
De repente, não mais que de repente, novas praças esportivas são erguidas, outras, demolidas (como será o caso do Balbininho) e tudo isso em nome da "melhoria da qualidade de vida" do povo.
De repente, não mais que de repente, um dirigente esportivo do futebol baiano, quando da celeuma sobre se o Esporte Clube Bahia deveria ou não jogar no Estádio Manuel Barradas Carneiro, o barradão, santuário rubro-negro, disse que iria consultar os torcedores do Esporte Clube Vitória sobre o assunto. Interessante, muito interessante. Nunca me consultaram sobre a compra ou venda deste ou daquele atleta, sobre o salário deste ou daquele jogador e muito menos sobre os preços dos ingressos.
De repente, não mais que de repente, em um passe de mágica, as favelas da cidade do Rio de Janeiro desaparecem. Os meninos das sinaleiras somem. Os pedintes e mendigos de todos os tipos tornam-se invisíveis. Muros são erguidos, policiais invadem as comunidades de favelados, matam “as bestas”, os “elementos” da massa ignara, os sem-direitos e sem-justiça.
De repente, não mais que de repente, uma Copa do Mundo no Brasil, uma possibilidade de Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro sob os diversos argumentos: melhoria do transporte público (ó nóis aí!!!), incremento do turismo, ampliação dos empregos, distribuição de renda pelos empregos temporários, etc, etc. Argumentos autojustificadores, pois até onde consegue ir a minha compreensão das coisas, esses aspectos deveriam ser inerentes às políticas públicas de governos, e não moeda de troca por aceitarmos eventos esportivos deste ou daquele porte.
É como se dissessem: olha, aceitando os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo, o Pan-Americano, melhorias virão. Se não aceitarmos, sofreremos as conseqüências. Pensem bem, meu povo.
De repente... o povo pensa! A massa, ignara, pensa! As "bestas domadas", pensam! Os miseráveis, os famintos, pensam! Mas, paradoxalmente, o "governo do povo, pelo povo e para o povo" decide o pensamento final do povo. Pois já tá tudo pronto, decidido, pensado.
Mandar o povo pensar foi só "força de expressão", um "jogo de linguagem". Nós fomos escolhidos pelo povo justamente para desobrigá-lo desta tarefa. Nós pensamos em tudo muito antes do povo pensar em pensar. Nós sabemos o que o povo quer, o que o povo precisa. Circo, ao invés de pão. Medalhas, troféus e pódiuns ao invés de feijão, arroz e carne. Uma nova Fonte Nova, ao invés de nova habitação.

Palavras do Lula após reunião com o Comitê Olímpico Internacional quando da sua visita ao Rio de Janeiro e seu Cristo indiferente: “fazer os Jogos é "um compromisso do Estado brasileiro".
Como o Estado é o gerente da burguesia, tá tudo explicado, de repente, não mais que de repente.