Olá, pessoal.
Estamos assumindo mais um desafio. O nosso blog Esporte em Rede tem como objetivo fundamental, refletir sobre o esporte contemporâneo, nacional e internacional, buscando compreender suas relações internas, suas dinâmicas complexas e contraditórias com o contexto mais geral que caracteriza a sociedade como um todo.
Entendemos o esporte como um dos fenômenos mais excepcionais dos tempos atuais. Fenômeno esse que apaixona e influencia milhões de pessoas no mundo inteiro.
Por conta disso, o mesmo precisa ser refletido profundamente, buscando, como já dissemos, compreender os nexos e as relações das engrenagens que o movem interna e externamente.
Temos como propósito também, socializar informações de outros sites que publiquem matérias esportivas que estejam dentro do espírito do nosso blog: críticas e abrangentes. Esse é o nosso propósito. Tratar de discutir o esporte para além das suas fronteiras técnicas e táticas.
Contamos com você para obter sucesso nessa empreitada.
Começamos com um artigo próprio cujo tema é o título desta postagem. Este foi publicado no sítio do Observatório da Imprensa na época da Copa do Mundo de 2006. Mais precisamente no dia 27 de junho. Como a temática continua atual, achamos por bem torná-la pública também através do nosso blog, pois entendemos que a mesma segue perfeitamente a linha editorial que almejamos materializar aqui.
Leia, reflita, comente e se gostar, divulgue para os amigos.
Grande abraço.
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Um olhar sociológico mais aguçado nos permite localizar a gênese do esporte moderno como um elemento característico do século 18, impulsionado pelo processo de industrialização e urbanização de uma sociedade que dava os seus primeiros passos rumo ao desenvolvimento do capitalismo. Trabalhadores, camponeses e operários de diferentes localidades, chegavam às cidades em busca de novas oportunidades de emprego, fixando-se nas periferias. Além da esperança por dias melhores, traziam todo um repertório de tradições de sua comunidade de origem. Entre essas tradições figuravam diferentes tipos de jogos, que eram vivenciados para celebrar diferentes ocasiões e "matar" o tempo de ócio que, embora pouco, existia, ao menos para repor as energias gastas nos trabalhos estafantes das indústrias emergentes.
Essa cultura corporal, lúdica na sua essência e voltada para aspectos da tradição das diferentes comunidades que compunham as cidades, foi, aos poucos, devido a diferentes fatores, transformando-se e cedendo espaço a uma cultura que tinha uma relação mais próxima com os elementos característicos da sociedade capitalista, mais precisamente com o que se andava fazendo nas fábricas. Nesses termos, surge o esporte, trazendo três elementos que reinavam absolutos nas indústrias: os processos de eficiência, eficácia e, principalmente, de rendimento. Foi justamente esse último elemento, que no seu início se tratava de um simples rendimento físico, que se transmutou e, acompanhando a lógica do capital, tornou-se sinônimo de rendimento financeiro.
Essa lógica financeira, então, passou a compor o caldo esportivo e todo o mundo do negócio começou a enxergar no esporte um elemento muito forte de marketing, de publicidade e de propaganda de produtos os mais diversos, inclusive os que, em tese, nada têm a ver com o esporte, como as bebidas alcoólicas. Não por acaso, nesta Copa, pela primeira vez, os investimentos em mídia ultrapassam a incrível cifra de um bilhão de dólares! Das modalidades esportivas, é o futebol a que vem se tornando a mais rentável.
Em nome do e$porte
Jogadores de futebol, como Ronaldinho, por exemplo, tornam-se garotos-propaganda de vários produtos. Se na Copa do Mundo de 82 o merchandising dos jogadores se restringia às chuteiras, hoje vários são os produtos oferecidos através da imagem dos atletas, de picolé a agência bancária, passando por cerveja, guaraná, desodorante, entre outros.
Mas não são os jogadores as únicas estrelas desse espetáculo. No mundo do futebol, a estrela de quinta grandeza são os patrocinadores. Basta ficarmos uns poucos minutos diante da TV para constatarmos isso. Aliás, sozinhos, terão direito a 16% do total de ingressos dos jogos da Copa, o equivalente a 25 mil entradas. Enquanto isso, os pobres torcedores ficam de fora, já que para assistir a um simples jogo devem desembolsar, em alguns casos, cinco mil reais. Por essas e outras a Copa da Alemanha tem sido considerada a mais elitizada de todas.
