domingo, 15 de setembro de 2019

Sensei sensato e o antro dos canalhas



Antro, substantivo masculino, escavação natural que pode servir de abrigo a pessoas ou animais selvagens; gruta, caverna. Caverna. No sentido figurado, lugar de perdição ou vícios, abismos. Abismo. Nosso país sempre foi um poço de desvios de conduta fantasiados de humor e zombaria. Apresentadores de Tv que usam do horário nobre nos finais de semana para mostrar vídeos de pessoas se machucando ou em situações desconcertantes. Objetificação e hipersexualização do corpo feminino, entre outros.

O tempo livre do trabalhador bombardeado de absurdos. Para nossa sorte, tínhamos os shows de horrores limitados aos domínios da “janela de vidro”. A televisão. Para nosso azar, houve um tempo que o antro de canalhas faziam sucesso apenas lá. Hoje, eles ganharam vida política e pública. Ser canalha, misógino, está garantindo posição de privilégio nacional. Dá pra virar Presidente.

Ministros que atacam em palestras internacionais as esposas dos chefes de estado, a chamando de feia, corroborando com a atitude do Presidente, que vai às redes sociais e curte um meme que também afirma que a esposa de um outro presidente é feia. “Humorista” que num stand-up diz que discorda do Presidente da República, quando ele afirma que não estupraria uma deputada porque ela não merecia, tendo quase sua voz silenciada por afirmar num tom calmo um “merece”, pelo estrondoso aplauso da plateia. Ser cretino está rendendo aceitação.

O que esperar de um perfil de instagram que deu control C + control V na conjuntura? Uma página que se propõe a divulgar “humor ácido” para falar da Arte Marcial Brasileira, Jiu-jitsu? Numa breve olhada no perfil @Senseisensato, qualquer atleta ou entusiasta que já deu uma lida na história do Jiu-jitsu Brasileiro, de uma forma mais radical, percebe as contradições de seu pseudônimo. Usar a foto do patriarca Hélio Gracie com a palavra sensato embaixo não é lá uma das melhores opções. Invadir academias e achar que mulheres só servem para procriar são alguns dos atributos do senhor em questão.

Se você continua a deslizar a tela, perceberá que as mulheres aparecem hipersexualizadas, como nos programas cretinos citados no início do texto. Uma mulher vestida apenas com uma camiseta, insinuando um impedimento para o namorado não ir treinar. Um compilado de ensaios sensuais em forma de crítica, questionando quando os quimonos começaram a ser vendidos na seção de lingerie. A cultura do estupro, que submete o valor das mulheres a uma lista de condutas morais relacionadas a sexualidade e a violação dos direitos autorais estão presentes nas publicações do “Sensato”.

O absurdo não está mais lá, publicado. Foi apagado com muito esforço. Mas, para o azar do administrador, a vítima tirou um print de sua publicação criminosa. Uma atleta de Jiu-jitsu feminino teve sua foto amamentando seu bebê publicada sem autorização, sendo alterada e contextualizada sexualmente, tendo um graduado ao fundo exclamando “deixa um pouco para mim”, insinuando que o mesmo estaria interessado em ocupar o lugar da criança.

A lei dos Direitos Autorais (9.610/98) em seu artigo 7 diz que fotografia é obra intelectual protegida, e no artigo 29, é apontado que sua reprodução depende de autorização prévia e expressa do autor. A atleta ainda solicitou diversas vezes que tivesse sua foto retirada da página, como também solicitou o apoio de amigos e de páginas de Jiu-jitsu feminino para que fizeram denúncias ao instagram por conteúdo indevido. Recebendo um feedback de não violação das diretrizes da comunidade. Uma falha que deve ser revista urgentemente pela empresa. Para quê servem as denuncias? 

A vítima pode comunicar o fato na justiça como crime virtual, pois tal publicação ofendeu a sua reputação (Art. 139 do Código Penal), que de acordo com o Conselho Nacional de Justiça, é um dos crimes mais comuns nas redes. Ela precisa coletar as evidências, registrar as informações em cartório e se dirigir à uma delegacia mais próxima. O que é de extrema urgência. O administrador da página precisa compreender que o ambiente virtual não é uma "terra de ninguém". Algumas Leis se aplicam na web. 

A violência contra as mulheres nos tatames estão ganhando rostos e nomes através de iniciativas de algumas páginas como a Bjjgirlsmag e UOL, mas ainda recebe o silêncio e a impunidade aos agressores, das instituições reguladoras do esporte. Apenas a Sport Jiu-jitsu South America Federation (SJJSAF) se posicionou contra os abusos disponibilizando uma ouvidoria para escutar e acolher mulheres vítimas de violência causada por atletas, professores e praticantes (A ouvidoria funciona 24h por dia pelo whatsapp ou ligação e o número é: (21) 97102-5414).

Necessitamos de punições rígidas e emergenciais contra os agressores no Esporte, como proibições de participação em eventos, punições a equipes que tenha membros envolvidos em casos de violência contra a mulher e criação de regras específicas que condenem agressores em eventos esportivos.

Precisamos também da punição desses agressores na esfera civil. Não podemos mais tolerar comportamentos como o da página @senseisensato ou de figuras públicas que ocupam funções importantes na política Nacional. Obviamente o ataque às mulheres faz parte da política de governo atual. Sempre foi sua agenda. Mas devemos nos mobilizar nas redes sociais e nas ruas, não deixando que isso seja banalizado. O Estado não é um antro exclusivo aos canalhas. A sociedade também não. 

Ao contrário da decisão do instagram, tais atitudes violam as diretrizes das relações sociais humanitárias. São criminosas. Devemos devolver estes crápulas ao seu lugar de direito: O esgoto da história. A sociedade brasileira não pode ficar assistindo atônita essa corja. Nem aplaudindo é claro. 

Denuncie!!  Disque 180.

Um comentário:

Clipping Path disse...


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