“Sorria, você está na Bahia”. “Na terra em que se faz festa no mínimo três vezes ao dia...”. “Sol, mar, muito coco e tranqüilidade”. “O torcedor baiano, com essa alegria inata...”, etc, etc. Essas e outras locuções estiveram presentes nos corações e mentes e foram verbalizadas pela maioria dos locutores esportivos que cobriram o jogo da seleção “brasileira” nessa semana que por aqui passou.
O jogo foi contra a seleção chilena.
Enquanto esta sofria os gols da seleção canarinho no estádio de pituaçu, aqui em Salvador, em Santiago do Chile, uma semana antes, o governo dos nossos irmãos latinos dava de goleada em um país chamado Brasil. Lá, ao contrário de aqui, a justiça mandou prender nada mais do que 131 ex-militares e policiais envolvidos no golpe militar ocorrido em 11 de setembro de 1973. Estão sob a mira da justiça chilena, além destes, mais 500 ex-militares que sob a batuta do Pinochet e com apoio da CIA e de governos ditatoriais da América Latina, incluindo o Brasil, implementaram um verdadeiro banho de sangue naquele país que tinha acabado de eleger, democraticamente, um governo socialista, o governo de Salvador Allende.
Entre os dias 11 ao dia 30 de setembro, mais de 300 pessoas morreram, executadas de forma covarde.
Já nessa época, a população brasileira, em sua grande maioria anestesiada, com a consciência embotada pelo lúdico alienador, cantava “Prá frente Brasil, salve a seleção”, em homenagem ao selecionado tri-campeão do mundo de futebol, desconhecendo o que acontecia nos porões da ditadura brasileira, que durou de 1964 até 1985.
Infelizmente, “No Brasil, uma parcela minoritária das Forças armadas e da opinião pública consegue, de tempos em tempos, impedir o menos indício de avivamento do debate em torno da responsabilização legal dos envolvidos nas torturas, desaparições e assassinatos cometidos por representantes do Estado durante a ditadura (...)” (CartaCapital, ano XV, n. 562, p. 24).
Quem dera se a opinião pública que tanta energia gasta nos gritos de gol pudessem encher os pulmões de ar com a indignação devida para gritar em alto e em bom som contra todos esses desmandos da política nacional e mundial, essas falcatruas e golpismos que ainda existem, de forma velada, e que a todo momento é perpetrado pela elite via mídia, seja nos entretendo com faustões entre outros, seja pautando notícias que nada tem a ver com os interesses nacionais mas, sim, com interesses de grupos que teimam em voltar ao poder e que, para tanto, fazem qualquer coisa, inclusive, despolitizam os fatos sociais essenciais para o desenvolvimento do nosso país, tal como faziam os sensores da época da ditadura, com a diferença que isso se dá mais subliminarmente e, até, semânticamente, já que segundo um editorial da Folha de São Paulo, o que houve no país não foi uma ditadura e, sim, uma "ditabranda".
Para esses, quanto mais pessoas se desviando do debate político e indo para os estádios gritarem suas angústias, decepções, sofrimentos entre outros, melhor. Buscam confundir, inclusive, na consciência dos "brazucas", o continente do conteúdo, pois ao falarmos de política, e da importância do debate, no genérico, os interlocutores verdes e amarelos dizem: política? Pra quê? É tudo igual!!!
E assim, a ARENA de antes se transforma em PDS, que se divide entre o PMDB, PSDB e o PFL, hoje DEM. O PT, retirando sua base social, reduzindo sua militância, "eleva-se" a um partido da ordem, sucumbe aos interesses mesquinhos destes mesmos ditadores, elevados a senadores da república, tudo em nome da manutenção do poder sem base social.
Sem referência política, os nossos olhos se voltam para Dunga. Felizes ficamos por Daniel Alves, baiano, entrar logo no primeiro tempo da partida. Brigamos uns contra os outros por causa da fila que não anda. Nos esquecemos rapidinho que ficamos mais de 20 anos sem ter o direito de assistir ao vivo a seleção jogar pelo desejo exclusivo de um único homem, o ditador Ricardo Teixeira.
Mas isso tudo é reflexão de gente stressada, rancorosa, que não vê nada de positivo na vida, onde tudo é negatividade. De gente quadrada que não assimilou que "redondo, é rir da vida", que não aprendeu a enxotar a tristeza com uma simples sandália havaiana e que ao invés de se preocupar com essas coisas, o melhor seria deixar "a vida nos levar".
E se você tiver a audácia de perguntar, para onde? Um moderninho de plantão tem a resposta na ponta da língua: No Stress!!!
2 comentários:
Ótimo texto como sempre.
wWellington, não sei se você acampanhou o caso aqui em SP da Portuguesa onde conselheiros entraram armados no vestiário da Lusa e intimidiram os jogadores e técnico renê Simões que por causa do ocorrido pediu demissão. Pois, bem Perguntaram para o goleiro do São Paulo Rogério Ceni o que ele achou do caso, ele simplesmnte disse porque as pessoas, não entram não cobram assim dos nosso governantes como cobram dos times de futebol, concordo plenament com ele, a população tem que acordar da vida e cobrar duramente pesssoas que se aproveitam do poder. Mas fazer o que, o país onde em uma alienação sem tammnaho
Abraços
Não acompanhei o caso não, Uelton. Inclusive não vi nenhuma repercussão disso na mídia. Não estou dizendo que não teve, apenas não vir nem li nada a respeito.
Sobre o que fazer, mesmo considerando que vivemos em uma relação alienada, devemos combater a própria sociedade que precisa desses mecanismos para existir. A inserção em um movimento social de contestação desta ordem é fundamental para desembotar a nossa consciência, Uelton, pois sozinhos, e bem intencionados, não faremos muitas coisas. Seremos iguais aquele beija-flor que tentou, com o argumento de que estava fazendo a sua parte, apagar o incêndio na floresta...o bem intencionado beija-flor acabou morrendo queimado, coitado. Junto com a ação contra-hegemônica, devemos estudar os movimentos de constestação do passado para descobrir formas estratégicas e táticas de mobilização que não redundem nos mesmos equívocos de antanho.
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