segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Jogos Para-Olímpicos, doping e "mala branca": como não falar de um assunto

Muito se fala dos Jogos Olímpicos e muito pouco dos Para-Olímpicos. Aqui vai uma crítica e uma auto-crítica. Percebi isso em relação ao Esporte em Rede justamente quando terminei a postagem sobre a Educação Física escolar. No último ponto, do último parágrafo lembrei que até então, apesar de discutir as questões ligadas aos Jogos Olímpicos eu não mencionava nada em relação aos Para-Olímpicos.

E quase que acontece de novo de não falar sobre as Para-Olimpíadas. Isso porque a realidade sempre dinâmica do mundo esportivo estava nos obrigando a retormar o tema DOPING. Pois além desta semana termos novidades com o caso de Daiane dos Santos, na última postagem do mês de agosto eu terminava falando do doping prometendo uma outra postagem sobre o DOPING GENÉTICO. Não cumprir esta ainda. Estou estudando o tema, lendo um pouco sobre o mesmo para não incorrer em equívocos.
Além da situação da ginasta brasileira, teve também o caso da chamada "mala branca", que alguns times de futebol estão utilizando nos campeonatos. Há quem ache isso extremamente natural e, o que considero um extremo paradoxo, são as mesmas pessoas que são contra ao uso de doping em competição.

Mas o que tem uma coisa a ver com a outra? O que tem o doping a ver com a tal da "mala branca"?

Primeiro é preciso considerar que conceitualmente, as duas coisas são bem diferentes mas os objetivos dos que se utilizam dos procedimentos são os mesmos, ou seja, otimizar o rendimento esportivo. Um usa substância química e o outro uma substância em papel: o dinheiro e tudo isso para poder levar vantagem na competição. Digamos, para ficar bem entendido, que a "mala branca" é o doping financeiro.

Misturando tudo, considero que doping e "mala branca" antes de ser uma excrescência, são procedimentos próprios da dinâmica do esporte de rendimento onde o que realmente vale é a vitória a qualquer preço, ou a derrota. Alguém aí lembra da goleada sofrida pela seleção do Peru contra a Argentina na Copa do Mundo de 1978 por cinco a zero, justo o placar que a própria Argentina precisava?

Voltando ao doping clássico, entendemos que os atletas de ponta do esporte de rendimento precisam se dopar se quiserem alcançar o pódium, que lhes renderão melhores patrocínios. Ciência, tecnologia e doping, é a equação para o atleta campeão atualmente. A questão é que alguns, eventualmente, são flagrados e punidos para que a aura, já perdida do fair play, configure-se nas consciências ingênuas daqueles que ainda acreditam que o esporte de rendimento é um fenômeno isento de interesses do capital.
Importante citar aqui, sobre a questão do doping, o que diz o professor Lino Castellani, que ao participar do debate sobre uma postagem deste blog reproduzida no blog do José Cruz, assim expressou sua opinião sobre o tema:"(...) o dopping não é manifestação patológica do alto rendimento e sim elemento integrado à sua lógica. Somente a hipocrisia impede que tal compreensão seja assimilada. Em sociedades marcadas por valores defensores da vitória a qualquer custo ("o importante é vencer, não interessa como", não é assim que disseram Gerson ter dito, embora ele não o tenha feito?)a vitória - e somente ela - é garantidora de salário, patrocínio e bajulação de todos, principalmente da mídia esportiva, tão responsável quanto pelo cenário."

Concordamos em gênero, número e grau. E consideramos isso, também, em relação ao doping financeiro pelos motivos já expostos. Mas, pera aí...e os Jogos Para-Olímpicos? Fica para uma outra semana.

22 comentários:

Marcelo "Russo" Ferreira disse...

Caro Welington.
Ajudando: Jogos Olímpicos e Olimpíadas são coisas diferentes, falam de "etapas" diferentes dos Símbolos olímpicos, vamos assim dizer. Assim o é com os Jogos ParaOlímpicos e Olimpíadas. Aliás, vocês já repararam que sempre que vamos aos Jogos Olímpicos achando que vamos trazer tuias de medalhas (e não trazemos), culpa-se a Educação Física na Educação Básica? E, após os Jogos Paraolímpicos, os quais trazemos tuias de medalha, a Educação Física na Educação Básica (que não existe para alunos com alguma deficiência) parece que mudou de repente?
Vida Longa!

