Como prometido, aqui está a entrevista com uma torcedora do Esporte Clube Bahia, ex-integrante da Torcida Organizada Bamor. Ela nos conta um pouco da sua vivência na torcida, sua forma de inserção na mesma e muitas outras coisas. Pela extensão do material ele vai ser postado em duas vezes. Vamos à primeira parte. O nome entrevistada foi modificado, no intuito de preservar a fonte, muito embora a mesma não tenha feito restrição alguma a divulgação do seu nome.
Welington - Como foi que se deu a sua entrada na torcida organizada da BAMOR?
Meriva - Eu estudava em 2008 na Escola de Engenharia e Eletromecânica no EMBA, em Nazaré, em frente ao Sagrado. Foi o terceiro ano que eu fiz lá. A gente começou a descobrir que sexta-feira, meio-dia, a gente não podia sair do colégio porque as torcidas organizadas se pegavam em frente aquele módulo policial em frente ao EMBA. A gente ficava na escola até uma hora da tarde. Era arma, era faca. Isso em 2008, eu fazia dependência do segundo ano de tarde. Num dia eu descobrir, saindo, que eles estavam querendo era pegar os alunos, não mais quem estava com a camisa da bamor, os caras da TUI.
Welington - O que é TUI?
Meriva - Torcida uniformizada dos imbatíveis. Que é a torcida do Vitória. Eles começaram a dizer que o problema era com o colégio agora. Com os alunos e direção. Invadiram o colégio uma vez. Tentaram agredir a direção do colégio. Eles estavam atrás de um único aluno que em 2007 invadiu o colégio estadual Odorico Tavares. Só que ele se queimou por que ele tava com a farda. Como eles botaram assim...há, o aluno é do EMBA, então vamos pegar os alunos, a gente não só quer ele.
Welington - Inicialmente era a IMBATÍVEL com a BAMOR que se enfrentavam em Nazaré e depois desse fato, de um aluno do EMBA invadir o Odorico Tavares, eles envolveram os alunos.
Meriva - Que não tinha nada a ver. Uma tarde, quando terminou a aula eu fui almoçar em casa. Quando eu voltei, tava perto de saltar no ponto do fórum, minha colega ligou pedindo para botar outra camisa, eu tava com a camisa do colégio. Ponha outra camisa que os caras estão pegando os alunos. Aí eu falei, já é tarde demais. Eu tinha descido do ônibus, eu sentir dois caras me puxando por trás e gritando é aluna do EMBA. No que me puxou para me dar murro eu conseguir me esquivar e me defender. Eu entrei no colégio. Foi aí, eu já tinha contato com os meninos da bamor, aí liguei e falei, olhe, pode contar comigo que agora eu estou dentro. Se é pra pegar, tá pegando aluno, agora vai pegar gente da torcida como eles querem também. Comecei a vestir camisa. Dia de sexta-feira, meio-dia, eu e mais uns fechava o portão do colégio, passava o cadeado pra ninguém sair e ficava na porta esperando. Eu era a única de mulher que ficava lá. Numa dessas, a gente esperando também, a gente, não, vamos marcar. Meio-dia e meia a gente tá esperando vocês aqui, pra gente brigar. Deu uma hora da tarde não apareceram, apareceram tudo num ônibus, tudo soltando piadinha, fazendo gestos pra gente, indecente. O sinal fechou, a gente correu, a gente montou no ônibus, um amigo jogou uma pedra, um paralelepípedo, pegou certinho no menino da TUI. Pegou na cabeça dele, ele caiu. Depois o sinal abriu...é uma vida...
Welington - Aí começou a...
Meriva - Começou o atrito. A gente... as vezes... Tinha momentos que a gente não podia aparecer no Central, ali lá pro lado da Joanna Angélica por que a gente já sabia. Amigos nossos com a farda do colégio... um amigo nosso foi espancado por mais de trinta na Lapa, partiram o supercílio dele. Chegou ao ponto que a gente não podia ir com a farda do colégio. Teve um ponto que eu tive que mudar a cor do meu cabelo. Por que eles estavam me identificando pela cor do cabelo, pela roupa, eu tive que mudar, tive que escurecer o meu cabelo. E aí, passando um tempo, numa festa do largo perto da saúde, foi quando um amigo nosso tomou um tiro.
Welington - Quando foi isso?
Meriva - No final de 2008 pra início de 2009.
Welington - Quem é esse amigo?
