sexta-feira, 9 de março de 2018

MULHERES NA HISTÓRIA DOS ESPORTES #2 STAMATA REVITHI




            A ação subversiva das mulheres impulsionou a inclusão das modalidades femininas nos jogos olímpicos e claro, seu potencial lucrativo. Como já falamos no texto anterior, o pensamento dominante no período em que marca o inicio dos jogos olímpicos modernos era totalmente patriarcal. O próprio Pierre de Colbertin possuía esta visão política, e baseou sua “manifestação periódica solene de esporte masculino” nos moldes gregos antigos. Ele possuía apoio do Papa Pio XI e já teria afirmado que: “Olimpíada feminina seria impraticável, desinteressante, antiestética e incorreta”. Para as mulheres, cabia tarefas domésticas e a procriação. Foi fundamental a atitude de mulheres como Alice Melliat, subvertendo a ordem, criando competições femininas, como também foi fundamental o enfrentamento de Stamata Revithi no questionamento do papel social das mulheres.

Aos 30 anos de idade, Stamata saiu de Pireu para tentar ventos melhores em Atenas, na Grécia. Sem marido, com um filho pequeno e com o sofrimento pela perda de outro filho. Ao chegar em Atenas, logo se juntou ao grupo de maratonistas por conta da observação que um jovem lhe fez a respeito de sua resistência física. Presa a esta ideia, prometeu que, mesmo com a proibição imposta sobre a participação de mulheres, estava em pé de igualdade com os competidores masculinos e com ou sem a autorização da comissão, seguiria em frente.

            Stamata fez, um dia após a realização da maratona de 1896, o mesmo percurso do evento olímpico de Colbertin, sendo que, concluiu os 42 quilômetros dando a última volta por fora do estádio, pois não possuía autorização para entrar. O esforço de proibir a participação feminina não foi o suficiente. A grega ainda concluiu o percurso com a diferença de 2 horas do vencedor, ficando assim na frente de vários competidores homens.

            Não se tem registros de sua vida pós o ocorrido. Há de se compreender que, diante da conjuntura, não seria interessante ao patriarcado dar relevância ao fato ou que uma mulher com tal comportamento ganhasse um lugar de destaque nos jornais. Basta ver na história do nosso país como foi o tratamento dado a mulheres subversivas à ditadura civil/militar: Quando não torturadas, mortas ou desaparecidas, silenciadas. Assim como toda história da participação das mulheres na nossa sociedade.  A maratona foi aberta às mulheres apenas nos jogos Olímpicos de 1984
  

segunda-feira, 5 de março de 2018

MULHERES NA HISTÓRIA DOS ESPORTES #1 ALICE MELLIAT


Durante este mês que marca o 8 de março como dia internacional das mulheres trabalhadoras, apresentarei uma série de textos com as importantes personalidades femininas que contribuíram para a introdução das mulheres na história do esporte moderno. Mulheres que enfrentaram um período conturbado, onde predominou uma construção do feminino baseada na fragilidade e submissão (que não está longe da contemporaneidade), excluindo-as da possibilidade de praticar modalidades ligadas à força. Nomes importantes, que lutaram dentro e fora dos ginásios e estádios pela visibilidade das mulheres nos espaços públicos.

Claro que as atividades esportivas reproduzem todas as características da sociedade capitalista: disparidade salarial, falta de políticas de permanência para as mulheres (entendendo que estas possuem jornadas tripla de trabalho), falta de representatividade nos setores de organização e direção do esporte, assédio moral e sexual, etc. Mas, já podemos visualizar alguns avanços: como a federação de futebol da Noruega, que irá igualar os salários das jogadoras, e Corinne Diacre, a primeira mulher a comandar um time de futebol masculino. Frutos das disputas políticas individuais ou de grupos feministas, contrariando alguns setores midiáticos que teimam em fortalecer a cisão esporte/política.

Um fato é inegável: o esporte em sua dimensão social, ainda é um lugar de predominância masculina. Temos muita luta pela frente.

Alice Melliat (1884-1957) foi um quadro relevante diante à exclusão das mulheres nas atividades esportivas. A francesa frequentava muitos estádios e acreditava que o esporte era uma excelente ferramenta de desenvolvimento da personalidade. Como praticante, foi a primeira mulher a obter um diploma concebido apenas a remadores de longa distância. Em 1917, fundou a FFSF (Federação de Sociedades Femininas da França) que passou a regular atividades esportivas das mulheres, num período em que existiu um forte mito de fragilidade, para justificar a proteção paternalista dos homens sobre as mulheres, expressada na proibição da participação destas nas olimpíadas modernas. Como já foi citado na introdução do nosso texto.

Por este motivo, em 1921 ela organizou a Olimpíada feminina, em Mônaco. O evento teve a participação de cinco países: Inglaterra, Suíça, Itália, Noruega e França. Ainda em 31 de outubro 1921, com apoio dos EUA, Tcheco Eslováquia, Itália e França, Organizou a Federação Internacional Desportiva Feminina (FSFI), e, no ano seguinte, 300 mulheres, de sete países, participavam da segunda Olimpíada Feminina.

Em 1938 a FSFI se dissolveu pois, as “crenças” que até então o Barão de Coubertin possuía sobre as mulheres (Fragilidade e submissão) iam caindo por terra, e, o mesmo, começou a introduzir cada vez mais provas femininas em seus jogos Olímpicos. O sucesso de público e a grande repercussão dos eventos que Alice ajudou a introduzir e a popularizar culminaram com o reconhecimento das mulheres como atletas olímpicas pelo COI em Berlim, 1936. Uma “capitalização” de todo o esforço da francesa
  
Por outro lado, a contribuição de Alice Melliat forneceu ao movimento feminista do período uma possibilidade de protestar sobre os papéis sociais das mulheres. Toda retórica embasada numa perspectiva biológica de que “a mulher tem útero e ovários, o homem não tem”, ou que justificasse sua “inferioridade natural”, poderia ser contestada, diante dos recordes e das excelentes participações femininas em modalidades antes, destinadas apenas aos homens. Sua luta deu um importante passo para a desconstrução de paradigmas que alicerçam a estrutura social vigente. Alertando até mulheres que não se consideravam feministas.