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sexta-feira, 22 de março de 2013

Aldeia Maracanã mais um patrimônio histórico que tende a ruir em função dos interesses das empreiteiras

Os aparelhos repressivos do estado estão a postos para realizar, com muita força se preciso for, a retirada dos  índios do interior, pasmem, do Museu dos Índios.

Já foi exigida a desocupação pela Justiça burguesa. Foi declarado que os Índios devem sair do interior do Museu que o representa à décadas pelo interesse das empreiteiras de construir naquele lugar, o Museu Olímpico. Este será um dos legados dos chamados megaeventos esportivos.

Aqui em Salvador, tempos atrás, os mesmos interesses fizeram demolir a Fonte Nova e o Balbininho, patrimônios históricos tombado pelo IPHAN em maio de 1959.

Será que a história se repetirá? A face dela será trágica, ou mais uma farsa?

Não à demolição da Aldeia Maracanã

A saga de extermínio dos índios, iniciada desde a invasão portuguesa em terra brasilis continua. Agora a via não se dá pela matança física, pela violência corporal que extinguiu milhares de tribos que aqui habitavam. A estratégia e a tática do complemento da extinção indígena passa pela destruição dos seus símbolos.

Atenção. Não se trata aqui de um outro momento. É mais do mesmo. Muda-se a estratégia. O beneficiário? O grande capital, hoje ligado, entre outros empreendimentos, à construção das chamadas ARENAS ESPORTIVAS, para abrigar eventos efêmeros, pois assim é a lógica do capital, fazer as coisas sólidas, desmancharem-se no ar.

Imagem retirada do Blog de Elaine Tavares
A Aldeia Maracanã fica ao lado do Estádio Mario Filho, conhecido popularmente com a mesma  alcunha que leva o nome da aldeia. No meio do ano de 2012, o governo do Rio dizia que queria transformar o espaço em um estacionamento tendo em vista a Copa do Mundo de 2014. A reação popular fez o governo recuar, mas não por completo. Mudou apenas o destino do espaço, quer construir um Museu Olímpico.

Nada contra a construção de um Museu Olímpico. Que se faça. Mas em um outro espaço. Me intriga querer construir um Museu no lugar de um outro Museu. Sim, pois o espaço abriga o Museu dos Índios. Ali, historicamente, é um ponto de apoio para os indígenas do país inteiro. É um lugar de abrigo, de acolhimento, de debate sobre a cultura indígena.

Em um país em que muito pouco se faz para preservar a cultura dos povos, entre eles o dos povos indígenas, a atitude do governo não deve soar como estranha. Mas nós, que entendemos como ponto fundamental a defesa da memória destes povos, contra a sanha do capital, devemos lutar, devemos resistir, devemos dizer, em altíssimo e bom som: "NÃO À DEMOLIÇÃO DA ALDEIA MARACANÃ".

terça-feira, 19 de abril de 2011

Jogos indígenas: competição ou cooperação?

Termina hoje, em Coroa Vermelha, distrito da cidade de Santa Cruz Cabrália, distante 727 quilômetros de Salvador, Bahia, a décima primeira edição dos Jogos Indígenas. Este evento contou com a participação de diferentes etnias, entre elas a tuxá, caimbé, tupinambá, pataxó hã-hã~hãe entre outras, totalizando mais de mil índios distribuídos em 14 equipes que durante quatro dias, participaram de diferentes atividades esportivas.

O objetivo principal do evento é a integração entre os povos, suas culturas e congraçamento das etnias que somam-se em 15 no nosso Estado. Somente no extremo sul da Bahia há cerca de 25 mil índios da etnia pataxós. Em Coroa Vermelha, onde os jogos são realizados todos os anos, vivem 5 mil índios.

Os jogos são divididos em 12 modalidades: corrida rústica, arco e flecha, arremesso de takape, canoagem, entre outros, inclusive o futebol, são algumas das modalidades em disputa.

Sempre que ocorre este tipo de evento aparece, na mídia nativa, uma abordagem do mesmo completamente destituída de historicidade. É como se os índios, aculturados, procurassem imprimir uma repetição do modelo esportivo que conhecemos através dos Jogos Olímpicos, entre outros modelos divulgados que atualmente se traduzem pelo nome de megaeventos esportivos.

Tá vendo aí? Até os índios competem entre si. Viu lá? A competição é tão presente no ser humano que já se encontrava nos povos indígenas aqui "descobertos". Essas expressões aparecem, aqui e acolá, como detentora de uma certeza absoluta: a competição é um valor nato, é um elemento intrínseco ao ser humano. Se bobear, dizem até que faz parte do nosso código genético. É cromossômico, diriam outros.

Mas os eventos que se somam às disputas entre os índios que participam dos Jogos parecem indicar uma outra lógica. Ontem, por exemplo, na abertura do terceiro dia dos XI Jogos Indígenas Pataxó de Coroa Vermelha, os anciões e líderes, mais dos que os "atletas", foram os homenageados; canções foram entoadas em português e em Patxôhãno, e as mesmas dão o tom dos jogos, o real sentido e significado que os mesmos têm para todas as etnias que deles participam.

 Uma das canções assim dizia: "Muita lenda, muita glória, em nossa terra foi plantada. Chegaram as embarcações, trazendo santos e ladrões. Trouxeram histórias bonitas, muitos presentes e fitas. Até um deus ofertaram. Outra alma e outra crença, um punhado de doenças. E nossas terras roubaram".

Para isso eles fazem os jogos. Para disputarem não entre si, medalhas e troféus, glórias e pódiuns, mas para resgatarem seus valores, sua cultura, seu dialeto. Trocarem informações, mostrarem suas tradições para as comunidades não indígenas, entre outras coisas.

O agonismo está presente, a competição idem, a busca pela superação igualmente, mas existe uma lógica diferente nos códigos das modalidades esportivas praticadas pelos índios. Talvez, quem sabe, uma mensagem, àquela que diz que nós podemos muito, nós podemos mais, sem, necessariamente, jogarmos uns contra os outros, mas, sim, com o outro.

Talvez por isso, e só talvez, esses Jogos não tenham um átimo de segundo de visibilidade na mídia televisionada e, quando ocorre, o que é demonstrado não corresponde a verdade. É o necessário filtro de um modo de produção que insiste em demonstrar, pela sua lógica intrínseca, que competir é melhor e muito mais vantajoso que cooperar.