sábado, 6 de março de 2010

Jornalismo Esportivo Investigativo


Em 2005 estive em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul, a quarta cidade mais populosa do país. Constituída a partir do século XVIII, na sua segunda metade, tem no por do sol do Guaíba um importante cartão postal que tive a felicidade de conhecer quatro anos antes, em 2001, no I Fórum Social Mundial. Estava ao meu lado, em plena contemplação, nada mais nada menos do que o teólogo da libertação, Leonardo Boff.

Para lá retornei em 2005 não para rever o por do sol do Guaíba, embora seja um interessante programa nem, tampouco, para reencontrar Leonardo Boff, mas para participar do XIV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e o I Congresso Internacional de Ciências do Esporte. Na oportunidade, apresentei um trabalho na qualidade de poster e este carregava o título: Jornalismo esportivo científico: onde está a ciência? O repórter comeu!!!

Questionava eu o por que a imprensa esportiva, especificamente a que se materializava no jornal impresso, teimava em considerar o leitor como alguém que tinha interesse única e exclusivamente nos aspectos restritos do esporte, mais especificamente nos aspectos técnicas e táticos do futebol e na vida pessoal dos jogadores.

Levantava a hipótese de que era possível sim, e tinha demanda, o desenvolvimento de reportagens que acrescentassem para além dos aspectos técnicos e táticos dos esportes, questões relacionadas as ciências do esporte, reflexões sobre fenômenos que embora tivesse relação com o esporte, ultrapassavam suas fronteiras, como o debate sobre doping, violência das torcidas, márfia do apito, subornos entre outros, pois acreditava e continuo acreditando que esse tipo de matéria ampliaria a visão do leitor sobre esse importante elemento da nossa cultura.

Pois bem. Eis que recebo, por e-mail, uma mensagem de um dos meus irmãos que moram em itabuna, dadinho da bahia, cujo o conteúdo é uma resenha de um importante livro recentemente lançado, que embora não tenha a pretensão de abordar o jornalismo científico tem a coragem de fazer um jornalismo esportivo para além das fronteiras das técnicas e táticas dos esportes, trazendo para a "zona do agrião", um outro tipo de jornalismo, o investigativo.

O time é de primeira. André Rizek; Diogo Olivier; Fernando Rodrigues; João Máximo; Juca Kfouri; Leonardo Mendes Júnior; Marceu Vieira; Marco Senna; Marcos Penido; Mário Magalhães; Michel Laurence e Sérgio Rangel.

As temáticas sobre o submundo dos esportes estão para lá de esclarecedoras. Aliás, não se trata de tematizar os diferentes esportes mas, sim, o futebol. Mas nada nos garante, pelo rugir das tempestades de que os elementos tratados também não se apresentem nas outras modalidades esportivas. Arrisco que sim.

É um livro que além de esclarecedor é oportuno. Pois estamos em ano de Copa do Mundo. É importante que um país que irá sediar a Copa de 2014 e terá as Olimpíadas de 2016 em solo pátrio trate o esporte das multidões e todas as outras modalidades com respeito aos que assistem e lêem sobre o mesmo.

É um livro que além de oportuno nos enche de esperança por saber que existe vida fora das idéias e ideais dos cartolas de plantão e do jornalismo esportivo tradicional e pessoas com coragem para socializarem suas produções que vão de encontro ao stablisment.

Sim, pessoal. Há uma luz no fim do túnel e com certeza, ela não é um vaga-lume e nem tampouco, um trem vindo em nossa direção.

7 comentários:

Welington disse...

Olá, pessoal. Socializo o e-mail que recebi e que inspirou a postagem. Quatro décadas de corrupção, pobreza e abusos no futebol brasileiro

Ano de Copa do Mundo é sempre garantia de bons lançamentos na área editorial. O primeiro tiro certeiro de 2010, indispensável para estudantes de jornalismo e interessados em jornalismo esportivo, é “11 Gols de Placa – Uma seleção de grandes reportagens sobre o nosso futebol”, organizado pelo jornalista Fernando Molica.

O livro reúne onze trabalhos de fôlego sobre o “lado B” do futebol brasileiro, ou seja, sobre os graves e perpétuos gols contra que vem marcando ao longo do tempo. Como escreve Molica, explicando a sua seleção, é “uma escalação que mistura corrupção, pobreza, desemprego, falsificação de documentos, abuso e exploração de menores”.