Pela aceleração dos fatos, com os patrocinadores começando a tomar conta do espetáculo, não nos surpreendamos se na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, tivermos times compostos pelos brinquedos Estrela, chicletes Bubbaloo, picolé Kibon, desodorante Rexona, banco Santander, chuteira Adidas, isotônico Gatorade, guaraná Antarctica. Tudo em nome do e$porte
10 comentários:
Graaaaaaande Welington!
Mais uma ferramenta para discutirmos contra-hegemonia no esporte. Vamos lá, avançando para águas mais profundas.
Parabéns!
Edson
Obrigado, Edson. Conto com a sua participação.
Meu Tio well,
O blog trouxe uma inovação perante os blogs de esportes... Gostei muita dessa reflexão capitalista a que o futebol está inserido!! Já vi que o google vai colocar como fonte de pesquisa isso aqui!!! rsrsrs... Abração!!
George
COMPANHEIRO, EXCELENTE A SUA ABORDAGEM. NOS LEVA A REFLETIR A PERDA DE EMOÇÃO DO ESPORTE, NOTADAMENTE O FUTEBOL, ATUALMENTE. O CAPITALISMO FERE AS PESSOAS POR FOCAR SUA AÇÃO NO SUBCONSCIENTE.
UM GRANDE ABRAÇO.
ZÉ ROBERTO
Vida Longa ao Esporte em Rede...
Como no blog "real", este demonstra que vai ter muito fôlego, além de ser um fantástico instrumento de formação. Eu mesmo já usei em minhas aulas.
Vida Longa, Camarada Welington
Trotsky afirmava que o dever do revolucionário consiste em pôr a nu toda a fraude imposta pela burguesia às classes exploradas. As normas do catecismo burguês também são camufladas pela teatralidade do espetáculo esportivo e o camarada Welington nos arma com mais uma ferramenta para o confronto de classes. Vamos ao embate!!!
Grande Abraço
Anibal Brito
Certa vez, realizei um trabalho na disciplina Língua Portuguesa sobre como uma atividade lúdica se transformava em esporte competitivo. A ementa da disciplina permitia essa ênfase já que trata do estudo das linguagens e esta atravessa qualquer prática social. Como era época de Olimpíada, acho, fizemos o seguinte trabalho: elencamos as atividades lúdicas aprendidas em geral na infância e, depois, contextualizamos numa lógica de mercado. Foi uma experiência interessante porque mostramos como um jogo espontâneo como "triângulo" com gudes poderia se transformar, dentro dessa lógica, em um negócio esportivo. Lembro-me que criaram até uma "luva" para os jogadores de "capitães de areia" (rs). A discussão foi muito interessante porque percebemos como uma atividade de lazer, com suas regras, eram transformadas em algo comtetitivo e como as pessoas sentiam os efeitos dessa mudança. Uma delas, me lembro, foi a perda do prazer pelo jogo em si para o prazer em apenas GANHAR. Eles, os alunos, entraram na lógica para, sem seguida, questioná-la. Claro que alguns defendiam a idéia de que tudo pode virar negócio, de fato pode, mas o objetivo era mostrar a lógica de um sistema e como ela atravessa várias práticas humanas na sociedade.
Eu não sou professora da área, mas continuo amando o curso de Educação Física profundamente.
Correção de concordância:
Onde se lê: "uma atividade de lazer, com suas regras, eram transformadas..."
Leia-se: uma atividade de lazer, com suas regras, era transformada
Olá meu caro e nobre colega! Sei que não tenho domínio sobre a área de discussão acerca do referido tema. Aqui vai a expressão de senso-comum que tenho direito e dever de verbalizar.
Na verdade acredito que o problema não esteja simplismente no futebol, este é um problema do fenômeno esportivo que vem sendo difundido em todos os esportes e atinge os mais críticos dos pensadores. O que quero dizer com isso é que nós entramos num emaranhado capitalista tão perverso que tecemos muitas críticas mas agimos igual ou pior do que os que estão no poder.Um exemplo clássico disso é que quando eu era criança nós jogavamos futebol de pés no chão e de bola dente de leite, calçavamos chuteira para jogar nos clubes profissionais. Atualmente todo babinha é feito de adidas ou nike. Somos os consumidores deste mundo que criticamos e estamos cada vez mais trabalhando ainda mais para termos maior poder de consumo.
Me vejo e um beco sem saída, se não consumo sou excluído e se consumo sou capitalista selvagem. Qual a saída?
Abraços fraternos
Marcelo Trotte
Lendo este comentário, percebo como é antagonista nossa posição frente a esse mundo mercadológico em que vivemos, e aí concordo com a pergunta do colega [...] se não consumo sou excluído e se consumo sou capitalista selvagem. Qual a saída?
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