Welington disse...

Olá, Marcelo. Obrigado pela contribuição. O ponto da sua reflexão é muito importante. Aliás, a Educação Física, mesmo considerando os ditos "normais" está para aqueles que já dominam alguma técnica ou gesto esportivo. Invariavelmente, embora as coisas estejam mudanddo lentamente, os professores de educação física optam por aqueles que já tem algum domínio sobre o esporte que está sendo "ensinado".

Anônimo disse...

Olá a todos e todas!

Para compreender a ocorrência do "dopping" e sua existência dentro não só do ambiente esportivo como das academias de ginástica/musculação recheadas de "corpos dóceis" ou "docilizados" pelas "bombas", não podemos deixar de lançar mão a um foco recorrente aos tempos contemporãneos, alicerçando com a mãe de todas as ciências, a história, afim de entender o "por quê" ou os "por quês" de se "doppar" ou de se deixar "doppar".

Em seu livro, Sociedade do Conheciumento ou Sociedade das Ilusões o professor Newton Duarte parafrasea Marx ao dizer que "conclamar as pessoas a acabarem com as ilusões sobre uma situação é conclamá-las a acabarem com uma situação que precise de ilusões".

Sendo assim, falar do dopping é falar da sociedade que permite que o mesmo exista, o modelo capitalista, excludente, competivista, individualista, egoísta, supressor das liberdades individuais, destruidor dos sujeitos.

Esse mesmo modelo privilegia mais os ditos normais aos em detrimento dos atletas páraolimpicos ou das páraolimpiadas, por motivos óbvios aos quais não irei me ater no momento.

O que eu quero dizer é que foco recorrente do qual não podemos nos distanciar ao revermos os casos de dopping é: Qual é o tipo de sociedade que fomenta o dopping? Qual o tipo de sociedade que faz com que o indivíduo se utilize de recursos alheios a seu próprio rendimento ou a sua própria condição física natural (capacidades cardio-respiratória, potência, velocidade etc.), abrindo mão do, como foi dito, falido "fair-play", para que em uma disputa busque os caminhos de ultraje, embustre, enganação torpe visando o caminho do mais fácil e revelando uma distorção de caráter e de moral? Qual é o tipo de sociedade que permite a existência das "malas brancas"? Do indivíduo se "vender" naquilo que mais gosta de fazer, de praticar, ao ponto de escolher como profissão inclusive, de se anular enquanto sujeito, como na destruição do sujeito foucaultiano? Ou da sociedade do descontrole contida em Mezaros em sua obra "Teoria da Alienação em Marx"?

Anônimo disse...

(continuação)

A resposta que nos revisita, que é recorrente, meus amigos e que permeia boa parte da história moderna do homem não é outra senão, a de sempre - o modelo capitalista!

É justamente por ainda estarmos com o individualismo que é um dos pressupostos paradoxais do sistema capitalista que podemos entender o que leva pessoas a se "auto-drogarem" ou se deixarem "drogar" sob o discurso do "fim justificando os meios" para se obter o "sucesso", o "pódium", o "primeiro lugar", custe o que custar, "doa a quem doer", afinal, "No pain, no gain", certo? Errado!

Lembro-me da pressão a que fôram submetidos os ginastas Diego Hypólito e Daiane dos Santos nos jofos panamericanos de 2007 ao ponto dessa pressão interferir em seus resultados. interferir negativamente. A própria Daiane na época do Pan deu declarações de que era um ser humano como outro qualquer e que não tinha obrigação de ir bem sempre. Sequer foi para a final do solo! E o Diego? Caiu de "glúteos" no chão, para não usar o termo "bunda" e ofender aos puritanos.

Lembre-mo-nos que este modelo de sociedade não previlegia o que chega em segundo. Você tem que ser o melhor, sempre! Só que "nem sempre" você vai poder ser o melhor e...e...e??? Dopping! Então, imaginemos o seguinte diálogo mental que diz que é "só um pouquinho hoje", "que ninguém vai saber"..."Um bucadinho amanhã, porque ninguém soube"! "Ah, uma "besteirinha" pra aliviar porque ninguém é de ferro"! Pronto. Criou-se o ciclo! Fazer o quê? É preciso sobreviver! Se não o fizer, outro vêm e faz! "Não posso perder, não posso perder"!

