Hoje eu ia escrever sobre o doping genêtico, dando continuidade a temática da semana passada. Mas um fato curioso me tomou a pauta e deixo a mesma para a próxima semana. Isso se não ocorrer outras surpresas de igual monta, pois estamos no Brasil, não é mesmo?
O que fez com que a pauta prevista para hoje fosse parar no rascunho do blog? A Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Não, não tem nada a ver com o jogo que a seleção fez contra a Argentina nem, tampouco com os valores dos ingressos cobrados para os brasileiros lá e cá. Mas sim, um fato simplesmente inusitado que pipocou nos principais blogs esportivos do país. Pelo menos nos mais sérios.
A CBF pode virar CBPF, Confederação Brasileira da Polícia Federal.
Brincadeiras a parte, o fato é que a CBF do eterno Ricardo Teixiera irá patrocinar um encontro, nada esportivo, da Polícia Federal (PF). Trata-se do seu IV Congresso Nacional, que ocorrerá em novembro próximo e será promovido pela Associação de Delegados da PF (CNDPF).
E o que isso tem demais? Pode está perguntando o meu nobre leitor. Explico com a ajuda do nobre jornalista José Cruz, de Brasília.
Nos diz ele que "Em 2001, durante as CPIs da CBF Nike (na Câmara dos Deputados), e a do Futebol, no Senado, policiais federais integraram um espetacular grupo de apoio aos parlamentares, ao lado de técnicos do Banco Central, do TCU, do Ministério Público e do próprio Congresso. Eles cumpriram ações para a quebra de sigilo bancário e fiscal da CBF, à época acusada de várias irregularidades." E arremata, ironicamente: "Agora, patrocinados pela entidade maior do futebol, que isenção terá a PF para cumprir, se preciso, futuras missões na Casa do Futebol?"
Que coisa i-na-cre-di-tá-vel!!! Aliás, se não estivéssemos no Brasil até que podia ser inacreditável mas...cá estamos, não é mesmo? E o nosso repórter questiona: "Que autoridade terá a Polícia Federal para cumprir novas missões que, por ventura, se fizerem necessárias na casa do futebol?"
Vejam vocês o aprofundamento da situação de descaramento em que já nos encontramos a séculos. É muita lama, esgoto puro e tudo passando a céu aberto, por bem debaixo dos nossos narizes.
Se já não bastasse patrocinar campanhas de políticos chaves do legislativo ( principalmente da bancada da bola), levar figuras influentes do Tribunal de Contas da União como componentes na delegação da seleção brasileira nos jogos pelo exterior, a CBF agora amplia as ações dos seus tentáculos trazendo para os seus domínios a Polícia Federal.
E faz tudo isso de forma bastante lúdica, como é de convir a um país reconhecido pelos seus carnavais, pelo seu samba e pelo seu futebol, pois "Além do patrocínio e do apoio para o IV CNDPF, o dirigente da CBF fez um convite aos delegados de Polícia Federal: conhecer a Granja Comary, concentração da Seleção Brasileira de Futebol. O passeio terá direito à realização de um campeonato de futebol entre os colegas e será organizado em momento oportuno, após a realização do evento de novembro".
Pois é. Quando o rato começa a fazer festa para o gato, é porque o leite deste não pode azedar, pois é dele que se faz o queijo.
7 comentários:
Wellington.
Lamentável, concordo em número, gênero e grau com o birlhante reporter José Cruz. Isso é Brasil meu amigo um país onde se pode tudo.
Depois que eu vi o Lula fazendo a apresentação do Pré Sal do lado do Sarney.... è Brasil.
Abraços! E parabéns pelo seu blog, encontrei ele por coincidencia no comentários do blog do Juca e como seu nome é igual do meu irmão tive a curisiodade de ver e me deparei com um ótimo blog. Estarei sempre aqui conferindo suas ideias e opinião
A questão é, no mínimo, antiética!
CBF e Polícia Federal juntas é algo que desperta, claro, uma desconfiança muito bem alertada pelo texto brilhantemente escrito do jornalista José Cruz e tão bem endossada pelo prof. Wellington.
Depois da junção Lula-Sarney, dos tão bem "fundamentados politicamente" mensalões e atos secretos do Senado Federal, a promoção de um "inocente baba" da PF pela CBF na Granja Comary parece mais um momento de recreação do jardim da infância!
O Ricardo Teixeira vestindo o uniforme da Nike poderia dar o pontapé inicial, transmitido ao vivo pela Rede Globo, com a narração de Galvão Bueno (Bem amigos do Brasil...).
Ou melhor mesmo seria se a Vanuza podesse cantar o Hino Nacional na abertura desse evento (?!).
Abraços,
André
Para mim, todos são ratos. Eu sei que estou ofendendo profundamente tais animais.
Larissa
Esse é o nosso Brasil!! São os jogos de interesses que estão sempre nos surpreendendo!!
Muito bom ter lembrado esse fato, pois demonstra que de agora em diante as investigações que por ventura venham a ter como alvo a nossa famigerada CBF, terão tratamente pessoalíssimo!! Até a Polícia Federal esta sendo alcançada pelos "tentáculos" do corrompido Ricardo teixeira!! Onde Iremos pararrr!!? Cadê o MP para menifestar-se sobre tal absurdo??
Abraços,
George (gegeocardoso@hotmail.com)
Clientelismo, o nome que se dá a isso, típico do modo de navegação social do brasileiro (infelizmente), é o que a Meily Linhares chama de "sistemas táticos", que estão a cada dia se sofisticando mais e mais, antigamente era um jogo de camisas, um alambrado.... O fato deve estar sendo motivo de vergonha para muitos delegados (os sérios, que são nivelados pelos colegas corruptos, quando eu era adolescente eu tinha um livro de bolso,aqueles de faroeste, que tinha como titulo "todo homen tem seu preço", o desses PF, é muito barato...... Professor Welington, por favor comente!
Clientelismo, o nome que se dá a isso, típico do modo de navegação social do brasileiro (infelizmente), é o que a Meily Linhares chama de "sistemas táticos", que estão a cada dia se sofisticando mais e mais, antigamente era um jogo de camisas, um alambrado.... O fato deve estar sendo motivo de vergonha para muitos delegados (os sérios, que são nivelados pelos colegas corruptos, quando eu era adolescente eu tinha um livro de bolso,aqueles de faroeste, que tinha como titulo "todo homen tem seu preço", o desses PF, é muito barato...... Professor Welington, por favor comente!
Querido Flávio. O Brasil é sim diferente dos outros países. A própria forma como o mesmo foi colonizado dá o tom do seu processo de formação social. Mas não é o único a desenvolver o tal do clientelismo, essa não é uma característica apenas nossa. A diferença talvez seja na forma do clientelismo lá e cá. O desafio é buscar reconhecer o que está por trás dessas ações, qual a sua essência e como podemos modificar isso. Por exemplo, será que o problema não está na forma como se dá o desenvolvimento do Estado nacional? Será que o Gramsci não estava certo ao dizer que o Estado é o gerente da burguesia? As formas antigas ainda constituem maneiras de clientelismo, a mudança é que essas se hibridizam junto com outras mais modernas a depender do público alvo. No entanto, a essência, historicamente constituída, continua a mesma, a saber: uma mão lava a outra e as duas enxugam os rostos. Olha ao seu redor e você verá que esse tipo de relação não está muito distante de nós. Para além de reconhecer os tais "sistemas táticos" é necessários estabelecer sistemas estratégicos de tomada do poder.
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