quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Para que o futebol seja do povo

Escrito por Manuel Neves – Ruptura/FER   
Sex, 18 de Junho de 2010 18:14

Há vários exemplos de luta de classes nos gramados, desde os trabalhadores ferroviários que fundaram o Manchester United até a heróica equipe do Dínamo de Kiev.

 
Começou em 10 de Junho o Copa do Mundo de futebol na África do Sul. O torneio mais importante do esporte mais popular do mundo. Mas aquilo que poderia ser uma festa de diferentes povos é, em vez disso, um imenso veículo de alienação, com garotos de pouco mais de 20 anos que “valem” 96 milhões de euros, empresários e magnatas a trocarem entre si milhões que, como sempre, veem de quem trabalha. Mas não foi sempre assim nem tem que ser sempre assim.
 
O futebol não é só o “ópio do povo”, podendo também ser “o alívio do oprimido”. Nas bancadas de Old Trafford, estádio do Manchester United, em vez do habitual vermelho, milhares usam orgulhosos cachecóis verde-amarelos, em honra ao uniforme original do clube, que foi fundado em 1878 por trabalhadores ferroviários e em protesto contra a administração da família Glazer que dirige o clube. E nem as vitórias dos últimos anos abafam o protesto dos adeptos que, segundo os seus cânticos nas bancadas, querem o clube de volta.
 
Gramados vermelhos
 
E há vários exemplos de luta de classes nos gramados. Desde o heróico time do Dínamo de Kiev que, com o nome de FC Star, enfrentou em 1942 o Flakelf, em São Petersburgo, uma equipe que representava a força aérea alemã, para servir de exemplo da superioridade alemã. Foram previamente avisados que deveriam perder. No entanto, apesar de todas as ameaças, venceram por 5 a 3 e, no último minuto, o avante da equipe soviética, após driblar o goleiro alemão, resolve voltar ao meio do campo em vez de marcar mais um gol, para maior humilhação dos nazistas. O árbitro, oficial das SS, apitou o final do jogo imediatamente. Os jogadores foram torturados (um morreu sob tortura) e enviados para campos de concentração. A história acabou por entrar no imaginário de resistência ao fascismo e ainda hoje, no estádio do Dínamo de Kiev, há uma placa que comemora essa equipe.
 
Em 2006, a guerra civil na Costa do Marfim parou com o treinamento da sua seleção para o Mundial e, quando Diego Maradona derrubou a Inglaterra em 1986, foi como se a Argentina, durante 90 minutos, tivesse ganho a guerra nas Malvinas.
 
Na África do Sul, a classe trabalhadora vai ver os seus ídolos jogarem bola. Com o mundo inteiro assistindo, é uma oportunidade única para que se batalhe contra a pornográfica relação entre o dinheiro e o futebol e que, num mundo que vive em guerra e com milhões de explorados, levantem-se as bandeiras da justiça e da paz. Para que a bola, um dia, esteja do lado do povo.
 
Fonte: Jornal Ruptura no. 109

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