A primeira reportagem é o premiado texto de João Maximo, “Futebol brasileiro: o longo caminho da fome à fama”, publicado no “Jornal do Brasil”, em 1967, no qual o jornalista descreve os sérios problemas de saúde – de subnutrição a sífilis – que enfrentavam então os jogadores dos principais clubes brasileiros.

O livro traz ainda uma segunda série publicada no final da década de 60, “O Jogador é um escravo”, na qual Michel Laurence, José Maria de Aquino e Luciano Ornellas mostraram, em “O Estado de S.Paulo”, como os jogadores de futebol se submetiam ao desígnio de dirigentes esportivos, aceitando tratamentos médicos criminosos, assinando contratos em branco e não recebendo os seus direitos básicos.

"11 Gols de Placa" dá, então, um salto até a década de 90, e apresenta reportagens sobre assuntos que o leitor deve se recordar. Para citar apenas algumas, há a série de “O Globo”, assinada por Marco Penido e equipe, sobre corrupção e negociação de resultados na Federação de Futebol do Rio de Janeiro, e a descoberta, por Sergio Rangel e Juca Kfouri, da “Folha de S.Paulo”, das contas furadas da CBF e do contrato da entidade com a Nike.

Entrando no século XXI, a seleção de Molica mostra a persistência de velhos problemas. A série de Diogo Olivier Mello, publicada no “Zero Hora”, em 2001, revela as desigualdades sociais no mundo da bola, além dos graves problemas que jogadores enfrentam durante e ao final da carreira. O livro se encerra com a reportagem de Andre Rizek e Thais Oyama, publicada em “Veja”, em 2005, sobre a “máfia do apito” montada para fraudar resultados de partidas de futebol.

Todas as reportagens são acompanhadas de textos introdutórios, preparados especialmente pelos autores para o livro, nos quais revelam o “making of” do trabalho que realizaram e contam bastidores não incluídos nos textos.

“11 Gols de Placa” (378 págs., R$ 49,90) é o terceiro título de uma parceria entre a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a editora Record, que já rendeu também “10 Reportagens que Abalaram a Ditadura” e “50 Anos de Crime”.

Vinícius disse...

Muito importante este tipo de abordagem sobre o esporte. Afinal de contas, não podemos tratá-lo como se fosse uma coisa menor ou desprovida das contradições que imperam na nossa sociedade. Existem, com certeza, ao lado de proposições construtivas para o fomento deste elemento da nossa cultura, outras que tem objetivos mesquinhos, egoístas e individualistas. Assim que puder vou comprar o livro. Obrigado pela dica.

Miralva disse...

Com certeza é muito bom saber que existem pessoas que buscam, com o seu trabalho, proporcionar uma visão mais ampla das coisas que estão em nosso redor. Parabéns ao autores do livro e ao professor Welington, por oportunizar esse tipo de informação. Aliás, foi muito bom saber que antes mesmo do blog ele já pensava nessa questão do jornalismo esportivo diferente. Usou a oportunidade que as novas mídias nos proporciona e não pensou duas vezes, construiu o blog que procura como ele mesmo diz, "relfetir sobre o esporte para além das fronteiras táticas e técnicas que sempre caracterizaram os comentários esportivos".

Vicente disse...

Não tenho dúvida alguma de que este tipo de produção é fundamental. Infelizmente, vivemos em um país em que o número de leitores ainda é muito reduzido e as obras muito caras. Esta mesmo de que trata a postagem custa 49,50. Salgado, não?

Vinícius disse...

Procurando o livro pela rede acabei encontrando um outro que parece ser muito bom. Não é uma obra recente. Trata-se do OS SENHORES DOS ANÉIS: poder, dinheiro e drogas nas Olimpíadas Modernas. Tem muita matéria interessante monstrando também o submundo do esporte. Encontrei em um sebo na rede.

Welington disse...

Ola, Vicente. Vc tem inteira razão quanto ao salgado preço do livro, o que infelizmente dificulta, ainda mais, o acesso a leituras de qualidade.

Welington disse...

Vinícius. Para você que se interessa pelo tema e pela abordagem, tem um outro livro também que vai na mesma linha, trata-se do COMO ELES ROUBARAM O JOGO: SEGREDOS DOS SUBTERRÂNEOS DA FIFA. O livro foi editado pela RECORD e é de David A. Yallop.