Mal o sabe, tal cidadão, ou sujeito, ou atleta, que já se perdêra há muito, inclusive de sí mesmo.

Tomo emprestado uma fala da jurista Valdete Souto Severo ao falar em seu texto sobre "O mundo do trabalho e a flexibilização" (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11903&p=2) onde a mesma diz que "A força do discurso neoliberal em um período de consolidação dos direitos sociais como direitos humanos fundamentais não é tão contraditória quanto aparenta. É resultado da nossa passividade(...) Está imbricada pelo que a hermenêutica denomina compreensão não-autêntica do direito". Outro dia comemorou-se o dia mundial da saúde ou do meio ambiente, ou dia do nutricionista alguma coisa assim, nao me lembro bem, só me lembro de ter ouvido uma palestrante dizer que tramita-se no congresso nacional uma lei que torne o direito ao acesso a alimentação como um direito ambiental primordial, um problema de saúde pública. Ai alguns de vocês poderiam me perguntar: - "Ou? E não é?". Ao que eu respondo: NÃO!

Longe de querer me impôr por uma eloquência que não possuo tento articular com o tópico principal do texto afim de dizer emfim que é o modelo hegemônico incrustado no seio de nossa sociedade que permite a velha e tão "antiga atual" burlagem dos meios lícitos através do "dopping" e das "malas brancas" nos estádios, nos ginásios, em toda a sociedade.

Abraços fratermos

prof. Carlos Almeida

Elson disse...

Olá Wellington e demais!!
Concordo com os elementos colocados por Carlão!!
Por coincidência, ainda esta semana, na disciplina Met. do esporte I, na UEFS, estive "trabalhando" com a temática doping.
O que fiz, foi justamente o que se está fazendo nesta postagem (e nos comentários). Ou seja, chamei os alunos e alunas para a reflexão sobre o doping para além do discurso legalista "pode X não pode". Ficar neste discurso- que aliás é o da mídia especializada- não avança muito na compreensão do fenômeno.
Diante disso chamo atenção para 4 pontos que considero importantes e que busquei na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (v.27,n.1 p. 7-184, setembro 2005):
1- Existe uma quantidade de substâncias dopantes que é permitido. A alegação é de que faz-se necessário este uso por conta da recuperação dos treinos exagerados.
2- As mesmas empresas que produzem antidoping produzem também as substâncias do doping (Estranho?!?!?! Será que uma empresa que ganha fortunas no antidoping teria interesse em acabar com o doping?)
3- Para o esporte manter sua expectativa perante os expectadores ( e telespectadores) ele precisa , a cada dia, bater recordes. Hoje se pontua que estes só podem ser batidos com a "ajudinha".
4- E, diante do 3° ponto, pode se perguntar: então por quê que não se libera de vez? Porque isso mancharia a imagem do esporte atrelado a coisa saudável (Não é a toa que a maconha, que não ajuda o desempenho no esporte, é mantida como substância proibida. Se não me engano é chamada de doping social).
Onde pretendo chegar com esta discussão?
Na idéia que precisamos questionar o próprio fim/objetivo do esporte de rendimento. Objetivo este que, de forma hipócrita, cobra dos dopados mas que fecha os olhos para as contusões, treinos exagerados, "mala branca", busca por talentos precoces etc etc etc.
Parabéns Wellington e demais colegas.
Abraços

Welington disse...

Elson e demais. Venho pensando sobre a questão da liberalização do doping na esteria do debate que se trava hoje pela liberalização das drogas. Este é um debate deveras polêmico e que merece maiores leituras para que possamos sustentar o argumento pró. Aliás, é bom que se diga que este debate não é novo, nem tampouco novidade no mundo do esporte. Juan Samaranch quando presidiu o COI foi o primeiro a falar em "flexibilização" do conceito de doping. E aqui entra mais uma palavra para o nosso debate. Flexibiliza ou libera? Sigamos!!!

Anônimo disse...

Então Welington!!
O que hoje entendo é que eles estão diante da seguinte situação: Flexibilizar mais (lembremos que já existe uma quantia permitida para recompor dos treinamentos extenuantes) ou liberar e continuar combatendo os excessos. De um lado eles ganham com a possibilidade de emoção no esporte a cada competição (por conta da redução das matcas0. Porém, por outro lado, eles se deparam com a idéia de limpeza, de saúde, de igualdade que propagam no esporte. Se libera de vez, correm o risco de ter ao final de uma prova de 100 metros, não o nome do atleta mas o nome da farmácia.

