domingo, 25 de outubro de 2009

Educação Física escolar

A escolha do Rio de Janeiro como cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 reacendeu um debate muito antigo - embora um tanto quanto adormecido ultimamente - entre os professores de educação física no Brasil e que diz respeito ao papel tanto do professor quanto do esporte no interior das instituições de ensino, principalmente, nas públicas.

Entra Olimpíadas, sai Olimpíadas, os frequentes fracassos brasileiro nas mesmas são sempre justificados em função da precariedade com que se desenvolvem as aulas de educação física nas escolas. Professores desmotivados, escolas sem estruturas, alunos e alunas evadindo das aulas, falta de material esportivo, são os motivos mais comuns arrolados por todos os que pensam o esporte olímpico e enxergam a escola como a base da pirâmide esportiva.

Os que tem uma visão esportivizante da educação física considera o professor como um técnico, os alunos como atletas e as escola como um espaço de detecção de talentos. Nesse sentido o esporte deve ser massificado nas escolas, os alunos devem ser encorajados a participarem das aulas, ou melhor, dos treinos, e aos professores cabem, com o olhar clínico que lhe é nato, perceber as habilidades técnicas dos seus alunos, alçando-os à condição de atletas da escola.

O professor de educação física será reconhecido como bom, pelo número de troféus que ele conseguir para a escola e quanto mais medalhas conseguir colocar no peito dos agora atletas escolares.

A escola será a instituição principal da pirâmide esportiva, será aquela instituição que ficará na base da pirâmide, sustentando o processo de detecção dos possíveis talentos esportivos, daqueles sujeitos que, um dia, brindará o país com medalhas olímpicas, de preferência, de ouro.

Alguns depoimentos colhidos aleatoriamente em alguns sítios ligados ao esporte expressam, por parte de alguns, a função da educação física escolar. Vejamos:


(...) em se tratando de base, de lapidacao (...) tem que partir da escola de "Ensino Fundamental"

Eu nao sei nem pra que uma Escola Tecnica possui uma piscina "semi-olimpica", ja que sendo "técnica" nao é de sua responsabilidade nenhuma prática esportiva de competição e muito menos de aprendizado (Educacao fisica)...Esse tipo de ensinamento e capacitação, se fosse bem organizado, partiria do Ensino Fundamental, onde as crianças podem ser avaliadas como futuros atletas em potencial...

Bem, meu ponto de vista é o seguinte: Se o MEC, funcionasse como se deve, e de novo a velha reclamacao em relacao a eficiência do "esporte nas escolas de base", nao precisaria de "Ministério dos Esportes"..Sendo que a seunda etapa ficaria a cargo do COB e das federacoes esportivas...Apareceriam muito mais jovens atletas em potencial, que poderiam ser aproveitados pelos clubes e academias e suas respectivas federacoes...Ou seja, trabalhando a Escola na base, os clubes teriam que se preocupar só com o alto nível...

Se tivermos um fracasso retumbante em Londres (2012), não tenho dúvida alguma de que esses argumentos aparecerão com mais força ainda nos discursos dos dirigentes esportivos. Afinal de contas, depois de Londres vem o Rio de Janeiro e os atletas brasileiros ficarão com a obrigação de serem os primeiros no quadro de medalhas.

Não obstante, isso não pode fazer com que nós, professores preocupados com a formação humana, se deixe levar por esse debate que mais restringe do que amplia o nosso papel no âmbito escolar. Inclusive, penso que o mesmo deva ser incorporado nas nossas aulas, para que os alunos e alunas tomem consciência do sentido e do significado que é sediar os Jogos Olímpicos e, também, os para-olímpicos, tema da nossa próxima postagem.

domingo, 18 de outubro de 2009

Jogos 2016: por um Brasil sem fome!

Com o título “Você tem fome de quê?”, trouxemos no dia 19 de junho de 2009 uma reflexão que buscava comparar a compra dos jogadores Cristiano Ronaldo e Kaká que juntos custaram 160 milhões de euros para o Real Madrid com uma notícia presente no relatório da Organização das Nações Unidas sobre a fome e que relatava que este ano superaríamos a barreira de um bilhão de famintos no mundo.

Além da postagem, fizemos também uma enquete com os nossos leitores, perguntando se eles consideravam a compra dos jogadores, diante da realidade da fome mundial, um aspecto imoral ou normal. 78% disseram que era uma imoralidade (26 votos) e 21% acharam normal, coisa do futebol moderno (7 votos).

Como o futebol moderno é jogado no interior do metabolismo sócio-histórico do capital, ele se apresenta junto com as contradições do mesmo. Só a compra do Cristiano Ronaldo por 96 milhões de euros alimentaria mais de 8 milhões de etíopes. Somados ao valor da compra de Kaká, 64 milhões de euros, totalizaríamos a "bagatela" de 160 milhões de euros, quantia esta que amenizaria, e muito, a condição dos 18 milhões de brasileiros famintos.

