A abertura das urnas no último domingo, 03 de outubro, demonstrou uma expressiva votação na candidata do Partido Verde (PV), Marina Silva, que com os seus quase 20 milhões de votos (exatos 19.636.359, o que representou 19,3% dos votos válidos), transformou-se no atual fiel da balança para os que ficaram na disputa pela presidência no segundo turno, a Dilma (PT) e o Serra (PSDB).
Passado uma semana, a avaliação que o partido do trabalhador, que até uma semana antes das eleições tinha, em larga medida, a certeza da vitória no primeiro turno, foi que o tema do aborto foi o principal responsável pela guinada de Marina Silva, forçando o improvável segundo turno.
Tema indigesto, para dizer o mínimo, o mesmo não foi trazido à lúmen por nenhum dos dois candidatos, mas foi produzido por meio de um instrumento sabidamente escuso: a produção de factoides.
O mesmo tinha um alvo determinado e consistia em atingir a candidata do governo.
Responsável por 15% de morte materna no país, pelo menos uma em cada cinco mulheres com menos de 40 anos de idade já praticou o aborto, ato este que malsucedido, é responsável por mais de 180 mil curetagens pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Pois esse tema de saúde pública transformou-se em uma arma no debate das idéias, atingindo, em cheio, as consciências puritanas e conservadoras deste país que passaram a enxergar na figura da candidata Dilma Rousseff, a “matadora de criancinhas”.
Enganam-se quem considera que os factoides são construídos apenas no âmbito da política ou utilizados somente para desestabilizar candidatos ou candidatas. O mundo do esporte também se encontra povoado desse mecanismo bizarro.
No mês passado, a revista esportiva ESPN publicou uma matéria intitulada “Meu Craque de Mentira” que trouxe a seguinte reportagem. “Uma transferência agitou o futebol uruguaiu na janela européia. Por 3 milhões de libras, o Danubio vendeu a revelação Néstor ‘Colibri’ Coratella ao Villareal, negociação amplamente divulgada pela imprensa espanhola. Tudo perfeito, não fosse um detalhe: Coratella não existe. Foi inventado por um grupo de internautas”.
Vejam vocês. Um acontecimento completamente falso, fabricado, foi divulgado como se verdade fosse por órgãos de imprensa especializados. Na mesma matéria tomamos conhecimento de um caso parecido. Trata-se de “Masal Bugduv, a revelação moldava de 16 anos, pretendida pelo Arsenal, que foi parar em uma lista de jogadores que poderiam explodir em 2009 sem nunca ter existido”.
Não se está aqui buscando equivaler as produções dos factoides. No esporte, este tipo de problema afeta apenas e exclusivamente parcelas específicas da população, torcedores das suas respectivas agremiações. Já na política, a divulgação de mentiras e a produção de fatos visando desestruturar uma candidatura tem repercussão na vida de todos nós, principalmente quando esta candidatura tem, no conjunto das suas proposições, perspectivas de ampliação de direitos sociais das camadas menos favorecidas da população.
Ambos os casos de produções de factoides, nos ensinam a ter maiores cuidados com as informações que recebemos e que muitas vezes repassamos, divulgamos, sem ao menos ter checado a veracidade da mesma.
8 comentários:
O factóide é um instrumento de alguns setores da mídia (e atualmente da grande mídia) que serve para abarcar espectadores perdidos neste atual mundo da comunicação e informação. São efetivos principalmente em "transeuntes" da informação/conhecimento que buscam apenas uma mensagem liminar com intuito de construir o seu pensamento acerca de uma temática.
Mas o que está no cerne da questão? Numa opinião pessoal, atualmente, o fulcro está na infomraç@o. Notícias que antes eram definidas em momentos preestabelecidos pelos grandes veículos de comunicação, hoje chegam ao conhecimento dos menos desavisados em tempo real. Essa dinâmica do @ precisa ser compreendida como um fenômeno presente e que merece uma preocupação maior de todos nós internautas e educadores.
Vejam vocês a contradição presente no discurso dos que alerdeiam a quatro cantos a LIBERDADE DE EXPRESSÃO. O Estadão, que divulgou apoio explício ao candidato José Serra, demitiu a psicanalista Maria Rita Kehl por que a mesma escreveu um artigo na sua coluna no jornal que feriu o brio dos donos. Pois é. Que exemplo de liberdade de expressão.
A existência de factóides é irrefutável. O entendimento sobre sua composição já esta muito bem definido tanto no texto do Welligton quanto no de CVS (comentário acima).
Quero participar falando sobre a escala de niveis de qualidade desta prática. Os bem produzidos maximizam resultados a exemplo do Caso Coratella. Os maus produzidos convertem-se como "tiro no pé", a exemplo do que esta na propaganda do PT (neste segundo turno) onde um anonimo (que pela idade expressada pouco entende de história) tenta denegrir as propostas do Serra caracterizando o governo de FHC como coisa de rico.
Acredito que a geração de factóides é mundial e vive um processo dificilmente reversível.
Porém para fazê-lo precisa se ter competência.
Meu caro Welington,
De fato, a produção de fatóides é uma prática espúria do jogo político. Mas é ainda mais triste saber que ambas as tendências fazem uso de tais expedientes. Eu mesmo, caro amigo, já fui vítimia de um factóide produzido por colegas ligados ao sindicato dos professores, anos atrás, pelo simples fato de discordar de alguns métodos julgados por mim como pouco racionais e pouco eficientes (o que, aliás, a história provou ser um julgamento correto). Não fiquei triste com a mudança das espectativas da vitória de D. Dilma em primeiro turno, primeiro, porque não acredito tão piamente que ela seja uma continuação do projeto social; segundo, porque temo toda hegemonia. É verdadeiramente uma pena que a política no Brasil (e em quase todo o mundo) seja praticada de modo tão repulsivo (por ambas as facções). Por isso, nós, que acreditamos em valores democráticos, devemos nos empenhar em criar situações de debates de ideias, torcendo sempre para que as oposições se fortaleçam e obriguem os governantes a exercer suas atribuições com o mínimo de dignidade, senão por respeito ao eleitorado, pelo menos por medo das denúncias (privatizaçao da Petrobrás, tráfico de influências na casa civil, etc.)
Analisar a fonte e a veracidade da informação é de grande importancia... é triste pode ver "ruídos prejudiciais" na comunicação. Quanto mais evoluimos nos mecanimos de comunição, mais tropeçamos em falsas afirmações...
O grande problema é que a população brasileira acredita em tudo o que a imprensa divulga, e acabam repassando muitas mentiram, como se tivessem certeza da veracidade deste. Não é por menos que os presidentes não melhoram a nossa educação, eles querem pessoas que não pensam para usar como marionetes, e fazerem o que querem, por isso que temos hoje esse segundo turno cheio de boas opções! A gente não sabe se vota na burra da Dilma ou no mentiroso corrupto do Serra. Sinceramente, tenho muito medo de colocar o meu país nas mãos de um deles. E se o Brasil afundar, entrar em crise? A gente tá perdido!
Também falaram que o Lula iria afundar o Brasil, a mesma elite e a mesma mídia que dimonizam Dilma.
Larissa
Que ia afundar o Brasil, que o MST iria invadir todas as fazendas, que teríamos greves todos os dias, etc, etc, etc...
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