terça-feira, 14 de agosto de 2012

As veias abertas do esporte mercantilizado no Brasil

O texto abaixo é de autoria da professora, doutora, Celi Taffarel
Universidade Federal da Bahia

Os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres/Inglaterra foram abertos com um espetáculo assistido por mais de umbilhão de pessoas, do contingente de 7 bilhões que compõe nosso planeta. Assistimos a um espetáculo concebido pelo cineasta Danny Boile que, valendo-se da linha da história, representou feitos dos ingleses colonizadores, permeando a obra com a poética de Shakespeare até as canções dos Beatles.

Destaco dois elementos desta linha da história considerada pelo cineasta britânico Boile que não são imediatamente observados. Um diz respeito as relações comerciais criminosas estabelecidas nos últimos 500 anos que abriram as veias de muitos continentes e os fizeram sangrar mortalmente. O que lhes tira hoje a possibilidade de conquistar medalhas olímpicas.  É o caso do continente Africano e Latino Americano, condenados, nas relações internacionais do trabalho, sob os auspícios do capitalismo, tanto em sua fase emergente, colonialista, escravista, quanto na sua fase superior imperialista, a servirem como exportadores de materiais primas e consumidores de subprodutos da indústria estrangeira. Com o agravante do escravismo dos povos africanos, da extinção dos povos indígenas na América Latina e a dominação de nações por tropas militares como ocorre, ainda hoje, na América Central com o Haiti.

O outro elemento a destacar é a subsunção atual, total e completa, do esporte a lógica do capital e sua sustentação por devastadoras empresas multinacionais, responsáveis por desastres ecológicos que ameaçam a vida em nosso planeta e responsáveis pelo sistema de exploração dos trabalhadores, exploração da natureza e destruição de culturas e nações.

Estiveram por traz dos Jogos Olímpicos de Londres a gigante do ramo da química no mundo, que provocou o desastre de Bhopal na Índia, a empresa DOW e a BP, petrolífica inglesa responsável pelo terrível vazamento do Golfo do México em 2010, entre outras empresas que exploram, tanto o trabalho  infantil, quanto o trabalho de mulheres, jovens e idosos, em muitas partes do planeta. A esta lógica está submetido o esporte e os esportistas, dos atletas que dedicam sua vida, com rigor e disciplina nos treinamentos esportivos, aos Comitês Olímpicos que, em última instância, servem para manter taxas de lucros das empresas multinacionais de vários ramos, sejam eles midiáticos, alimentício, calçadista, hoteleiro, turístico entre outros.

Que faremos nós no Brasil com o legado Olímpico deixado pelos ingleses? Vamos rivalizar e mostrar que somos melhores em espetáculos midiáticos? Vamos rivalizar e mostrar que somos melhores em números de medalhas, em recordes? Vamos rivalizar e mostrar que somos melhores nos negócios? Ou,vamos traçar a linha da história, mostrar nossas veias abertas (Eduardo Galeano. As veias Abertas da América Latina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979)? Mostrar os séculos de violência e dor a que estamos submetidos  (Luis Suárez Salazar. Madre América. Un siglo de violência y dolor (1898-1998). Instituto Cubano del libro. Editorial de Ciências Sociales. La Habana, Cuba, 2006.) Mostrar a violência dos imperialista que usurpam a natureza,  os sonhos, o futuro da nação? Vamos nestes próximos quatro anos priorizar a competição exacerbada, que é uma das dimensões do esporte e educar nossa população nesta perspectiva, e abdicar do caráter formativo, educativo, lúdico do esporte? Vamos priorizar o esporte espetáculo para o público ou o esporte do público com o público? 

O esporte é fruto de relações sociais de produção da vida, em suas distintas fases de desenvolvimento. Para elevar o padrão cultural esportivo de uma nação há que se educar seu povo, suas classes sociais, em especial a classe trabalhadora a quem tem sido negado o acesso a ciência, a tecnologia, a educação, as artes, ao esporte.

O esporte é um fenômeno decorrente de relações sociais, é culturalmente elaborado, historicamente acumulado e, economicamente negado. Este processo de negação do esporte enquanto patrimônio da humanidade atinge, sim, dimensões objetivas e subjetivas da condição humana. Condição humana que é historicamente determinada e que vai expressar se somos meros observadores de espetáculos esportivos ou somos construtores da cultura esportiva de nosso pais. Aqui na UFBA para cumprirmos com a função social de educar a população na linha do esporte educativo, lúdico como obra de sujeitos históricos, temos que criar o Instituto de Ciências do Esporte e construir o Complexo Esportivo Educacional da UFBA. Esta faltando determinação politica dos órgãos superiores da UFBA para isto acontecer.

Continuemos..... 

Um comentário:

thiago leal disse...

mas do que atentados a natureza as empresas citadas são satânicas ao extremo e tanto na abertura quanto no encerramento dos jogos pode se perceber simbologia e ensinamentos maçônicos iluminatte para mostrar quem está no poder o esporte enquanto fenômeno polissêmico e polimorfo não escapou destes tiranos(elite global)e infelizmente esse esporte que assistimos pela tv serve a eles!!