Meriva - Júnior Pitbull, presidente do sexto distrito que eu fazia parte. Eu liguei pra ele, ele tava em... tinha fugido um pouco de Salvador por causa de que eles tavam atrás dele e tinha ido morar em Alagoinhas. Aí eu liguei pra ele disse Júnior, não volte tão cedo. Os caras tão querendo te pegar pra te matar. Não volte, aqui em Nazaré não tá mole. Quando ele resolveu voltar, não deu uma semana, veio pra confeccionar a bandeira dessa festa, entraram três e atiraram nele.
Welington - Entraram aonde?
Meriva - Entraram na sede. Invadiram com a arma. Quem tá de fora hoje ver, é covardia, é muita covardia. Eles não brigam sozinho, só pegam de galera. Atiraram no pescoço de Júnior. Veio parar na cervical. O menino perdeu o movimento das pernas. Hoje faz tratamento para recuperar se eu não me engano no hospital Sarah. Ele faz...mas ainda no Orkut dele as vezes tem uns recados de...é... eu quero que você morra, não quero que você sobreviva...ele ficou dois a três meses em coma por causa do tiro. E ele...Essas coisas de torcida é muito relativo porque assim...eu mesmo como era da bamor, eu tinha uns conhecidos da TUI, mas quando era briga, ninguém era amigo de ninguém. Em uma dessas, uma amiga minha, Lua, era da TUI, só que ela namorava um dos meninos da bamor, ela tava encostada no carro na porta do colégio com ele, começou a briga, os caras da TUI identificaram que ela era da TUI, aí deram pra pegar ela e pegaram uma menina e jogaram pra quebrar ela. Ela pegou, ela quebrou a menina toda, na frente do colégio, na frente de todo mundo. Aí eles mandaram uma mensagem para o Orkut dela: cuidado pra você não morrer virando a esquina. Então são coisas assim... que eles ameaçam mesmo, a gente... quando dava meio-dia a gente pedia ao professor pra soltar mais cedo, dia de sexta-feira por que...
Welington - Quando você fala eles, você tá se referindo aos imbatíveis. Mas e vocês? Porque a violência não vem só de lá...
Meriva - Não. A gente se defendia também. Era um com arma...eu tinha uma vinte e dois, eu tive que fazer isso, eu tive que comprar uma arma pra mim, por que ninguém mais briga na mão, todo mundo só pega na covardia. Peixeira, arma, a gente era os primeiros a chegar no ponto. A gente já ficava lá, esperando já, pra ver se alguém passava porque podia vim de qualquer lado. Tem a sede da gente na saúde e tinha a deles na lapa. Pra gente acabar com isso a gente estourou, explodiu a sede deles na lapa. A gente quebrou tudo lá dentro, estourou, botamos uma bomba. Aí eles saíram de lá, a sede quebrou totalmente, a gente quebrou a sede, eles construíram uma na lapa mesmo.
Welington - No mesmo lugar?
Meriva - Não, era na Rui Barbosa a sede que a gente estourou deles, quando explodiu. Eles construíram uma na estação da lapa.
[CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA]
17 comentários:
Então quer dizer que torcida organizada não briga apenas em dia de jogo dos seus respectivos times? Que horror!!!
O que se faz necessário saber nessa questão da "guerra" das torcidas organizadas em Salvador é se realmente existe um movimento generalizado dos embates. Ou seja, a "guerra" se resume apenas a alguns movimentos isolados em bairros ou em qualquer parte da cidade? Porque se esses combates se realizam em locais isolados, trata-se de uma questão de combate a esses confrontos pelas formas legais em conjunto com ações sociais organizadas por seus grupos.
E as escolas, os professores e os pais, onde estão nesse interin? E os presidentes dessas torcidas... se adequam a essa política?
Miralva, então pode quando a briga é dia de jogo? Não creio que vc quiz dizer exatamente isso, mas é o que seu comentário deixa pensar. Complementando as perguntas do CVS... e a polícia com isso?
Torcidas ou facções criminosas?
Todos nós sabemos que isso acontece e sempre aconteceu, mais como sempre fazemos de conta que não existe! Que aqui na BAHIA não é igual a Rio e São Paulo, na minha opinião é pior guardando-se as devidas proporções. Não devemos generalizar porque tenho aimgos que são vitória e são pessoas inteligentes capazes de analisar o futebol de uma forma coerente.
Parabéns Welington por essa iniciativa de colocar esse assunto para debate.
Um abraço
Carlos Ribeiro
Caro Welington, tudo que essa menina coloca é muito grave, sobretudo porque, nem imprensa e nem o Ministério Público(que aliás, fica na zona do conflito) tomam uma providência com relação ao caso das organizadas.
É lamentável.
