sinto que é preciso encontrarmos alguma dose de entusiasmo que coloque bons hormônios na nossa corrente sanguínea e termos saúde para resistir a todo esse fluxo, encontrando brechas para transformações! Vida longa à você e ao esporte em rede!

Anônimo disse...

"O Natal é a festa que personifica a hipocrisia". Parabéns, Anônima, por ter coragem de dizer com todas as letras um verdade que ninguém tem coragem de dizer. A frase é de uma dureza que esmaga, mas a miséria esmaga mais ainda. A frase é de uma crueza que choca, mas a fome choca mais ainda. A frase é de um realismo doído, mas sentir o racismo dói mais, dói na alma. A frase não é nada cristã, mas deixar morrer todos os dias crianças e mais crianças é menos cristã. Nem todas têm o privilégio de conhecer Papai Noel. Ele é uma figura exclusiva de determinada classe social todos os dias do Ano Novo ao Ano Velho. Eu sempre me perguntei durante a minha infância toda que mal eu fiz para nunca receber sua visita. Quem determina a visita tão esperada? O menino do cocho? Quem acredita nisso, acredita no Bom Velhinho. A frase será, com absoluta certeza, repudiada por muitos cristãos que não conseguem ir além da data comemmorativa e enxergarem que Cristo nasce simbolicamente no dia 25 de dezembro de todos os anos, mas morre verdadeiramente em todos os dias do ano, basta enxergar a realidade do mundo. A frase é triste, mas define o meu olhar, mesmo sabendo que sou minoria no Ano Novo que se inicia. Novo para quem?
Kuat

wager matias disse...

Adeus ano velho feliz ano novo... e uma série de frases pré-elaboradas são repetidas pela mídia, como se fosse possível mudar uma realidade criada há séculos, décadas, anos e/ou mesmo dias em questão de segundos. O ano de 2010 começa da mesma forma ou ainda em situação pior que 2009, basta observar as perspectivas para o clima do planeta, as contínuas "querrilhas urbanas", os casos de corrupção e os índices de miséria que continuam absurdos, pessoas ainda morrem por falta de comida e água.
Como desejar um feliz ano novo se crianças vão continuar a morrer devido as guerras insanas, da mesma forma milhões de seres humanos? Ainda encontraremos em nossas cidades nossos semelhantes pedindo uma moeda, um prato de comida, um lar enfim tudo para viver? Como se a cada dia nossos sentimentos e valores vão sendo convertidos em mercadoria? Será que os nossos representantes, seja em qual situação for ( presidente, governador, prefeitor, diretor de sindicato, de escola...) vão lutar pelas pessoas ou permanecerão querendo somente perpetuar nos cargos? Óbvia resposta em caro leitor. Pois é, a justificativa para acreditar que continuaremos vivendo em uma sociedade injusta são muitas e permanecerá por muitos anos devido a esse sistema que agora está tornando inclusive os nossos sentimentos em mercadoria.
Eu quero muito que você amigo(a) tenha um ano "novo" melhor, que consiga realizar seus sonhos contudo, tomara que eles não seja apenas seus, seja também nossos. Não fique preso aos desejos fabricados pelo sistema capitalista, tente perceber que só seremos felizes quando os nossos semelhantes, a razão da nossa existência também estiverem. Portanto, que neste ano que já nasce velho possamos está mais próximos, fortalecendo os nossos sentimentos e valores verdadeiramente humanos e construindo coletivamente um futuro melhor.

Bom texto prof.