Elson disse...

Ops..acima fui eu

Unknown disse...
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Anônimo disse...

Prof. Carlos Almeida (Carlão)

Welington disse...

A minha reflexão toma como base a discussão que vem sendo feita por alguns setores no combate ao narcotráfico. Existem políticas de liberalização da droga já em andamento em alguns países que estão conseguindo diminuição significativa do uso de drogas chamadas ilícitas. Não sei até que ponto isso pode se relacionar aos doping. Mas penso que se libera, acaba com esta hipocrisia o que não resolve o problema, evidentemente, pois o país que detiver o maior e melhor desenvolvimento da ciência e da tecnologia relacionado ao esporte, continuará na frente com ou sem a droga. Ademais, a flexibilização é a palavra de ordem do neoliberalismo. Portanto, uma outra palavra aparece para nossa reflexão a partir da tese do Jean Marie Brohm: ACABA. Para ele, na sociedade comunista o esporte desaparecerá!!! Talvez essa fosse a solução definitiva. Libera, flexibiliza ou acaba? Prossigamos.

Anônimo disse...

"Não sei até que ponto isso pode se relacionar aos doping"?

Pensei ter sido claro! Fui deveras pragmático!!! Ou não me fiz intelígível!

Acho meio exagero dizer que na sociedade comunista o esporte acaba! Talvez acabe o esporte enquanto o vemos disputado hoje!

Vou ler Jean Marie Brohm e respondo então! Serei menos pragmático!

Prof. Carlos Almeida

Carlos Almeida disse...
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Welington disse...

Professor Carlos, não sei porque o senhor tomou para si a minha reflexão. Não estava fazendo nenhuma referência aos seus escritos nem tampouco, citei a dimensão do esporte do qual o Brohm faz menção. Eu penso que é ao esporte de rendimento, tal como o senhor e é sobre esta dimensão que estamos pensando aqui, embora o doping ultrapasse a mesma. Nesse caso, não se trata de ser menos ou mais pragmático. Estou apenas colocando mais elementos para pensarmos juntos sem, necessariamente, discordar deste ou daquele posicionamento dos comentários o que pode ocorrer eventualmente.

Carlos Almeida disse...
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Unknown disse...

Está sabendo sobre o Ato Médico que está para ser votado neste final de ano?!?

Carlos Almeida disse...
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Elson disse...

Sugiro o documentário " BIGGER, STRONGER AND FASTER" (ou não necessariamente nesta ordem). Ele retrata um pouco do que esta postado acima, ou seja, a necessidade de, na sociedade atual, se buscar desempenhos mirabonlantes mediante uso de substâncias. Para não ficar na superfície do problema, os autores avaliam não só atletas, mas estudantes, musicos etc. Todos buscando um melhor desempneho por dentro de uma sociedade funcionalista.
Desta forma, penso que o documentário aponta que a raiz do problema não se encontra nesta ou naquela substância, mas na necessidade imposta de buscar sempre melhores resultados para serem comparados a outros e mais e mais e mais...

Welington disse...

Perfeito, Elson! Você entrou no cerne da questão. Este é o problema central. Por isso que na mediação venho colocando algumas palavras: flexibiliza, libera, etc. Flexível já está, pois algumas substâncias agora pode. Se acaba, feri os interesses de alguns setores, como do antidoping, então... o que tem que acabar é a estrutura que precisa manter a dimensão do esporte de rendimento como corolário hegemônico das diferentes dimensões esportivas. Nesse caso, o Brohm está "certo", pois na sociedade comunista o esporte que desaparecerá é o de rendimento por não haver necessidade de termos essa dimensão no interior da reprodução social. Aliás, nenhuma dimensão terá primazia, pois como nos ensina o barbudo dinossáurico, "até o pintor pinta". FANTÁSTICO!

Carlos Almeida disse...
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Welington Silva disse...

Andréia. Caso queira maiores informações sobre ATO MÉDICO, sugiro que busque em sítios de busca. usei o GOOGLE e achei o endereço que segue abaixo, mas existem muitos outros. Copie e cole o mesmo no seu navegador. Obrigado pela confiança.

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4055761-EI7896,00-Camara+aprova+projeto+do+Ato+Medico+proposta+volta+ao+Senado.html

Unknown disse...
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