TEXTO ESCRITO PELO PROFESSOR ALAN JONHO presidente do PC do B, Sr.Renato Rabelo, se reuniu nesta última terça-feira, 09 de novembro com o presidente do PT José Eduardo Dutra integrante do governo de transição e defendeu a manutenção do partido a frente do Ministério dos Esportes.
Tudo leva a crer que a solicitação seja atendida e que o partido continue no Ministério. Já que o ministro Orlando Silva está à frente das atividades que envolvem a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
Análises da política de esporte nos apontam que o investimento prioritário no esporte de alto-rendimento e a realização de mega-eventos esportivos foi à tônica central do governo nos últimos anos no campo das políticas públicas de esporte e lazer.
Em tempos de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, o esporte tem se apresentado como valioso instrumento de ampliação da desigualdade social e da concentração de renda em nosso país.
Justifica-se que o alto investimento no esporte de rendimento seria uma medida de suma importância para o desenvolvimento esportivo e para a melhoria do desempenho dos atletas em competições internacionais.
Entretanto, experiências de popularização dos esportes em diversas nações demonstram que outra via é possível, possibilitando-nos resultados muito mais duradouros e condizentes com a melhoria das condições de saúde da comunidade e até mesmo do desempenho competitivo.
O futebol no Brasil, o basquete nos EUA, o tênis de mesa no Japão, o kung-fu na China, o Xadrez em Cuba são alguns bons exemplos de que a socialização dos esportes deve ser o primeiro passo na política de esportes nacional.

A justificativa para os altíssimos investimentos nesses mega-eventos esportivos é que ficaria um legado de infraestrutura e se ampliaria a prática esportiva no país.
Entretanto os jogos Panamericanos realizados no Brasil em 2007, apresenta-nos provas concretas do contrário.
Neste episódio pudemos observar: ataques a populações locais na tentativa de esconder as gritantes desigualdades sociais da cidade; falta de prestação de contas de mais de 1 milhão de reais, entrega de diversas construções realizadas com dinheiro público para mão de iniciativa privadas, gastos públicos absurdos na construção de espaços com possibilidade bastante limitada de vivência efetiva do esporte.
Um bom exemplo é o estádio Engenhão, orçado inicialmente em R$ 100 milhões tendo um custo total bem acima do valor orçado, custando aos cofres públicos cerca de 300 milhões e entregue ao clube de regatas botafogo por R$ 40 mil mensais mais custos de manutenção. Os gastos gerais com o evento estavam previstos em R$ 532 milhões e os gastos gerais com o evento chegaram a R$ 3 bilhões.
Segundo cálculos preliminares da CBF, espera-se que o governo gaste cerca de R$ 11 bilhões para se preparar para a copa de 2014. Já o projeto dos Jogos Olímpicos de 2016 está estimado em R$ 25,9 bilhões.
Segundo plano de gasto alternativo elaborado pelo movimento planeta sustentável com base em órgãos governamentais, só o recurso de R$ 11 bilhões da copa de 2014 daria para se investir: R$ 2,1 bilhões na expansão do saneamento, levar água tratada a 2,2 milhões de casas e coleta de lixo a 2,1 milhões – cerca de 20% do déficit de saneamento. (Segundo dados do IDH divulgado essa semana o país tem 20% da população sem acesso a saneamento e 57% dos brasileiros não têm coleta de esgoto. Dados do senso 2010 do IBGE aponta que o país têm 185 milhões de habitantes); R$ 2,8 bilhões para financiar a construção ou compra de 480 mil casas populares – 6% do déficit habitacional; R$ 2,8 bilhões para levar luz a 1,6 milhões de pessoas no campo – 13 % da população sem aceso à energia; R$ 1,4 bilhões para ensinar 600 mil jovens e adultos a ler e escrever - o que nos daria um saldo de 4% a menos de analfabetos no país; R$ 700 mil para levar o programa Saúde da Família a mais de 2 milhões de pessoas – o que superaria a população de Curitiba ou Recife.

Em paralelo a esses gastos absurdos, a esse derrame de dinheiro, a maioria das escolas públicas não tem quadras esportivas e grande parcela da população tem dificuldades de acesso aos serviços de saúde. As oportunidades de lazer são extremamente reduzidas, falta moradia, saneamento básico e alimentação, os recursos destinados à educação e saúde estão bem abaixo do necessário.
As contradições seguem seu curso. Na semana passada, o ministro Orlando Silva defendeu o investimento de prefeituras nos eventos. No caso de São Paulo o ministro defende o investimento dando exemplos de outros gastos nesse sentido e pra nosso espanto cita o caso desta mesma prefeitura que gasta R$ 28,30 milhões anuais em Interlagos para receber a Fórmula 1.
Aos que diante dos fatos se refugiam em discursos do tipo: esses eventos são importantes para confraternização entre os povos, para o intercambio cultural entre as nações. Nós lhes apresentamos uma necessidade ainda mais básica de cooperação: a de alimento.
Dados apontam que atualmente a produção de alimentos é superior a capacidade de consumo humano. Entretanto, temos hoje 1 bilhão de pessoas com fome no mundo, muitas delas crianças. 25 países apresentam condições alarmantes. A República Democrática do Congo tem 75% de sua população subalimentada.
Enquanto isso, esporte só como espectador. Empresas da construção civil se deleitam com os investimentos públicos e continuam espoliando os trabalhadores e o presidente LuLa ainda chora de felicidade com a vinda dos Jogos Olímpicos para o país.