Refletir sobre o esporte para além das configurações táticas e técnicas que lhes são próprias e tendo o mesmo como expressão singular para pensarmos fenômenos mais gerais da sociedade, eis o objetivo do blog.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
AI-5 já morreu?
No final do mês de janeiro último ocorreu um sério problema de censura no nosso país envolvendo uma importante pesquisadora da área da educação, educação física e da psicologia social, a jornalista, pós-doutora e professora associada da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), Kátia Rúbio.
A censura veio por parte do Comitê Olímpico Brasileiro em função da publicação de um livro da professora (imagem do livro acima) em que ela se utilizava de expressões e símbolos que no entendimento do Comitê, eram exclusivas do COI - Comitê Olímpico Internacional.
As expressões e símbolos em questão eram os termos "olímpicos" e "olimpíada", juntamente com os coloridos aros olímpicos, simbolos dos Jogos Olímpicos e que representam os cinco continentes: azul (Europa); amarelo (Ásia); Preto (África); Verde (Oceania); Vermelho (Américas).
A notificação recebida pela autora do livro exigia a retirada de circulação do mesmo, que foi desenvolvido objetivando auxiliar os professores de educação física e das outras disciplinas que lecionam para educandos do ensino fundamental e médio no trabalho sobre educação olímpica, tema extremamente raro nas escolas e com pouco material bibliográfico para consulta.
Essa questão fere não só o trabalho intelectual da professora Kátia Rúbio como, também, a autonomia das universidades brasileiras onde pesquisadores e pesquisadoras se encontram e buscam, com o seu trabalho de ensino, pesquisa e extensão, ampliar a capacidade analítica dos fenômenos sociais que nos cercam.
Foi pensando no conjunto desses elementos e movido pelo espírito de solidariedade de classe que um coletivo de professores/pesquisadores do grupo LEPEL (Linha de Estudos e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer), tendo à frente a professora Celi Taffarel (FACED/UFBa), que uma moção de repúdio foi enviada ao COB, reivindicando que o mesmo, conforme o documento, "(...)não interfira e não atente, com suas medidas inconstitucionais contra a AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA porque isto significa atentar contra a Constituição Nacional e, em última instância, atentar contra a soberania da nação brasileira. Não será calando as universidades ou lhes impondo restrições quanto ao uso de termos que obteremos o mérito de sermos um PAÍS OLÍMPICO. EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA, CONTRA A MEDIDA DO COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO DE USO PRIVATIVO DOS TERMOS REFERENTES A JOGOS OLÍMPICOS."
Em tempo que se discute o Plano Nacional de Direitos Humanos e que se exige do governo federal a abertura dos documentos da ditadura militar brasileira, chega a ser emblemática esta postura de censura do COB-COI. Vamos torná-la oportuna, utilizando a mesma para além de discutir olimpismo, discutir democracia e cidadania, termos que não fazem parte do vocabulário dos "senhores dos anéis".
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10 comentários:
Acho que o COB SEMPRE foi reacionário e nazi-facista, veja sua própria origem. Alguns grupos ligados à eles, como o pessoal da ginástica que não aceita questionamentos e colocaram no castigo ginastas como a Jade, também.
Não tem haver com censura DESTE governo, em todo o MUNDO o COB tem este jeito de agir: com autoritarismo. Isso só ficou mais explícito agora.
Acho que a Kátia tem que abrir um processo contra o COB e pedir apoio do governo, um governo que até agora tem sido o mais democrático dos nossos 500 anos de história.
Caramba, seria só mudar a capa numa nova edição ou colocar uma observação sobre os nomes estarem registrados?
Quanta complicação... Certamente tem mais que isso ai na história.
Observo que, em certas entidades, os seus dirigentes se sentem de certa forma "blindados" como se vivessem numa redoma invisível que, imaginariamente os colocam acima do bem e do mal, num "mundinho" à parte onde as leis e decisões da sociedade não possam vir a interferir.Parece que vivem num outro contexto.Gostaria de saber qual foi o "General" que encampou essa insana censura a produção científica.Ainda não conhecia a obra em questão, mas agora é que faço gosto de comprá-la e indicar aos meus colegas professores.Fora AI-5!
Antonio Costa Silva
Caro Antonio. Acho de extrema inteligência esse tipo de protesto. Vamos às compras, todos nós, contra a atitude desrespeitosa do COB/COI e em favor da autonomia universitária.
É isso aí, Professor Welington, essa será a melhor forma de protesto. E não apenas a compra do livro que os "inquisidores" querem lançar à fogueira, mas trazer o seu conteúdo à discussão, através de novos textos, textos estes que deverão conter as expressões censuradas pelos loucos do COB/COI.Vamos todos mexer nas feridas dos amantes da ditadura!
Antonio Costa, seu ex-aluno da Unijorge.
COB/COI-5!!!
Prazer em "revê-lo" Antônio e fico feliz por notar sua veia crítica. Parabéns. Ulisses, adorei o trocadilho.
Blogueiros...
Antes de mais nada e por ter visto o seu nome citado quero expressar aqui meu amplo e irrestrito respeito e admiração pela Prof. Cely Taffarel tendo lamentado e muito sua ausência no último CONBRACE 2009.