Um forte abraço, e continuo aguardando a sua participação em nossa resenha. www.marefm.com.br tel:3408-5024, de seg à sex do meio-dia à 01h00.
Del Machado.
Caríssimo Carlos Ribeiro. Fique plugado, pois a entrevista continua na próxima semana.
Delsuc. A segunda parte da entrevista é tão boa quanto a primeira. Aguarde. Sobre a participação no programa, terei o maior prazer. Já te escutei algumas vezes. Dei azar na primeira, pois assim que abrir a página na internet estava tocando justamente o hino do "jáfoi" (rs). Abraços meu amigo.
Prof. Wellington & Blogueiros...
Saudações!
Prazer estar novamente nesta discussão de alto nível, deste espaço democrático dos esportes...
O assunto em pauta é fascinante, pois, suas raizes estão "anos luz"
dos campos de futebol. Fiz duas disciplinas na UNICAMP(Esporte & Lazer / Sociologia do Futebol) como aluno especial de Pós... com a Prof.Dra. Maria Heloisa Baldy Reis, referência no assunto, inclusive com permanência na Europa(Espanha principalmente) para aprimoramento na matéria. Aqui no Brasil, ainda hoje discute-se muito o assunto no GEF(Grupo de Estudos do Futebol) do qual não faço mais parte por razões particulares. Integram esse grupo:a própria professora na coordenação, professores convidados, imprensa, estudantes e militantes das organizadas. Mas tudo é muito teórico, não se consegue colocar em prática a maioria das ações discutidas em sala. Isto é Brasil!!! Entre outros, um dos problemas que me desinteressou em participar das reuniões foi este... o problema é sócio cultural e não esportivo...
Todos conhecem os Hooligans, claro, hoje estão em menor número e mais controlados, mas, ainda "ressucitam" de vez em quando. Porém, as punições aos líderes em não poderem comparecer aos campos de futebol em dias de jogo, foi uma das mais eficazes penas aplicadas por lá, pois, tira o sujeito de circulação e sem liderança a coisa acaba ficando mais fácil de controlar. Mas, a pena é aplicada e seguida à risca... se o cara não aparece a polícia vai atrás e aí a coisa complica mais ainda... vira cadeia permanente. Aqui, pelo que eu sei, existe um chefe de organizada em SP, que, teria que passar por essa pena... informações dão conta que isto não acontece... ou seja, na prática a impunidade está mantida...
Precisamos de um pouco mais de seriedade senhores(as) senão a violência vai tomar conta mesmo. Antes, isto acontecia só nos grandes centros, hoje, qualquer Biribinha FC tem torcida organizada, com associação inscrita e documentada(com direito a incentivos fiscais e tudo mais...).
Bem, acho que me alonguei... é que o assunto é muito interessante, como disse no início do post...
A esperença é que discussões como esta cheguem até as autoridades e elas façam uso correto de seus plenos poderes... utilizando nossas idéias e viabilizando dias melhores para a população, dentro ou fora do esporte.
Forte abraço
PAULOFILÉ
Não sei exatamente se sinto espanto ou tristeza ao ler essa entrevista, no entanto entendo que os valores do esporte de rendimento (neste caso o futebol), tao alienantes para a grande massa torcedora, aliados a um processo de educação precario e ao injusto contexto social, politico e economico de nosso municipio, favorecem intensamente para essas lamentáveis manifestações. Penso, nessas condições, o quanto é importante o papel do professor de educação Física na escola para discutir esses tipos de acontecimentos no intuito de contribuir para a formação de "torcedores-cidadãos" mais conscientes e pacíficos (falo do professor em específico ,mas não retiro a responsabilidade do estado, da mídia e dos clubes neste processo).
bjo Welington!
Carol
Blogueiros...
O que eu acho super interessante nessa entrevista é o cunho realista que ela nos traz, consubstanciando nossas colocações no "post" anterior sobra a violência das torcidas organizadas. É uma oportunidade de inflexão e reflexão para dentro e para fora do esporte, violência essa que permeia as relações sociais humanas e as práticas corporais inseridas nessas relaçãoes. Como foi dito anteriormente, não vejo solução nem em médio ou longo prazo...Mas, e então? Perder-se o espetáculo? Temo que sim! Pelo menos é uma ameaça! O modelo capitalista depende e muito da espetacularização e faz vista grossa, o poder público, o ministério público, os clubes etc.
Tou doidin pra ler a continuação da entrevista...hehehe... =)
Forte abraço!
