Está em curso mais um capítulo do que convencionamos chamar de "desvalorização e esvaziamento do trabalho do professor", fenômeno que a professora Marilda Gonçalves Dias Facci nos ajuda a compreender em sua obra VALORIZAÇÃO OU ESVAZIAMENTO DO TRABALHO DO PROFESSOR? UM ESTUDO CRÍTICO-COMPARATIVO DA TEORIA DO PROFESSOR REFLEXIVO, DO CONSTRUTIVISMO E DA PSICOLOGIA VIGOTSKIANA, lançada em 2004 pela editora Autores Associados.
Lembrei-me do livro quando li uma entrevista de um pesquisador da USP, o senhor Danilo Alexandre Ferreira de Camargo, mestre em educação e que em entrevista ao site do UOL observa que "é possível fazer educação com qualidade sem escola" e levanta o questionamento: "por que temos tanta dificuldade em imaginar uma educação sem escola?".
Não tenho espaço aqui para comentar toda entrevista. Quem tiver interesse em lê-la na íntegra, pode clicar aqui, tirando suas próprias conclusões. Meu interesse é bem mais modesto. Apenas socializar uma relação que fiz ao ler a entrevista.
Primeiro, a entrevista me remeteu ao programa "Amigo da Escola". Há tempo o mesmo vem "impactando" a educação com o seu discurso voluntarista. Tem tempo de folga? Sabe alguma coisa sobre algo? Por que não incluir isso no currículo da escola? Sabe capoeira? Procure levar isso para a escola do seu bairro e preencha o tempo pedagógico com esta atividade lúdica. É bom em matemática? Português? Por que não adentra o espaço escolar e ajuda os alunos a aprenderem um pouquinho mais?
Depois, lembrei de uma recente matéria que saiu no Fantástico: o show da vida. Nela, houve uma abordagem sobre a opção de alguns pais de ensinarem os seus próprio filhos em casa. Nada de irem para a escola. Em casa eles aprenderiam mais e melhor. De quebra, teriam a vigilância da mãe e ou do pai. Exemplos foram mostrados, opiniões foram colhidas e comparações com outros países que já adotam esta prática foram feitas. Tudo sendo abordado da maneira mais asséptica e "isenta" possível.
E por fim, esta entrevista. Obviamente que devem existir muito mais exemplos que demonstram o que disse ao abrir este texto: está em curso mais um capítulo da desvalorização, do esvaziamento não só do professor mas, também, da escola. Este fenômeno se desdobra e ao mesmo tempo é materialidade de uma outra e mesma ponta do problema: as inflexões pós-modernas sobre o conhecimento científico no interior da escola.
Mas isso é assunto para outra postagem.
Um comentário:
Isso vem acontecendo em decorrência da grande destruturação da educação feita pelos nossos governantes. Não vejo condições de ensino nem autonomia de educar como uma escola, mas já que abriram a oportunidade do ENEM possibilitar a conclusão de um aluno na educação básica, somos forçados a encarar essa desvalorização ao professor.
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