Vejam vocês o seguinte. Tomando os valores do euro em junho deste ano, 93 milhões de euros equivalia cerca de 257 milhões de reais. Com 257 milhões de reais eu alimentaria e ainda sobraria dinheiro, mais de 8 milhões dos brasileiros famintos.

Quanto vai custa mesmo os Jogos Olímpicos? 38 bilhões de reais (perspectiva até 2016, podendo ser mais, muito mais e olha que não estou mencionando nem o dinheiro que será gasto para a Copa do Mundo de 2014). É muito, mas muito dinheiro mesmo para um Estado que até bem pouco tempo, fazia o discurso neoliberal de que não tinha dinheiro para a saúde, educação, habitação, segurança (e ainda o faz) e sob esse argumento justificou todo o tipo de privatização, colocando como mercadoria ítens essenciais - como alimentação - da existência digna de qualquer ser humano.



Mas alguns dirão que agora é torcer para tudo dar certo, tornar os Jogos viáveis deve ser o esforço de todo patriota, de todo brasileiro que ama o seu país, que tá de bem com a vida e que não desisti nunca! Esses discursos pessimistas, "a la contra" é coisa de gente revoltada, frustrada com a vida e que não tem o que fazer.

Então, deixa eu sair de cena um pouquinho e dá voz a uma atleta, a alguém que conhece por dentro o fenômeno esportivo.

Depois do anúncio da escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olímpicos de 2016, nosso emocionado presidente declarou: a meta agora é transformar o Brasil em potência olímpica.

Está cheio de gente questionando a viabilidade dessa meta. Por enquanto não vi ninguém questionar a validade dela. Eu quase acho o projeto mais viável do que válido.

A China foi a primeira no quadro de medalhas de Pequim 2008. IDH: 92º. O Quênia (147º no IDH) ficou em 15º lugar nas olimpíadas. À frente da Noruega, que foi 21ª no quadro de medalhas e tem o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano, segundo a ONU.

É possível tornar-se potência olímpica sem melhorar a distribuição de renda, a educação e a saúde pública. O destaque esportivo também pode prescindir da democracia, da liberdade de expressão e da liberdade de escolha.

Ganhar uma baciada de medalhas olímpicas pode encher um povo de emoção e orgulho patriótico, mas não faz um país melhor.

Como brasileira, ex-atleta e apaixonada por esporte, (...) Quero ver o Brasil no alto do pódio olímpico muitas vezes, mas como consequência da melhora de todos os nossos indicadores sociais.

(...)

Quando todas as nossas crianças frequentarem boas escolas, forem bem alimentadas e tiverem oportunidade de participar de bons programas de iniciação esportiva em locais com estrutura adequada, sob orientação de bons profissionais, teremos boas chances de nos tornarmos uma potência esportiva. Se forjarem em nós o destaque olímpico que desejam sem que tenhamos nada disso, nem quero pensar em como o farão.
"

Pois é. Palavras de Ana Mesquita, autora do livro “A travessura do Canal da Mancha” e recordista latino-americana da travessia do Canal da Mancha.

domingo, 11 de outubro de 2009

Perguntas de um blogueiro que ler


Se a cidade do Rio de Janeiro não fosse escolhida, o que seria do Rio e do esporte nacional?

Por que, no dia do anúncio da cidade que seria sede das Olimpíadas 2016, foram apresentados apenas argumentos favoráveis ao evento no Brasil?

O que dizer de uma rede de televisão, que funciona por concessão pública, apresentar apenas os atletas com argumentos pró-Rio?

Cadê as vozes dos jornalistas, esportistas e cronistas contrários ao Rio-2016?

Qual a relação entre a compra dos caças franceses pelo Brasil e os Jogos Olímpicos de 2016?

Por que os atletas que tinham críticas ferrenhas ao Nuzman, ficaram ao lado dele na disputa pela cidade sede?

Por que, de repente, não mais do que de repente, "ninguém" menciona as falcatruas do Pan-2007?

Depois das Olimpíadas, o Nuzman será candidato a presidente da (des)república?

Orlando Silva, o Ministro dos Esportes, será ou não candidato em 2010?

Por que, só agora, depois da vitória do Rio como cidade sede das Olimpíadas, o governo brasileiro vai fazer o PAC do esporte?

Por que a insistência em um modelo piramidal de desenvolvimento do esporte nacional?

Os dirigentes que já estão uma eternidade à frente das federações e confederações, deixarão seus cargos antes de 2016?

Qual a diferença do modelo de esporte brasileiro da década de 30 do século XX, para o atual, do século XXI?

A chamada "Lei Pelé", difere de que mesmo da "Lei Zico" se até os números das camisas dos dois craques são os mesmos?