É PELO Q ESTOU VENDO ESTÁ TODOS COMOVDISO PELA ENTREVISTA DESSA MENINA,AGORA TEM UMA COISA MUITAS COISAS Q ESSA MENINA RELATA AI É MENTIRA,ELA ESTA AUMENTANDO OS ATOS!!
SOU DOS IMBATIVEIS E TENHO CERTEZA A MAIORIA DAS COISAS Q ELA FALOU É MENTIRA,ANDEI MUITO TEMPO LÁ NA FRENTE DO COLÉGIO DELA E N TINHA NADA DISSO D PEGAR OS ALUNOS DO COLÉGIO DELA,AGENTE SÓ QUERIA PEGAR OS ALUNOS Q FAZIAM PARTE DA TORCIDA!
A ONDA DO TIRO N FOI NADA DISSO Q ACONTECEU,ATE PARECE Q ESSE JUNIOR ERA SANTINHO NÉ? VC PRECISAM SABER O Q ESSE CARA N JA FEZ ME DEIXEM QUIETO VIU!!!
QUE TEM BOCA FALA O Q QUER!!
TORCIDA UNIFORMIZADA OS IMBATIVEIS!
Prof. Welington & Bloigueiros...
A postagem acima ratifica boa parte do meu raciocínio acerca do assunto... primeiro temos que investir no crescimento da nossa sociedade em termos culturais.
Achar que "nem tudo é verdade" ou "o que o outro fez também é grave", não resolve o problema... pena saber que existe um pingo de verdade no triste depoimento.
Isto não era para acontecer, nem na Bahia, nem em SP ou qualquer lugar do mundo... afinal "homo sapiens", qual é a sua???
Forte abraço e bom final de semana... aliás, daqui à pouco comento um jogo pela Difusora de Piracicaba(AM 650 Khz), onde no momento o XV vive uma verdadeira "lua de mel"(5 vitórias e um empate, seguidos...)com as organizadas... "paixão" que pode acabar com cinco derrotas e uma desclassificação ao acesso no estadual, capiche?
PAULOFILÉ
PS:-
O pessoal precisa entender que:
"O FUTEBOL É A COISA MAIS IMPORTANTE, ENTRE AS MENOS IMPORTANTES." (Autor Desconhecido).
Prof. Welington & Blogueiros
Minutos após a minha postagem, acessei o BLOG DO JOTA, no inidicativo:
http://blogjotajr.blogspot.com/
...os amigos poderão ler um texto de alto nível sobre o assunto:
" O time que eu torço é..." por
JOTA JR.
Abs
PAULOFILÉ
Yuri. A entrevista foi contingencial e teve como objetivo ampliar o debate da nossa discussão anterior sobre a violência das torcidas organizadas. Estamos abertos para "ouvir" também o que vocês, da TUI tem a dizer sobre este fenômeno. Não existe nenhuma comoção em relação a entrevista, mas reflexão. Portanto, caso queira dá uma entrevista também, e isso seria excelente, o espaço tá aberto. Fica aqui o convite. Obrigado pela participação.
ESTOU SIM INTERESSADO EM FAZER ESSA ENTREVISTA COMO PODEMOS VER ISSO??
É preciso houvir os presidentes das duas torcidas para enriquecer ainda mais o debate. Pessoalmente, ja houvir entrevistas de ambos e pelo seus discursos estão empenhados em fazer a festa nos estádios, porém é difícil controlar alguns marginais, disfarçados de torcedores que se introduzem netas torcidas para praticar atos nada humanos. Temos que pensar no lado bom da situação, ou seja, realmente, em dia de BAxVI eles fazem a festa dentro dos estádios, com excessão da violência,é claro.
É certo que esta onda de violência entre torcidas não se concentra apenas nas capitais. Em Feira de Santana a torcida Falange Tricolor do Fluminense está sendo considerada uma das mais temidas do Nordeste pelos cronistas. Não bastou o "quebra pau" com a TUI, atearam fogo no ônibus do time de junior do A. de Alagoinhas e agora o confronto com a torcida do Bahia, é preciso banir etes baderneiros e não as torcidas que com certeza há muitas pessoas descentes.
Caro, welington.
Estava pesquisando na internet sobre a violência no esporte, tendo como uma de suas expressões as torcidas organizadas e encontrei essa postagem em seu blog. Já reservei e irei trabalhar na semana que vem em sala de aula com meus alunos do 6 ano fundamental 1. Considerei um arquivo muito, rico pois pasrte de uma realidade concreta (ex-integrante da bamor) concerteza teremos uma discussão muito mais fundamentada. caso tenha sugestões para que eu possa mediar essa aula fico no aguardo.
Michael Ramos Uefs-
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