Bem, saudações prestadas tenho uma indagação: Alguém conhece aqui a "lenda de Tântalo"? Pois bem... meu comentário reside mais ou menos no contexto em que Tântalo se vê condenado a padecer de tamanho sofrimento e condenação por ter "ofendido os deuses". Esta é a questão. Com a reserva de mercado que o sistema CREF/CONFEF simultãneamente pretende fazer no seio da Educação Física no Brasil nos surpreendemos em perceber a contaminação de membros pertencentes simultaneamente ao COB e ao CREF/CONFEF a disseminarem os seus interesses ideológicos e pessoais (Com direito a participação de Ministro dos Esportes no dia por eles instituído como sendo o do PROFISSIONAL da EDUCAÇÃO FÍSICA), com seus discursos fragmentados e uma reprodução de esporte ou de políticas em torno do esporte onde elementos do campo social, análises críticas e filosóficas, superadoras e emancipatórias tão pertinentes ao "entorno" do fenômeno construido e entendido como o fenômeno esportivo tomem vão e sejam discutidos em sua totalidade, inclusive política. Resultado disso? Represálias! Não conheço a referida obra citada, nem a lí por isso solicito que me corrijam se eu estiver errado mas tenho quase a absoluta certeza que o livro da eminente professora da USP traz uma abordagem que certamente não estão alinhadas com os interesses dos "deuses" do COB\CREF\CONFEF.
O que devemos fazer? Vou ilustrar:Um membro da direção da escola onde leciono mentiu afirmando que se os planos de curso até então não elaborados pelos professores de outras áreas não fossem entregues a escola ficaria sem recursos da Secretaria Estadual de Educação em determinado sorteio no qual a unidade de ensino fôra contemplada em tempo pré-definido. Correrias e mais correrias percebeu-se a fraude e absolutamente ninguém se manifestou. O mesmo vice-diretor ao enviar o convite de reunião de pais e mestres aos alunos e responsáveis colocou observação ao final do convite afirmando que o pai ou responsável que não comparecesse a referida reunião seria, ou melhor, teria seu nome encaminhado diretamente ao conselho tutelar do municipio afim de que fosse caracterizado a condição de "abandono de menor". O Mesmo quando empresas privadas fizeram anúncios nos muros dos prédios publicos da escola, sem consulta ao colegiado escolar e sem consenso. Pequenos gestos escondidos em tais situações abrem precedentes enormes que ferem a democracia e que podem recrudescerem ambientes ditatoriais. Somente eu me manifestei e na concretude, não vou negar, temo represálias, mas, não permiti que este precedente aberto ferisse o direito democrático, ou o estado de direito, a construção dentro do coletivo, a liberdade em detrimento de ações autoritárias e arbitrárias, segundo interesses particulares ou dúbios e desprezando o diálogo e a liberdade de expressão, o regime democrático, a dialógica do entendimento.
Por fim acho extremamente importante que nos levantemos e fiquemos alertas em situações como estas nos posicionando de maneira firme em defesa da produção do conhecimento livre, da defesa da universidade e do livre saber, da liberdade de expressão afim de que não recrudeçam períodos nefastos dos a nossa sociedade brasileira tanto foi testemunha em momentos outros dos quais certamente pouco nos orgulhamos, a ditadura militar e o seu AI-5.
Forte abraço e desculpem mais uma vez a extensão do comentário.
Prof. Carlos Almeida
Lavanderia Tombense???
Alguém já ouviu falar do futebol da Tombense?
Alguém sabe qual campeonato ela joga?
Não é estranho ouvir que essa Tombense é dona dos direitos/equipe reveladora de importantes jogadores (Bruno, ex-Galo atualmente goleiro no Flamengo; Márcio Araújo, ex-Galo atualmente no Palmeiras).
Nas negociações com esses jogadores a "Tombense" está sendo recebendo uma parte da grana...
Estranho, muito estranho...
Isso tem a maior cara de lavanderia...
Pessoal, leiam abaixo a mensagem enviada pela professora Kátia Rúbio, autora do livro embargado pelo COB/COI á professora Celi Taffarel. Atentar para o fato da força que tem a ação coletiva e para o descaso pela situação do professores de educação física no Brasil.
Querida Celi
Te escrevo antes de mais nada para agradecer tua iniciativa.
É incrível constatar ao longo desses longos dias o quanto colegas
brasileiros se calaram e se acovardaram com o que ocorreu, seja por medo,
seja por oportunismo ou por qualquer outra questão. Por outro lado colegas
de todo o mundo fizeram o mesmo que vc, enviando mensagens pessoais e/ou
institucionais para o COB, o que levou os Senhores dos Anéis a retirarem a
ação. Entendo que somente essa pressão foi capaz de demovê-los a levar o
processo adiante. E isso me enche de coragem a continuar nessa batalha.
Estamos espalhados, mas quando precisamos, rapidamente nos mobilizamos e
alteramos o curso das coisas.
Lamento apenas a atitude dos brasileiros. Poucos foram aqueles que
conseguiram dimensionar a extensão dessa atitude do COB: a restrição de
nossa liberdade de pensar e agir, a determinação daquilo que podemos ou não
fazer ou ainda a apropriação de um tema que é da sociedade e não de um ente
social ou pessoal. Obrigada pela coerência que te move e te mobiliza.
Obrigada por ter sido uma das poucas professoras-coordenadora de grupo a se
posicionar diante dos poderosos.
Teremos pela frente muitas outras batalhas nesses anos que virão, uma vez
que esse tema está sendo apropriado indebitamente por quem só deseja retirar
dele valor em espécie. Nós seguimos nosso curso. Espero ter tirado disso
algumas lições que possam ser úteis a muito de nós.
Grande abraço
Katia Rubio
EEFE-USP
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