A melhor forma de expressar nossa indignação não é apenas deixar de votar em um ou outro candidato. Particularmente penso que esta seja a forma menos eficiente. Quando deixamos de votar, estamos assinando uma procuração em branco, deixando de tentar eleger alguém que tenha uma visão aprofundada sobre problema essenciais e que seja a encarnação de um projeto coletivo. Esse me parece ser o grande problema da política contemporânea, principalmente das realidades que emergiram do mando dos coronéis. Quando pensamos em votar, votamos em uma pessoa e não em um projeto. Essa ideia tem a concepção de que legislar uma cidade cabe unicamente ao representante que confiei o meu voto. É uma atitude típica de Pilatos. Votei (lavei minhas mãos) agora resolvam por mim. De resto, tudo o que acontecer não é culpa minha, pois votei em quem tinha que ser votado para melhorar a cidade.
Ora, pessoal, a vida da cidade, da pólis, diz respeito a nós todos indistintamente. O parlamento, a câmara de deputados e vereadores é um espaço de luta. Mas apenas um espaço. Existem outros que em larga medida, dependendo da correlação de forças entre projetos antagônicos, imprimem um movimento ao parlamento que ele mesmo, por sua estrutura e dinâmica burguesa, não quer e nem pode desenvolver.
Votar em alguém é importante. Muitos morreram para que tivéssemos esse direito garantido. Muitos desapareceram nos porões da ditadura para que hoje deixássemos de votar, só porque alguns políticos (sim, pois existem políticos sérios, honestos e com interesses essencialmente republicanos) fazem da política uma questão privada? Obviamente que não. A mídia, que cotidianamente apresenta casos de corrupção (casos reais, diga-se) tem interesse em demonstrar apenas isso para esvaziar a política e resumir a mesma ao que se faz no parlamento. Política não se resume aos políticos e suas ações. Nós fazemos políticas desde o momento em que acordamos e vamos dormir. Então, se vocês estão descontentes com a estrutura e a política que por aí se desenvolve e nos é apresentada, indignem-se sim, gritem sim, proteste sim, mas votem!!! Mas vote em um projeto de sociedade e não em alguém que individualmente diz que vai resolver o problema da cidade.
A cidade é do cidadão. É de todos nós. Política é o debate sobre a pólis, diz respeito aos interesses de classes e frações de classes que habitam a cidade e dão dinamismo a ela. Se vocês querem saber como isso funciona, dá uma "espiada" no que está acontecendo na Rio+20. Aí a política está em pleno vapor. O embate de interesses específicos e gerais estão se dando de forma plena ou velada. Os documentos estão sendo elaborados com generalizações, superficialidades e recomendações difusas. Dizem muita coisa sem dizer absolutamente nada, na medida em que são unilaterais. Os principais líderes do capitalismo mundial (G-7) não vão assinar o documento final se o mesmo ferir seus interesses, apesar deles serem responsáveis por mais de 80% do que se consome e produz no planeta terra, como os Estados Unidos não assinaram o Protocolo de Kioto na Eco-92. Mas também existem protestos interessantes, documentos importantes sendo elaborados. A Cúpula dos Povos vem fazendo mediações importantes, trazendo à tona temas essenciais com, por exemplo, a energia nuclear. Movimentos Sociais diversos denunciam retrocessos na agenda ambiental entre outros elementos. É nessa dinâmica complexa e contraditória que se materializa interesses antagônicos das classes e frações de classes. Isso é a POLÍTICA (com letras maiúsculas).
Como já disse, se vocês estão descontentes com a estrutura e a política que por aí se desenvolve e nos é apresentada, indignem-se sim, gritem sim, proteste sim, mas, sobretudo, se organizem coletivamente para enfrentar, também coletivamente, os problemas do seu país, da sua cidade, do seu bairro.
4 comentários:
Pensei assim durante toda a minha vida e não critico quem hoje tem essa opinião, antes a respeito. Porém eu "deixei de votar em político" por verem frustrados os meus esforços durante toda a minha vida. Decepção total com o grupo que acreditei que faria um governo popular, voltado para as necessidades básicas de educação, segurança, saúde... Esse governo que se mostrou tão corrupto quanto os outros a quem tanto eles combatiam. E eu acreditei neles durante minha vida de eleitor, fiz campanha, gastei meu dinheiro, investi meu tempo, convenci pessoas, furtei o tempo que deveria estar com a minha família, com meus amigos, com meus filhos para nada. O mesmo grupo que antes criticava a CPMF hoje a defende com unhas e dentes e criou outras formas de acumular divisas para substituir o imposto perdido.Os dólares na cueca, os "eu não sabia de nada", o que antes era "assistencialismo" hoje se chama "bolsa família" e é legal. Deixei de "votar em políticos" e não me arrependo. A Heloísa Helena de hoje, será o Lula de amanhã, não me iludo, é a mesma história, o mesmo discurso. Hoje só voto por interesse pessoal, ou então anulo. Mas, cada um escreve a sua escolha. E não me venham com a história de que só se modificam as coisas pelas vias políticas, com escolhas acertadas, com as pessoas de bem que existem no meio da lama. Eu já convenci muita gente com esse discurso, hoje NÃO VOTO EM POLÍTICO.
Importante que passem o olho nesse texto. Muito bom
Estamos tão cansados de tanta corrupção, que esses discursos que ainda há uma luz no fim do túnel, não convence mais!
Anônimo. Dê um tiro no ouvido.
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