Por que o esporte de rendimento é sempre o mais valorizado nas políticas de governo para o setor?

Quem, por fim, efetivamente, pagará a conta dos Jogos Olímpicos de 2016?

domingo, 4 de outubro de 2009

Papai Noel, Gnomos e boas intenções

O Comitê Olímpico Internacional, na última sexta-feira, dia 02 de outubro, sem dúvida alguma, fez história ao escolher a cidade do Rio de Janeiro como sede dos jogos olímpicos de 2016. Será a primeira vez que este grande evento esportivo se realizará na América do sul.
Quem vem acompanhando este blog desde a sua primeira postagem, dia 19 de abril do corrente ano, sabe do nosso posicionamento sobre o esporte de maneira geral e, especificamente, sobre a realização dos jogos aqui no Brasil, tanto a Copa do Mundo como, também, as Olimpíadas de 2016. Fomos contra.
Esta posição não cabe mais. A realidade histórica exige de nós um outro posicionamento. Mas este posicionamento não se pautará em uma perspectiva otimista ingênua tal como está aparecendo nos jornalismos de uma forma geral, com raríssimas exceções. Não estamos esquecidos de que as mesmas pessoas que estavam a frente do Pan-2007 e que até hoje não pagaram a conta – “São R$ 20 milhões, até agora, que o TCU cobra devolução aos cofres públicos, sem explicações claras sobre o seu uso. E há mais uma dezenas de processos para serem julgados...” (José Cruz) – estão também responsáveis pela organização dos Jogos para 2016.
Nada nos leva a acreditar que será diferente. Pessimismo? Não. Pessimista é o otimista mal informado, diria o sociólogo Chico de Oliveira. O que somos é realista. E essa posição realista não é fruto de nenhum tipo de “complexo de vira-lata” que, ao menos para o Presidente Lula, já ultrapassamos, mas baseada em fatos reais, como o citado acima.
E não estamos sós. Jornalistas sérios e conhecedores das entranhas do “mundo do esporte” como o jornalista Juca Kfouri e José Cruz comungam com esta ideia. Um outro jornalista, Flávio Prado, da JovemPan, faz parte também deste seleto e raro grupo. Ele afirma que para as Olimpíadas de 2016 é necessário “pessoas de confiança, de boa índole para administrar as finanças, já que até agora a verdade não foi revelada sobre a verba dos jogos Pan-Americanos”.
O Tribunal de Contas da União também está com a gente. Veja o que diz o seu relatório de julho deste ano sobre os equipamentos utilizados nos Jogos do Pan.“Quanto aos condicionadores de ar, a empresa Fast apresentou novos elementos, inclusive cópia das notas fiscais que demonstram a aquisição de todas as unidades contratadas. É, portanto, bastante verossímil a hipótese de que os equipamentos existam fisicamente. O que não se entende é o motivo pelo qual não houve ainda a sua apropriação pelo Ministério do Esporte, já que este não demonstrou até hoje perante o Tribunal, sua anexação ao patrimônio do órgão ou dos entes a que serão destinados.Dos 1.628 equipamentos de ar-condicionado adquiridos, 813, ou seja, metade, sequer foi instalada,por desnecessária. Trata-se de evidente desperdício de dinheiro público”.
Esses são alguns elementos que nos fazem “pessimistas”. Ainda não fomos tocados pelo fenômeno das lembranças efêmeras. Achamos incrível o fato de quanto mais o tempo passa, quanto mais a história demonstra a incapacidade de determinadas pessoas e grupos gerenciarem o dinheiro público para as coisas públicas e realmente relevantes no momento atual, seguimos acreditando que tudo será diferente, sem nenhuma prova factual deste mesmo grupo. Simplesmente acreditamos e... ponto. Já cunharam até a frase "o brasileiro não desiste nunca!".
O Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro nem conta prestou à sociedade depois do Pan. Foi ao Congresso Nacional e no momento da sabatina alegou ter um compromisso muito sério, inadiável, deixando os parlamentares e os brasileiros a ver navios. Nenhuma prestação de contas da utilização do nosso dinheiro, um desrespeito completo para com a República. Você lembra disso? Ou já foi tocado pelo fenômeno das lembranças efêmeras?
O nosso Ministro dos Esportes nos quer fazer acreditar que o que faltou no Pan foi planejamento. Sei, sei...Marx, em 1848, já tinha descoberto que o Estado Moderno é o executivo da burguesia e nós, em pleno século XXI, acreditando em Papai Noel, Gnomos e nas boas intenções do Nuzman.
Só para registrar, a Folha de São Paulo, hoje, traz a seguinte matéria no caderno de esporte: "Olimpíada-2016 tem a primeira rusga" e complementa "Ministério do Esporte e COB expõem divergências ao falar sobre como transformar o país em uma potência esportiva".
Parece que o problema de planejamento só está começando